Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

8 de agosto de 2020

Balanço Final - Premier League 19/ 20

  Premier League - 30 anos depois, nem uma pandemia impediu o Liverpool de reconquistar Inglaterra, a primeira Premier League (formato inaugurado na temporada de 1992/ 93) da sua História, sendo os reds o 2.º clube com melhor histórico em terras de Sua Majestade - 19 campeonatos contra 20 do Manchester United - mas tornando-se apenas o sétimo emblema diferente a vencer a Premier desde que é Premier, sucedendo a Manchester United, Blackburn, Arsenal, Chelsea, Manchester City e Leicester City.
    Numa época de domínio absoluto, e por isso bem menos emocionante do que a edição anterior (em que o City foi campeão com 98 pontos, ficando o Liverpool com 97), os comandados de Jürgen Klopp somaram 99 pontos, quase igualando o recorde pontual (100) alcançado pelo City em 2017/ 18. Invencível até à 28.ª jornada, o Liverpool correu sozinho e deixou a concorrência a 18 pontos de distância, numa edição em que se notou sobretudo a incapacidade dos citizens em manter o nível - depois de um bicampeonato alcançado com 100 e 98 pontos, os pupilos de Guardiola "desceram à Terra" e ficaram-se pelos 81 pontos, falhando o tri que apenas o Manchester United foi capaz de vencer desde 1992, mais concretamente em 2007, 2008 e 2009.
    Coube ao Manchester City vencer a Taça da Liga (pela 3.ª vez consecutiva) e ao Arsenal juntar uma FA Cup ao seu museu, num ano em que Norwich, Watford e Bournemouth falharam o objectivo da manutenção, sendo substituídos futuramente na competição por Leeds United (bem-vindo, Bielsa!), WBA e Fulham.
    Com Arsenal (8.º), Tottenham (6.º) e Everton (12.º) a desiludir, 2019/ 20 significa um passo importante nos projectos cada vez mais solidificados de Manchester United e Chelsea, as duas equipas que parecem ter capacidade para a médio-prazo encurtar distâncias para Liverpool e City, de longe as melhores equipas de Inglaterra. O Leicester City teve a presença no Top-4 quase nas mãos até ao fim, o Sheffield United não pediu licença a ninguém e escalou a tabela até chegar a um surpreendente nono lugar, e o Wolves de Nuno Espírito Santo deu sequência ao seu crescimento sustentado. A nível de política e gestão dos clubes e das temporadas, veja-se as diferenças para Portugal: na Liga NOS, apenas 7 clubes não mudaram de treinador ao longo da época; na Premier League, apenas 5 equipas (Watford, Tottenham, Arsenal, Everton e West Ham) mudaram.
    O país que viu chegar e encantar Bruno Fernandes em Janeiro teve no belga Kevin De Bruyne o seu máximo destaque individual, dividindo-se nos campeões os louros, méritos ou responsabilidades sobretudo entre Mané, Alexander-Arnold, Henderson e van Dijk. O sempre electrizante Jamie Vardy sagrou-se melhor marcador, fugindo a Aubameyang ou Danny Ings, e para a História ficará o sorriso de Jürgen Klopp, figura inspiradora no futebol actual, e um You'll Never Walk Alone entoado com as bancadas de Anfield vazias, por força das circunstâncias.

    Acompanhem-nos então numa análise à época das 20 equipas da Premier League, sistematizando ideias-chave, o que correu bem, o que correu mal, quem brilhou e quem desiludiu:


Sadio Mane tips Liverpool captain Henderson to win player of ... LIVERPOOL (1)

    30 anos depois. Depois de ser finalista vencido da Liga dos Campeões em 2017/ 18, depois de vencer a Liga dos Campeões em 2018/ 19, época em que os reds foram vice-campeões da Premier com apenas menos 1 ponto do que o então campeão Manchester City, chega o tão ambicionado título inglês.

    Jürgen Klopp - em Anfield desde 2015 - devolveu o Liverpool aonde pertence, desenvolvendo "estofo" de campeão, tendo por vezes a característica "estrelinha" dos campeões, mas não deixando margem para dúvidas a nível de justiça com 99 pontos conquistados, uma vantagem de 18 para o 2.º classificado, contribuindo muito para este desfecho a invencibilidade que o clube teve da 1.ª à 27.ª jornadas.
    Manchester United (empate 1-1), Watford (derrota por 3-0), Everton (empate 0-0), Manchester City (derrota por 4-0), Burnley (empate 1-1) e Arsenal (derrota por 2-1) foram as seis únicas equipas que conseguiram retirar pontos aos reds, uma equipa praticamente imbatível nos vários momentos do jogo, revelando uma intensidade, dinâmica e capacidade de pressionar e reagir à perda da bola ímpares, conjugada com o apoio incansável dos laterais Alexander-Arnold e Robertson e pela veia goleadora de Mané e Salah, unidos pelo "sacrificado" Roberto Firmino.
    O 19.º título dos reds chega curiosamente após um defeso de Verão sem reforços, percebendo Klopp que os jogadores que tinha continuavam comprometidos com o projecto e esfomeados por troféus que ainda não tinham ganho. Para a História fica a brutal melhoria que o Liverpool teve depois de se reforçar nas últimas épocas com 2 elementos defensivos (van Dijk e Alisson), destacando-se nesta edição em concreto Sadio Mané, pela quantidade de vezes que disse presente em momentos decisivos, o capitão Jordan Henderson, pela incrível regularidade e por ser a representação perfeita daquilo que é hoje este Liverpool, Alexander-Arnold, que com apenas 21 anos já é o melhor lateral-direito do mundo e um dos melhores jogadores da Premier League, sem desfazer o centralão que é van Dijk e o goleador (por vezes egoísta) Mo Salah.
    Está aqui o alvo a abater pela concorrência em 2020/ 21.

Destaques: Sadio Mané, Alexander-Arnold, Jordan Henderson, Mohamed Salah, Virgil van Dijk

VÍDEO: O festival de Kevin De Bruyne MANCHESTER CITY (2)

    Os números dizem que o Liverpool foi quase igual à sua versão de 2018/ 19 - em vez de 97 pontos, somou 99 -, fazendo sim muita diferença no mano-a-mano entre Klopp e Guardiola, entre as duas melhores equipas inglesas da actualidade, o decréscimo pontual dos citizens. De 100 pontos em 2017/ 18 e 98 pontos em 2018/ 19 (bicampeonato), o City passou para 81.
    18 pontos abaixo do campeão, o Manchester City não deixou de ser o ataque mais avassalador da Premier League (102 golos marcados contra 85 do Liverpool) e até só sofreu mais 2 golos do que os reds, mas enquanto que o 1.º classificado perdeu pontos somente em 6 jogos (3 empates e 3 derrotas), o City perdeu em 12 (3 empates e 9 derrotas), destacando-se o facto de Wolves e o rival Manchester United terem representado juntos 4 dessas 9 derrotas.
    Com muitas goleadas pelo caminho - 5-0 ao Norwich, 8-0 e 4-0 ao Watford, 4-0 e 5-0 ao Brighton, 5-0 ao Newcastle, 4-0 ao Liverpool, 4-1 e 5-0 ao Burnley, 6-1 ao Aston Villa e 5-0 ao West Ham - o City nunca viveu estável, acabando por ser a equipa que mais mudanças de 11 inicial fez ao longo das 38 jornadas. As lesões não ajudaram: foi toda uma época sem Leroy Sané (de saída para o Bayern), fazendo muita falta no quarteto defensivo John Stones e principalmente Laporte, ausências que obrigaram o veterano Fernandinho a actuar na maioria do tempo como central.
    Pela positiva, Raheem Sterling chegou aos 20 golos no campeonato, Mahrez realizou a sua melhor época desde que está no Etihad, Gabriel Jesus fez o suficiente para merecer a pole position, à frente de Agüero, na luta pela titularidade como ponta de lança; e David Silva despediu-se da Premier League e do seu Manchester City, depois de espalhar classe ao serviço do clube desde 2010. Foden e Bernardo Silva tratarão de o substituir dignamente.
    O City pode ainda vencer a Liga dos Campeões, sendo um dos favoritos na final 8 de Lisboa, e um balanço da época do clube não poderia terminar sem os maiores elogios para o belga Kevin De Bruyne. O melhor médio do mundo na actualidade igualou o recorde de assistências (20) de Thierry Henry na Premier League, carregou a equipa, fez ainda por 13 ocasiões o gosto ao pé, e foi o Jogador do Ano desta edição, aproximando-se a olhos vistos do Olimpo de médios da Premier onde estão por exemplo Scholes, Lampard e Gerrard.

Destaques: Kevin de Bruyne, Raheem Sterling, Riyad Mahrez, David Silva, Fernandinho

O efeito Bruno - NewsMoosh - Blogue de notícias e apostas desportivas MANCHESTER UNITED (3)

    Tudo o que desejávamos há vários anos aconteceu finalmente. Old Trafford voltou a apaixonar-se pelos seus jogadores, praticando os red devils um futebol ofensivo e apaixonante, e mostrando sentir o clube. Ole Gunnar Solskjaer conseguiu - o ADN Ferguson está de volta.
    Em boa verdade, desde o último título (2013) não víamos o clube mais titulado de Manchester e da Premier League tão saudável e confiante. Nem mesmo quando terminaram a edição de 2017/ 18 em segundo lugar.
    Com Rashford e Martial a renderem ambos muito mais, e os reforços Maguire e Wan-Bissaka a contribuírem para uma defesa muito mais sólida, falar do Manchester United 2019/ 20 é, mais do que qualquer outra coisa, falar de Bruno Fernandes. Porque houve efectivamente um antes e um depois da chegada do português, quer na vida do clube quer na vida desta Premier. Quando o ex-Sporting assinou a 29 de Janeiro, os red devils estavam em 5.º, com 34 pontos em 24 jogos (média de 1,4 por jogo); no pós-Bruno, os diabos foram a equipa que mais pontuou, sem qualquer derrota em 14 jogos, totalizando nesse período 32 pts (média de 2,3 por jogo).
    A chegada de Bruno Fernandes (8 golos e 7 assistências) representou a peça que faltava no puzzle, tendo o médio impacto imediato a nível individual e no colectivo, ao melhorar e muito todos à sua volta. A (boa) arrogância do português, aquela confiança que só os jogadores especiais têm, foi aliás mais do que suficiente para "recuperar" Pogba, perdendo o francês o seu lado de vedeta e comprometendo-se muito mais com o grupo, com Bruno Fernandes e Matic (tão bom vê-lo de volta!) perto de si.
    Por fim, uma palavra para Mason Greenwood: o miúdo de 18 anos jogou 1.312 minutos no campeonato, tempo suficiente para confirmar a pérola que Solskjaer tem nas mãos, chegando Greenwood aos 10 golos, algo que apenas Michael Owen e Robbie Fowler conseguiram com igual idade.

