Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

28 de janeiro de 2013

Tenho a Barba Por Fazer e Estes Filmes Deves Ver

Humanos que gostam de cinema, lamento informar-vos (por não concordar) mas em princípio o óscar de melhor filme será entregue a Argo. O filme de Ben Affleck (é bom realizador o rapaz, isso não está em questão) venceu o prémio de melhor filme nos Producers Guild Awards e, visto que vários membros do comité de votação são os mesmos da Academia, deverá ser o veredicto final. Reforçando esta forte possibilidade está o facto dos últimos 5 vencedores dos PGA terem vencido depois o óscar de melhor filme. No entanto, hoje falamos de filmes não-nomeados para óscares. O filme francês Rust and Bone (De Rouille et D'os), que merecia ter tido outras atenções como filme estrangeiro e pelas performances dos dois actores principais do filme - Marion Cotillard e o não tão conhecido Matthias Schoenaerts -, e Seven Psychopaths, um inteligente filme carregado de humor negro em que Sam Rockwell faz um bom papel.

Rust and Bone

Realizador: Jacques Audiard
Argumento: Jacques Audiard, Thomas Bidegain, Craig Davidson
Elenco: Marion Cotillard, Matthias Schoenaerts, Armand Verdure
Classificação IMDb: 7.6

    (Palmas – silêncio – Palmas – silêncio). Foi isto que eu fiz quando acabei de ver o filme. Não, não foi, vamos ser sinceros. Primeiro porque antes deste filme merecer outros mereceriam e segundo porque eu não bato palmas a filmes, quem faz isso é o meu pequeno “eu” cinéfilo dentro do meu cérebro. Sabem quem é que bate palmas no final dos filmes? Os fãs do Twilight. Sim, eu uma vez fui ver um filme do Twilight, mas era meramente por experiência sociológica. Adiante.
    Hoje falamos de um filme francês. Tendo ganho algum respeito pelo cinema francês após ver “The Intouchables”, sentia à priori que o antigo país de Gérard Depardieu (agora chamado Жера́р Депардьё) tinha dado ao mundo mais um bom filme. Algo merecedor de ser visto. Primeiro porque qualquer filme com a Marion Cotillard merece ser visto. Depois porque no trailer a música era dos M83. Bom gosto.
    O bom gosto musical continua no filme, com duas músicas de Bon Iver (Wash e The Wolves). Resumindo, tal como em “The Intouchables”, somos levados às vidas de duas pessoas, aos seus mundos, às suas lutas, aos seus problemas e aos seus bons momentos. Stéphanie é uma treinadora de baleias numa espécie de Zoomarine e Alain é um homem que se muda com o seu filho para casa da sua irmã, procurando ganhar dinheiro nem que para isso tenha que lutar na rua. A relação entre ambos torna-se mais forte após um acidente no Zoomarine (vamos manter este nome) que faz com que Stéphanie perca as pernas. Não havia maneira suave de dizer isto, portanto foi logo de uma vez. Um filme descomplexado, e com dois actores que sobem o nível nos seus papéis. Cotillard é boa actriz, mas já há uns tempos que não roubava o ecrã todo para ela por um papel seu, e Matthias Schoenaerts apresenta-se ao mundo com um grande papel (uma das cenas mais emocionantes do cinema deste ano é precisamente o momento em que ele desespera tentando salvar o seu filho). 
    Causa bastante confusão e pena o não-reconhecimento por parte da Academia. O filme merecia a nomeação para Melhor Filme Estrangeiro, é melhor que Amour, e dependendo ou não da inclusão de The Intouchables poder-se-ia discutir se deveria ou não ganhar. Mais um bom filme francês, em que as pessoas e as suas emoções constroem progressivamente o filme, e o Schoenaerts lá vai dar o salto para Hollywood. Justamente, acrescente-se. Já agora, faz sentido ver Bullhead (o anterior filme mais conhecido em que Schoenaerts foi protagonista e que foi nomeado para melhor filme estrangeiro). Ainda não vi, mas talvez seja bom.

Seven Psychopaths

Realizador: Martin McDonagh
Argumento: Martin McDonagh
Elenco: Colin Farrell, Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson
Classificação IMDb: 7.4

    Humor Negro. É disto que se trata o filme Seven Psychopaths.
    Se se pegasse num caldeirão e se juntasse uma pitada de Quentin Tarantino com uma pitada de Todd Phillips (realizador de “A Ressaca”) e sal, só porque dá gosto, dava portanto o realizador Martin McDonagh. Seven Pscychopaths conta a história de um guionista alcoólico (Colin Farrell) que não encontra inspiração para escrever o seu novo guião, intitulado com o nome do filme, procurando inspiração para criar cada um dos seus sete psicopatas junto do seu melhor amigo (Sam Rockwell) – um homem que tem um “negócio” com um amigo (Christopher Walken) que consiste em roubar cães para depois os “encontrar” e devolver aos donos, ganhando dinheiro pelo simpático gesto. Basicamente o catalisador da energia do filme e da acção/ inspiração para a personagem de Farrell surge quando um cão roubado é o cão de um mafioso (Woody Harrelson).
    Ok, a sinopse disto é muito fraca. E isso é que surpreende no filme. Macabro mas cómico, inteligente mas directo, Seven Psychopaths é um filme diferente que se vai construindo rumo às cenas finais, numa contagem de psicopatas e numa constante edificação de cada personagem e do seu universo. Com um argumento bem pensado, muita sátira e um bom elenco (provavelmente o melhor Ensemble a seguir a Silver Linings Playbook), o filme junta rostos fortes – Christopher Walken, Woody Harrelson, Tom Waits – mas sustenta-se sobretudo pela personagem de Sam Rockwell. Mais um dos casos em que o actor secundário rouba o protagonismo todo. História com pouco potencial à partida, mas surpreendentemente bem realizada e interpretada, e Rockwell tem uma prestação que justificava melhor uma nomeação para óscar do que a de Alan Arkin. Não será para todos os gostos, mas assim é o cinema e a arte. MP

