30 de setembro de 2013

Crónica: Quintino Aires, animais e os videojogos

Legião de leitores (sim, vocês os dois), escutai a minha voz. Ouvi-me e desfrutai. Este artigo é maiorzinho que o normal, mas para o raciocínio ficar bem construído, tinha que ser, mea culpa.
    Provavelmente já terão reparado que o 'Você na TV', entre o vasto leque de ilustres convidados que recebe (ironia), tem Quintino Aires, um psicólogo, como presença assídua. O Joaquim Maria Quintino-Aires, com o seu título de professor doutor, fala ao povo hoje em dia na "Hora do Sexo" na Antena 3, "Consultório de Afecto" na Flash, "Consultório de Sexo" na TVmais e na Telenovelas e, como disse ali em cima, aparece no Você na Tv com a rubrica "Você Vê, Eu Explico". Sim, um doutorado que escreve na Telenovelas, que inveja.

    Antes de passar para a discórdia gigantesca que gerou o seu comentário no programa da Cristina Ferreira e do Goucha sobre videojogos, vou desde já influenciar-vos negativamente ao citar algumas coisas que Quintino Aires disse nos últimos anos:
"Fazer sexo com animais aumenta a ligação entre o ser humano e a natureza. Pelo que, está claro, não devemos considerar a Zoofilia uma perversão, mas sim uma celebração das nossas origens... No fundo, somos todos animais. Dois milhões e meio de portugueses, levam todos os dias, a vias de facto saudáveis relações sexuais com animais das mais variadas espécies, relações essas que, convenhamos, nada têm de censurável".
"A introdução da Educação Sexual nas escolas causa alguma confusão (...) Deveria ser demonstrado às crianças todas as variantes sexuais in loco, ou seja, deveria ser explicado através de exemplificações práticas, o verdadeiros significado do prazer, e da forma como o obter".
"O Amor não se aprende na escola... aprende-se sim nas bodegas deste país, junto de mulheres e homens, que a troco de alguns tostões, nos ensinam a razão de viver".
"As festas de swing deveriam ser publicitadas na Televisão Generalista, e ser, inclusive, incentivada a sua prática, como forma de quebrar a monotonia".
"A zoofilia deve ser desmistificada. Não se trata, hoje em dia, do pastor que, no início da sua vida sexual, de forma a substituir a masturbação copula a ovelha ou o bezerro. Nos países nórdicos é comum e socialmente aceite os actos sexuais com animais que não envolvam um tratamento desumano dos mesmos".
"Tudo o que eu digo não é opinião pessoal, é a opinião de um especialista com 30 anos de investigação e de toda a comunidade científica".

    Vamos recapitular porque, Quintino, toda a minha vida mudou agora. Eu não deveria ter aprendido nada com a minha namorada na minha inocência de adolescente, mas sim em Monsanto ou no Parque Eduardo VII. Depois, as red lights em Amesterdão deviam ser transferidas para as salas de aula do 5.º ano para as crianças aprenderem in loco. A isto se acrescenta então que, quando eu estou em casa e penso "epá, que monotonia irritante" devo então ir oferecer-me para uma festa de swing idealmente incentivada nos 4 canais ou então vou até à rua e seduzo um gato ou um cão para celebrar as origens da Natureza com eles. E claro, tenho é que ter cuidado para não o copular apenas, não posso ser desumano para com ele durante o nosso bonito acto, dizendo-lhe no fim "Cão Max, foi tão importante para ti como para mim". E eu não sabia mas pelos vistos 2,5 milhões de compatriotas meus fazem amor com animais de forma regular, em saudáveis relações sexuais. O que eu ando a perder, sou tão estúpido.
    Não coloquei aqui o facto do Quintino ter dito que o teletexto é o local certo para encontrarmos o amor, que 4 milhões de portugueses estão em relações com pessoas do mesmo sexo e de já ter utilizado nas suas brilhantes analogias as expressões "um bombeiro a descer num varão coberto de mel" e "o Manuel Luís Goucha todo nu de cócoras".


    E agora sim. O Quintino Aires colocou toda a comunidade de youtubers contra ele quando disse que "A Playstation é veneno", colocando-a lado a lado com a heroína ou cocaína. Quintino, o homem que fica sentado no carro durante minutos a observar um pai e um filho a brincarem às escondidas na rua. Algum tempo depois do Quintino bater nos videojogos, a TVI convidou um historiador de videojogos, o Ivan, para debater e defender o outro lado da moeda. No entanto, a coisa não correu muito bem. Porquê? Porque o Quintino o desrespeitou e em qualquer coisa que o Ivan dizia, o professor doutor fazia questão de dizer "Mas você não pode dizer isso (...) o que se está a passar aqui é muito grave (...) eu tenho variadíssimos prémios internacionais (...) eu só posso discutir isto com os meus pares e você não é meu par".
    Não há muito que tenha que ser dito, porque acho que já deixei a ideia que queria lá em cima ao transmitir-vos as pérolas do Quintino, mas naturalmente percebemos que o Quintino ou é mandatário da Xbox ou então guarda esta raiva depois de nunca ter conseguido terminar o Prince of Persia original. A chamada "cagança" fica mal a todos e o respeito bem a toda a gente. O senhor "sexo com animais é baril" faz questão de generalizar e defender que as suas ideias são comummente as de toda a comunidade científica e tornar juízos de valor em juízos de facto. Num debate, fez questão de o monopolizar e raramente deixar Ivan concluir o seu raciocínio, por "não ser um par". Embora nem exija muita discussão, é natural que os videojogos em excesso e sem supervisão parental podem prejudicar o desenvolvimento da criança, mas em moderação podem e desenvolvem várias componentes da criança - desde o seu inglês ao facto de ter ali uma forma de descomprimir e brincar. Ah, e para o Quintino, que acha que a criança não consegue desenvolver relações assim por se enclausurar a jogar, ele nunca conheceu o modo multiplayer porque (embora eu nunca tenha tido uma Playstation, sim é chocante) tem piada é jogar com companhia. Eu melhorei o meu inglês quando era miúdo a jogar (os jogos e filmes são úteis) e para o Quintino que acha que a criança perde movimento ao jogar videojogos, digo-lhe que eu jogava alguns jogos de futebol no computador e depois ia para o corredor com uma bola de futebol de borracha recriar os golos. Sim, eu era um miúdo querido e estranho.

    Mas pronto, provavelmente o Quintino achará que eu não posso dizer nada do que acabei de dizer, uma vez que não sou um par dele. E muito provavelmente ele preferia ter uma ovelha ou um pónei como par, se é que me estão a entender..

                    Miguel Pontares

7 comentários:

  1. Pena que um imbecil destes tenha tempo de antena, sobretudo em meios de comunicação com um público tão permeável.

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  2. Adorei a maneira como te exprimiste sobre um homem que não é mais que um prepotente.
    Apesar de ser psicólogo não faz dele o sr. rei da razão, se assim fosse, também tínhamos que acreditar em todas as novas teorias que os cientistas inventam todas as semanas! E estes também são doutorados.

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  3. Para ti e para todos q defendem zoofilia devia vir de lá um gorila e, só porque naquele momento lhe apetece, comer-te o cu.

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  4. Aconselho a seguinte leitura do texto escrito por um investigador Português sobre as polémicas geradas pelo Quintino Aires e os factos científicos existentes sobre os videojogos:

    http://www.halleypontes.com/nota-publica-dr-quintino-aires-sobre-os-jovens-e-os-videojogos/

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  5. Mas tu de facto ouviste o que o Quintino Aires disse? É que pelo que escreveste não ouviste rigorosamente nada

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