Destaques: Bruno Fernandes, Marcus Rashford, Anthony Martial, Mason Greenwood, Harry Maguire

Mason Mount e Christian Pulisic são indicados ao prêmio jovem ... CHELSEA (4)

    Mudança de paradigma. A época mais esquizofrénica da última década na Premier League, capaz de alternar a conquista de títulos com classificações fora do Top-4, viu na proibição de contratar devido ao incumprimento do Fair-Play financeiro uma oportunidade, e aproveitou-a.
    Abramovich confiou em Frank Lampard (42 anos e uma lenda viva do clube, tratando-se do médio com mais golos na História da Premier League) a missão de garantir um lugar entre os 4 primeiros, promovendo a prata da casa. E assim fez Lampard, dando oportunidades a Mason Mount, Tammy Abraham, Reece James, Fikayo Tomori e Billy Gilmour.
    Lampard é daqueles que não engana, e embora os blues tenham sido o 3.º ataque mais concretizador, foram somente a 12.ª melhor defesa (ou nona pior, se preferirem), pesando neste parâmetro a juventude do elenco e o factor Kepa, mostrando o guarda-redes espanhol não estar à altura do futebol dos seus colegas.
    Lampard deu-se bem frente ao Tottenham, Arsenal, City e Wolves, proporcionando ainda bom espectáculo num 5-3 em Anfield, mas ficou com o Manchester United (derrotas por 4-0 e 2-0) "entalado". Todos os sinais apontam para um promissor crescimento ao longo das próximas épocas: Frank Lampard já revelou capacidade para colocar os miúdos a jogar bom futebol, Mount, Gilmour e Pulisic têm todas as condições para explodir um bocadinho mais a cada ano e, embora nos pareça prioritário reforçar a baliza e a defesa, é indiscutível que o ataque vai melhorar a olhos vistos com os já confirmados Ziyech e Timo Werner, aos quais se pode juntar ainda Havertz.

Destaques: Mason Mount, César Azpilicueta, Willian, Christian Pulisic, Tammy Abraham

 LEICESTER CITY (5)

    O Leicester City passou 325 dias no Top-4 e 28 dias fora dele. Terminou à porta da qualificação para a Champions, como consequência do seu fraco registo pós-paragem (conquistou 9 pontos em 27) cruzado com o momento ascendente de Chelsea e, sobretudo, Manchester United.
    Brendan Rodgers, o Carlos Carvalhal do futebol inglês, fez dos foxes uma das melhores equipas desta Premier League, parecendo um "falhanço" este 5.º lugar tendo o Leicester passado tanto tempo inclusive nos 3 primeiros, mas é na verdade uma classificação excelente tendo em conta que era realista apontar Vardy e companhia ao sétimo ou oitavo lugar.
    Falando de Jamie Vardy, o avançado inglês de 33 anos sagrou-se pela primeira vez na sua carreira melhor marcador da Premier League (23 golos), sendo o MVP de uma equipa onde o português Ricardo Pereira brilhou até contrair uma grave lesão em Março. Söyüncü revelou-se um digno substituto de Maguire; Ndidi, Tielemans e Maddison formaram um meio-campo equilibrado e completo; Ben Chilwell rendeu muito mais e deixou o Chelsea a salivar com o seu futebol, e não surpreende que o eléctrico Harvey Barnes já tenha sido associado ao campeão Liverpool.
    Este 5.º lugar não nos parece um acaso, Brendan Rodgers sabe o que faz e o Leicester tem tudo para voltar em grande em 2020/ 21, dividindo-se entre as competições internas e a Liga Europa, e podendo-se esperar reforços interessantes para o King Power Stadium. Rodgers tem bom gosto a contratar, e vai querer o Top-4.

Destaques: Jamie Vardy, Ricardo Pereira, Çağlar Söyüncü, James Maddison, Ben Chilwell

 TOTTENHAM (6)

    Em queda livre. De 2016/ 17 para cá, o Tottenham tem piorado de ano para ano a sua marca de golos marcados (86, 74, 67 e nesta edição 61), em consonância com o número de oportunidades criadas pela equipa (507, 467, 393 e nesta edição 340).
    O sexto lugar final até mascarou algumas coisas, visto que a 3 jornadas do fim os spurs estavam em 8.º. Ao contrário das últimas 4 temporadas, o Tottenham falhou o Top-4, e se por um lado em 2016, 2017 e 2018 ficou sempre no pódio, convém recordar que em 2019 os spurs foram à final da Liga dos Campeões.
    A primeira decisão contestável de 2019/ 20 foi o despedimento de Mauricio Pochettino. O técnico argentino, provavelmente um dos 5 melhores treinadores da actualidade, era a figura nº 1 de um projecto que já estava em risco mediante a quantidade de jogadores em final de contrato que não pretendiam renovar, e outros que desejavam rumar a outras paragens e lutar por títulos. Pochettino durou 12 jornadas; deixou o clube do Norte de Londres no 14.º lugar, embora distando apenas 3 pontos do 5.º classificado.
    Saiu Mauricio e chegou José. Numa fase em que pensávamos que já nenhum grande clube seria capaz de apostar em José Mourinho, muito menos um clube inglês, Daniel Levy surpreendeu. Com o antigo Special e Happy One, o Tottenham venceu 13 dos 26 jogos na Liga, e roçou por várias vezes o banal.
    Só faz sentido avaliar Mourinho a sério em 2020/ 21, depois de uma pré-época e um defeso seus, mas custa ver em tantos jogos Harry Kane (6.ª época consecutiva como melhor marcador do clube) tão sozinho na frente, certamente com muitas saudades do rolo compressor ofensivo que o Tottenham era até há pouco tempo. Destaque máximo numa época com poucos destaques? Son Heung-Min.

Destaques: Son Heung-Min, Harry Kane, Lucas Moura, Dele Alli

 WOLVES (7)

    Exemplo de regularidade, o Wolverhampton do português Nuno Espírito Santo, com 38% do plantel lusitano (João Moutinho, Rúben Neves, Rui Patrício, Rúben Vinagre, Diogo Jota, Daniel Podence, Pedro Neto e Bruno Jordão), terminaram classificados exactamente na mesma posição da edição anterior, totalizando quase os mesmos pontos (59 contra 57).
    Com um plantel curto, que ainda assim resistiu fisicamente e perdura na final 8 da Liga Europa, os wolves mostraram-se sempre uma equipa compacta em que todas as peças sabem o que têm que interpretar em cada momento - a comprovar isso o facto do Wolves ter sido a equipa que menos km correu, o facto de ter sido a equipa que preservou mais o mesmo 11 ao longo da competição, demonstrando muito interessante força mental. Basta reparar que, juntamente com o Liverpool, a equipa de NES foi aquela que perdeu menos pontos depois de se ver em situação de vantagem num encontro.
    A vitória do Arsenal na FA Cup retirou a Liga Europa ao Wolves, embora ainda haja esperança numa qualificação europeia, caso o Wolves vença a Liga Europa. Ou seja: os wolves ou vão à Champions ou não vão a lado nenhum.
    Ao longo dos vários meses de Premier League, sobressaiu o super-avançado que Raúl Jiménez é hoje em dia. Um ponta de lança completíssimo, combativo, óptimo nos apoios e em perfeita sintonia com Adama Traoré (a melhor parceria da Premier com o extremo a oferecer 7 golos ao mexicano) e Diogo Jota. Basta dizer que Jiménez seria um bom "novo Benzema" para Cristiano Ronaldo na Juventus para se perceber o que o ex-Benfica cresceu. Além do camisola 9, o velocista e musculado Adama Traoré levou tudo à sua frente e mostrou que pode ser útil a qualquer tubarão europeu, e depois voltou a ficar patenteada a influência das locomotivas Doherty e Jonny nos corredores, e do duo português João Moutinho e Rúben Neves no centro das operações. Mas, aqui entre nós, Neves já merecia o salto.

Destaques: Raúl Jiménez, Adama Traoré, João Moutinho, Matt Doherty, Rúben Neves

 ARSENAL (8)

    Parece mal considerar, depois de um embaraçoso 8.º lugar, que a temporada do Arsenal foi positiva, mas em certa medida foi mesmo. Os gunners - que entre 1997 e 2016 ficaram sempre no Top-4, falhando sempre esse objectivo desde então - atingiram esta época o fundo do poço desde que Wenger deixou o clube. Mas nem tudo é mau. Depois do adeus a Emery e de uns jogos entregue a Ljungberg na transição, o Arsenal parece bem entregue a Mikel Arteta (adjunto de Pep Guardiola durante três anos).
    Arteta conseguiu conquistar a Taça de Inglaterra, garantindo a qualificação europeia para a Liga Europa por essa via, e desde que assinou pelo clube a 20 de Dezembro de 2019, os gunners obtiveram o 7.º melhor registo da Premier, embora totalizando apenas menos 1 ponto do que o Wolves e menos 3 pontos do que Southampton e Chelsea, respectivamente 6.º, 5.º e 4.º nesse período.
    14 vitórias em 38 jornadas é muito pouco e claramente não faz jus àquilo que o Arsenal deve ser. Com Aubameyang a servir de autêntico abono de família, devendo os gunners fazer tudo para conservar o seu melhor jogador, 19/ 20 mostrou que o Arsenal está a uma montanha de distância de Liverpool e City, não se comparando o trabalho de casa que Manchester United e Chelsea têm feito para encurtar distâncias com aquele que o Arsenal ainda tem pela frente. As estreias de Saka, Gabriel Martinelli e Nketiah foram algumas das boas notícias num ano desapontante, salvo em Wembley na FA Cup, em que os gunners encontraram o homem do leme certo (Arteta), faltando rechear o elenco com jogadores mais capazes e interessados em recolocar Emirates no patamar a que pertence.