22 de janeiro de 2013

A Caminho dos Óscares: Life of Pi | Amour


Muito resumidamente, hoje lá continuamos a esmiuçar cada filme cogitado para as principais categorias dos Óscares da Academia, sendo que hoje é dia de um indiano sobreviver num barco com um tigre e de falarmos do filme de Rita Blanco. Sim, isso mesmo, podíamos chamar-lhe o filme de Michael Haneke, o filme de Emmanuelle Riva. Mas isso é cliché. E nós somos portugueses. Portanto vamos chamar-lhe o filme de Rita Blanco, que faz em Amour uma perninha como empregada. Antes disso, um filme de Ang Lee que não envolve cowboys homossexuais, mas sim um indiano que vai num barco armado em Noé, cheio de dúvidas sobre Deus. Na realidade, é um pouco mais que isso. Mas para isso, há que ler as linhas abaixo.

Life of Pi

Realizador: Ang Lee
Argumento: David Magee, Yann Martel
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Rafe Spall
Classificação IMDb: 8.3

    A última vez que vi um filme do Ang Lee, o Joker acabava a copular com o Prince of Persia. Tinha por isso a sensação que qualquer coisa que me pusessem à frente, seria melhor. Não gosto muito de descrever os filmes em género sinopse, mas supõe-se que isto tenha um carácter informativo portanto: Pi (nome proveniente de Piscine, interpretado pelo jovem Suraj Sharma em novo e Irrfan Khan em adulto – momento em que conta a história) é um jovem indiano cuja família tem um jardim zoológico, e que vive carregado de dúvidas sobre as várias religiões e Deus. A sua família vende o Zoo e embarcam então num navio japonês rumo ao Canadá, transportando os residentes do zoo (animais, portanto). Um desastre náutico resulta no naufrágio e na sobrevivência de Pi, que fica apenas num barco com uma hiena, um orangotango, uma zebra e um tigre de Bengala. A aventura de Pi, na tentativa de sobreviver, de enfrentar os seus medos e encontrar uma resposta Superior inicia-se então, sempre com o tigre Richard Parker (no filme explicam o nome) ao seu lado, mas nem por isso seu amigo.
    Toda a história é narrada pelo adulto Pi Patel, numa conversa com um escritor (Rafe Spall) e com um intuito muito específico: explicar a religião e a crença em Deus.
    É nitidamente um filme que se destaca pela Fotografia, mas que absorve sobretudo a narrativa de Yann Martel, resultando em cinema e sustentando a sua qualidade na reflexão final, no confronto das 2 histórias: a que o filme explora (com os animais) e a que Pi conta depois aos japoneses que o encontram (com humanos). Comparando com outro filme “indiano” – Slumdog Billionaire – embora sejam muito diferentes, este é um filme melhor, com um final que suscita dupla interpretação e sobretudo a dúvida, porque, no final de contas, é também a dúvida que sustenta a fé. Justamente nomeado para a maioria das categorias em que reúne nomeações (11 nomeações, grande maioria técnicas) – só após reflectirmos é que poderíamos dizer se estaria para nós no leque de 9 melhores filmes do ano, mas é justa em todo o caso e à priori a nomeação para Melhor Argumento Adaptado. Quanto ao Ang Lee, trocou dois cowboys por um indiano e um tigre e eles não acabaram num inter-espécies. Só por isso, os meus parabéns velho chinês.
    Não cansa como “Naufrágo” e não é extremamente surreal e metafórico como “Tree of Life”, sendo acima de tudo uma história bem contada. E bem conduzida. Mais do que pelo filme, uma salva de palmas para o Yann Martel. Palmas para ti homem canadiano.

Amour

Realizador: Michael Haneke
Argumento: Michael Haneke
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva
Classificação IMDb: 8.1

    Ora bem, entrem os tambores, mantenham-se os tambores a tocar: Eis um filme, nomeado para Melhor Filme, no qual entra… a Rita Blanco! Pois é Rita… Médico de Família, A Minha Sogra é uma Bruxa, Conta-me Como Foi e de repente, pumba, um Amour nomeado para vários óscares.
    Antes de mais, levanto uma questão. Qual é a percentagem facial da cara do realizador Michael Haneke que é habitada por barba? A) 30%; B) 60%; C) +. Sim, é a resposta C. Este ancião germânico realizou, em 2009, O Laço Branco (perdeu para o argentino “El secreto de sus ojos” o óscar de melhor filme estrangeiro) e agora em 2012 volta em força, conseguindo 5 nomeações para Amour (Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Actriz, Melhor Argumento Original e Melhor Realizador). Parece portanto óbvio, quase matematicamente, que vencerá o óscar de melhor filme estrangeiro.
    Amour é, primeiro que tudo, cinema europeu. E portanto para quem vai ao cinema (mesmo num cinema ou na sua sala) e está à espera de ser invadido e conquistado por efeitos especiais e grandes bandas sonoras, não sendo a pessoa a ir atrás do filme, provavelmente Amour não acrescentará nada à sua vida. Amour mostra um casal de antigos professores de música de idade avançada, Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Louis Trintignant), e mostra apenas isso. Mostra o fim da vida, o amor de uma vida, no fim do tempo, na perda de capacidades e funcionalidades, nos últimos batimentos. O definhar de Anne, paralisada e confinada a uma cadeira de rodas é explorado, num filme em que os silêncios também falam. Haneke realiza de forma fria mas rica e explora o desespero, a realidade, conseguindo no fundo o Amour. Não sendo um filme que me encha as medidas, nem achando que chega para ser nomeado para melhor filme, tiro o chapéu sim ao desempenho de Emmanuelle Riva, e também de Jean-Louis Trintignant. Reúne pelo menos duas nomeações justas, acabará por vencer o óscar de melhor filme estrangeiro e Emmanuelle Riva até acredito que seja a principal concorrente de Jennifer Lawrence e Jessica Chastain, entrando na mente da Academia. Não é um filme que toda a gente gostará, nem é um filme em que toda a gente absorverá cada imagem, cada silêncio e cada cena, mas assim é o Amour. O fim assusta-nos a todos, e acho que todos quereremos ter alguém que nos suporte e que esteja lá quando respirarmos pela última vez.
    PS: O Michael Haneke parece o Saruman, do Senhor dos Anéis. MP

