30 de maio de 2019

Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

 Liga NOS - Reconquista. A Liga NOS 2018/ 19 teve um antes de Bruno Lage e um depois de Bruno Lage. O Benfica, depois de 15 jornadas de potencial desperdiçado, encontrou o homem certo para o clube encarnado e alguém que nos faz por vezes pensar - o que é que fez o futebol português nos últimos anos para merecer alguém assim?
    Numa época em que a luta pelo título se fez a dois, entre Benfica e FC Porto, os dragões vacilaram na segunda volta, vendo escapar uma distância de 7 pontos e testemunhando in loco o Benfica assaltar a liderança em pleno Estádio do Dragão. Com 103 golos marcados, 18 vitórias nos últimos 19 jogos e uma segunda volta em que as águias venceram no Dragão, em Alvalade, em Braga, em Guimarães e em Moreira de Cónegos, é absolutamente inquestionável a justiça e o mérito do novo campeão nacional (5.º título em 6 anos).
    Novamente rodeado de um clima com demasiados casos e polémicas desnecessárias, culpa dos intervenientes e de uma comunicação social que não fala de futebol mas sim de tudo aquilo que não interessa, o futebol português tem muito a aprender com a postura e personalidade do homem que ergueu bem alto a camisola de Jaime Graça, jamais esquecendo em momento algum as suas origens e todo o trajecto até à glória. Pela positiva, destaque para a impressionante qualidade demonstrada pelos jovens João Félix e Éder Militão, um super-Bruno Fernandes que carregou muitas vezes sozinho o Sporting e afirmou-se como inequívoco Jogador do Ano, brilhando ainda o Moreirense, uma equipa-sensação na qual sobressaíram os nomes de Chiquinho e Ivo Vieira.
    No geral, deve-se elogiar a maior estabilidade dada aos treinadores (Porto, Braga, Vit. Guimarães, Moreirense, Belenenses SAD, Santa Clara, Portimonense, Tondela e Nacional resistiram toda a época com o mesmo técnico, embora 3 destes já se saiba que terão novo técnico), ditando 2018/ 19 o adeus de Feirense, Nacional e Desportivo de Chaves, que serão substituídos daqui a uns meses por Paços de Ferreira, Famalicão e Gil Vicente.

    Acompanhem-nos então neste balanço final, que analisa em detalhe as 18 equipas da Liga portuguesa, procurando o que correu bem, o que correu mal, quem se destacou e quem desiludiu:




Resultado de imagem para benfica felix pizzi rafa BENFICA (1)

   O campeão voltou. Numa época de emoções fortes, os adeptos da Luz não esquecem duas datas - 2 de Janeiro, quando uma derrota em Portimão por 2-0 com dois auto-golos ditou o fim da Era Rui Vitória; 2 de Março, quando em pleno Estádio do Dragão e com uma reviravolta por 2-1 o Benfica assaltou e agarrou o 1.º lugar, posição que nunca mais largou.
    Mas se essas são as "datas fáceis", há outras duas, mais invisíveis no calendário da Liga, que tiveram ainda maior importância. Bruno Lage foi anunciado como treinador interino a 3 de Janeiro, sendo oficializado como dono do lugar a 14 de Janeiro. Porque, mais do que qualquer coisa, este é um campeonato em que houve um a.BL e um d.BL.
    Com um plantel brutal a nível qualitativo, incomparável na técnica, sempre olhámos para o Benfica de Rui Vitória como "potencial desperdiçado". Três derrotas (Belenenses fora, Moreirense em casa e Portimonense fora), conjugadas com uma Champions fraca, atiraram RV para o desemprego. E tudo mudou. Com Bruno Lage, os números falam por si: 18 vitórias e 1 empate em 19 jornadas, um vendaval de bom futebol numa 2.ª volta em que os encarnados venceram no Dragão, em Alvalade, em Braga, em Guimarães e em Moreira de Cónegos.
    Os avassaladores 103 golos marcados devem ser colocados em perspectiva - nas primeiras 15 jornadas o Benfica marcou 31 golos, nas 19 jornadas sob o comando de Lage, 72 golos. A Luz, que esta época até viveu um histórico 10-0, não se calou até ter a reconquista, conseguindo Lage um 4-4-2 equilibrado mas entusiasmante, capaz de existir sem Jonas, apostando na formação e no jogador português (na última jornada, 7 portugueses no 11 titular) e deixando os jogadores confortáveis e libertos. Liberdade (tomada de decisão) com responsabilidade (posicionamento, movimentações). Seferovic, que encarávamos no Verão passado como um excedentário, foi o Most Improved Player da temporada, acabando como melhor marcador com 23 golos, marcando a cada 86 minutos; Samaris e Gabriel foram recuperados, Ferro e Florentino promovidos, os laterais Grimaldo e Almeida (12 assistências cada) jogaram como nunca, Rafa (17 golos) mostrou com consistência tudo aquilo que qualquer adepto sabia que ele era capaz, e Pizzi foi o MVP da equipa com números estratosféricos - 13 golos e 19 assistências - revelando-se o centro de operações criativas da equipa.
    Especial é a palavra certa para descrever Bruno Lage (não víamos tamanho potencial nem tínhamos semelhante admiração por um treinador do futebol português desde que Mourinho treinava o Porto) e para descrever "o miúdo" que ele sentiu que tinha que representar a mudança. Aos 19 anos, João Félix marcou 15 golos na Liga (em apenas 1.736 minutos) e mostrou ser, uma vez que Bernardo Silva saltou basicamente da II Liga para o Mónaco, o jovem mais promissor a despontar no futebol nacional desde Cristiano Ronaldo. Será muito pedir apenas mais uma época de águia ao peito herdando o 10 de Jonas?