Destaques: Pierre-Emerick Aubameyang, Bukayo Saka, Nicolas Pépé, Bernd Leno

 SHEFFIELD UNITED (9)

    A equipa surpresa de 2019/ 20 em Inglaterra. Que Chris Wilder era um treinador capaz já se sabia quando em 3 anos conseguiu duas promoções; que Chris Wilder era um treinador corajoso e louco, também já se sabia, ou não fosse o seu 3-4-1-2 com centrais a projectarem-se nos corredores uma das tácticas mais ousadas do Championship na época passada. Faltava saber como iria dar-se Wilder, e por isso o Sheffield, na chegada a uma liga imprevisível, com intérpretes de superlativa qualidade.
    O resultado foi... inesperado. O Sheffield United (4.ª melhor defesa da prova, com 39 golos sofridos, mais 3 que o Manchester United, mais 4 que o Manchester City e mais 6 que o Liverpool; e segunda melhor defesa do campeonato quando considerado em exclusivo o registo em Casa) esteve longe de deslumbrar na sua ideia de jogo, com o 3-4-1-2 a transformar-se num 3-5-2 mais compacto, coeso, estático e menos insano, acumulando jogos com poucos golos. Porque se por um lado os blades foram a quarta melhor defesa, também foram o 5.º pior ataque, resultando daí a sua diferença de golos nula (39 marcados, 39 sofridos).
    Sempre com muito coração, e operando o milagre desta Premier League 2019/ 20, o Sheffield conquistou 4 pontos contra o Chelsea, 4 pontos contra o Tottenham, 4 pontos contra o Arsenal, empatou 3-3 com o Manchester United, e nos jogos contra Liverpool e Manchester City sofreu 1 ou 2 golos no máximo. Não é fácil jogar contra este Sheffield (a contratação de Sander Berge foi demonstrativa da ambição e qualidade a adquirir, servindo, parece-nos, de um bom indicador para o futuro próximo) e não foi fácil marcar golos a Dean Henderson, o guardião britânico de 23 anos, emprestado pelo Manchester United e em Bramall Lane pela segunda época consecutiva, que foi quanto a nós o guarda-redes mais marcante da competição.
    Toda a defesa (com especial destaque para Stevens, Baldock e Basham) esteve em grande, brilhando no meio da rua Norwood, Fleck e Lundstram. Aguardamos com curiosidade pelos próximos capítulos da jornada do Sheffield de Chris Wilder, sendo certo que a equipa necessita de reforços para se tornar mais capaz e proporcionar maior entretenimento (em 2019/ 20 empatou por oito vezes 1-1).

Destaques: Dean Henderson, Enda Stevens, George Baldock, Oliver Norwood, John Lundstram

 BURNLEY (10)

    Sean Dyche operou um milagre em 2017/ 18 (sétimo lugar), viu a sua equipa ficar perto da descida no ano seguinte (15.º) e desta feita voltou a fazer das suas, deixando o Burnley num lugar muitíssimo acima do expectável dada a qualidade deste plantel.
    Dos clarets não se espera futebol, esperam-se resultados. Já é sabido que Dyche faz muito com pouco, sendo este Burnley (recordar que Sean Dyche está no clube desde 2012/ 13) uma equipa "fácil" de estudar, mas dificílima de contrariar e ultrapassar.
    Com o 7.º melhor registo fora (superior a Leicester, Arsenal ou Tottenham), o clube teve o mérito de manter a confiança em Dyche após uma sequência de 10 derrotas em 14 jogos, ficando para a História uma super-temporada de Nick Pope, um dos 2 melhores guarda-redes desta Premier, a competência do patrão Tarkowski, o bom entendimento de Wood e Rodriguez na frente, e os apontamentos técnicos de Dwight McNeil, um jogador claramente diferente dos demais, um espírito livre num esquema que prima pelo rigor e pela segurança.

Destaques: Nick Pope, James Tarkowski, Chris Wood, Dwight McNeil, Jay Rodriguez

 SOUTHAMPTON (11)

    Eis o Southampton, a 3.ª melhor equipa desta Premier League a jogar fora. Nas 19 jornadas como visitantes, sem surpreender o Liverpool foi a equipa com melhor desempenho (44 pontos), seguindo-se Manchester City (34) e Southampton (31). Mais: o clube do Sul do Reino Unido foi também uma das equipas com melhor registo no pós-paragem, amealhando 18 pontos dos 27 pts em disputa, e despedindo-se com uma sequência de 7 jogos sem qualquer derrota.
    Sempre bem orientados por Hasenhüttl, o herdeiro legítimo de Koeman e Pochettino, os saints deitaram para trás o passado recente (tanto em 17/ 18 como em 18/ 19 o Southampton ficou muito perto da zona de descida) e viram Danny Ings tornar-se um dos destaques da prova, marcando por 22 vezes e ficando apenas a 1 golo da Bota de Prata.
    Depois de atravessar um curto deserto, o Southampton parece ter-se reencontrado, e estamos convictos de que os próximos anos devem servir de lembrete relativamente à qualidade ímpar de prospecção do clube.

Destaques: Danny Ings, Nathan Redmond, James Ward-Prowse, Stuart Armstrong, Jack Stephens

 EVERTON (12)

    Parece tão distante o fim de linha para Marco Silva, que resistiu até Dezembro... O Everton gastou praticamente 120 milhões no defeso veranil, juntou nomes entusiasmantes como Iwobi, Kean, Gbamin ou Sidibé às suas fileiras, mas acabou 4 lugares abaixo de 2018/ 19 e num 12.º lugar que é o pior registo do clube de Liverpool desde 2004. Desde então, em 15 anos, foram sempre classificações entre o 4.º e o 11.º lugares, com o 7.º posto como média. Quer isto dizer que o Everton está mal, mas Carlo Ancelotti parece ser a pessoa certa para recuperar Goodison Park, num período em que os adeptos locais vêem o grande rival da cidade transbordar saúde e confiança.
    Os toffees - poucos destaques individuais esta época, salvando-se a evolução de Calvert-Lewin com Ancelotti, a manutenção de números por parte de Richarlison e o sempre certinho Lucas Digne - têm um longo caminho pela frente caso queiram voltar a intrometer-se no Top-8. A atestar isso o facto de entre as 13 vitórias desta época, apenas 3 (Wolves, Leicester e Chelsea) terem sido contra os 8 primeiros classificados, embora todas em casa. É certo que o clube mais antigo de Liverpool até conseguiu alguns empates "chatos" para Liverpool, Manchester United, etc., mas viu-se sempre um Everton defensivo, na retranca, à espera do erro, incapaz, bem longe disso, de jogar olhos nos olhos com aqueles que há poucos anos eram praticamente oponentes directos.

Destaques: Richarlison, Dominic Calvert-Lewin, Lucas Digne

 NEWCASTLE (13)

    A alegada aquisição do Newcastle por parte de um investidor da Arábia Saudita tem sido ciclicamente adiada, e os adeptos suspiram para perceber se poderão passar a sonhar com super-reforços ou não.
    Enquanto isso, no planeta Terra, o Newcastle imitou a temporada anterior e ficou em 13.º lugar. Com Rafa Benítez os magpies fizeram 44 e 45 pontos nas últimas duas épocas, Steve Bruce preservou o trabalho do antecessor, fazendo 44 pontos. Ao contrário do que aconteceu com o técnico espanhol, Bruce (o homem que criou a personagem literária Steve Barnes, um treinador-detective) teve efectivamente ovos para fazer omeletes: Joelinton (um flop que custou 44 milhões) e Saint-Maximin, a principal fonte de alegria e imprevisibilidade no futebol do Newcastle.
    Tudo somado, Steve Bruce, um daqueles treinadores na linha de Sam Allardyce que parece aqui e ali ultrapassado, fez um bom trabalho. O Newcastle, com Dubravka como guarda-redes desta edição com maior nº de defesas, conseguiu uns resultados engraçados (venceu Tottenham, Manchester United e Chelsea, e ainda tirou pontos ao City) e prossegue na Premier, necessitando no entanto de mais contratações do nível de Allan Saint-Maximin.

Destaques: Martin Dubravka, Allan Saint-Maximin, Jonjo Shelvey, Matt Ritchie

 CRYSTAL PALACE (14)

    Ao contrário de grande parte da sua concorrência (emblemas da 2.ª metade da tabela), o Crystal Palace quase não se reforçou, mesmo depois de perder no Verão um dos seus melhores jogadores, Aaron Wan-Bissaka. Zaha permaneceu, provavelmente contrariado, e o Palace passou por esta Premier League como uma das equipas mais insignificantes. Os eagles foram o 2.º pior ataque da prova (com 31 golos apontados, apenas o Norwich marcou menos), foram a 2.ª equipa com o pior registo pós-paragem (4 pontos em 27, apenas "superados" pelo lanterna vermelha Norwich que somou exactamente zero), e salvaram-se basicamente pela solidariedade do grupo e pela indiscutível coesão defensiva (9.ª melhor defesa).
    Urgentemente a precisar de reforços (Eberechi Eze, do QPR, seria uma grande aposta), o Crystal Palace teve curiosamente no super-experiente Gary Cahill, senhor dos seus 34 anos, um extraordinário reforço a custo zero, contagiando todos em seu redor com a sua assertividade defensiva e capacidade de liderança.
    A caminho dos 28 anos, este Verão parece ser um momento-chave para a carreira de Wilfried Zaha, que já há duas épocas que "merece" uma transferência que o faça estar rodeado de jogadores capazes de falar a sua linguagem e acompanhar a sua qualidade. De resto, 2019/ 20 fica na memória como uma temporada em que o Palace alternou períodos bastante bons com sequências muito más: exemplo disso as 4 vitórias consecutivas que antecederam as 8 jornadas finais, em que a equipa de Roy Hodgson perdeu 7 jogos e empatou 1.

