Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

30 de junho de 2014

França 2-0 Nigéria: Nigéria cai aos pés de Pogba

França    2 - 0    Nigéria (Pogba 79', Yobo (A.G.) 90'+2)

    Esperava-se uma supremacia francesa sobre esta - até então - fraca Nigéria, mas a verdade é que foram os africanos a dominar praticamente todo o encontro. Desde bem cedo apresentaram uma pressão alta, boa coesão em terrenos defensivos e transições rápidas no ataque. A França mostrou-se surpreendida com a disponibilidade física e atitude agressiva dos nigerianos e não conseguia criar oportunidades dignas de golo. Isto até aos 70 minutos de jogo.
    A primeira metade é de domínio completo da Nigéria. Os gauleses não conseguiam ter um ataque minimamente organizado e a bola teimava em não chegar a Karim Benzema. Os africanos pressionavam alto e obrigavam os adversários a jogar mal. Sempre serenos - embora rápidos - os nigerianos chegaram mesmo ao golo. Contudo, foi bem anulado a Emenike. O avançado estava em posição irregular no momento do (bom) cruzamento de Musa. Os franceses responderam logo a seguir num contra-ataque que envolveu uma boa combinação entre Valbuena e Pogba com o extremo a servir de feição o médio da Juventus que acabou por disferir uma bomba para defesa vistosa de Enyeama. Debuchy ainda ameaçou com o remate espontâneo ao lado, mas Emenike mais espontâneo foi. Subiu pela ala esquerda, abrandou e - sem ninguém estar à espera - atirou uma autêntica bomba que obrigou Lloris a aplicar-se. Estavam presentes claras dificuldades da equipa francesa que apenas conseguiu criar perigo num contra-ataque rápido. A Nigéria seguia para o intervalo por cima do jogo e limpava assim a imagem que tinha criado na fase de grupos. De relembrar que aos 38 minutos foi perdoada uma grande penalidade à França por falta de Evra sobre Odemwingie. O lateral esquerdo francês agarrou de forma descarada o avançado nigeriano impedindo-o de saltar.
    A segunda parte começa praticamente com uma entrada assassina de Matuidi sobre Onazi. O árbitro não teve a coragem de admoestar correctamente o médio e acabou por lhe mostrar apenas o amarelo. Uma das entradas mais duras do Mundial a passar apenas com a cartolina amarela... De resto, apenas mais uma decisão péssima de arbitragem neste Campeonato do Mundo. A Nigéria continuava por cima e Odemwingie obrigou Lloris a ir de novo ao chão, após uma boa incursão do lado direito para o centro, culminando num remate forte e rasteiro. A bola acabou por bater à frente de Lloris e complicou ainda mais a defesa do guardião gaulês. A França respondeu por intermédio de Benzema. O avançado do Real Madrid inventou uma jogada passando por dois adversários de forma fantástica, triângulou na perfeição com Griezmann e - na cara de Enyeama - atirou à figura do guardião do Lille. Não é normal em Benzema estes lances não acabarem no fundo das redes. A bola ainda fugiu para a baliza, mas Moses tirou em cima da linha. A França começou finalmente a apertar o cerco e aos 75 minutos surgiu outro grande lance francês. Canto batido da esquerda por Valbuena, a bola acaba por cruzar toda a área adversária e encontrar Benzema ao segundo poste. O avançado gaulês dominou, atirou para a baliza, Omeruo tirou perto da linha de golo para fora da área e Cabaye - após domínio com o peito - atirou um míssil à barra. Era um enorme golo do médio e Enyeama não tinha quaisquer hipóteses. Num livre cobrado por Valbuena, Benzema voltou a visar a baliza, mas novamente Enyeama no sítio certo a negar o golo. Depois de tanto encostar os africanos às cordas num curto espaço de tempo, o golo surge mesmo. Canto batido por Valbuena para o coração da área, Enyeama sai mal e acaba por intersectar mal a bola. O esférico acaba por ir na direcção de Pogba que apenas teve que cabecear para o fundo da baliza. Estava feito o primeiro e por um jogador que tinha batalhado muito durante toda a partida. Os africanos consentiram o golo e depois do golpe fatal de Pogba, jamais criaram perigo. A França podia ter feito o segundo por Griezmann - após enorme passe de Pogba -, mas Enyeama mais uma vez negou o golo. Negou aos 83, mas não conseguiu negar 10 minutos depois. Canto curto de Valbuena que se entendeu com Karim Benzema, com o primeiro a cruzar para dentro da área e Yobo a fazer o desvio final resultando em auto-golo. 

    A vitória da França acabou por se ajustar, mas apenas caiu para o seu lado porque tem jogadores de grande calibre. A arbitragem de novo a influenciar e a prejudicar a equipa dita mais fraca com uma grande penalidade por assinalar e um cartão vermelho por mostrar. Ainda assim, os nigerianos saem deste Mundial de cabeça erguida perfazendo um jogo muito bom contra uma das melhores selecções da actualidade. Bom jogo de Ambrose e de Odemwingie sempre endiabrados na frente e com Enyeama também excelente entre os postes. Do lado da França, Valbuena foi quem mais dificuldades criou aos adversários e é assim - para o Barba Por Fazer - o melhor jogador em campo. Ambos os golos nasceram dos seus pés, correu que se fartou e sempre que tocou na bola fê-lo com qualidade. Benzema não esteve ao nível de jogos anteriores, mas ainda assim mereceu destaque positivo já que grande parte das oportunidades de golo surgem de remates seus. Pogba é o melhor jogador em campo para a maior parte dos media, mas - apesar de ter sido fulcral no meio campo gaulês - esteve longe da exibição de Mathieu Valbuena.
    Os gauleses acabam assim por ser a segunda equipa europeia a passar aos quartos-de-final acompanhando a Holanda.



Barba Por Fazer do Jogo: Mathieu Valbuena (França)
Outros Destaques: Pogba, Benzema; Enyeama, Ambrose, Odemwingie.

Costa Rica 1-1 (5-3 g.p.) Grécia: Os Heróis seguem em frente

Costa Rica  1 - 1 (5-3 g.p.)  Grécia (Bryan Ruiz 52'; Sokratis 90'+1)