Destaques: Pizzi, João Félix, Rafa, Haris Seferovic, Álex Grimaldo

Resultado de imagem para porto militao felipe PORTO (2)

    Não houve bicampeonato, e em parte por culpa própria. Os dragões, que marcaram menos 29 golos do que o Benfica, não eram para nós os principais favoritos à conquista do título, mas tornaram-se e fecharam a primeira volta com 5 pontos de vantagem para o Benfica, 5 pts que umas jornadas antes eram 7.

    Nunca esteve em causa a qualidade defensiva do Porto (20 golos sofridos), impressionando a dupla Felipe-Militão e revelando-se um erro de Sérgio Conceição a entrada no 11 de Pepe, desfazendo-se a melhor dupla da prova e passando o melhor central do campeonato para lateral-direito, uma ideia que também a nós nos parecia boa em teoria, mas que na prática contribuiu de forma negativa para o desfecho do campeonato azul e branco.
    Mantendo preservadas as características que Conceição privilegia, os dragões vacilaram na 2.ª volta quando empataram 1-1 em Guimarães e 0-0 no terreno do Moreirense nas jornadas 20 e 21, perdendo o 1.º lugar de vez com a derrota por 2-1 no Dragão diante do Benfica.
    Superior ao Benfica de Rui Vitória mas bastante inferior ao Benfica de Bruno Lage, o Porto acabou a prova com 3 derrotas, duas delas diante do clube da Luz. Valendo pelo colectivo, Éder Militão (reforço do ano em Portugal) foi quem mais brilhou a nível individual, tendo também ele um período de menor fulgor quando se viu deslocado para a direita. De resto, elementos como Corona, Marega (grande Champions mas reduziu para metade - 22 para 11 - os seus golos na Liga), Óliver, Otávio e Brahimi viveram de momentos e períodos curtos, não se podendo apontar o dedo aos sempre fiáveis e regulares Alex Telles, Danilo, Felipe e Herrera.
    Os azuis e brancos tiveram o campeonato na mão mas perderam-no, podendo crescer e seguir o caminho certo caso aceitem que apresentaram de facto menos futebol que os novos campeões, ao invés de se esconderem em alegados casos extra-futebol. Esperamos que não se assumam riscos em relação a uma lenda viva chamada Iker Casillas, e 2019/ 20 pode representar tremendo desafio de reconstrução adivinhando-se as saídas de Militão, Herrera, Felipe, Brahimi, Marega e Alex Telles. Se no lugar de Pinto da Costa optávamos por manter a aposta em Sérgio Conceição? Provavelmente não.