18 de janeiro de 2013

A Caminho dos Óscares: Zero Dark Thirty | Les Misérables


Um artigo. Dois textos. Dois filmes. Dois realizadores galardoados com os óscares de melhor filme e melhor realizador em 2010 e 2011. A senhora Bigelow traz-nos um filme como ela tanto gosta: de guerra. Não uma guerra às claras, mas o backstage da infinita operação para encontrar e matar Osama Bin Laden. Supostamente terá sido assim. Bom papel de Jessica Chastain (já elogiada neste humilde blog há um longo tempo). Depois, vem o Tom Hooper e os seus actores cantantes. Wolverine mostra a voz que o mundo já sabia que ele tinha, tal como Anne Hathaway. Lá que eles têm alma a cantar/ interpretar, têm. Só é esquisito o Gladiador cantar. Só um bocadinho. Pronto, não é um bocadinho. É muito.

Zero Dark Thirty

Realizador: Kathryn Bigelow
Argumento: Mark Boal
Elenco: Jessica Chastain, Jason Clarke, Mark Strong, James Gandolfini, Joel Edgerton, Kyle Chandler
Classificação IMDb: 7.7

Olá Kathryn Bigelow. Não foste nomeada para melhor realizadora. Que pena. Assinado: James Cameron.
    Zero Dark Thirty (00:30 Hora Negra) é um filme com um tema que estava mesmo a pedi-las: Osama Bin Laden. Bigelow, num argumento de Mark Boal, dupla que já tinha funcionado em “The Hurt Locker” esmiuça a década de perseguição ao líder da Al-Qaeda, numa viagem episódica aos bastidores da CIA, acompanhando uma investigação que parecia infindável. Não querendo pôr em causa a veracididade dos factos, a Bigelow diz que todo o filme é baseado em factos verídicos.
    No ano passado, quando dissemos quem nomearíamos para óscar e a quem entregaríamos a estatueta dourada, na categoria de melhor actriz secundária, votámos em Jessica Chastain duas vezes – em The Help e Take Shelter, defendendo o óscar para a actriz pelo seu papel no 2º filme referido. Pois bem, no ano passado a Academia não lhe deu a atenção que nós demos, mas este ano está nomeada para Melhor Actriz Principal. Chastain (no papel de Maya). Mas já voltamos à Jessica. Zero Dark Thirty (30 minutos depois da meia-noite, hora a que supostamente Bin Laden foi morto) tiveram que ser mudado porque estava já a ser desenvolvido quando Bin Laden foi morto. O que ia ser apenas um filme sobre as estratégias e missões na busca de OBL, acabou reformulado. Inicialmente ia-se chamar “Kill Bin Laden”, mas se calhar alguém achou que isso era ligeiramente forte, não sei, digo eu.  Curioso também o facto de o filme ter sido quase entregue a James Cameron, ex-marido de Bigelow, mas este ter desistido por querer trabalhar na sequela de Avatar.
    O filme é interessante. Pessoalmente, acaba por ser mais interessante que Argo, embora seja mais fácil gostar de Argo, porque é mais cinematografado. Muita investigação resultou naquele que foi definido como “a história da maior caça humana da História para o homem mais perigoso do mundo”.
    Tal como Argo, Zero Dark Thirty não me enche os meus olhos cinéfilos, mas são dois filmes cultural, histórica e politicamente interessantes de ver. Encontro em Chastain aquilo que Bigelow é – uma mulher na guerra. Para além de figurar num “mundo” (a realização) onde as mulheres são uma minoria, tem-se orientado ultimamente para a Guerra – The Hurt Locker e agora este.
    Jessica Chastain contextualiza a sua realizadora mas personifica a américa na perfeição. O desespero e a incapacidade de dormir e descansar enquanto não tivesse a sua missão terminada vêem-se cena a cena, no evoluir da sua frieza, tendo sempre foco e acreditando nas suas decisões mais que ninguém. Maya (Chastain) dedica a vida ao país, numa procura por um assassinato no qual ao ver determinados olhos fechados, aceita a paz e percebe, aí, que após uma década de esforços, não sabe e não tem para onde ir. Nomeação justa da actriz, do filme, logo veremos.


Les Misérables

Realizador: Tom Hooper
Argumento: Claude-Michel Schönberg, Alain Boublil, Victor Hugo, Herbert Kretzmer, Jean-Marc Natel, William Nicholson
Elenco: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Aaron Tveit, Samantha Barks
Classificação IMDb: 8.1