Destaques: Wilfried Zaha, Vicente Guaia, Jordan Ayew, Gary Cahill

 BRIGHTON (15)

    Na sua estreia na Premier League, depois de cumprir uma autêntica carreira de FM na Suécia e colocar o Swansea a praticar um futebol fluido e agradável à vista, esperávamos mais de Graham Potter. Aliás, esperávamos que numa época conseguisse transfigurar o ADN do Brighton, uma das equipas mais "inglesas" e conservadoras da Premier, nomeadamente na sua saída a jogar.
    O objectivo (manutenção) foi alcançado, mas o Brighton - a equipa que mais quilómetros correu nesta Premier League - não deixou qualquer marca nesta edição. Várias experiências tácticas foram feitas pelo técnico com nome de feiticeiro, sendo certo que Maupay, Trossard e Jahanbakhsh (os 3 elementos tecnicamente acima da média neste elenco) nunca formaram o trio que poderiam formar, e o meio-campo viveu quase sempre em reacção ao que os outros faziam, não conseguindo impor o seu jogo. No meio de tudo isto, sobressaíram como mais regulares e fiáveis jogadores "à Brighton", como Dunk, Webster e Ryan.
    Sabemos que não é fácil transformar uma equipa de "chutão" numa espécie de tiki-taka da noite para o dia, e por isso continuamos crentes de que Graham Potter é a escolha certa para o clube, merecendo tempo para continuar a criar, moldar, adaptar. 

Destaques: Lewis Dunk, Neal Maupay, Adam Webster, Matt Ryan

 WEST HAM (16)

    Desde aquela cada vez mais distante temporada em que Payet perfumou os relvados da Premier League, o West Ham tem sido desilusão atrás de desilusão. Sempre com investimentos avultados (no Verão passado foram quase 90 milhões) e quase sempre com reforços que deixam antever sucessos e bom futebol, os hammers teimam em não formar uma equipa sólida e capaz, à medida do seu potencial.
    Em 2019/ 20, o clube londrino foi um dos 5 que mudou de treinador no decurso da temporada: o chileno Manuel Pellegrini não resistiu, sendo substituído por David Moyes, que ainda em 2017/ 18 treinara o clube. Resultado final - a confirmação que desde 2015/ 16 os hammers seguem uma tendência e trajectória decrescente, com a temporada passada como excepção. 16.º lugar é mau demais para um plantel que tinha obrigação de terminar nos 10 primeiros.
    Olhando para os jogadores, já não restam quaisquer dúvidas da valia de Declan Rice, fazendo sentido que o médio defensivo seja cobiçado pelo Top-4, e se Michail Antonio não tivesse "acordado" e desatado a marcar golos na retoma do campeonato, o West Ham poderia estar hoje em maus lençóis. Para a posteridade, a garantia de que com Fabianski na baliza toda a equipa se sente mais segura, e a certeza de que a parceria Rice-Soucek é o ponto de partida para um lugar feliz, embora nos pareça bastante complicada a continuidade do internacional inglês de 21 anos.

Destaques: Declan Rice, Michail Antonio, Mark Noble, Tomas Soucek

 ASTON VILLA (17)

    Se recuarmos ao mercado de transferências do Verão de 2019, constatamos que apenas Manchester City, Arsenal e Manchester United gastaram mais do que o Aston Villa (148 milhões de euros). O clube de Birmingham, recém-promovido, investiu à grande mas acabou a Premier League com 1 ponto a mais do que o Bournemouth, o melhor dos últimos.
    É indiscutível que Dean Smith teve matéria-prima para atingir uma posição bastante mais confortável na tabela, sendo porém fundamental recordar o azar que os villans tiveram em termos de lesões: o ponta de lança Wesley, reforço mais caro do clube, deixou de poder contribuir a partir da jornada 22, e o dínamo John McGinn, um dos 2 melhores jogadores da equipa, falhou dez jornadas, permitindo a paragem a recuperação do escocês e o seu contributo na recta final.
    Perante tudo isto, o Aston Villa foi praticamente uma one-man-team. Jack Grealish, de meias curtas e braçadeira de capitão envergada, carregou o seu clube de sempre, fechando a época como um dos craques mais influentes. Grealish foi sistematicamente o jogador procurado pelos colegas quando as coisas tinham que acontecer, e acabou por ser dele o golo na última jornada (West Ham 1-1 Aston Villa) que segurou o clube no primeiro escalão do futebol inglês.
    É possível que Grealish rume a um grande neste defeso, algo que obrigará quase todos os jogadores a render muito mais para colmatar a saída do camisola 10.

Destaques: Jack Grealish, Tyrone Mings, John McGinn, Trézéguet

 BOURNEMOUTH (18)

    De 2012 a 2020, assim ficará na História do Bournemouth o melhor período do clube, e um trabalho inigualável de Eddie Howe (42 anos), que acaba por sair do clube com a sua cotação ligeiramente desvalorizada como treinador.
    Um dos melhores treinadores ingleses da actualidade, Howe pegou no Bournemouth na League 1, conseguiu conquistar o Championship no 2.º ano depois dos cherries terem subido a esse patamar, e aguentou o clube na Premier League durante 5 épocas, tendo como ponto alto o 9.º lugar de 2016/ 17.
    Desta vez, Howe não conseguiu retirar o melhor dos seus jogadores, que no geral estiveram muito abaixo do nível apresentado nas últimas edições. A grave lesão de David Brooks teve o seu peso, deixando a equipa órfã de um dos maiores talentos, mas Ryan Fraser (em fim de contrato pareceu sempre ter a cabeça noutro lado) e Callum Wilson foram autênticas sombras das suas versões de 2018/ 19. Harry Wilson acrescentou pontualmente alguma magia, e na retaguarda Aaron Ramsdale, Diego Rico e Nathan Aké (reforço do Manchester City para 2020/ 21) fizeram o que puderam para salvar o Bournemouth.
    No final, foi marginal (1 ponto) a distância entre Bournemouth e Aston Villa, e em teoria não será fácil um regresso tão cedo dos cherries à Premier League, podendo o clube acusar bastante a saída de Eddie Howe, oito anos depois.

Destaques: Aaron Ramsdale, Diego Rico, Nathan Aké, Harry Wilson

 WATFORD (19)

    Não é injusto considerar o Watford um clube mal agradecido. A gestão do italiano Gino Pozzo tem sido marcada pela amiúde troca de treinadores, raramente permitindo a criação de raízes e estando os seus técnicos permanentemente sobre pressão. Depois de colocar o Watford num inesperado 11.º lugar (bem perto do oitavo) e levar os hornets à final da FA Cup em 2018/ 19, era esperado que Javi Gracia tivesse conquistado uma dose significativa de confiança. Mas não. O técnico espanhol, próxima aposta do Valência, durou 4 jornadas. Um mau arranque (3 derrotas e 1 empate) ditaram o seu afastamento, sendo substituído por Quique Flores, uma escolha improvável visto que o ex-Benfica já orientara o clube em 2015/ 16 e fizera pior do que o compatriota Gracia.
    Quique durou de Setembro a Dezembro, sendo por sua vez substituído por Nigel Pearson. O Watford foi o clube da Premier League que mais vezes trocou de treinador ao longo de 2019/ 20, obrigando Hayden Mullins a servir de interino por duas ocasiões, e chocando sobretudo o despedimento de Pearson a duas jornadas do fim do campeonato.
    Em campo, Ismaïla Sarr (o senegalês, quase sozinho, impôs a 1.ª derrota do Liverpool no campeonato) foi o principal destaque, acompanhado pela já habitual regularidade de dois colossos de experiência: Ben Foster entre os postes e o capitão Troy Deeney no ataque. Quiçá o campeonato tivesse sido diferente se Deulofeu não se tivesse lesionado a dez jornadas do fim.

Destaques: Ismaïla Sarr, Ben Foster, Troy Deeney

 NORWICH CITY (20)

    Quando numa competição com 114 pontos em disputa, se encerra a prova com uns modestos 21, ficam poucas dúvidas em relação à justiça da despromoção do Norwich. Tal como acontecera em 2016, os canários acabam por descer ao Championship logo após subirem.
    Desta vez, os comandados de Daniel Farke confirmaram a ideia de que este plantel não estava preparado para um nível Premier League, mesmo tendo as primeiras jornadas iludido um pouco os adeptos. Quando à 5.ª jornada, o clube tinha duas vitórias - com o finlandês Teemu Pukki em grande forma e a tornar-se uma súbita lenda de Fantasy -, uma delas na recepção ao Man City, tendo ainda vendido cara a derrota diante do Chelsea, mal sabia o público de Carrow Road que no total da época seriam apenas 5 as vitórias e 6 os empates, destacando-se sobremaneira as 27 derrotas.
    Infelizmente, o momento de Pukki foi fogo de vista - o avançado de 30 anos marcou um total de 11 golos, mas 6 deles aconteceram nas primeiras cinco jornadas. Conquistando apenas 6 pontinhos fora do seu estádio, o Norwich foi a pior defesa (75 golos sofridos) e o pior ataque (26 golos marcados), destacando-se ainda assim Tim Krul, que evitou males maiores e humilhações em inúmeros jogos com o seu leque de defesas milagrosas. Pukki ficou ligado ao melhor período dos canaries, catalisados à data pelo regresso ao primeiro escalão, o argentino Emi Buendía (apenas De Bruyne, Alexander-Arnold e Grealish criaram mais oportunidades de golo do que ele) mostrou estar alguns patamares acima dos colegas e, embora sem deslumbrar, os laterais Aarons e Lewis terão feito o suficiente para não acompanhar o Norwich no regresso ao Championship em 2020/ 21. 