Destaques: Éder Militão, Jesús Corona, Felipe, Alex Telles, Moussa Marega


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 SPORTING (3)

    Primeiro, uma vénia a Bruno Fernandes. Agora podemos continuar o texto. Resgatados por Sousa Cintra depois de quase destruídos por Bruno de Carvalho, os leões arrancaram para 2018/ 19 debilitados, vendo Rui Patrício, William Carvalho, Gelson Martins e Rafael Leão rumar a outras paragens após rescisão. Além do excelente comportamento nas Taças (duas finais conquistadas nas grandes penalidades diante do FC Porto), o Sporting mostrou personalidade e não se deixou abater pelo contexto, embora sempre carregado pelo Melhor Jogador da Liga.
    Com tantas derrotas como Benfica e Porto juntos (6), os leões tiveram José Peseiro no comando durante 8 jornadas, viveram duas jornadas algo mentirosas com Tiago Fernandes, cumprindo os restantes 24 jogos bem entregues a Keizer, escolha improvável e arriscada mas feliz por parte de Frederico Varandas.
    Nani começou a época como capitão (embora, aqui entre nós, Bruno Fernandes sempre o tenha sido, mesmo quando não tinha a braçadeira no braço) mas rumou aos EUA depois do capítulo mais negro desta temporada leonina (derrota caseira por 4-2 diante do Benfica), podendo-se salientar como contratempos a lesão de Battaglia e o parco rendimento de Bas Dost (15 golos marcados na Liga, embora 8 de grande penalidade). Após período inicial com Salin, Renan Ribeiro "agarrou" a baliza, Ristovski foi simultaneamente um dos jogadores mais azarados e avermelhados da época, e Jovane e Miguel Luís foram os jovens lançados, embora tenhamos mais expectativas para Joelson e Félix Correia e continuemos a achar que Geraldes merecia mais oportunidades. Já Wendel cresceu, e tanto Doumbia como Luiz Phellype deixaram boas indicações rumo à próxima época, na qual esperamos maior rendimento de Raphinha.
    Quando o Sporting esteve bem, esteve muito bem. A chegada de Keizer coincidiu com uma sequência de 7 vitórias consecutivas, registo que os leões bateram entre o início de Março e Maio com 10 vitórias seguidas. Comum a toda a época, embora principalmente a partir da chegada do treinador holandês, os desempenhos de Bruno Fernandes para os quais faltam palavras. O médio português, camisola 8, marcou 20 golos na Liga e fez 13 assistências. Um autêntico faz-tudo, BF carregou o Sporting jogo após jogo, jogou e fez jogar, ganhou o respeito de tudo e todos, e tudo isto com uma intensidade que nos permite afirmar que, embora adorássemos continuar a vê-lo por cá, sabemos que o seu nível já é outro. Mas se sair, pelo menos a última imagem terá sido a dele a levantar uma taça.

Destaques: Bruno Fernandes, Marcos Acuña, Jeremy Mathieu, Luiz Phellype, Wendel

Resultado de imagem para abel dyego sousa BRAGA (4)

    15 pontos à frente do grande rival do Minho, 7 pontos atrás do Sporting. Assim acabou o Sporting de Braga, com os gverreiros a piorarem significativamente em relação à temporada transacta - de 75 pts passaram para 67, de 74 golos marcados passaram para 56, de 29 golos sofridos passaram para 37.
    Com Abel Ferreira a perder cotação, embora merecendo já voto de confiança para o futuro próximo por parte do clube, o Braga caiu nas meias-finais das duas Taças e perdeu fulgor a partir do momento em que perdeu em Alvalade por 3-0 na 22.ª jornada. Porque em 21 jornadas o Braga somava 15 vitórias, 4 empates e apenas duas derrotas (no Dragão e na Luz, neste último caso por destrutivos 6-2), mas da jornada 22 em diante seguiram-se 7 derrotas em 13 rondas.
    Numa temporada em que Dyego Sousa foi um dos 10 melhores jogadores do campeonato, arrasando sobretudo na primeira volta mas fechando a época nos convocados de Portugal para a Liga das Nações, o Braga sofreu muito com a lesão de Raúl Silva e descobriu um novo valor das balizas ao ver-se obrigado a lançar Tiago Sá.
    Com laterais competentes (Goiano e Sequeira), ficou sempre a sensação que Abel perdeu muita qualidade a meio-campo (muito diferente passar de Danilo, Vukcevic e André Horta para Claudemir, Palhinha e Fransérgio) e que podia e devia ter dado bastantes mais minutos a 2 talentos especiais como Trincão e Xadas.