    Ora bem, o que é que têm em comum o Wolverine, o Gladiador, a filha da Mamma Mia, o Borat e a Princesa que tinha um diário? Pois é, são miseráveis. Les Misérables é, por assim dizer, um episódio do Glee mas com muito pedigree. Na realidade não, mas era uma piada que se podia fazer. E assim já foi feita.
Tom Hooper gosta muito da voz. No Discurso do Rei explora a dificuldade de oralidade num líder, e desta feita pegou no musical de Victor Hugo e fez mais um remake. Mais uma vez, a história incide sobre Jean Valjean (Hugh Jackman), o homem que roubou um pão e tornou-se o prisioneiro nº 24601. Sim, ele roubou um pão. Valjean quebra a sua liberdade condicional, assumindo uma nova identidade para que a sociedade o aceite e para fugir ao polícia Javert (Russell Crowe), obcecado em prendê-lo. A nova identidade de Valjean - Senhor Madeleine – leva-o a abraçar a vida de uma nova forma, acabando por se encontrar ao cuidar da filha, chamada Cosette, de uma costureira pobre - Fantine (Anne Hathaway) – que trabalha para sustentar a sua filha que está a viver com outra família. Para a sustentar ela vende o cabelo, dá dois dentes e faz outras coisas. Sim, reforço, a personagem principal roubou um pão e esta personagem vende o cabelo e dois dentes. E mais coisas. Não faz sentido contar mais porque aí isto seria um spoiler.
    O grande factor X do filme de Tom Hooper é o facto de as músicas terem sido gravadas ao vivo e não editadas em estúdio na pós-filmagem, como em todos os outros musicais em cinema. Os actores cantam com sentimento e dão tudo de si e há momentos emocionantes. Não sendo o meu tipo de filme, é intenso em vários momentos, compreendendo-se as nomeações de Hugh Jackman e Anne Hathaway para os óscares. Eles que venceram recentemente cada um 1 globo de ouro.
    Para Les Misérables, Hugh Jackman perdeu 15 quilos e Hathaway perdeu 11. Sim, o critério de nomeação para os óscares agora é semelhante aos critérios semanais nos Biggest Loser’s. Mas o Jackman fez mais, e passou 36 horas sem água, para supostamente perder peso à volta dos olhos e bochechas e parecer um prisioneiro. E, a título de curiosidade, a farta barba do Wolverine enquanto escravo e pobre, é mesmo dele. A produção teve que esperar que ele fizesse a barba e recuperasse o peso normal para filmarem as cenas dele após adoptar nova identidade. Não sei o que lhe terá demorado mais. O filme foi concebido para ter 4 horas, mas acabaram por perceber que tinham que cortar algumas partes e ficou só com 2 horas e 30 e tal minutos. É interessante porque parece que hoje em dia é condição sine qua non para um filme de óscar ter uma longa duração: Les Misérables, Django Unchained, Silver Linings Playbook, Zero Dark Thirty, Lincoln, Amour, Life of Pi e Argo têm todos, pelo menos 2 horas. Só Beasts of the Southern Wild tem menos, mas curiosamente também tem menos lógica estar nomeado para melhor filme.
    Sim, há grandes canções como "I dreamed a dream" mas há uma canção peculiar que me fez recordar "Mauzão, Mauzão, nos ossos ninguém põe a mão".
    É difícil, admito, aceitar Russell Crowe, o Gladiador, o Cinderella Man, a cantar. Mas depois lá se aceita. Ou então não, mas quase. O destaque do filme vai para a espontaneidade e emoção colocada nas interpretações deste musical do grande ecrã. Hugh Jackman e Anne Hathaway (que nem entra assim numa % tão elevada do filme) dão tudo nas suas performances, sendo que num degrau mais baixo os restantes destaques seriam até Eddie Redmayne e Samantha Barks. Se é filme de óscar? Para mim se calhar não, porque eu preferia ver um lote de 5 bons filmes nomeados. Em 9 filmes, talvez mereça o seu lugar. Mas é um bom musical, anos-luz superior a um suposto sucesso como Mamma Mia por exemplo. O Tom Hooper vai-se safando (The Damned United, King’s Speech, Les Misérables) e vamos ver como a Academia encara o filme. Garantido parece estar, à partida, o óscar de melhor actriz secundária para Anne Hathaway. MP

17 de janeiro de 2013

Garganta Afinada. Top 20 ( nº 82 )

    Então pessoas mais lindas do mundo excepto quando estão de perfil? Tudo bem? Nós estamos. E dizemos já que hoje o top nº82 do Garganta Afinada está uma grande espingarda! Ora ouçam e vejam se não temos razão, com mil raios!
    Temos Macklemore, originário de Seattle (terra que trouxe muito boa música!), o rapper tem em "The Heist" um álbum que demonstra todo o potencial que a sua carreira tem, e a parceria com o produtor Ryan Lewis tem-no exponenciado, embora esteja a ficar mais conhecido pelo êxito "Thrift Shop", consegue fazer músicas épicas até sobre um par de ténis. Mas há mais! Até suecos temos, cérebros humanos! É verdade... Kristian Matsson é conhecido no mundo da música como The Tallest Man On Earth. A sua viola e a sua voz são inseparáveis. É assim que podemos descrever melhor este valor emergente que já fez uma tour com os Bon Iver. Depois temos Jake Bugg, um dos valores emergentes britânicos, a fazer renascer a coroa musical inglesa com a energia e acelerações e um sotaque típico, mas que seria o que o de um dos irmãos Gallagher teria sido se tivesse crescido no meio de cowboys. Voltamos a ter os Alt-J, com uma música da banda sonora de Silver Linings Playbook, mais um valor do indie britânico a crescer e crescer. Estarão cá no Optimus Alive, no dia dos Kings of Leon e a voz de Joe Newman, neste quarteto de Leeds vai contagiar muita gente no Passeio Marítimo de Algés. Ainda temos Sta. Apolónia com a música "Disse-te Adeus e... Sorri..." integrante na banda sonora do filme Assim Assim. Sta. Apolónia é um projecto de André Joaquim que já conta com Pedro Lopes e João Nunes num segundo EP mais acústico. Por fim... Temos Frank Ocean - um dos novos valores do R&B e que julgamos nós que vai limpar todos os Grammys da sua área.
    E agora voamos para longe! Sim, por hoje já chega! Encontramo-nos noutro dia, pessoas mediocremente engraçadas!




1. Macklemore X Ryan Lewies ft. Fences - Otherside
2. This Will Destroy You - There Are Some Remedies Worse Than The Disease

14 de janeiro de 2013

A Caminho dos Óscares: Django Unchained | The Impossible


Olá humanos. Noto que estão mais belos do que da última vez que vos vi. Hoje fazemos check a mais dois filmes. Um melhor que o outro. O western de Tarantino que reúne Jamie Foxx, Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio, com sangue jorrado num mar de tulipas brancas e os gatilhos mais rápidos do faroeste. E depois, um maremoto de emoções. Epá, esta saiu mesmo bem, han? Como o filme é sobre o tsunami, um marem… Sim senhor, boa piada pá!