Destaques: Emi Buendía, Tim Krul, Teemu Pukki, Max Aarons



por Miguel Pontares e Tiago Moreira

6 de agosto de 2020

Balanço Final - Liga NOS 19/ 20

 Liga NOS - Um campeonato que durou 11 meses, um campeonato nivelado por baixo, uma edição que o Porto quis mais e na qual o Benfica não soube encontrar cura e estabilidade, acusando a pressão. A Liga NOS 2019/ 20 é a garantia de que o Benfica não tem a hegemonia do futebol português: se antes eram 5 dos últimos 6 títulos para as águias, neste momento são 2 dos últimos 3 para os dragões. Nas últimas 10 temporadas, o Porto venceu 5 campeonatos e o Benfica venceu outros 5. Será Jesus capaz de, à la Moisés, separar as águas a favor dos encarnados?
    Viveu-se de forma atípica o futebol em Portugal. A pandemia de Covid-19 ditou a paragem das competições profissionais quando estavam decorridas 24 jornadas da Liga, quando o Porto tinha 60 pontos e o Benfica 59. O regresso fez-se com estádios vazios, festejos mais tímidos e cumprimentos de cotovelo e punho. 82 pontos (em 2017/ 18 e 2018/ 19 os campeões foram campeões com mais pontos) chegaram ao Futebol Clube do Porto para erguer o 29.º campeonato da sua História, o 2.º de Sérgio Conceição em 3 anos como treinador azul e branco.
    2019/ 20 fez Bruno Lage passar de novo José Mourinho para novo Rui Vitória, viu nascer Rúben Amorim, assistiu ao coleccionar de treinadores por parte de Sporting e Braga, deixou Carlos Carvalhal colocar o Rio Ave a jogar como equipa grande, e fez do Famalicão e do Gil Vicente, cada qual à sua maneira, sensações da prova. Ao longo de 34 jornadas, apenas Porto, Rio Ave, Famalicão, Vit. Guimarães, Santa Clara, Gil Vicente e Tondela (7 equipas das 18) não mudaram de treinador. Um indicador que apoia uma ideia de estabilidade, considerando que 6 dos 10 primeiros classificados mantiveram a mesma equipa técnica todo o campeonato.
    Em ano de novo coronavírus, Jesús Corona foi ironicamente o MVP do campeonato, sem esquecer os números de Pizzi (18 golos e 14 assistências), os goleadores Carlos Vinícius, Taremi e Paulinho, a importância de Alex Telles e Otávio, os sensacionais Fábio Martins e Ricardo Horta, e as revelações Marcus Edwards e Francisco Trincão.

    Acompanhem-nos então neste balanço final, que analisa em detalhe as 18 equipas da Liga portuguesa, procurando determinar o que correu bem, o que correu mal, quem se destacou e quem desiludiu:

FC Porto teve dois ″reis″ dos rumores durante a quarentena - O Jogo PORTO (1)

    Em 2018/ 19 o Porto escorregou e o Benfica aproveitou. Desta vez, os papéis inverteram-se e o Futebol Clube do Porto de Sérgio Conceição acreditou até ao fim, transformando uma desvantagem de 7 pontos numa vantagem final de cinco.

    O Porto foi o melhor ataque da prova (74 golos marcados) e a melhor defesa (22 golos sofridos), acabando por merecer sem espinhas uma edição que o rival Benfica deixou escapar por, resumindo tudo numa expressão, pura incompetência.
    É sabido que interessa como tudo acaba e não como começa, e torna-se bastante claro o mérito do Porto quando se constata que na 2.ª volta conquistou 41 pontos em 51 possíveis, conseguindo o Benfica apenas 29. Ajuda a tornar inquestionável a justiça desta vitória azul e branca o facto dos dragões terem derrotado as águias sempre que se encontraram: vitória por 2-0 na Luz, por 3-2 no Dragão, juntando-se ainda a conquista da Taça de Portugal (2-1, mesmo em inferioridade numérica desde os 38 minutos).
    É provável que este tenha sido o pior Porto de Sérgio Conceição, mas foi suficiente para ser a equipa mais forte do futebol português em 19/ 20. Apenas o Braga (que venceu o campeão nacional por 3 vezes este ano) e o Rio Ave saíram do Dragão com pontos, numa prova em que a força das bolas paradas e a pujança física voltaram a ser armas do 1.º classificado.
    Na retoma, a derrota com o Famalicão (2-1) e o empate (0-0) na Vila das Aves podiam ter ditado novo volte-face, mas o Benfica não soube aproveitar, e até ao final o Porto só parou de vencer quando teve o campeonato matematicamente assegurado.
    Jesús Corona foi o melhor jogador da equipa, multiplicando-se em funções e sendo quase sempre o homem do jogo. Alex Telles e Otávio foram igualmente determinantes numa época sem superlativos destaques individuais e em que a força do colectivo prevaleceu. Parece há uma eternidade atrás aquele período em que Zé Luís parecia estar embalado para ser melhor marcador da Liga, tendo Marega (o seu poderio continua a fazer estragos) e Soares acabado por ser mais importantes no ataque ao 29.º título.
    Sérgio Conceição merece esta conquista, visto que continuou a acreditar e a fazer os seus acreditar quando já muitos davam como entregue o campeonato ao Benfica. Continuamos a achar que o Porto merecia um treinador diferente, sendo difícil (e ao mesmo tempo bastante fácil) compreender a diminuta utilização de Nakajima ou Tomás Esteves, mas sendo refrescante perceber que Fábio Vieira e Vítor Ferreira têm hipóteses de singrar no seu clube de formação.

Destaques: Jesús Corona, Alex Telles, Otávio, Moussa Marega, Sérgio Oliveira

A sociedade do golo Pizzi-Vinícius - DN BENFICA (2)

   Que desilusão. Em 2019/ 20 a agonia prolongada fez sofrer e repensar de tal forma o Benfica que o rio de emoções acabou por desaguar na promessa de um Novo Testamento com Jorge Jesus.
    Não é fácil enumerar tudo aquilo que falhou no Benfica. Sobretudo se considerarmos que Bruno Lage tinha na Liga, somando o seu registo na temporada anterior ao registo na 1.ª volta desta edição, 34 vitórias, 1 empate e 1 derrota em 36 jogos. Mas os sinais do que viria a ser um pesadelo para os encarnados estiveram sempre lá, embora escamoteados na I Liga pelo diferencial de qualidade do plantel das águias em relação à concorrência. Em 2018/ 19, Bruno Lage acertou em tudo num instante e viu tudo correr bem com o seu Plano A: promoveu a entrada de Ferro (maior decréscimo de qualidade do ano?) no 11, definiu Samaris-Gabriel como dupla de meio-campo, e ofereceu a João Félix papel de destaque, no seu habitat natural, e numa dinâmica perfeita com Seferovic. 2019/ 20 retirou o miúdo maravilha ao Benfica, e Lage nunca conseguiu estabilizar um onze lógico, equilibrado e tão esfomeado. Experimentou diferentes duplas de médios, diferentes duplas no ataque, mas a demora em encontrar idêntica "máquina de bom futebol" fez o técnico entrar em total desnorte, coleccionando decisões incompreensíveis e deitando tudo a perder.
    Além da inquestionável desilusão europeia (na nossa planificação do Benfica 2019/ 20 avisámos que o investimento pós-Félix teria que ser assinalável e ambicioso caso os encarnados quisessem sonhar com uma qualificação para os oitavos ou quartos da Champions), o Benfica até enganou os mais distraídos com 16 vitórias nas primeiras 17 jornadas, parecendo a derrota caseira frente ao Porto apenas um acidente de percurso. Mas a partir do momento em que, na 20.ª jornada, o Porto voltou a vencer (3-2) num jogo que podia ampliar a distância entre ambos para 10 pontos mas encurtou para 4, o Benfica entrou em profunda inércia e depressão, acusando a pressão. Entre a jornada 20 e a jornada 29, em 10 jogos, foram 4 derrotas, 4 empates e apenas duas vitórias, uma delas contra um Rio Ave reduzido a 9 unidades.
    Nem os números absurdos de Pizzi (18 golos e 14 assistências) nem o facto de Carlos Vinícius se ter sagrado melhor marcador ajudam a acrescentar cor a uma campanha muito abaixo das expectativas e daquilo a que este plantel (que deve sofrer uma mini-revolução, e que sempre teve lacunas, mas que hoje parece muito pior do que aquilo que é na verdade mediante o nível apresentado nos últimos meses) obrigava. Nunca percebemos a forma como Lage desistiu de Florentino, é um facto que a integração de Weigl foi mal gerida, custa recordar a forma como o flop Raúl de Tomás raramente pôde ocupar os espaços que mais gosta, salvando-se no meio de tudo a incrível evolução de Odysseas Vlachodimos, melhor guarda-redes da Liga em 19/ 20, a dinâmica e fantasia que o tantas vezes desacompanhado Taarabt deu ao ataque, o patrão defensivo quase-sempre-irrepreensível Rúben Dias e, vá, aquele bis de Gonçalo Ramos, capaz de deixar o adepto mais catatónico com um esboço de sorriso muito tempo depois.