Destaques: Dyego Sousa, Wilson Eduardo, Sequeira, Marcelo Goiano, Tiago Sá

 VIT. GUIMARÃES (5)

    Embora a classificação final corresponda exectamente àquela a que apontávamos o Vitória na nossa Antevisão (o Top-5 ficou organizado como acreditámos que ficaria), a equipa de Luís Castro esteve longe de convencer, não ficando muito longe de ser uma desilusão.
    Com o 6.º melhor ataque e a 4.ª melhor defesa da Liga, os vimaranenses conseguiram garantir o acesso à 2.ª Pré-Eliminatória da Liga Europa, esperando-se no entanto que Luís Castro conseguisse morder os calcanhares do Braga (no entanto, ficou a 15 pontos do grande rival) ou pelo menos ser uma ilha entre o Top-4 e o resto da tabela, o que não aconteceu.
    Com um papel importante na corrida ao título, o Vit. Guimarães venceu o Porto fora por 3-2 e empatou em casa 0-0 diante dos dragões, campo no qual derrotou ainda o Sporting por 1-0. Ao Benfica, o clube da cidade-berço não tirou qualquer ponto.
    No geral, achamos que Luís Castro - cujas equipas demoram sempre algum tempo a assimilar as suas ideias - pode fazer muito melhor, atendendo aos trabalhos desenvolvidos em Vila do Conde e Chaves e olhando para a qualidade deste plantel. Esperávamos muito mais de João Carlos Teixeira, Alexandre Guedes ou Welthon, sofrendo o Vitória com o facto de André André só ter estado disponível ou fisicamente apto em 16 das 34 jornadas. Tozé e Davidson assumiram assim o papel de principais figuras da equipa, evoluindo Rafa Soares nas suas cavalgadas ao longo do corredor e funcionando Osorio e Pedrão como uma muito competente e segura dupla de centrais.

Destaques: Tozé, Davidson, Rafa Soares, Osorio, Pedrão

 MOREIRENSE (6)

    A equipa sensação de 2018/ 19. Após duas temporadas a fechar a Liga em 15.º, o Moreirense rebentou com a escala, tornando-se a equipa desta edição que mais superou as nossas expectativas e previsões iniciais.
    Quinta equipa com mais vitórias (16), viveu-se ao longo da época um sonho em Moreira de Cónegos, perdendo os comandados de Ivo Vieira o 5.º lugar apenas na última jornada. E se calhar ainda bem que assim foi uma vez que, considerando que os cónegos não submeteram no devido momento os papéis para poderem jogar na Liga Europa em 19/ 20, acabar um lugar abaixo das competições europeias torna esse lapso menos frustrante.
    O excelente trabalho de Ivo Vieira permitiu a este Moreirense a melhor pontuação de sempre, deliciando qualquer adepto o critério da equipa a sair a jogar, demonstrando trabalho de casa e uma tomada de decisão muito acima da média por parte de vários dos seus intervenientes. Não houve melhor exemplo disto do que espectacular vitória na Luz por 3-1... Falar deste Moreirense é principalmente falar de Chiquinho: o médio de 23 anos foi um dos jogadores mais marcantes desta época, brilhando muito para além dos seus números (8 golos e 7 assistências). Sem espaço no Benfica, podendo muito bem regressar à Luz agora com outro estatuto, Chiquinho mostrou sempre comportamento de jogador de equipa grande, contagiando os colegas. A incrível campanha deve, infelizmente, desmantelar este plantel de heróis - os jovens Chiquinho, Heriberto, Loum (melhor médio defensivo da 1.ª volta), Ivanildo Fernandes e Pedro Nuno brilharam, destacando-se ainda a evolução de jogadores maduros como Fábio Pacheco e Arsénio. Víto Campelos será o treinador em 2019/ 20; veremos qual será o próximo desafio de Ivo Vieira, merecendo o técnico madeirense a subida de patamar que terá.