Django Unchained

Realizador: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson
Classificação IMDb: 8.7

Quando pensamos nas palavras Western e Tarantino, a ligação não é imediata e nem parece muito lógica. Mas a verdade é que era algo que, depois de uns minutos de Django, se percebe que tinha que acontecer mais tarde ou mais cedo no Cinema. O filme que esteve para se chamar The Angel, The Bad and the Wise.
Django Unchained conta-nos a história dum escravo, Django (Jamie Foxx) que é liberto por um caçador de recompensas (Christoph Waltz) para o ajudar a matar uns pilantras/ patifes/ bandidos. Em contrapartida, Dr. Schultz (Waltz) ajuda Django a tentar recuperar a sua mulher, que “pertence” a Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).
O mérito de Tarantino está, primeiro que tudo, em conseguir conciliar 3 actores com egos grandes e que normalmente assumem eles próprios a totalidade do ecrã. DiCaprio, mesmo assim, tem desenvolvido um factor X que o faz “roubar a cena” sistematicamente, mas Waltz e Foxx fazem o filme funcionar da melhor forma. Tarantino deixa a sua impressão digital em diversos momentos, obviamente com muito sangue jorrado e com toda a violência explícita como não podia deixar de ser num filme seu. Como qualquer outro filme de Tarantino, Django Unchained não é para mornos, ou se gosta muito ou não. Django não é um Pulp Fiction, mas um Pulp Fiction só se torna um Pulp Fiction com os anos e portanto Django estreou-se em alta, mas ainda poderá crescer enquanto filme de culto no futuro. Ah, sim, nunca tinha dito tantas vezes Pulp Fiction numa só frase.
    Nomeado para 5 categorias: Melhor Filme, Melhor Argumento Original, Melhor Actor Secundário (Christoph Waltz) e 2 categorias técnicas, ficou a faltar a nomeação para Melhor Realizador, e consoante a moldura total (que ainda se está a formar, dos filmes todos) DiCaprio tinha aspirações legítimas a uma nomeação, e Foxx também, a uma escala menor. Por falar em DiCaprio, anotem e preparem-se para o filme deste ano – de Scorsese – “The Wolf of the Wall Street” com DiCaprio, Jonah Hill, Matthew McConaughey, Jon Bernthal (“Shane” em Walking Dead) e Jean Dujardin.
    Quem gosta de Tarantino, é 100% certo que gostará de Django, 7º filme do realizador. Quem não gostava, pode começar a gostar agora. Na senda de Inglourious Bastards, Pulp Fiction e Kill Bill, Tarantino mantém a sua marca muito própria e Christoph Waltz encaixa que nem uma luva, mais uma vez, neste género “tarantiniano”. O filme conta ainda com Samuel L. Jackson, que volta a trabalhar com o realizador, Franco Nero (que foi “Django” num western de 1966) e claro, Tarantino faz uma perninha no seu próprio filme.
    Bem nomeado para Melhor Filme, não desilude quem tinha expectativas da combinação Western + Tarantino + DiCaprio + Waltz + Foxx. Liberdade, Vingança e Vida, mas sempre com estilo. Deixo a última frase para Christoph Waltz, maior destaque do filme e que, apesar da sua carreira já falar por si, podia muito bem ser galardoado este ano pela Academia.


The Impossible

Realizador: Juan Antonio Bayona
Argumento: Sergio G. Sánchez, María Belón
Elenco: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland
Classificação IMDb: 7.7

Sim, é o filme do tsunami. A Naomi Watts, sem o King Kong, e o Ewan McGregor, sem sabres de luz e sem cantar a “My Song”, são um casal com três filhos – o Lucas e mais dois. Assumir tom sério e polido. The Impossible é baseado na história verídica de uma família durante o tsunami do sudeste asiático de 26 de Dezembro de 2004. E agora, a sinopse insensível em 1 frase: o McGregor vai passar férias de Natal com a família, vai à piscina, vem uma onda e leva todos. Foi o King Kong que deu um pum no mar. Que piada tão fraca, porra! Tão fraca! Porquê? Porque é que esta piada saiu tão fraca? E porque é que eu, leitor, estou a ler isto tudo tão estranho e agora me estou a aperceber?!
    The Impossible, realizado pelo senhor Bayona, é um filme emotivo. Tem pontos altos, momentos familiares intensos, mas também tem muita coisa que faz alguma impressão. Eu não me impressiono porque sou um campeão, naturalmente, mas se me impressionasse (eu impressiono-me, confesso) algumas feridas e momentos de sofrimento da Naomi Watts mexeriam comigo. A história relata bem o sofrimento durante a tragédia, o estado deplorável consequente do tsunami e é um filme muito humano. Escrever isto dá a entender que poderia ter sido um alien roxo a realizar o filme, mas eu opto por reforçar que foi um humano. É estúpido. Bom papel de Naomi Watts e bom papel do pequeno Lucas. Interessante também ver Ewan McGregor a desmanchar-se a chorar, acho que nunca antes tinha visto na sua carreira. O filme está nomeado para uma categoria – Melhor Actriz Principal (Naomi Watts) – sendo que é a segunda nomeação da actriz, depois de 21 gramas. Pessoalmente, não sei se o seu papel é suficiente para ser papel de óscar e, sendo, é inferior aos de Jennifer Lawrence e Jessica Chastain. Ao nível da pequena Quvénzhane, talvez. Só que a Quvénzhane tem a vantagem de ter 9 anos, e de se chamar Quvénzhane. É um filme interessante pelo tema que aborda, não me encheu as medidas mas é emotivo e exalta o espírito humano, a família, sendo um excelente mergulho no tsunami. Não interpretem esta frase final como uma piada, porque aí eu vou para o inferno. E eu não queria isso. MP