Destaques: Pizzi, Carlos Vinícius, Odysseas Vlachodimos, Rúben Dias, Adel Taarabt

Trincão, as saudades que terá de Paulinho e quem levava para o ...
 BRAGA (3)

    Foram 60 pontos, 18 vitórias, 6 empates e 10 derrotas - tudo igual ao Sporting. Mas considerando todos os parâmetros, foi o Sporting Clube de Braga a ocupar o último lugar do pódio, uma 3.ª posição que o clube não alcançava desde 2011/ 12 (62 pontos) com Leonardo Jardim.
    Curiosamente, o Braga atingiu com Abel Ferreira 67 pontos em 2018/ 19 e 75 pontos em 2017/ 18 mas nessas duas épocas Porto, Benfica e Sporting fizeram todos mais pontos do que na actual edição, notando-se substancial decréscimo na marca pontual do Sporting.
    Será porventura inédito um clube português ficar em 3.º depois de ter sido orientado por tantos treinadores diferentes ao longo dos vários meses de competição - Sá Pinto vacilou em Portugal mas fez um brilharete na Liga Europa; Rúben Amorim conquistou uma Taça da Liga (vencendo Sporting nas meias e Porto na final) e deixou Braga por 10 milhões com um registo de 8 vitórias e 1 empate em 9 jogos na Liga, incluindo vitórias contra os 3 grandes, derrotando o Benfica na Luz e o Porto no Dragão; Custódio perdeu 50% dos jogos em que orientou a equipa; e Artur Jorge fez o suficiente para garantir o 3.º lugar, aproveitando os deslizes finais do Sporting... de Rúben Amorim. Em 2020/ 21 o Braga será treinado por Carlos Carvalhal. A coisa promete.
    Olhando para os intérpretes do jogo, Paulinho foi o Avançado do Ano em Portugal, sendo muito mais influente no processo ofensivo da sua equipa do que Carlos Vinícius ou Taremi, e Trincão foi um dos 2 jovens em maior destaque na Liga, e entre todos os Sub-21 aquele que nos parece ter maior potencial, rumando agora para Barcelona. Ricardo Horta dobrou o seu máximo de golos numa época, João Palhinha evoluiu como poucos, merecendo ainda uma palavra de apreço as épocas de Fransérgio, Esgaio e Sequeira.

Destaques: Paulinho, Trincão, Ricardo Horta, João Palhinha, Fransérgio

Jovane: «Rúben Amorim tem boas ideias e dá confiança aos mais ... SPORTING (4)

    Tendo alternado entre o 2.º (duas vezes) e o 3.º (quatro vezes) lugares desde 2013/ 14, esta época marca a primeira ocasião em algum tempo em que o Sporting Clube de Portugal não é o primeiro Sporting na tabela. Na temporada mais longa de todas, o Sporting de Frederico Varandas teve 4 treinadores diferentes, coleccionou decisões questionáveis, mas parece ao dia de hoje bem entregue, com um projecto sensato e respeitador do ADN do clube, sabendo os leões para onde querem ir.
    Há muitos meses atrás, o holandês Marcel Keizer (que venceu a Taça de Portugal e a Taça da Liga em 2018/ 19, convém não esquecer) era ainda treinador do Sporting. Porém, as derrotas na Supertaça por 5-0 diante do Benfica, e na Liga e em casa frente ao Rio Ave por 3-2 - estando os leões à 4.ª jornada em 7.º lugar, com 7 pontos, a 2 de Benfica e Porto e a 3 do então líder Famalicão - ditaram o despedimento precoce e surpreendente de Keizer. Leonel Pontes orientou a equipa durante duas jornadas, sendo depois anunciado Silas como o novo treinador do projecto de Frederico Varandas.
    Silas, que começara a época com as cores azuis do Belenenses SAD, entrou em funções em finais de Setembro e durou até ao princípio de Março. Aconteceu durante este intervalo um dos acontecimentos mais determinantes na época do Sporting: a transferência de Bruno Fernandes para o Manchester United, no final de Janeiro, por 55 milhões. E embora no final da época, Frederico Varandas tenha "acertado", não dá para compreender os 2 maiores pecados deste Sporting 19/ 20: 1) se não havia confiança em Keizer, não se fazia com ele todo o planeamento da época, evitando-se um despedimento à 4.ª jornada; 2) segurar Bruno Fernandes meia época significou à data segurar o melhor jogador do futebol português, mas vendê-lo no Verão teria possibilitado um ataque diferente ao mercado, não acusando a equipa in media res a saída do seu capitão, super-influente.
    Momento positivo da temporada: a aposta em Rúben Amorim. Varandas não fez a coisa por menos, pagou (ou vai pagar) ao Braga a cláusula de 10 milhões de euros para ter o "treinador da moda", e o clube pôde assim começar a planear e fazer "captações" para 2020/ 21 ainda com esta época a decorrer. Amorim (14 vitórias em 20 jogos na Liga, distribuídos entre Braga e Sporting, conhecendo apenas o sabor da derrota em duas das 3 últimas jornadas da prova, num Clássico e num derby) importou do Minho o seu 3-4-3, revelou habilidade a fazer os seus jogadores assimilarem o pretendido, fez Jovane Cabral render muitíssimo mais, e integrou no onze jovens valores como Nuno Mendes, Eduardo Quaresma e Matheus Nunes, em ano de Adeus para Jérémy Mathieu.
    A época foi acidentada e o 3.º lugar esteve na mão, mas Rúben Amorim parece ser o treinador certo para o projecto do Sporting, em 20/ 21 já ninguém acusará em campo a brunofernandes-dependência, e Varandas parece disposto a dar tempo e a apoiar uma política Made in Alcochete. Saibam os adeptos esperar e acreditar numa ideia sustentável, e o clube poderá sonhar um passo de cada vez.

Destaques: Bruno Fernandes, Jovane Cabral, Wendel, Jérémy Mathieu, Nuno Mendes

 RIO AVE (5)

    O Rio Ave de Carlos Carvalhal jogou como um grande. Facto. Com uma média de posse de bola em casa de 56,6% (superior a Benfica e Sporting, por exemplo) e uma circulação progressiva que, de acordo com a Goalpoint e o Canal 11, foi a 8.ª melhor da Europa (e antes da paragem era mesmo Top-6), aproximando-se dos registos alcançados, em campeonatos muitíssimo mais exigentes, por alguns dos candidatos à vitória na Champions.
    Em Vila do Conde morou uma das equipas em que se notou mais "dedo" de treinador. Não é coincidência Nuno Espírito Santo, Luís Castro, Miguel Cardoso e José Gomes terem saído todos valorizados na sua passagem pelo clube verde e branco, mas quanto a nós Carvalhal, humilde a dar um passo atrás depois de ter treinado na Premier League e carimbando assim o seu regresso a Braga 14 anos depois, é muito mais um exemplo na linha de NES e Luís Castro do que de Miguel Cardoso ou José Gomes.
    Com Liga Europa no bolso e dando sequência à sua alternância recente entre quintos e sétimos lugares, o Rio Ave viverá agora (sob orientação de Marco Silva, outro treinador que acompanharemos com atenção) nova revolução: Mehi Taremi (um dos melhores marcadores da Liga com 18 golos e a prova que a exploração do mercado asiático pode trazer frutos aos clubes portugueses) seguramente não continuará em Vila do Conde, o pé esquerdo de Nuno Santos promete luta acesa entre os grandes, juntando-se a estes dois principalmente as boas performances de Filipe Augusto, Matheus Reis e Aderlan.

Destaques: Mehdi Taremi, Nuno Santos, Filipe Augusto, Matheus Reis, Aderlan Santos

 FAMALICÃO (6)

    A equipa-sensação de 2019/ 20 morreu na praia. Parece impossível mas o recém-promovido Famalicão teve a Liga Europa nas mãos, deixando-a escapar na Madeira com um golo sofrido aos 90+5 minutos.
    João Pedro Sousa (ex-adjunto de Marco Silva, a estrear-se a solo num projecto pensado com cabeça, tronco e membros por Miguel Ribeiro e apoiado por Jorge Mendes) não podia ter começado melhor, revelando hábil capacidade para agregar um conjunto de jovens promessas, fazendo deles uma equipa que encantou, jogou sem medo, tirou pontos aos grandes e, por tudo isto, acabará por sofrer uma revolução na viragem de 19/ 20 para 20/ 21 mediante a valorização de vários activos.
    Com 8 derrotas, apenas Porto e Benfica perderam menos que o Famalicão; com 53 golos, apenas Porto, Benfica e Braga marcaram mais que o Famalicão. Mas salta à vista um dado, porventura um indicador que é consequência da juventude (média de idades de 23 anos) - a equipa sofreu 51 golos, sendo a 4.ª pior defesa entre as 18 equipas em competição.
    No meio de tudo isto, olhando para o campeonato, o Famalicão ganhou nas duas voltas ao Sporting, ganhou ao Porto na 2.ª volta, empatando com o Benfica e sobrevivendo assim invicto em casa frente aos "grandes"; empatou sempre com o Braga, ganhou e empatou diante do Rio Ave, ficando só como maior nódoa a inesperada derrota por 7-0, em casa, na recepção ao Vit. Guimarães.
    O capitão Fábio Martins, que aos 27 anos pareceu um veterano rodeado de aprendizes, fartou-se de jogar à bola, Pedro Gonçalves e Gustavo Assunção mostraram ser jogadores já prontos para representar um grande, Diogo Gonçalves fez o suficiente para merecer nova oportunidade na Luz, Nehuen Pérez mostrou porque é que pertence aos quadros do Atlético Madrid, merecendo ainda destaque o perfumado pé esquerdo do altivo Uros Racic, o avançado trabalhador Toni Martínez e o suplente goleador Anderson.