    Foi somente no desempate das grandes penalidades que a Costa Rica conseguiu carimbar um histórico apuramento para os quartos-de-final. Os ticos tinham chegado em 1990 aos oitavos, mas desta vez vão mais longe. A Costa Rica, selecção sensação do Mundial 2014, teve que sofrer e muito - foi prejudicada pela arbitragem - mas conseguiu vencer, com o guardião Keylor Navas mais uma vez em destaque entre os postes.
    Hoje já se sabia que teríamos o confronto dos outsiders. Ninguém no seu perfeito juízo imaginaria antes do começo do Mundial que Costa Rica-Grécia seria um jogo dos oitavos. A Costa Rica - talvez a equipa mais perfeita do ponto de vista defensivo nesta competição - acabou por ter o azar de apanhar nos oitavos a pior equipa para o seu jogo, a Grécia. Num jogo entre 2 equipas que sabem defender melhor do que atacar (embora a Costa Rica mereça todos os elogios na forma como consegue estar sempre equilibrada, mesmo no momento ofensivo e ao perder a bola nas transições) a 1.ª parte acabou por corresponder às expectativas. O 0-0 manteve-se, ninguém quis errar, embora a Grécia fosse manifestando algum ascendente. O verdadeiro momento do jogo na primeira parte acabou por ser um remate de Salpingidis, após bom cruzamento de Holebas, com Keylor Navas a brilhar e a defender com a perna. O intervalo chegava e temia-se que o nulo se mantivesse até ao fim. À priori era possível prever que seria um jogo com poucos golos, e ia sendo interessante ver como o jovem Joel Campbell estava a ser bem marcado e anulado por uma equipa com vários colegas seus, entre os quais Manolas, o seu marcador individual.
    Parecia que os golos iriam demorar, mas não foi o que aconteceu. Na 1.ª vez que rematou à baliza, a Costa Rica marcou. Bolaños assistiu do lado esquerdo e Bryan Ruiz rematou com muita calma, fazendo um remate seco que Karnezis apenas acompanhou com os olhos. Orestis Karnezis podia ao menos ter-se atirado, ele que não fez 1 única defesa durante todo o jogo (prolongamento e penalties incluídos). Logo a seguir ao 1-0 a Costa Rica voltou a carregar e ficou com claras razões de queixa do árbitro - Torosidis impediu com o braço que a bola chegasse a Bolaños, que se preparava para rematar, ficando uma grande penalidade por marcar. O jogo parecia estar a correr bem para os ticos mas ficou nitidamente mais complicado depois de Óscar Duarte ser (bem) expulso. O central do Club Brugge viu o 2.º amarelo, com o árbitro a ajuizar bem nas duas ocasiões. Ficando a jogar com 10 aos 66' a vida da selecção da América Central ficou mais complicada mas os heróis nascem nestes dias, contra todas as adversidades e quando poucos acreditam mas eles acreditam mais que todos. A Grécia procurou impor maior intensidade no jogo, pressionando o adversário e apostando nos cruzamentos para a área (caso para dizer que Keylor Navas ganhou 100% das bolas no jogo aéreo) e, considerando o critério do árbitro, Manolas poderia ter sido expulso após uma bárbara entrada por trás sobre Joel Campbell. Keylor Navas foi dando conta do recado mas aos 90 minutos a alma grega veio ao de cima. Gekas rematou, Navas defendeu bem mas deixando a bola à mercê de Sokratis e o jogador do Dortmund conseguiu um épico empate. Com o golo a Grécia acreditou e em cima do apito final, Mitroglou cabeceou uma brazuca que levava golo escrito, mas Keylor Navas com uma estirada fantástica aguentou a Costa Rica no jogo.
    Sabia-se que o prolongamento seriam 30 minutos de luta, de sofrimento para a Costa Rica e assim foi. A Grécia esteve sempre em cima e desperdiçou inclusive uma jogada de 5 para 2, com Keylor Navas a defender no fim, mas após uma transição mal executada e decidida pelos gregos. O tempo foi passando, a defesa costa-riquenha foi sobrevivendo e quando já se cheiravam os penalties, Keylor Navas (guardião cobiçado por Porto e Benfica, segundo a imprensa desportiva portuguesa) brilhou novamente ao fechar o ângulo de remate a Mitroglou.
    Nas grandes penalidades, e já com Fernando Santos expulso, os jogadores estiveram inspirados e serenos. Celso Borges, Mitroglou, Bryan Ruiz, Christodoulopoulos, Giancarlo González, Holebas e Campbell marcaram mas à 4.ª tentativa Gekas viu Keylor Navas ser mais decisivo que nunca com uma grande defesa. A História foi escrita, depois da defesa de Navas, pelo penalty marcado por Umaña, colocando a Costa Rica nos quartos-de-final.

    Talvez a Costa Rica até fique pelos quartos, mas o que já atingiu foi extraordinário. Emocionante, épico, heróico. Keylor Navas foi um gigante entre os postes, mantendo o nível deste Campeonato do Mundo e do que apresentou na Liga BBVA, hoje Keylor estava destinado a ser lenda; a defesa esteve novamente impecável (boa imagem ver Duarte em lágrimas no fim a agradecer aos colegas) e na frente Bryan Ruiz fez o seu papel e Joel Campbell lutou até ao limite. Holebas esteve muito bem criando perigo constante nas suas subidas, Sokratis marcou o golo que podia ter mudado tudo e Karagounis merece também uma palavra de apreço porque hoje vimos o guerreiro que ele sempre foi durante toda a carreira, sem transparecer em momento algum que tem 37 anos.
    Holanda-Costa Rica nos quartos - Robben é favorito, mas esta Costa Rica tem vidas infinitas.


Barba Por Fazer do Jogo: 
Keylor Navas (Costa Rica)
Outros Destaques: Umaña, G. González, Bryan Ruiz; Holebas, Sokratis, Karagounis

29 de junho de 2014

Holanda 2-1 México: Reviravolta laranja no jogo em que ninguém merecia o adeus

Holanda  2 - 1  México (Sneijder 88', Huntelaar (pen.) 90'+4; Gio dos Santos 48')
    
    Com um final dramático e inesperado, a Holanda assegurou lugar nos quartos-de-final do Mundial 2014 depois de um jogo bastante rico, com muita influência a partir do banco, num embate entre 2 equipas que não mereciam, nenhuma delas, ficar já pelo caminho. O México foi mais coeso na generalidade do jogo, mas Van Gaal soube corrigir o que não criou direito para este jogo. Acabou no final por sobreviver a equipa europeia, numa partida que infelizmente acabou decidida numa grande penalidade.
    Miguel Herrera colocou hoje os seus 11 guerreiros de sempre. Este México sempre foi neste Mundial uma equipa com uma identidade vincada e, provavelmente, para além da Costa Rica e do Chile, integra o lote de 3 selecções contra as quais era mais difícil preparar um jogo. Van Gaal surpreendeu na abordagem. Das 2 uma: ou se esperava a manutenção do 3-4-1-2 (que tornaria o jogo bastante fechado), com Veltman - por ser o melhor central a sair com bola - a ser a melhor opção para deixar Martins Indi no recobro e voltando a apostar na projecção ofensiva de Janmaat e Blind, explorando sobretudo por Janmaat o espaço que Layún deixava nas costas; ou então podia-se esperar um 4-3-3, que seria mais arriscado frente a esta equipa mexicana, com Depay incluído nas contas. No entanto, Van Gaal manteve estruturalmente o seu esquema táctico de eleição, embora com Kuyt e Verhaegh nas alas e Blind a funcionar como 3.º central.
    Foi no calor de Fortaleza que o jogo arrancou, com o português Pedro Proença a arbitrar, e as equipas muito semelhantes em campo. O México sabia que a Holanda criaria mais perigo tendo espaço para Robben correr e por isso nunca adiantou muito os seus 3 centrais, enquanto que a Holanda inicialmente assumiu a bola, enfrentando um México mais incisivo com Herrera novamente em bom plano. Nigel De Jong saiu cedo com problemas físicos (Van Gaal optou por colocar Martins Indi e adiantar Blind para o meio-campo, posição que desempenha ocasionalmente no Ajax), e sem ter muita bola continuou melhor o México. O 1.º sinal de perigo foi deixado por Herrera, num lance em que o médio do Porto fez a bola passar muito perto do poste, e Cillessen estaria batido. A organização mexicana permitia alguma supremacia e Gio dos Santos proporcionou uma boa intervenção a Cillessen, após uma jogada bem trabalhada por Peralta e Guardado. A 1.ª parte acabava com ascendente mexicano, tendo a Holanda criado apenas algum perigo num remate disparatado de Van Persie depois de uma excelente recepção. Proença acabou por estar também em evidência com 2 possíveis grandes penalidades: Herrera foi tocado na cabeça pelo pé de Vlaar num lance em que o central tirou a bola (passível de ser marcado ou não) e a terminar os primeiros 45 houve um penalty bem mais claro sobre Robben (sofreu 2 faltas em 1 segundo), num lance do qual acabou por ser o central Moreno a sair lesionado.
    Podia-se esperar que a 2.ª parte se mantivesse com o 0-0 durante algum tempo, mas Gio dos Santos tratou de negar essa acepção logo aos 48'. O irrequieto e talentoso jogador mexicano, aguentou a pressão de Blind, e encheu o pé esquerdo para um bom golo, deixando em êxtase os adeptos mexicanos! Foi um remate espontâneo, mas ficou a ideia que Cillessen poderia ter feito mais (não nos parece que Krul tivesse sofrido aquele golo...). Depois do golo, o cronómetro começou a passar e a jogar a favor do México, e depois de Cillessen negar o golo a Oribe Peralta, Van Gaal começou a mudar o jogo. O futuro treinador do Manchester United arriscou bem ao trocar Verhaegh por Depay, obrigando a equipa a adaptar-se (Kuyt fez 3 posições neste jogo) mas quase com benefícios imediatos - Robben marcou um canto e De Vrij proporcionou mais uma daquelas defesas a que Ochoa nos tem habituado. Por instinto, valendo o bom posicionamento. O México começou a recuar no terreno - M. Herrera trocou Gio dos Santos por Aquino, e mais tarde Peralta por Chicharito deixando-o bastante isolado na frente - e a Holanda foi aproveitando, com Robben a assumir a equipa, e Ochoa a brilhar uma vez mais ao impedir o golo do homem de cristal com uma gigante "mancha". O jogo atingiu então uma fase em que ficou a ideia de que só com o Wesley Sneijder de 2010 é que a Holanda venceria, mas o nº 10 holandês desmistificou esse pensamento, já depois de Van Gaal ter lançado a sua "cartada" final trocando Van Persie por Huntelaar.
    O matador do Schalke avisou logo Ochoa, com o guardião mexicano a brilhar mais uma vez mesmo com a equipa de arbitragem de Proença a assinalar (bem) o fora-de-jogo, mas o empate chegaria logo depois. Robben cobrou o canto, Huntelaar deu para trás de cabeça e apareceu Sneijder a rematar um míssil indefensável direitinho para o fundo das redes. Nesta, Ochoa nada podia fazer e uma selecção neste nível não pode permitir o espaço que Sneijder teve, sem oposição. A Holanda festejou efusivamente e acreditou. E tanto acreditou que conseguiu. No tempo de compensação Rafa Márquez falhou o tempo de entrada e fez penalty sobre Robben. O extremo do Bayern arriscou-se a que não lhe fosse marcada a grande penalidade com a forma como caiu, a típica queda de quem está a simular. Huntelaar, que já tinha assistido Sneijder no empate, assumiu a grande penalidade e num momento parecido com o que Samaras teve nos pés há dias, colocou a Holanda na fase seguinte.