Vencedores Globos de Ouro 2013


E os Globos de Ouro lá aconteceram. Apresentados por Tina Fey e Amy Poehler, (Ricki Gervais era melhor) consagraram Argo e Les Misérables como os filmes do ano para a Hollywood Press. Embora como habitualmente, a % de vitórias foi dividida entre vários filmes, e habitualmente os óscares não reflectem o que aconteceu nos Óscares (em 2010 e 2011 ganharam Avatar e A Rede Social, por exemplo, e não The Hurt Locker e O Discurso do Rei). Aqui fica a lista dos vencedores da noite:
Melhor Filme – Drama: Argo
Melhor Realizador: Ben Affleck (Argo)
Melhor Filme – Comédia ou Musical: Les Misérables
Melhor Actor – Drama: Daniel Day-Lewis (Lincoln)
Melhor Actriz – Drama: Jessica Chastain (Zero Dark Thirty)
Melhor Actor – Comédia ou Musical: Hugh Jackman (Les Misérables)
Melhor Actriz – Comédia ou Musical: Jennifer Lawrence (Silver Linings Playbook)
Melhor Actor Secundário:Christoph Waltz (Django Unchained)
Melhor Actriz Secundária: Anne Hathaway (Les Misérables)
Melhor Argumento: Django Unchained
Melhor Música: “Skyfall” – Adele (007 – Skyfall)
Melhor Banda Sonora: Life of Pi
Melhor Filme de Animação: Brave
Melhor Filme Estrangeiro: Amour
Melhor Série – Drama: Homeland
Melhor Série – Comédia ou Musical: Girls
Melhor Mini-Série: Game Change
Melhor Actor TV – Drama: Damian Lewis (Homeland)
Melhor Actriz TV – Drama: Claire Danes (Homeland)
Melhor Actor TV – Comédia ou Musical: Don Cheadle (House of Lies)
Melhor Actriz TV – Comédia ou Musical:Lena Dunham (Girls)
Melhor Actor Mini-Série: Kevin Costner (Hatfields & McCoys)
Melhor Actriz Mini-Série:Julianne Moore (Game Change)
Melhor Actor Secundário Mini-Série: Ed Harris (Game Change)
Melhor Actriz Secundária Mini-Série: Maggie Smith (Downton Abbey)


Em suma, Argo saiu como o destaque maior ao vencer os globos de melhor filme dramático e de melhor realizador (Ben Affleck), sendo que Les Misérables venceu o melhor filme (musical/ comédia), levando ainda Hugh Jackman para casa o globo de ouro de melhor actor do mesmo género e Anne Hathaway o globo para melhor actriz secundária.

Sem surpresas, Daniel Day-Lewis e Jessica Chastain venceram nas suas categorias. E Jennifer Lawrence na sua. Escusado será dizer que o duelo nos óscares será entre Chastain e Lawrence, com vantagem para a actriz de Zero Dark Thirty, supostamente. Quentin Tarantino ganhou (bem) o globo de melhor argumento, ainda para mais um argumento original completamente criado na sua peculiar mente, e Christoph Waltz venceu o globo de melhor actor secundário, algo que talvez consiga renovar no próximo mês para a Academia. Django Unchained venceu portanto mais do que se esperava o que foi uma agradável surpresa. Amour bateu os franceses The Intouchables e Rust and Bone, a Adélia lá foi agradecer o facto de ter ganho a melhor música (será que o filho dela já tem nome?) e a Anne Hathaway com o seu pequeno cabelo ensaiou o discurso que voltará a ter que fazer no próximo mês.

Não falando de filmes ou actores não nomeados, é pena Silver Linings Playbook não ter tido o reconhecimento que merecia. Bradley Cooper podia muito bem ter batido Hugh Jackman e o filme ter deixado para trás Les Misérables. Poucas surpresas e algumas vitórias que se deverão repetir em breve. Na TV, há uma certa tendência para nomear sempre as mesmas pessoas e séries (basta ver que Claire Danes venceu o seu 4º globo em 4º nomeações consecutivas) e o vencedor foi precisamente Homeland. Girls bateu Modern Family e Game Change saiu como o grande vencedor das Mini-séries. Numa pequena particularização, pena ter ganho Kevin Costner e não Benedict Cumberbatch (pelo seu papel de "Sherlock").

Um conselho: no dia 26 de Janeiro saber-se-á qual é o filme do ano para nos Producers Guild Awards. Por ter alguns membros que votam também na Academia, estes prémios elegeram nos últimos 5 anos The Artist, O Discurso do Rei, The Hurt Locker, Quem Quer ser Bilionário e No Country for Old Men… filmes que vieram sempre a ganhar o óscar de Melhor Filme depois. É só uma dica. MP

13 de janeiro de 2013

A Caminho dos Óscares: Silver Linings Playbook | Lincoln

Agora que já se sabem os nomeados, resta-nos continuar a contar-vos histórias sobre quais valem a pena e quais não valem, quem são os actores e actrizes do ano, quem se destacou e cresceu, e quem desiludiu. Hoje lançamos dois dos filmes mais nomeados – Silver Linings Playbook (nomeado em todas as principais categorias) e Lincoln (filme mais nomeado – com 12). Pessoalmente, a balança cai para o lado de Silver Linings Playbook. Do outro lado, Daniel Day-Lewis acumula todo o filme na sua personagem. Abraham Lincoln é enigmático e imponente, mas a verdade é que um bipolar perdido (Bradley Cooper) talvez até lhe consiga fazer frente.