Destaques: Fábio Martins, Pedro Gonçalves, Gustavo Assunção, Nehuen Pérez, Diogo Gonçalves

 VIT. GUIMARÃES (7)

    É relativamente complexo analisar a época desportiva do Vitória de Guimarães. O clube da cidade-berço, entregue a Ivo Vieira, um dos técnicos que terminou 18/ 19 com a cotação altíssima, falhou o objectivo: tinha plantel para lutar pelo 4.º lugar e terminou em sétimo. Mas é impossível limitar tudo a uma compreensão tão fria e objectiva.
    Em vários momentos, sobretudo em 2019, o Vitória foi uma das equipas que praticou melhor futebol em Portugal. Prova disso a Liga Europa, competição para a qual o clube se qualificou com 15 golos marcados e 0 sofridos em três eliminatórias, seguindo-se uma fase de grupos injusta, em que o Vit. Guimarães jogou olhos nos olhos com o Arsenal (derrota por 3-2 no Emirates estando a ganhar por 2-1 a 10min do fim; empate 1-1 em Guimarães) e derrotou mesmo o Eintracht Frankfurt por 3-2 na Alemanha.
    Sem nunca estabilizar um trio de meio-campo e sem ter um ponta de lança capaz de acrescentar números e acompanhar a qualidade existente nos corredores, o Vitória viu Sacko crescer, João Carlos Teixeira alternar jogos do outro mundo com jogos cinzentos, viu Pêpê tornar-se o médio que se esperava há vários anos que se viesse a tornar, e viu principalmente valorizada a sua rede de scouting, salvando a época o Euromilhões ganho com Edmond Tapsoba (o super-central do Burkina Faso estava a ser o melhor central em Portugal quando saiu para Leverkusen por 18 milhões) e futuramente com Marcus Edwards, para nós o Jovem Jogador do Ano, um talento inglês que acabará por voltar à Premier League por uma cifra significativa.
    Ivo Vieira saiu, e segue-se agora o estreante Tiago Mendes, cujo início da carreira de treinador já aguardávamos com bastante curiosidade há 1 ano ou dois.

Destaques: Marcus Edwards, Edmond Tapsoba, Pêpê, Falaye Sacko, João Carlos Teixeira

 MOREIRENSE (8)

    Na época transacta, Moreira de Cónegos viveu um sonho. A equipa-sensação da prova terminou em 6.º, com Chiquinho a comandar um conjunto que, além de perder o médio para o Benfica, ainda ficou sem Loum (a meio de 2018/ 19), Heriberto, Arsénio ou Ivanildo Fernandes, juntando-se à perda destas figuras a saída de Ivo Vieira para Guimarães.
    Os cónegos iniciaram esta Liga com Vítor Campelos como treinador, uma colaboração que durou 14 jornadas. Mas foi nas 20 jornadas seguintes que se fez a época do Moreirense, com Ricardo Soares (retirado ao Covilhã, numa LigaPro onde já brilhara sobretudo a orientar o Vizela) a mostrar a qualidade que, a nível de I Liga, certamente não apresentara no Aves mas sim a espaços em Chaves, onde o futebol praticado fora melhor do que os resultados obtidos.
    Analisando em exclusivo a 2.ª volta, o Moreirense somou 25 pontos. Para se ter uma boa noção, os mesmos que Vit. Guimarães, mais 2 que o Famalicão ou apenas menos 4 que o Benfica. As últimas duas jornadas foram atípicas (a goleada de 6-1 sofrida no Dragão foi o jogo da festa do Porto e na despedida do campeonato o Moreirense estava "relaxado" contra o aflito Tondela, com muito mais em jogo), mas impressiona observar que até então, no intervalo compreendido da 19.ª jornada até à 32.ª, o Moreirense perdeu apenas uma vez. Uma derrota em 14 jogos.
    Ao longo de toda a época, a qualidade do keeper Mateus Pasinato foi um factor constante, acumulando defesas atrás de defesas; Fábio Abreu chegou aos 13 golos na Liga e ficou a sensação que tem ainda mais para dar; e entre o elenco mais jovem, Filipe Soares deu sequência ao que já fizera no Estoril, voltando a demonstrar porque é que há uns anos era um dos médios mais cotados no Seixal.

Destaques: Mateus Pasinato, Fábio Abreu, Filipe Soares, Fábio Pacheco, Bilel

 SANTA CLARA (9)

    Quando em 2018/ 19 João Henriques assumiu o comando técnico de uma equipa que não militava no 1.º escalão desde 2003, a classificação final (10.º lugar) foi um feito honroso que parecia difícil de igualar. Pois bem, mais de um ano mais tarde aqui estamos com o Santa Clara 9.º classificado, um degrau acima numa campanha que confirma João Henriques como um dos treinadores a ter em conta no futebol nacional. Ponto alto? Aquela incrível vitória por 4-3 na Luz.
    A equipa que conheceu 2 estádios ao longo de 2019/ 20 - deixou os Açores após a paragem para se fixar na retoma na Cidade do Futebol, assumindo-a como nova casa - foi um dos plantéis que nos pareceu melhor "espremido". A qualidade de Fábio Cardoso (mais jogador a cada ano que passa), Rashid ou Zé Manuel já era conhecida, Costinha e Rafael Ramos assentaram na equipa que nem uma luva, e o samba de promessas adiadas como Carlos Júnior e Lincoln ajudou a desequilibrar muitos encontros. O portentoso Crysan fechou a época em bom plano, num sector onde Guilherme Schettine se eclipsou inexplicavelmente, ficando 2019/ 20 como a melhor época de Marco na I Liga e como a carta de apresentação do lateral-esquerdo nigeriano Zaidu Sanusi, contratado ao Mirandela e uma das revelações do ano.

Destaques: Fábio Cardoso, Zaidu Sanusi, Marco, Carlos Jr., Rafael Ramos

 GIL VICENTE (10)

    O treinador das subidas e dos desafios impossíveis voltou a fazer das suas. Que Vítor Oliveira conhece o futebol português como a palma das suas mãos já todos sabíamos, mas não deixa de ser extraordinário que o técnico de 66 anos tenha conseguido assumir uma equipa que saltou - resolvido o "Caso Mateus" - 2 escalões do Campeonato de Portugal para a I Liga, trabalhando com um conjunto de jogadores praticamente desconhecidos entre si e fechando a época num assinalável 10.º lugar.
    Vítor Oliveira tornou a equipa de Barcelos uma das mais fortes do campeonato em casa, somando nesse capítulo 3 derrotas, as mesmas que Benfica e Braga, um registo superado apenas pelo campeão nacional. Em casa, o Gil ganhou inclusive ao Porto e ao Sporting, e num elenco que deu sempre a sensação de estar bem preparado, com boa capacidade de reacção às adversidades e o trabalho de casa bem feito, sobressaiu o refrescante do búlgaro e cabeludo Kraev e o goleador Sandro Lima, que após passagens felizes na II Liga ao serviço de Estoril, Académico de Viseu e Chaves (onde trabalhara com Vítor Oliveira) agarrou finalmente uma oportunidade um patamar acima.
    A defesa certinha teve em Rodrigão e Henrique Gomes os elementos com índices mais elevados, e é inquestionável o impacto do reforço Rúben Ribeiro: em apenas 13 jogos, brilhou e fez brilhar os colegas. Para clubes deste nível, o ex-Sporting é um craque, sendo evidente o quanto aumenta o seu rendimento quando se sente figura da equipa.

Destaques: Bozhidar Kraev, Sandro Lima, Rodrigão, Rúben Ribeiro

 MARÍTIMO (11)

    Seguindo a prática de tantos outros clubes, o Marítimo começou a época com um treinador, deu o murro na mesa a dada altura, e encontrou melhor aproveitamento com a alternativa adequada. Neste caso, Nuno Manta Santos foi a aposta falhada e José Gomes (que se destacara no Rio Ave na primeira metade de 2018/ 19) o herdeiro.
    O clube que tirou a Europa ao Famalicão guardou o seu brilho maior para o pós-paragem. Entre Junho e Julho, os insulares conseguiram quase tantas vitórias como tinham até então, destacando-se claro está aquele 2-0 ao Benfica, com uma super-exibição de Nanú, que ditou o afastamento de Bruno Lage. Na Madeira, o lateral/ ala Nanú foi mesmo o principal destaque da época (um velocista com 26 anos mas que ainda pode acrescentar muito numa equipa Top-7), acompanhado pelos golos de Rodrigo Pinho (um dos avançados da Liga com maior reportório técnico, pecando pela falta de regularidade), pela assertividade defensiva de Zainadine e René e por algumas exibições de encher o olho de Amir entre os postes.

Destaques: Nanú, Rodrigo Pinho, Zainadine Júnior, René, Amir

 BOAVISTA (12)

    Sempre seguros e longe da luta pela manutenção, os axadrezados viveram dois campeonatos, embora mantendo a sua identidade de jogo mais ou menos constante. Lito Vidigal comandou a equipa do Bessa nas primeiras 14 jornadas. Quando o clube comunicou a rescisão do técnico angolano, em Dezembro, é certo que a equipa já tinha sido eliminada das duas taças (pelo Casa Pia na Taça da Liga, e pelo Chaves na Taça de Portugal) e que à data contabilizava 4 derrotas em 5 jogos, mas ainda assim o Boavista estava em 8.º lugar, com 18 pontos e a três dos lugares europeus.
    Saiu o ultra-defensivo Lito Vidigal e entrou Daniel Ramos, treinador igualmente defensivo embora usualmente associado a uma transição ofensiva eficaz e simplificada. O próximo treinador do Santa Clara perdeu 11 dos 20 jogos em que orientou as "panteras negras" e, regra geral, soube preservar os traços primordiais da equipa que, acreditamos, sofrerão drástica mudança com Vasco Seabra em 20/ 21.
    A melhor versão do Boavista coexistiu quase sempre com a presença de Helton Leite na baliza, continuando o veterano Ricardo Costa (39 anos) a comandar as tropas, distinguindo-se Gustavo Sauer com o seu pé esquerdo requintado e percebendo-se as dificuldades de atingir resultados com margens folgadas ao constatar que os melhores marcados (Bueno e Heriberto) fizeram balançar as redes contrárias apenas por 4 vezes cada.