    Aos 85' nada fazia prever que a Holanda conseguiria a reviravolta, embora o México tenha tido menos coragem que os holandeses na recta final. A equipa de Miguel Herrera teve razões de queixa da arbitragem neste Mundial, no jogo com os Camarões, mas hoje não se pode queixar. Mesmo que se aceitasse o penalty sobre Herrera, haveria 2 sobre Robben (1 assinalado, outro não). Van Gaal acabou por se superiorizar na leitura que fez do jogo, arriscando e colhendo frutos, embora a sua abordagem inicial tenha surpreendido pela negativa. Ochoa e Herrera não mereciam sair deste Mundial, Rafa Márquez não merecia estar directamente relacionado com o "adeus" mexicano e a ausência de Vázquez notou-se como já era expectável. Na Holanda, Sneijder apareceu na Hora H e Huntelaar acabou por ser o homem do jogo, numa total metáfora para a importância que Louis Van Gaal teve neste jogo.
    A Holanda segue para os quartos e ficará agora à espera do vencedor do Costa Rica-Grécia.



Barba Por Fazer do Jogo: 
Klaas-Jan Huntelaar (Holanda)
Outros Destaques: De Vrij, Sneijder, Robben; Ochoa, Herrera, Gio dos Santos

28 de junho de 2014

Colômbia 2-0 Uruguai: Candidato a Melhor Jogador do Mundial avisa o Brasil

Colômbia  2 - 0  Uruguai (James Rodríguez 28' 50')

    Mais um jogo e mais uma demonstração da força desta Colômbia. A selecção comandada por José Pékerman chegou pela 1.ª vez na sua História aos quartos-de-final do Mundial depois de James Rodríguez brilhar mais uma vez. O criativo médio ofensivo/ extremo do Mónaco voltou a ser o melhor em campo (para nós é a 4.ª vez em 4 jogos que o consegue), marcou 2 golos - passando a figurar em 1.º na lista de melhores marcadores, embora Messi, Müller e Benzema ainda tenham uma palavra a dizer nesta ronda - e reforçou aquilo que já vinha sendo evidente: James Rodríguez é neste momento um dos maiores, senão o principal, candidato a Melhor Jogador do Mundial 2014. Para o ser, a Colômbia terá que ultrapassar o Brasil nos quartos-de-final, tarefa que não é impossível considerando o momento e a qualidade que as 2 selecções têm apresentado. Uma coisa é certa, vamos ter um jogão a 4 de Julho!
    Hoje a Colômbia era favorita face à ausência de Suárez, pelos lamentáveis motivos que já conhecemos. Certo é que se o Uruguai não contou com Suárez, os adeptos colombianos poderão dizer que também não contaram com Falcao. Pékerman foi ousado na abordagem ao jogo, recuperando o esquema que utilizava com Falcao, funcionando Jackson como ponta-de-lança e Teo como segundo avançado (a sua posição original e aquela em que rende habitualmente mais). Nesta fórmula o sacrificado foi Ibarbo. Já o Uruguai apresentou-se como era expectável, regressando Maxi Pereira e com Fórlan no lugar de Suárez. Em 2010 seria uma troca com a qual Tabárez não perdia, mas 4 anos depois não se pode dizer o mesmo.
    No começo deste duelo sul-americano viu-se uma Colômbia com uma posse de bola muito maior, procurando desequilibrar através da velocidade de Cuadrado ou das subidas dos laterais Armero (hoje uma autêntica locomotiva) e Zuñiga, ou através do talento de James muitas vezes a baixar para assumir o jogo colombiano. O jogo estava meio preso mas o nó foi desatado aos 28 minutos num lance de génio. Um golaço de James Rodríguez, mais um do jogador que já tinha deliciado os adeptos com o golo ao Japão. Aguilar assistiu James e o craque, rodeado por 4 uruguaios, dominou de peito e sem deixar a bola cair rematou de longe com arte, engenho e muita espontaneidade, fazendo a bola ultrapassar Muslera e bater na barra antes de entrar. Garantidamente um dos golos deste Mundial, simplesmente fantástico. Sábia, inteligente e madura do ponto de vista competitivo (bem orientada por Pékerman, diga-se) a Colômbia manteve o domínio do jogo e graças à boa parelha de Aguilar com Carlos Sánchez segurou sempre o jogo a seu favor, embora com Cavani a tentar ameaçar e a lutar do lado do Uruguai.
    As emoções não tardaram a acontecer no início da 2.ª parte e novamente com James em destaque, embora o elogio tenha que ir para todo o ataque da Colômbia que desenhou uma excelente jogada. Foi Teo que iniciou a construção do lance, combinando com Jackson e tendo o avançado do Porto decidido bem ao soltar para o flanco onde Armero aparecia. O lateral cruzou largo, Cuadrado cabeceou para trás em esforço mas com total intencionalidade e James Rodríguez apareceu na pequena área para desviar para o 2-0, fixando-se como o melhor marcador do Mundial (5 golos, o número que Müller alcançou em 2010). Com a desvantagem, Tabárez procurou acordar o Uruguai trocando Fórlan e Álvaro Pereira por Stuani e Ramírez, e a abordagem de Pékerman - para além de demorada - surpreendeu porque, embora se adequasse a entrada de Mejía, ficou sempre a sensação que seria útil a dada altura colocar Quintero e explorar as transições - porque o Uruguai ia ser obrigado a dar espaço nas costas - com James, Quintero e Cuadrado. A realidade é que o jogo nunca pareceu fugir à Colômbia, mas o Uruguai conseguiu incomodar por 3 ou 4 ocasiões. Cristian Rodríguez, Maxi Pereira e Cavani viram todos eles Ospina brilhar entre os postes, numa excelente exibição do guardião do Nice (por quanto tempo no mediano clube francês?). Nos minutos finais o Uruguai deixou de acreditar e a partida terminou praticamente com o Maracanã a ovacionar de pé James Rodríguez.

    Aqui no Barba Por Fazer já há algum tempo (desde que identificámos os 100 Alvos deste Mercado de Verão) que tínhamos o feeling de que James Rodríguez ia ser um dos destaques deste Mundial, e por isso estamos francamente satisfeitos com o rendimento do craque, camisola 10 da Colômbia. James nem é jogador de muitos golos, mas tem brilhado a todos os níveis no Brasil. Está numa forma assombrosa, leva 5 golos e 2 assistências e a sua importância no grande momento da sua selecção é crucial. Hoje, pela 4.ª vez em quatro jogos foi o melhor em campo e deixou claro aviso ao Brasil: a Colômbia está mais forte que a canarinha, e nesse embate Oscar e Neymar serão "obrigados" a aparecer. James, Cuadrado e companhia têm neste momento uma ideia de jogo muito mais afinada, o colectivo está 100% coeso, há várias soluções, e o Brasil terá que acordar com a injecção de emoções fortes que teve frente ao Chile. O Brasil-Colômbia tem tudo para ser um dos jogos deste Mundial, esperando-se golos dos 2 lados.
    Hoje, para além de James, destaque para as excelentes exibições de Ospina e Cuadrado, enquanto que Armero impressionou com a sua velocidade e disponibilidade física a surgir no ataque. Aguilar e Sánchez foram fundamentais no suporte aos centrais (a dupla Yepes-Zapata esteve também quase perfeita). O Uruguai despede-se do Mundial, depois de ter sido 4.º em 2010 e a atitude de Suárez contra a Itália ficará irremediavelmente ligada ao destino desta selecção, uma vez que com Suárez o Uruguai acreditaria muito mais e teria um dos melhores do mundo no seu ataque.
    Dá gosto ver esta Colômbia. Dá gosto ver James Rodríguez. Têm agora a palavra jogadores como Robben ou Messi, e o embate entre Neymar e James na próxima fase vai ser interessantíssimo.
    Amanhã não percam, como sempre, a nossa análise ao muito aguardado Holanda-México e ao duelo de outsiders Costa Rica-Grécia.