Silver Linings Playbook

Realizador: David O. Russell
Argumento: David O. Russell, Matthew Quick
Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker
Classificação IMDb: 8.2

Fui acompanhado de uma fêmea ao cinema ver este filme e, vim a descobrir, que no mesmo dia os meus avós também fizeram o mesmo. Eu e a fêmea gostámos do filme. Os meus avós gostaram do filme. É um filme que abarca gerações. Está feito, vamos passar ao próximo.
    Ok, vamos lá. Silver Linings Playbook (em português Guia para um Final Feliz) é um dos filmes do ano. Não vamos estar com rodeios. Conjuga um bom argumento – mérito para a obra de Matthew Quick – com grandes interpretações (já lá vamos), um bom trabalho de realização, boa música, tudo muito bem conduzido. Para quem gosta de só ler a sinopse: Pat (Bradley Cooper) é tem um distúrbio de bipolaridade e sai de um hospital psiquiátrico após 8 meses de tratamento. Pat esteve lá porque um dia apanhou a sua mulher no banho com o professor de História e ele não lhe estava propriamente a explicar a 2ª Guerra e então Pat decidiu espancá-lo sem parar. Voltando-se a inserir na sociedade, Pat procura gerir as suas instáveis emoções e reconquistar a sua mulher, a que o traiu, sim. Voltando para casa dos seus pais (Robert De Niro e Jacki Weaver), Pat traça a sua reabilitação com a ajuda de outra alma perdida – Tiffany (Jennifer Lawrence), recentemente viúva. O resto cabe-vos a vocês verem. Porque vale a pena ir ao cinema.
    Bradley Cooper, que tem crescido como actor nos últimos anos, faz aqui o grande papel da sua carreira até agora. Justamente nomeado para óscar, tem um olhar perdido e é nele que se conjugam os 2 géneros do filme (Drama e Comédia). O filme faz-nos rir e de repente o nosso riso está a desacelerar porque a coisa está a ganhar um tom emocional forte, os timings dos actores e de David O. Russell estão sempre certos. De Niro tem uma grande cena, talvez justamente nomeado para melhor actor secundário, já não tem nada a provar a ninguém. Weaver (já tinha sido nomeada para melhor actriz secundária em 2010 por Animal Kingdom) não enche o ecrã, mas mantém um olhar desesperado e preocupado todo o filme, mostrando que nunca sabe o momento a seguir do seu filho. E depois há Jennifer Lawrence. Jennifer, não sei se já te disseram, mas és um bocado gira. Um bocado muito grande. E agrega a isso o facto de ser uma actriz que não pára de surpreender quando lhe dão oportunidades – justamente nomeada deverá disputar com Jessica Chastain o óscar de melhor actriz no próximo mês. A verdade é que o filme acumulou 8 nomeações, sendo que 7 são para categorias principais.
    David O. Russell sabe puxar pelos seus actores. Em The Fighter, Christian Bale roubou todo o protagonismo e, em Silver Linings Playbook, há um equilíbrio total. O próprio filme é bipolar, como Cooper, e mostra a vulnerabilidade das personagens-chave, que apenas querem ser felizes. E que estão num ponto em que precisam de acreditar que se podem reconstruir.
    Um dos filmes do ano.



Lincoln

Realizador: Steven Spielberg
Argumento: Tony Kushner, Doris Kearns Goodwin
Elenco: Daniel Day-Lewis, Sally Field, Tommy Lee Jones, Hal Holbrook, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt
Classificação IMDb: 8.1

Matemática simples. Steven Spielberg a realizar, Daniel Day-Lewis como principal actor e o filme é sobre Abraham Lincoln – ícone épico do universo norte-americano. Não era muito difícil perceber que ia dar no que deu – 12 nomeações (filme mais nomeado do ano) – o que não quer dizer que tenha valor correspondente ao título de “filme de 2012”, por ser o mais nomeado. Aliás, pode-se mesmo dizer claramente que não é.
    Spielberg safa-se melhor do que com War Horse, mas ao passar dum cavalinho que ia passando um pano de dono para dono durante a guerra para um filme sobre Abraham Lincoln, é quase fazer batota. Pensei inicialmente que o filme fosse uma biografia da vida de Lincoln, mas não. Spielberg, que reuniu informação durante anos e anos para este filme, utilizou também parte do livro de Doris Kearns Goodwin e focou-se portanto no período da Guerra Civil americana, centrando o filme na veemência de Lincoln em levar a cabo a lei que defendia que a escravatura devia ser abolida e todos os homens deviam ser livres. Pessoalmente Spielberg, o Tarantino criou um filme de raíz em que aborda a escravatura e deu-te 1-0. A meu ver.
    Hoje em dia parece que falta o “dedo de realizador” que Spielberg já teve. O homem que pôs uma rapariga de vestido vermelho num pictograma cinza e que lançou o jovem Christian Bale, no Império do Sol, a já não conseguir reconhecer os seus pais após a 2ª Guerra Mundial, parece já só filmar por filmar. Reúne informação, relata, mas já não acrescenta o que acrescentava. Já não se vê Spielberg no filme. E isso é pena. Por outro lado, isso também não é fácil quando um actor enche o ecrã com uma interpretação. Lincoln é “filme de actor” – Daniel Day-Lewis, do alto do seu 1,87m, deixa todos concentrados quando fala, e consegue ser cativante como supostamente Lincoln era. Domina a audiência dentro do ecrã e fora dele, e muito provavelmente ganhará o óscar de melhor actor principal. No entanto, este ano há boas interpretações – Bradley Cooper e Denzel Washington, pelo menos. Day-Lewis que, acrescente-se, inventou a voz que ele próprio achou a correcta para Lincoln.
    Depois há o Tommy Lee Jones (que deve rivalizar com Seymour Hoffman pelo título de melhor actor secundário) e Sally Field, que saiu dos Irmãos e Irmãs e decidiu fazer de mulher do Lincoln. Bons papéis, reconheço, mas talvez um pouco sobrevalorizados.
    Vale a pena ver, do ponto de vista histórico e sobretudo porque Abraham Lincoln é um epicentro de coerência, oratória e carácter. Entusiasmante, tranquilo e focalizado, assim era Lincoln, e assim foi Daniel Day-Lewis. MP

10 de janeiro de 2013

E os Nomeados são...