Destaques: Helton Leite, Gustavo Sauer, Alberto Bueno, Ricardo Costa

 PAÇOS FERREIRA (13)

    Pepa, tal como Petit, continua a reforçar o seu estatuto de treinador salvador. Nesta edição de 2019/ 20, o Paços de Ferreira terá sido porventura o melhor exemplo de como uma boa abordagem no mercado de Inverno pode fazer toda a diferença.
    O último lugar com apenas 1 ponto e um saldo de 1 golo marcado e 8 sofridos levou a direcção do clube da Capital do Móvel a considerar Filipe Rocha um erro de casting. Pepa foi o escolhido para orientar os "castores" e, embora as melhorias tenham demorado o seu tempo a fazer-se notar, a 2.ª volta representou um progresso evidente - no conjunto das primeiras 17 jornadas, o Paços foi 15.º com 16 pontos, analisando apenas a segunda volta, 10.º com 23 pontos. Impressionou particularmente o período que o Paços viveu entre as jornadas 22 e 30, com 6 vitórias em 9 jogos.
    Pepa é o homem certo no lugar certo, e não é exagero dizer que Janeiro, com os ingressos de Eustáquio, João Amaral, Marcelo, Castanheira e Denílson revolucionou o Paços versão 2019/ 20. A estes importantes reforços juntou-se uma recta final em que Douglas Tanque levou tudo à frente e a já habitual regularidade do capitão Pedrinho, de malas feitas entretanto para o futebol letão.

Destaques: Douglas Tanque, Pedrinho, Adriano Castanheira, Stephen Eustáquio

 TONDELA (14)

    Ao contrário dos 4 clubes que terminaram abaixo e dos 3 clubes que terminaram acima, o Tondela manteve o treinador, o espanhol Natxo González, toda a época. A estabilidade terá, parece-nos, contribuído de forma positiva.
    A campanha do Tondela fica marcada pela capacidade de conquistar pontos complicados: vitória fora no terreno do Rio Ave por 4-2, vitória caseira por 1-0 frente ao Sporting, vitória em Famalicão por 3-2, empate a zeros na Luz, e vitória por 1-0 na recepção ao Braga na penúltima jornada do campeonato.
    O plantel demonstrou sempre em campo a sua coesão, mesmo não tendo os argumentos qualitativos de outros conjuntos. Cláudio Ramos terá cumprido à partida a sua última época após 9 anos em Tondela, Pepelu e João Pedro foram os elementos habitualmente mais "iluminados", e parece-nos que o clube devia lutar por garantir em definitivo os serviços do possante Ronan David.

Destaques: Pepelu, João Pedro, Cláudio Ramos, Ronan David

 BELENENSES SAD (15)

    Começa a ser uma das leis incontornáveis do futebol português: Petit não vai ao fundo. Tendo já em épocas anteriores garantido a manutenção em diversos clubes, particularmente emocionante quando no comando de Tondela e Moreirense, o ingresso de Petit como sucessor de Silas e Pedro Ribeiro foi quase o assegurar de um balão de oxigénio por si só.
    Globalmente, a temporada do Belenenses SAD foi pacata e sem grandes notas de destaque, morando no Jamor o 2.º ataque menos profícuo (27 golos) da prova, em ex aequo com o Vit. Setúbal. Algumas derrotas bem pesadas (5-0 em Guimarães, 5-0 no Dragão e principalmente aquele avassalador 7-1 imposto pelo Braga) contribuíram para deixar a equipa com o estatuto de 2.ª pior defesa (54 golos sofridos), algo que até não bate certo com o facto do guardião Hervé Koffi ter sido uma das agradáveis surpresas da prova.
    Numa época em que Licá (já é sabido que não continuará no clube) voltou a ser o goleador de serviço, Kikas não correspondeu às nossas expectativas depois das boas indicações dadas em 2018/ 19 e, em família, Silvestre Varela - o grande destaque individual da equipa sob orientação de Petit - apadrinhou os primeiros passos do sobrinho, o promissor lateral-esquerdo Nilton Varela.

Destaques: Silvestre Varela, Nilton Varela, Licá, Hervé Koffi

 VIT. SETÚBAL (16)

    Ao longo da época, 4 treinadores. No apito final da Liga, após término da 34.ª jornada, manutenção assegurada. No entanto, a existência de dívidas a sociedades desportivas, a existência de dívidas a jogadores, treinadores e funcionários e a irregularidade da situação contributiva perante a Autoridade Tributária terá, a não ser que o recurso apresentado faça a decisão recuar, atirado o Vitória de Setúbal para o Campeonato de Portugal, numa descida de dois escalões de mãos dadas com o despromovido-de-todas-as-maneiras Desportivo das Aves.
    Junto ao Sado, Sandro Mendes começou a temporada (à 8.ª jornada quando deixou o clube a sua equipa tinha 1 golo marcado e estava, ainda assim, em 13.º), Julio Velázquez substitui-o numa aposta que fugiu à política usual do Vitória, conseguindo bater os adversários directos, apresentar bom futebol, mas acabando numa sequência de 11 jogos consecutivos sem vencer. À 29.ª jornada, Velázquez deixava a Meyong, que já treinara o clube de modo interino na transição Sandro-Velázquez, uma equipa no 15.º lugar. No fim, chegou o resultadista e cumpridor de objectivos Lito Vidigal: em 4 jogos a equipa abusou de anti-jogo e de futebol ultra-defensivo, e com 4 pontos nos últimos 6 em disputa (empate a zeros em Alvalade e vitória por 2-0 frente ao Belenenses SAD) garantiu, em campo, a manutenção. Nota para o facto do Vit. Setúbal ter sido a 10.ª melhor defesa da prova, com por exemplo apenas menos 3 golos sofridos do que o Sporting de Braga.
    A nível individual foi uma época de pouca exuberância no Bonfim: o guardião Makaridze disse presente em diversas ocasiões, Carlinhos foi sempre a principal fonte de criatividade e as melhores prestações do sector defensivo do Vit. Setúbal tiveram em Artur Jorge a voz de comando, multiplicando-se em esforços.

Destaques: Giorgi Makaridze, Carlinhos, Artur Jorge, Éber Bessa

 PORTIMONENSE (17)

    Se Portimão vai ou não continuar a ter futebol de Primeira Liga só o tempo dirá, consoante o desfecho do recurso apresentado pelo Vit. Setúbal (condenado a descer ao Campeonato de Portugal em situação idêntica ao Desportivo das Aves), mas pelo que se passou em campo, e apesar de ter um elenco que "obrigava" melhor classificação final, o Portimonense desceu.
    Com 33 pontos (menos 1 que Vit. Setúbal, menos 2 que Belenenses SAD e menos 3 que Tondela), o clube acabou por pagar a demora em despedir António Folha. Paulo Sérgio chegou vindo das Arábias, ainda chegou a dar a sensação que tudo estava no caminho certo quando alcançou uma sequência de 5 jogos invicto (3 vitórias e 2 empates na retoma do campeonato, incluindo 2-2 na recepção ao Benfica e vitória por 1-0 no terreno do Famalicão) mas 3 derrotas nas cinco jornadas finais deitaram tudo a perder.
    Quem tem o talento canarinho de Bruno Tabata, Lucas Fernandes e Dener, Jackson Martínez (mesmo estando reduzido a um vigésimo do que já apresentou) ou promessas como Marlos Moreno e Bruno Costa tinha obrigação de assegurar a manutenção com conforto. O Portimonense até teve melhor diferença de golos do que Vit. Setúbal e Belenenses SAD mas foi um exemplo de má gestão e desperdício de máteria-prima. Salvou-se sobretudo o camisola 10, Bruno Tabata, que aos 23 anos poderá dar o salto para outro patamar, e não se pode dizer que foi por falta de empenho do central goleador Willyan Rocha que Portimão disse (eventualmente) adeus à Liga NOS.

Destaques: Bruno Tabata, Willyan Rocha, Dener, Lucas Fernandes

 DESP. AVES (18)

    Com 17 pontos (5 vitórias, 2 empates e 27 derrotas), o Desportivo das Aves foi tão mau que, depois de três épocas no 1.º escalão, seguirá directamente para o Campeonato de Portugal. Não pelo seu mau desempenho - pior defesa (68 golos sofridos) e pior ataque (24 golos marcados) - mas pelo incumprimento dos requisitos de inscrição na LigaPro 2020/ 21.
    Após desenvolver um bom trabalho no clube em 2018/ 19, Augusto Inácio teve um arranque terrível (7 derrotas nas primeiras 8 jornadas), acabando por fugir para o Brasil levado, em conjunto com Jesualdo Ferreira, pela onda que motivou alguns clubes brasileiros a procurar uma réplica de Jorge Jesus com uma espécie de anúncio "Procura-se treinador português, com pelo menos uma Liga portuguesa no seu CV e vários anos de experiência". A Vila das Aves escolheu Nuno Manta Santos como substituto, mas o técnico de 42 anos, que desde aquele 8.º lugar com o Feirense em 2016/ 17 tem visto a sua cotação descer, não conseguiu mudar o rumo dos acontecimentos.
    A época acabou com alguns jogadores a rescindirem unilateralmente, e com os jogadores avenses em protesto imóveis durante 1 minuto do jogo contra o Benfica, mas teve, aqui e ali, bons momentos. O iraniano Mohammadi e o brasileiro Welinton Júnior foram, com larga vantagem, os destaques ofensivos da equipa, importando ressalvar o crescimento do lateral-esquerdo Ricardo Mangas, que aos 22 anos conseguiu por fim mostrar-se no futebol profissional e num contexto mais exigente do que o patamar Sub-23.

Destaques: Mehrdad Mohammadi, Welinton Jr., Ricardo Mangas



por Miguel Pontares e Tiago Moreira