Barba Por Fazer do Jogo: 
James Rodríguez (Colômbia)
Outros Destaques: Ospina, Yepes, Armero, Aguilar, C. Sánchez, Cuadrado; Cavani

Brasil 1-1 (3-2 g.p.) Chile: Canarinha sobrevive nos penalties

Brasil  1 - 1 (3-2 g.p)  Chile (David Luiz 18'; Alexis 32')

    Começaram os oitavos-de-final! A fase do "mata-mata" começou da melhor maneira possível com um jogo emocionante, decidido apenas nas grandes penalidades. O Chile foi incrível mas o Brasil, um dos favoritos à conquista do título, levou os seus adeptos ao limite dos nervos e provocou lágrimas de felicidade no final. 
    Felipão privilegiou a sua estrutura táctica de sempre e decidiu bem ao apostar em Fernandinho para o lugar de Paulinho. O médio do Manchester City tinha-se apresentado muitos furos acima do habitual titular, no jogo contra os Camarões, e justificava a titularidade em prol da melhoria do colectivo. Já Sampaoli manteve-se fiel ao 3-5-2 (que só não foi aposta frente à Austrália) com o melhor onze em campo, regressando Arturo Vidal para médio menos posicional. 
    O jogo começou durinho com Neymar frequentemente visado pelos combativos jogadores chilenos e, numa fase em que a leitura que se podia fazer era de que o Brasil estava tacticamente superior, chegou mesmo o golo da selecção da casa. Hulk obrigou Bravo a dar um canto depois de um livre cobrado em força e foi precisamente no canto que surgiu o golo. Neymar cobrou bem o canto, Thiago Silva fez uma brilhante e intencional assistência de cabeça e próximo da baliza surgiu um desvio a meias entre Jara e David Luiz. Pareceu-nos auto-golo mas acompanhamos a decisão da FIFA em dar o golo ao antigo central do Benfica. Ao longo da 1.ª parte, embora bastante castigado fisicamente (o futebol é um desporto para homens de barba rija, e um craque como Neymar sabe que o seu brilhantismo faz dele um alvo), Neymar criou sozinho várias oportunidades de golo mas ou se perdeu no excesso de dribles ou faltou em algumas ocasiões pé esquerdo. Quando nada o fazia prever, e com o jogo a favor do Brasil em todos os aspectos, o golo do Chile caiu do céu. Hulk e Marcelo erraram em zona proibida, Vargas ficou com a bola e assistiu Alexis Sánchez que, em excelente posição, rematou rasteiro para o empate. Depois de chegar ao empate, o Chile passou inesperadamente a acumular mais erros do que antes e o Brasil teve várias oportunidades para marcar: Neymar quase marcou de cabeça; após um passe extraordinário de Oscar, o camisola 10 voltou a não conseguir marcar depois de uma recepção de craque; houve ainda tempo para Claudio Bravo brilhar com uma estirada para a fotografia após bom remate de longe de Dani Alves. Pelo meio, Aránguiz e Vidal tiveram também as suas chances, e o policiamento a Alexis por parte da defesa e meio-campo do Brasil foi-se tornando mais difícil ou executado de forma pior ao longo dos primeiros 45 minutos, com Alexis a recuar muitas vezes - tal como nos jogos anteriores - e a provocar dores de cabeça à linha defensiva brasileira.
    Os segundos 45 foram bem diferentes. O Brasil começou com fome de golo e Howard Webb teve uma palavra a dizer no jogo. Hulk marcou o 2-1 aos 55' mas o árbitro inglês entendeu que o extremo dominou a bola com a mão, embora tenha dado a ideia que tenha sido mais peito que outra coisa. No minuto seguinte, Sampaoli mudou o jogo, trocando Vargas por Gutiérrez. A substituição do técnico chileno fez com que o Chile passasse a dominar o meio-campo, impedindo o colectivo do Brasil de construir confortável, e anulando Oscar e Neymar praticamente na totalidade. O jogo tornou-se então um duelo táctico, sem ninguém querer errar, mas houve ainda registo de 3 lances perigosos antes do final. Aránguiz obrigou Júlio César a uma grande defesa depois de uma bonita jogada do ataque chileno, contribuindo o envolvimento ofensivo do lateral Isla, mas o Brasil respondeu num forcing final. Neymar deu sinal de vida, mas Bravo negou-lhe o golo, e Claudio Bravo voltaria a fazer jus ao apelido com uma excelente defesa após um lance em que Hulk mostrou a sua técnica, abrindo caminho até à baliza. 
    E assim, chegou o prolongamento. Uma meia hora na qual o Brasil começou melhor e acabou por cima do Chile, com as linhas mais recuadas (Medel rebentou fisicamente, depois de um jogo heróico), conseguindo circular a bola. No entanto, o melhor lance do prolongamento acabou por pertencer ao Chile: aos 120' Mauricio Pinilla soltou-se da marcação e rematou fortíssimo à trave da baliza de Júlio César. O Brasil não conseguiu nunca chegar ao golo, mesmo embora tivesse vantagem em termos de altura nos vários duelos físicos e o jogo chegou às grandes penalidades. Nos penalties David Luiz, Marcelo e Neymar marcaram do lado brasileiro (com Willian a atirar ao lado e Hulk a ver Bravo negar-lhe o golo com os pés); o Chile começou mal com Pinilla e Alexis a verem Júlio César a defender, Aránguiz (excelente conversão) e Díaz marcaram, mas no momento decisivo, depois de Neymar não vacilar, Jara atirou ao poste as aspirações e o esforço inexcedível do Chile ao longo deste Mundial.

    Foi um dos grandes jogos deste Mundial. O Chile lutou muito, foi tacticamente superior - sobretudo na 2.ª parte do tempo regulamentar - e soube anular o jogo do Brasil, embora a equipa brasileira tenha criado mais oportunidades e o golo de Hulk (que pareceu limpo) poderia ter tido outra importância. Nos penalties, o Brasil aguentou a pressão e sobreviveu para contar a história, podendo sonhar mais uma eliminatória.
    As lágrimas de Júlio César e Neymar no final traduzem na perfeição o que hoje o povo brasileiro viveu. O Chile confirmou-se como um adversário terrível para o Brasil como Scolari esperava há algum tempo e o Brasil teve muitas dificuldades mas com muitos corações a bater forte, aguentou e seguiu em frente. A nível individual é difícil escolher um melhor em campo - o técnico Sampaoli brilhou na sua estratégia, mas elegemos sempre um jogador e como tal elementos como Bravo, Medel, Alexis, Luiz Gustavo, Hulk, David Luiz e Thiago Silva estiveram bem. O capitão do Brasil fez o seu melhor jogo até agora, Luiz Gustavo aguentou-se perante um incrível meio-campo chileno, Hulk apareceu finalmente embora uma distracção sua tenha originado o golo do Chile, e Claudio Bravo voltou a destacar-se entre os postes. Mesmo Neymar conseguiu ter a sua importância ao criar muitos problemas, embora a falhar na finalização, não vacilando na 5.ª grande penalidade brasileira. Ainda assim, pela importância que teve nos penalties, Júlio César foi o herói, embora jogadores como Bravo, Medel, Alexis e Luiz Gustavo merecessem também a distinção.