E pumba! A Academia lá se reuniu, tendo Tom Hanks e os seus amigos decidido quem estará na corrida pelas estatuetas douradas na noite de 24 de Fevereiro. Comparativamente com o que tínhamos apontado ontem, não houve grandes surpresas, pese embora Beasts of the Southern Wild se tenha saído melhor do que o esperado. Lincoln e Life of Pi são os dois filmes mais nomeados do ano, com 12 e 11 nomeações respectivamente. Interessante ver Silver Linings Playbook nomeado para 8 categorias (conseguindo estar nomeado para 7 importantes categorias - Melhor Filme, Realizador, Actor, Actriz, Actor Secundário, Actriz Secundária e Argumento). Argo e Les Misérables reúnem 7 nomeações. Tal como Beasts of the Southern Wild, Amour lança-se na senda dos Óscares com mais nomeações do que o esperado, e Kathryn Bigelow não foi nomeada enquanto realizadora, sendo que Zero Dark Thirty está em 5 categorias.

Melhor Filme:
Lincoln | Argo | Amour | Silver Linings Playbook | Zero Dark Thirty | Les Misérables | Django Unchained | Life of Pi | Beasts of the Southern Wild
9 Filmes - há esta tendência de nomear muitos e não reunir um leque de 5/6 verdadeiros bons filmes -, sendo que Beasts of the Southern Wild e Amour surpreendem ligeiramente. É bom ver Silver Linings Playbook e Django Unchained nomeados (não eram tão certos como Lincoln, Argo, Life of Pi ou Zero Dark Thirty à partida). Em todo o caso, esperávamos esta lista, tendo expectado 8 dos 9 filmes, sendo que imaginávamos The Master ou Moonrise Kingdom com mais hipóteses que Amour.

Melhor Realizador:
Steven Spielberg (Lincoln) | Ang Lee (Life of Pi) | David O. Russell (Silver Linings Playbook) | Michael Haneke (Amour) | Benh Zeitlin (Beasts of the Southern Wild)
Numa categoria que surpreendeu, Bigelow, Ben Affleck e Tom Hooper foram deixados de fora. Se Haneke era por nós encarado como alguém com aspirações (ao nível de David O. Russell e Tarantino), não esperávamos de todo a nomeação de Benh Zeitlin, que não seria nomeado por nós.

Melhor Actor:
Daniel Day-Lewis (Lincoln) | Bradley Cooper (Silver Linings Playbook) | Joaquin Phoenix (The Master) | Denzel Washington (Flight) | Hugh Jackman (Les Miserábles)
Dentro do esperado, imaginava-se uma luta a 3 entre Cooper, Jackman e Denzel Washington por um lugar mas acabou por ser John Hawkes (The Sessions) o preterido para o óscar de melhor actor. Dos que vimos até agora deste conjunto, boas interpretações.

Melhor Actriz:
Jessica Chastain (Zero Dark Thirty) | Jennifer Lawrence (Silver Linings Playbook) | Emmanuelle Riva (Amour) | Naomi Watts (The Impossible) | Quvenzháne Wallis (Beasts of the Southern Wild)
Já andamos desde 9 de Dezembro a referir que a pequena Quvenzháne poderia muito bem ser nomeada para Melhor Actriz. E foi mesmo. Com 9 anos, tornou-se a mais nova nomeada de sempre. Como tínhamos apontado ontem, acabou por ser Marion Cotillard a perder a vaga para a pequena "Hushpuppy".




Melhor Actor Secundário:
Tommy Lee Jones (Lincoln) | Philip Seymour Hoffman (The Master) | Robert DeNiro (Silver Linings Playbook) | Alan Arkin (Argo) | Christoph Waltz (Django Unchained)
Mais uma categoria onde não houve grandes surpresas. Tommy Lee Jones, Seymour Hoffman, Arkin e Waltz já eram previsíveis. Acabou por ser o experiente senhor Roberto a hipotecar as chances de DiCaprio.

Melhor Actriz Secundária:
Anne Hathaway (Les Misérables) | Sally Field (Lincoln) | Amy Adams (The Master) | Helen Hunt (The Sessions) | Jacki Weaver (Silver Linings Playbook)
As quatro primeiras eram já garantidas. O nome de Jacki Weaver não era de todo esperado, mas afinal de contas o que é que seria de uma categoria principal destes óscares sem uma nomeação para o, intitulado em português, Guia para um Final Feliz.

Melhor Argumento Original:
Django Unchained | Amour | Flight |  Moonrise Kingdom | Zero Dark Thirty
Referimos, embora não os esperássemos aos 5 juntos, todos estes filmes. É pena Looper não figurar entre os nomeados, e é justo que Flight esteja presente.

Melhor Argumento Adaptado:
Lincoln | Life of Pi | Argo | Beasts of the Southern Wild | Silver Linings Playbook
Nesta categoria apenas falhámos não indicando Life of Pi, porque inocentes como somos acreditámos que The Perks of being a Wallflower pudesse ser nomeado.

Melhor Filme de Animação:
Brave | Wreck-it Ralph | Frankenweenie | ParaNorman | The Pirates
Ok, perdoem-nos, não incluímos The Pirates, um daqueles filmes de animação em que a plasticina ganha vida. Talvez tenha sido por isso...


Melhor Filme Estrangeiro:

Amour (Áustria) | Rebelle (Canadá) | No (Chile) | A Royal Affair (Dinamarca) | Kon-Tiki (Noruega)
Ahhh... Afinal The Intouchables não foi indicado. Mas Rust and Bone também não... Ok, desculpem Franceses, desculpem. Admitimos, nunca tínhamos ouvido falar em Kon-Tiki.

Para além de tudo isto, o Hobbit reuniu já algumas nomeações técnicas (veremos se, caso seja merecedor, premeiam a trilogia após o 3.º filme como aconteceu com O Senhor dos Anéis), Paperman é uma boa curta de animação (à Disney) e 'Mirror Mirror' foi nomeado para uma categoria, portanto qualquer um de nós tem capacidade para estar nomeado para uns óscares.
Como tínhamos dito, até 24 de Fevereiro esmiuçaremos cada pedaço de cinema e, perto da altura, lançaremos "Os Nossos Óscares" e as previsões de quem deverá ganhar na realidade.

PS: As imagens não têm a ver com quem achamos que deve/ vai ganhar.
PS2: Recordamos que a cerimónia será conduzida por Seth MacFarlane, o criador de Family Guy.