Barba Por Fazer do Jogo: 
Júlio César (Brasil)
Outros Destaques: David Luiz, Thiago Silva, Luiz Gustavo, Hulk; Bravo, Medel, Aránguiz, Alexis

Mundial 2014: 11 da Terceira Jornada

    Após um dia de pausa no Campeonato do Mundo, chegou ao fim mais uma jornada. E como é hábito, fizemos o nosso 11 ideal desta última ronda disputada. A táctica que escolhemos não é a mesma que as anteriores. Face às boas exibições de alguns médios, optámos por um 3-5-2 com 5 médios com características ofensivas. Quanto às restantes posições, não foi uma jornada rica de grandes exibições, mas ainda assim deixamo-vos os seguintes destaques:
    Não havendo uma exibição de encher as medidas, o escolhido para titular foi Raïs M'Bolhi. A par de Alexander Domínguez do Equador, foi o guardião que mais se destacou. Domínguez até fez mais defesas, mas o argelino teve mais impacto no jogo já que foi fulcral na passagem aos oitavos-de-final da Argélia. Parou tudo o que havia para parar da ofensiva russa.
    Na defesa, dois jogadores continuam a destacar-se neste Mundial. Um deles é - provavelmente - um dos 5 melhores da prova - Rafael Márquez. O mexicano continua a imperar na defesa da sua equipa e - para além de assegurar terrenos defensivos com uma tranquilidade incrível - é fulcral em lances ofensivos. Márquez acabou por fazer 1 golo e 1 assistência neste jogo frente à Croácia que foram fundamentais para vencer. O outro é Diego Godín... O uruguaio continua um monstro defensivamente e parece ter ganho o jeito para marcar golos decisivos. Já o fazia no Atlético e volta a fazer na selecção. Um jogo envolto em alguma polémica, mas Godín marcou o golo que valeu a passagem à próxima fase com mais uma cabeçada vitoriosa. Por fim, mais um repetente. Ricardo Rodríguez voltou aos nossos destaques onde se apresentou a grande nível frente às Honduras. Lançou vários ataques com passes longos e deu bastante profundidade ao corredor esquerdo da Suiça. Mais um jogo a grande nível de Rodríguez.
    Chegando ao centro do terreno, os nossos médios mais recuados - que de características defensivas nada têm - são Héctor Herrera e Giorgios Samaras. O mexicano tem sido dos mais constantes do campeonato e tem somado boas exibições atrás de boas exibições. Bem que já merecia um golo e neste jogo contra a Croácia foi superior a qualquer mexicano do meio campo para a frente. Quanto a Samaras foi o jogador mais influente na passagem sofrida da Grécia. Esteve envolvido em praticamente todos os lances de ataque. Assistiu Samaris no primeiro golo e teve a pressão de ter que marcar uma grande penalidade no último minuto que valia a passagem da Grécia. Não vacilou e por isso merece constar no nosso 11. Em terrenos mais ofensivos temos Ahmed Musa. O nigeriano esteve endiabrado no jogo contra a Argentina e marcou dois golos à selecção alviceleste - tendo o primeiro sido de belo efeito. Bom jogo do médio. Não são todos os dias que se marcam 2 golos à Argentina... James Rodríguez volta a repetir-se no nosso 11. Bastaram 45 minutos para fazer a segunda melhor exibição individual da jornada. Recordou a qualquer adepto do futebol português os estragos que fazia quando Vítor Pereira o lançava no decorrer dos jogos. Duas assistências perfeitas para Jackson (a segunda de maior qualidade) e um golo com classe pura, para os tubarões começarem a abrir as pastas e a tirar o dinheiro. Três golos e duas assistências em 3 jogos, e vem aí um Uruguai sem Suárez... Por fim temos o jogador da jogador da jornada - Xherdan Shaqiri. Um hat-trick quando o seu país precisava de ganhar para chegar aos oitavos e um golo às Honduras que mereceu ser classificado como o melhor desta ronda. Um poço de força, finalmente a aparecer verdadeiramente (e de que maneira!) no Mundial. A Argentina que se cuide...
    Na frente temos dois craques. Ele tem vindo a marcar todas as jornadas, mas tem-se limitado a apenas isso - marcar. Leonel Messi tem vindo a aparecer apenas nos golos, mas desta vez marcou dois. Ame-se ou odeie-se - apesar de ainda não estar ao nível a que nos habituou -, a verdade é que Messi tem decidido jogos. Já lhe passaram os nervos e saiu-lhe um peso gigante dos ombros por ter começado a marcar. Por isso - imaginando que esta enfadonha Argentina crescerá na fase a eliminar, mesmo sem Agüero – vai ser interessante acompanhá-lo agora. A verdade é que vai precisar de Di María e de Lavezzi porque se com as equipas do grupo conseguia decidir sozinho, a partir de agora vai ficar mais difícil de jogo para jogo. Por fim temos Neymar Jr. O jogador que esteve atrás de Oscar no primeiro jogo, foi o melhor no segundo - mas Ochoa ofuscou-lhe a exibição - e voltou a ser o melhor em campo neste terceiro jogo. Mais 2 golos, muita confiança e acaba por estar neste momento no conjunto de melhores do Mundial atrás de Robben, James, Messi, Rafa Márquez e num nível a par do Müller e acima do Benzema.




27 de junho de 2014

Coreia do Sul 0-1 Bélgica: Origi na origem da vitória

Coreia do Sul    0 - 1    Bélgica (Vertonghen 77')

    A Bélgica voltou a fazer um jogo pragmático. Continuou sem impressionar, mas a verdade é que foi letal mesmo com 10 homens durante 45 minutos e acabou por vencer a partida frente à Coreia do Sul que se mostrou bastante activa, mas sem a capacidade suficiente para marcar um golo a Courtois que esteve sempre tranquilo, embora tenha sido chamado a intervir algumas vezes durante a segunda metade.
    A Coreia sempre se mostrou com mais vontade de marcar, mas a impaciência dos asiáticos era o seu maior entrave. Muitas bolas perdidas no último terço iam adiando as dificuldades para Thibaut Courtois. E a verdade é que o primeiro lance de perigo foi mesmo da Bélgica. Fellaini serviu Mertens à boca da baliza e o jogador do Nápoles acabou por rematar por cima da baliza. Enorme perdida de Mertens. A Coreia respondeu por intermédio de Shin-Wook Kim num remate fortíssimo em que Courtois teve que se aplicar. Os Reds tentavam ir para o intervalo em vantagem, mas Defour negou o golo em cima da linha a Son Heung-Min que disferiu o cabeceamento ao segundo poste. Mertens respondeu de livre directo, mas Seung-Gyu Kim defendeu - embora com alguma dificuldade. Os jogadores não iam para o descanso sem que Steven Defour tivesse uma atitude sem nexo. O jogador do Porto entrou de forma duríssima sobre Shin-Wook Kim e acabou por ser expulso. Um lance que não justificava de todo uma maior agressividade, mas Defour entendeu que sim. Finalmente chegava o intervalo e a Bélgica iria começar o segundo tempo com menos um elemento.
    Na segunda metade a Coreia assumiu desde logo os comandos do jogo, muito por culpa da expulsão de Defour. Courtois negou o golo a Ja-Cheol, mas ficou a olhar para o cruzamento/remate de Son Heung-Min que embateu na barra. Seria um grande golo do jogador mais activo do ataque coreano. Do outro lado Mertens era o mais inconformado e atirou forte e colocado para grande defesa de Seung-Gyu Kim. Pouco depois Wilmots lançaria Divock Origi e o jovem belga voltou a fazer estragos. Origi temporizou à entrada da área e depois rematou forte para defesa complicada e incompleta de Kim. Vertonghen surgiu de rompante e acabou por encostar para o golo deixando definitivamente os coreanos fora do Mundial. O juiz de linha não viu a posição irregular do defesa belga no momento do remate de Origi e validou mesmo o golo. Notou-se que o golo foi um golpe duro nas aspirações dos asiáticos e a chama desapareceu durante alguns minutos. Só perto dos 90 é que se lançaram de novo para o ataque com Courtois a impedir sempre o golo com grandes intervenções.

    A Bélgica - tal como a Argentina - passou com um pleno sem se exibir a grande nível nos 3 jogos. Os coreanos foram vítimas da sua inexperiência e apesar de praticarem um futebol sem medos no ataques, defensivamente deixavam muito a desejar. Os belgas vão agora defrontar os EUA, num jogo que será deveras interessante principalmente na guerra e meio campo. Quem irá passar?



Barba Por Fazer do Jogo: Dries Mertens (Bélgica)
Outros Destaques: Son Heung-Min, Koo Ja-Cheol; Origi, Courtois, Fellaini.

Argélia 1-1 Rússia: Slimani faz História

Argélia    1 - 1    Rússia (Slimani 60'; Kokorin 6')

    A Argélia segurou um empate frente a uma Rússia que tardou em arriscar preferindo segurar a vantagem que detinha desde bem cedo. Slimani foi a figura do jogo marcando o golo que valeu à sua equipa a primeira passagem aos oitavos-de-final de um Mundial. Um feito inédito, mas mais que merecido. A Argélia mostrou-se sempre uma equipa guerreira com vontade de ganhar cada jogo o que contrasta com esta Rússia de Capello - pouco ambiciosa e entediante. 
    O jogo começou praticamente com o golo da Rússia. Feghouli estava a ser assistido e a Argélia jogava com dez. Eis que Kombarov cruza de primeira da esquerda e Kokorin foi ao terceiro andar cabecear para o fundo das redes. Grande cruzamento de Kombarov a servir de feição o avançado russo que apenas teve que fuzilar as redes de M'Bolhi. Os russos continuaram a dominar a posse de bola sempre jogando pelo seguro. Passes curtos e simples e praticamente não se aventuravam em terrenos mais ofensivos. Por outro lado, a Argélia tentava jogar directo demais. O alvo era Slimani, mas a verdade é que não estava a resultar. Perto do fim da primeira parte, o argelino ainda esteve perto do golo, mas Akinfeev negou. O intervalo chegaria mesmo e a Rússia parecia sair satisfeita. A selecção africana necessitava de se organizar melhor no ataque já que se precipitavam um pouco ao jogar só para Slimani. Com esta opção, os russos iam agradecendo.
    Para o segundo tempo a Argélia não melhorou a sua mentalidade. Continuou impaciente e precipitada atirando bolas incessantemente à procura do avançado leonino. A organizada defesa russa continuava a agradecer, mas deixou de o fazer aos 59 minutos. Livre batido na esquerda por Brahimi e Slimani a saltar mais alto que todos ao segundo poste para fazer o golo do empate. Péssima saída de Akinfeev a possibilitar que a bola chegasse a Slimani na melhor das condições. O jogo estava finalmente a favor dos argelinos e M'Bolhi fez tudo o que podia para segurar o resultado. Primeiro interceptou a dois tempos um remate de Denisov e depois um remate do incansável Kerzhakov após bom entendimento entre Dzagoev e Samedov. Os russos não conseguiam atacar de forma a criar perigo e os argelinos iam defendendo com tudo onde M'Bolhi era quem mais se destacava com algumas defesas e saídas entre os postes. Capello prescindiu - perto do fim - de Kerzhakov para lançar Kanunnikov, um extremo. O jogo, porém, não mudou muito. O conjunto africano barricou-se na defesa e de lá não saiu até ao final dos 90 minutos. Soube sofrer e teve espírito guerreiro para parar todas as tentativas de ataque da Rússia.

    Excelente atitude da Argélia a jogar sempre para ganhar neste Mundial. Mais uma pequena surpresa agradável neste campeonato do mundo e a fazer história. Os argelinos estão pela primeira vez nos oitavos de final de um Mundial e medirão forças com a Alemanha. Será o teste mais complicado de todos e certamente que precisarão de ter mais calma do que aquela que tiveram neste mesmo jogo. 



Barba Por Fazer do Jogo: Islam Slimani (Argélia)
Outros Destaques: M'Bolhi, Brahimi; Shatov, Kerzhakov, Faizulin.

26 de junho de 2014

EUA 0-1 Alemanha: Não foi preciso um "arranjinho"

E.U.A.    0 - 1    Alemanha (Müller 54')

    A teoria da conspiração não actuou neste jogo entre alemães e americanos. Não houve o empate que se julgava vir a acontecer por ser favorável às duas selecções em questão, mas a verdade é que nenhuma arriscou muito durante o jogo. Os alemães venceram a partida porque são efectivamente melhores e provaram isso mesmo em campo. Mesmo cumprindo serviços mínimos, venceram esta selecção esforçada dos EUA que se encostaram atrás desde muito cedo. 
    A primeira parte não teve grande história. Os americanos encostavam-se muito atrás e os alemães dominavam o encontro como queriam e sem arriscar muito. Muitos foram os cruzamentos para Müller concretizar, mas a defensiva americana ia afastando como podia. Omar Gonzalez era o jogador que mais se destacava cortando bolas atrás de bolas adiando o golo germânico ao máximo. As movimentações ofensivas eram de grande nível por parte da Mannschaft, mas a concretização não corria nada bem. A única oportunidade de golo de relevo nasceu nos pés de Zusi. O americano disferiu um remate forte do lado esquerdo e rasou a malhas superiores da baliza de Neuer. O empate imperava e os dois conjuntos não torciam o nariz ao resultado. Excepto Löw que esteve sempre muito activo no banco, gritando e esperneando-se efusivamente. 
    Para o segundo tempo os germânicos entraram com outra dinâmica e acabaram mesmo por fazer o golo. Numa boa jogada que começa do lado direito, Özil cruza para a cabeça de Per Mertesacker, mas Tim Howard a negar o golo com uma grande defesa. A bola sobrou para a entrada da área onde Thomas Müller atirou um remate forte e colocado sem qualquer hipótese de defesa para o guardião norte-americano. O jogo prosseguiu com uma boa intensidade, mas sem grandes lances de perigo. Os alemães iam gerindo o jogo, mas na hora H ora finalizavam mal, ora Omar Gonzalez negava males maiores. Lutava-se bastante num terreno bem pesado com a chuva a cair forte e o futebol - esse - não era o mais cativante. Os EUA tiveram ainda a hipótese de sair com o empate somando os 5 pontos, mas Lahm fez um corte soberbo a um remate de Bedoya que se encontrava em excelente posição para finalizar. 

    Uma partida sem grande história e que acabou em festa para ambas as selecções. Em ambiente adverso, lutou-se mais do que o que se jogou, mas ambas acabaram por passar com toda a justiça. O conjunto norte-americano voltou a mostrar enorme coesão defensiva e uma organização fantástica. Já os alemães acabaram por dominar o jogo com grande normalidade e com bastante qualidade nas suas transições ofensivas. 


Barba Por Fazer do Jogo: Thomas Müller (Alemanha)
Outros Destaques: O. Gonzalez, Zusi, Jones; Lahm, Kroos.

Portugal 2-1 Gana: Agora já é tarde...

Portugal    2 - 1    Gana (Boye (A.G.) 31', C. Ronaldo 81'; Gyan 57')

    Portugal precisava de recuperar uma desvantagem de 5 golos, mas não foi capaz e acabou por ficar definitivamente de fora do Mundial. Não foi certamente pelo jogo de hoje frente a uma boa selecção - onde até houve melhorias -, mas sim pelos dois jogos anteriores. Faltou muita atitude à equipa portuguesa nos jogos frente à Alemanha e aos E.U.A. e o destino foi o merecido - como Paulo Bento afirmou. O técnico português usou hoje um onze com maior qualidade onde fez actuar William Carvalho e Rúben Amorim no centro do terreno e relegando Miguel Veloso - por ser o único disponível - para a lateral esquerda.
    Portugal desde cedo deu boas indicações no que toca à intensidade colocada em jogo. Troca de bola rápida e bastante objectiva. Ronaldo deu logo o mote atirando à barra num cruzamento repleto de intencionalidade - já que o capitão olhou apenas para a baliza e não para a área. Logo a seguir converteu um livre à entrada da área onde Dauda atirou com dificuldade para canto. O Gana respondia sempre pelo mesmo lado - direito. O corredor de Miguel Veloso era uma autêntica auto-estrada para os ganeses, já que o médio luso não tem capacidade física para acompanhar os extremos adversários. Muito bom no apoio ao ataque com os seus cruzamentos (Miguel Veloso é dos melhores portugueses a bater bolas), mas defensivamente simplesmente não era capaz. A verdade é que o português não tem a culpa. Aquele não é o seu lugar e Paulo Bento não tinha outra escolha. Ronaldo continuava a tentar, mas a bola não entrava. Grande cruzamento de João Pereira da direita e Ronaldo - livre ao segundo poste - atirou à figura de Dauda. O guardião ficou eufórico com a defesa ao remate do melhor do mundo, sendo que - tendo em conta a eficácia normal de Ronaldo nestes lances - podia ter feito muito melhor. Os africanos responderam logo a seguir com Gyan a aparecer na grande área em excelente posição, mas Beto a negar o golo com uma fantástica defesa com as pernas! À meia hora de jogo surgiu o golo para Portugal. Cruzamento venenoso de Miguel Veloso da esquerda e Boye falhou o corte e atirou uma valente "rosca" traindo Dauda com um chapéu. Amorim e Ronaldo ainda insistiram em fazer o segundo antes do intervalo, mas isso não aconteceu. Os portugueses iam para o balneário com a vantagem mínima.
    Com o nulo no jogo entre Alemanha e E.U.A., nem que a equipa das quinas marcasse 10 passaria. Contudo, os alemães marcaram logo no início da segunda parte e faltavam 3 golos à selecção portuguesa. Os 4 golos eram desde o início a prioridade e não os 5 em que a imprensa tanto insistiu. Com 5 golos de desvantagem e tendo uma das equipas - no outro jogo - que vencer, nunca teriam de ser 5 os golos que Portugal teria que marcar para passar. Isto partindo do princípio que não sofríamos golos. Mas sofremos mesmo... Asamoah cruzou de trivela da direita e Gyan apareceu ao segundo poste para fazer o golo. Enorme centro de Kwadwo Asamoah com Gyan a aparecer completamente solto nas costas de Veloso. O conjunto africano podia mesmo ter ampliado a vantagem, mas Waris não deu o melhor seguimento ao cruzamento de Gyan mesmo estando praticamente sozinho perante a baliza. Paulo Bento decidiu (mal) colocar Varela por João Pereira relegando Rúben Amorim para a lateral direita e abdicando assim de um médio. O jogo tornou-se mais partido e sem grande brilhantismo táctico. Começou a ser mais objectivo, mas os ataques - quer de um lado, quer do outro - saíam sempre precipitados. Aos 80 minutos chegaria o golo de Ronaldo. Nani cruzou da direita, Mensah atirou de cabeça para cima e Dauda a socar mal a bola tendo a mesma ido parar a Cristiano Ronaldo. O capitão não foi de meias medidas e rematou sem problemas para o fundo das redes. Até ao fim do encontro só deu Ronaldo. Após bom entendimento com Veloso, o capitão atirou para defesa de Dauda. Logo a seguir, desviou um cruzamento de Nani passando a bola a milímetros da barra. E para finalizar, falhou mais um golo estando isolado com o guardião africano. Não estava nos seus melhores dias, de facto. Se fosse outro jogador, era aceitável e até provável que isto acontecesse. O problema é que Ronaldo habituou-nos mal e estes lances falhados não são habituais no capitão. Ainda assim, todos temos maus momentos. E este não foi o Mundial de Ronaldo.

    Uma vitória com o sabor amargo da despedida, mas com algumas melhorias no jogo português. Sobretudo porque hoje houve um meio campo de grande nível. William Carvalho segurou o meio campo defensivo e Moutinho e Amorim complementaram-se em terrenos mais ofensivos. Moutinho voltou aos bons jogos e isso fez toda a diferença. Hoje não é dia de fazermos um balanço sobre a nossa opinião da prestação da equipa no Brasil. Mais tarde faremos a nossa análise dando a nossa opinião sobre o que correu mal para Portugal não estar ao nível de anos anteriores.



Barba Por Fazer do Jogo: João Moutinho (Portugal)
Outros Destaques: Rúben Amorim, William Carvalho, Ronaldo; Gyan, K. Asamoah, Dauda.

25 de junho de 2014

Equador 0-0 França: Gauleses em primeiro, adeus Equador

Equador  0 - 0  França

    No Maracanã assistimos hoje à despedida do Equador deste Mundial 2014. A Selecção sul-americana vai deixar saudades, e sobretudo o seu marcador Enner Valencia. O Equador sabia, na antevisão deste jogo, que teria que fazer um resultado igual à Suiça caso quisesse manter o seu 2.º lugar. No entanto, confirmou-se a difícil missão uma vez que os equatorianos tiveram pela frente a França, enquanto que Shaqiri e a sua trupe tinham tarefa mais fácil ao defrontar as Honduras.
    Deschamps encarou o jogo com alguma descontracção e colocou em campo um 11 com várias alterações: Digne, Sagna, Schneiderlin e Griezmann foram algumas das caras que começaram titulares, numa equipa que hoje voltou a demonstrar ter um plantel coeso e muitas opções. A primeira parte traduziu-se num jogo muito morno. Sakho viu-se envolvido num lance polémico em que deu uma cotovelada a um equatoriano que o agarrava na área (o árbitro não viu, e toda a gente já sabe como são as guerras de marcação nas bolas paradas), e qualquer adepto do Equador deverá ter apanhado um enorme susto quando Enner Valencia ficou caído no relvado aos 16', aparentemente lesionado. Felizmente para os adeptos e para o espectáculo, o avançado do Pachuca regressou logo de seguida. A França foi tendo mais bola, mas com Erazo e Guagua a funcionarem muito bem no centro da defesa sul-americana, e as melhores oportunidades de golo ficaram guardadas para o fim da 1.ª parte. Pogba - um dos melhores franceses hoje - obrigou Domínguez a uma defesa apertada, e na outra baliza Enner Valencia subiu ao sétimo andar e cabeceou para uma boa defesa de Lloris. Impressionante a impulsão de Enner e os décimos de segundo que esteve no ar após o seu salto antes de cabecear para defesa do guarda-redes do Tottenham.
    A França começou a 2.ª parte logo a criar muito perigo, e valeu Domínguez e os seus reflexos a negarem um bom golo a Griezmann, com um desvio oportuno após cruzamento de Sagna. Aos 50' tudo ficou bem mais complicado para o Equador, com Antonio Valencia a ser expulso. O extremo velocista do Manchester United, capitão do Equador, teve uma entrada relativamente parecida à de Marchisio frente ao Uruguai e o árbitro entendeu (talvez também influenciado pelas enormes queixas de Digne) que a punição adequada seria o vermelho directo. Mais um lance de interpretação ambígua e dependente do critério do árbitro, com Valencia a disputar a bola mas a deixar de forma imprudente o pé levantado e a atingir a perna do lateral francês com os pitons.
    Em todo o caso, o Equador nunca baixou os braços e mesmo com 10 procurou chegar à vitória. Foram vários os contra-ataques de perigo, um primeiro com Enner Valencia a entusiasmar com uma arrancada, antes de colocar a bola em Noboa (exibição guerreira) a quem faltou melhor capacidade de finalização. Reinaldo Rueda, no nosso entender, não terá tomado a melhor opção ao retirar Jefferson Montero de campo - quando podia tirar Arroyo, mantendo as suas intenções - uma vez que a capacidade de aceleração de Montero, cruzada com o facto de decidir bem, podia ser útil a contra-atacar com Enner Valencia. A verdade é que os minutos foram passando, o guarda-redes Alexander Domínguez foi somando defesas (perfez um total de 9) e manteve o Equador no jogo. Na frente, os equatorianos nunca conseguiram ser matadores, com Arroyo a ser perdulário, e o jogo terminou com Domínguez activo e o Equador a mostrar a coragem de sempre, embora sem sucesso.

    É fácil agora fazer a leitura de que terá sido o Equador-Suiça a decidir este grupo. Nesse jogo, em que o Equador foi mais equipa e procurou mais o golo, a Suiça acabou por conseguir um 2-1 no último minuto com a equipa equatoriana balançada para a frente. O Mundial termina hoje para o Equador mas a vida de Enner Valencia vai começar em breve no futebol europeu. O avançado do Pachuca foi um dos maiores destaques da fase de grupos e quem o conseguir contratar ficará magnificamente bem servido.
    A França segue para os oitavos onde irá defrontar a Nigéria, eliminatória em que a selecção gaulesa é favorita, e terá possivelmente em perspectiva um França-Alemanha nos quartos, num exercício de futurologia. Um total de 7 pontos para a França, algo que o Brasil, México e Costa Rica também conseguiram, e abaixo do pleno de Holanda, Colômbia e Argentina.


Barba Por Fazer do Jogo: 
Alexander Domínguez (Equador)
Outros Destaques: Erazo, Noboa, Enner Valencia; Koscielny, Pogba

Honduras 0-3 Suiça: Shaqiri+10 nos oitavos

Honduras  0 - 3  Suiça (Shaqiri 6' 31' 71')

    Com uma super-exibição de Shaqiri a Suiça garantiu hoje o 2.º lugar do Grupo E, marcando encontro com a Argentina nos oitavos-de-final do Mundial. Frente às Honduras tudo ficou simplificado graças ao talento do extremo suiço, camisola 23 da equipa helvética, numa boa resposta colectiva depois da humilhação por 5-2 contra a França. Pode-se dizer que o sucesso da Suiça neste grupo se deveu em grande parte à reviravolta - na altura com uma sensação de injustiça - operada no jogo inaugural com o Equador.
    Esta noite, Hitzfeld deu pela 1.ª vez a titularidade no centro da defesa a Schär e, curiosamente, pela primeira vez não sofreu golos. Claro que para esta equação contribui também o facto das Honduras serem inferiores ao Equador e à França. A Suiça começou forte o jogo e logo nos instantes iniciais Shaqiri e Drmic tiveram uma oportunidade clamorosa para inaugurar o marcador. Shaqiri, no entanto, prefere golos impossíveis. Aos 6 minutos do jogo de Manaus, o extremo do Bayern (que terá ficado super-valorizado depois desta exibição, caso Guardiola o queira vender) marcou um dos melhores golos deste Mundial até agora. Do lado direito, e depois de Lichtsteiner lhe dar a bola, Shaqiri aguentou a pressão dos defesas hondurenhos e disparou uma bomba indefensável e impressionante, com Valladares a ver a bola a entrar no ângulo da sua baliza. Um míssil a ir direitinho para os melhores momentos deste Mundial. Depois de marcar, a Suiça recuou um pouco no terreno e procurou passar a explorar o contra-ataque, e a fórmula teve sucesso. O 2-0 chegou um minuto depois da meia hora de jogo numa transição muito simples, mas tremendamente eficaz. O capitão Inler fez um passe em profundidade que um defesa hondurenho não conseguiu interceptar e Drmic só teve que colocar a bola no espaço para a velocidade do inspirado Shaqiri - na cara de Noel Valladares, Xherdan limitou-se a finalizar com frieza, colocando a Suiça ainda mais perto dos oitavos.
    A selecção das Honduras, com alguns jogadores com problemas físicos, viu-se obrigada a ter que fazer algumas alterações (o goleador Costly, por exemplo, saiu antes do intervalo) e aos 53' aconteceu mais um dos momentos do jogo. Bengtson teve o golo dos pés mas quando já estava a preparar-se para festejar viu Ricardo Rodríguez a negar-lhe o golo em cima da linha. Enorme corte de um dos melhores laterais esquerdos deste Mundial até este momento, a confirmar as expectativas. Com a Suiça a gerir a vantagem, o 3-0 chegou aos 71' e só poderia ser novamente Shaqiri a fazer das suas. Rodríguez fez um brilhante passe longo a desmarcar Drmic, o novo avançado do Leverkusen trabalhou o lance do lado esquerdo e ofereceu depois o golo para Shaqiri rematar com calma e perfazer um hat-trick. Até final, destaque para algumas incursões de Ricardo Rodríguez no ataque, para duas ou três defesas interessantes de Benaglio e claro, para a ovação de pé a Xherdan Shaqiri!

    Depois de perder 5-2 com a França, a Suiça soube reerguer-se e frente à selecção mais fraca do grupo carimbou a passagem aos oitavos-de-final com 6 pontos. Xherdan Shaqiri foi sem margem para dúvidas o destaque do jogo com um hat-trick (o 2.º da competição, depois de Thomas Müller também o ter conseguido contra Portugal) e deixou um aviso para o que a Argentina terá no seu caminho. É evidente que o momento-chave do apuramento suiço foi a vitória frente ao Equador, e hoje jogadores como Ricardo Rodríguez, Inler, Drmic e Schär contribuíram para um jogo positivo no qual Shaqiri foi o herói absoluto.
    Esta Suiça é uma selecção com a qual simpatizamos e aguardamos com bastante expectativa o Argentina-Suiça dos oitavos. A Argentina não anda famosa, embora Messi esteja em grande, mas provavelmente aparecerá melhor contra equipas superiores. Resta à Suiça mostrar aquilo que conseguiu hoje em campo e não a face que mostrou quando defrontou a França na jornada anterior.


Barba Por Fazer do Jogo: 
Xherdan Shaqiri (Suiça)
Outros Destaques: R. Rodríguez, Schär, Inler, Drmic

Bósnia 3-1 Irão: Tudo ao contrário, ambos pelo caminho

Bósnia  3 - 1  Irão (Dzeko 23', Pjanic 59', Vrsajevic 83'; Reza 82')

    Partindo do pressuposto que a Argentina conseguia vencer a Nigéria - como aconteceu - o jogo de hoje podia permitir ao Irão, em caso de vitória, seguir para a próxima fase. A Bósnia, já eliminada, jogava hoje apenas pela honra e para conseguir a sua 1.ª vitória em Mundiais, uma vez que este Brasil 2014 está a ser a estreia da selecção bósnia nestas andanças. Finalizado o jogo, acabámos por ter uma Bósnia muito superior a eliminar o Irão, ajudando a Nigéria. Pode-se dizer que a Bósnia jogou como até aqui ainda não tinha conseguido, e o Irão na Hora H fez o pior jogo dos 3. Importa acrescentar que foram 2 selecções prejudicadas no seu trajecto: a Bósnia teve azar no primeiro jogo (auto-golo a arrancar o Mundial) mas viu um golo anulado a Dzeko quando ainda estava 0-0 com a Nigéria; já o Irão de Carlos Queiroz teve fortes razões de queixa no jogo frente à Argentina, no qual os seus jogadores se transcenderam e só a combinação da equipa da arbitragem com o talento de Lionel Messi acabou por escrever uma história negativa para os iranianos.
    Queiroz manteve o seu modelo de jogo habitual, extremamente defensivo mas com resultados interessantes nos 2 jogos anteriores na saída para o ataque, enquanto que o seleccionador bósnio finalmente viu a luz. Modelou a sua equipa por forma a conseguir jogar com Dzeko e Ibisevic em uníssono, conseguiu ter Pjanic próximo dos avançados em vez de sacrificar em terrenos recuados o mais talentoso jogador bósnio a construir, e abdicou de Lulic, Misimovic e Hajrovic. É certo que poucos têm os pézinhos de Misimovic, que Lulic é um dos jogadores mais experimentados nas competições europeias, mas a equipa melhorou sem eles (também porque pela frente estava o Irão, e a Bósnia não tinha pressão nenhuma, claro). Já Hajrovic, embora seja um dos jogadores com maior potencial desta Selecção, tem claramente que melhorar no capítulo da decisão e aí poderá vir a ser um jogador de outro nível. O embate de hoje arrancou com Dzeko a testar Haghighi e no começo vimos uma Bósnia confortável a encostar um Irão, como sempre com as linhas muito recuadas. Aos 23' e com alguma naturalidade chegou a vantagem bósnia - Pjanic deu para Dzeko e o avançado do Manchester City, do meio da rua, atirou forte e rasteiro, num remate que deu golo e era bem difícil para Haghighi. O Irão de Carlos Queiroz mostrou resiliência e quase empatou no lance seguinte, num excelente remate de Shojaei à barra.
    A Bósnia foi mantendo uma baixa intensidade, embora a fechar rápido e a vetar qualquer tentativa de transição iraniana, e só na 2.ª parte voltou a haver futebol, numa altura em que Shojaei - um dos jogadores iranianos com mais técnica - já tinha sido substituído. O 2-0 chegou aos 59 minutos com o homem do jogo a fazer o gosto ao pé e a conseguir uma despedida digna deste Mundial. Miralem Pjanic recuperou uma bola junto à grande área do Irão, a jogada desenvolveu-se com Dzeko e Susic, com este último a devolver a Pjanic que - talvez ligeiramente adiantado mas num fora-de-jogo mínimo do qual ninguém se queixou - finalizou com calma. O jogo foi passando mas chegaria ainda o 1.º golo do Irão neste Mundial. Um golo bem merecido! O capitão Nekounam acreditou e cruzou após uma jogada de insistência para o desvio de Reza Ghoochannejhad. O Irão merecia sair deste Mundial com 1 golo e Reza foi sempre ao longo dos 3 jogos o homem mais perigoso do ataque da equipa asiática. No entanto, o golo marcado amoleceu um pouco o Irão porque logo no minuto seguinte chegou o 3-1 - Salihovic fez Vrsajevic correr e o lateral-direito decidiu que também tinha direito ao seu momento e rematou à baliza, batendo Haghighi, e acabando com o jogo.

    Fica uma sensação agridoce ao acompanhar a fase de grupos de Bósnia e Irão. A Bósnia foi uma equipa imatura, azarada e que se deslumbrou com o facto de estar no seu primeiro Mundial. O seu seleccionador cometeu alguns erros, principalmente ao obrigar um criativo como Pjanic a participar tanto no processo defensivo e a ter que pegar no jogo tão atrás. O jogador da Roma foi sempre o jogador mais esclarecido da Bósnia neste Mundial e, juntamente com Dzeko, merecia outra sorte. Relativamente ao Irão, a equipa de Queiroz deixou uma excelente imagem na prova e infelizmente realizou o seu pior jogo no momento em que tinha mesmo que ganhar.


Barba Por Fazer do Jogo: 
Miralem Pjanic (Bósnia)
Outros Destaques: Vrsajevic, Susic, Dzeko; Pooladi, Shojaei, Reza