Destaques: Chiquinho, Heriberto, Arsénio, Fábio Pacheco, Ivanildo Fernandes 

 RIO AVE (7)

    O sétimo lugar bate certo com a História recente dos vilacondenses, que tiveram Nuno Espírito Santo, Luís Castro ou Miguel Cardoso como treinadores, mas a época esteve longe de ser, no seu todo, uma "época de sétimo lugar".
    Com José Gomes a arrancar a época, e a justificar a aposta deixando o clube à 13.ª jornada precisamente no 7.º lugar mas a apenas 3 pontos do 5.º, tudo teve que ser repensado quando o Reading atraiu o treinador para o Championship. O Rio Ave escolheu Daniel Ramos, homem da terra dispensado pelo Chaves, sendo a classificação final superior ao futebol praticado, longe do ADN que se começava a enraizar em Vila do Conde nas últimas épocas.
    O clube surpreendeu ao garantir Fábio Coentrão no Verão e voltou a surpreender alguns meses depois ao confiar em Rúben Semedo (aposta ganha, claramente). Entre os principais destaques, Carlos Vinícius brilhou de tal forma na primeira volta ao ponto de ir parar ao Mónaco, Galeno (bastante melhor na 1.ª volta) soube utilizar o empréstimo para reclamar a sua oportunidade no Porto, e tanto Léo Jardim como Nikola Jambor confirmaram a boa prospecção que o clube faz hoje em dia. Foi bom ver Nuno Santos sem lesões, Gabrielzinho deixou boas indicações e de Murilo esperávamos mais.
    É sabido que Daniel Ramos não continuará nos Arcos na próxima temporada, tendo o clube escolhido Carlos Carvalhal como seu sucessor.

Destaques: Galeno, Carlos Vinícius, Léo Jardim, Nikola Jambor, Bruno Moreira

 BOAVISTA (8)

    As equipa de Lito Vidigal não encantam (muito longe disso, aliás) mas lá que o homem consegue resultados, consegue. O treinador angolano, que já realizara excelentes trabalhos no Belenenses e no Arouca, baixando a sua cotação em Setúbal e na Vila das Aves, ficou sem clube após a jornada 18, mas à 20.ª jornada já estava a orientar o clube do Bessa.
    Diz bastante o facto de em 15 jogos como treinador do Boavista, Lito Vidigal ter ganho 9, não sofrendo golos em sete. Na segunda volta, apenas Benfica, Porto, Sporting e Braga pontuaram mais, e toda esta remontada aconteceu sem que os axadrezados pudessem contar com o seu principal activo desta época, o guarda-redes Hélton Leite, que se lesionou na jornada 21 quando cumpria apenas o seu 2.º jogo com o novo treinador.
    Além de Hélton Leite (um dos bons guarda-redes brasileiros deste campeonato juntamente com Léo Jardim, Muriel e Charles), brilhou sobretudo o colectivo. A experiência de Mateus ou Fábio Espinho foi importante, Neris foi um esteio na defesa, deixando Yusupha uma boa imagem nos últimos jogos e tornando-se o central Gonçalo Cardoso o jogador mais jovem a actuar nesta edição.

Destaques: Hélton Leite, Neris, Mateus, Fábio Espinho

 BELENENSES SAD (9)

    Silas é um treinador especial. Cada vez mais sai reforçada esta ideia, provando o treinador de 42 anos que sabe preparar um jogo (interessante verificar quando escolheu jogar com 3 centrais e quando não o fez), interpretá-lo no seu decurso, identificar como pode ferir os pontos fracos do adversário e até certa medida controlar o jogo com e sem bola. O 9.º lugar mascara um pouco o incrível campeonato que o Belenenses SAD realizou, com tudo contra si: a disputa, entretanto já em tribunal, entre o clube e a SAD privou a equipa de Silas de actuar no Restelo, fazendo as malas rumo ao Jamor, perdendo mais tarde o emblema e vendo a sua figura na 1.ª volta (Fredy) transferir-se no mercado de Inverno.
    Contra todas estas fatalidades, Silas manteve a equipa coesa, tacticamente audaz, podendo-se gabar de ser a única equipa que nunca perdeu com o campeão nacional - venceu o Benfica no Jamor por 2-0 e empatou 2-2 na Luz, único jogo em que o Benfica versão Bruno Lage perdeu pontos no campeonato. Impossível neste caso não fazer comparações. É que o Belenenses SAD fechou a 1.ª volta com 28 pontos, num 6.º lugar em igualdade pontual com Vit. Guimarães (5.º) e Moreirense (7.º), mas na segunda volta somou apenas 15 pontos, algo que pior só Feirense e Nacional conseguiram.
    Destaque evidente para Muriel, o irmão mais velho de Alisson, guarda-redes do Liverpool, que fez a diferença, vendo brilhar à sua frente Sasso e Gonçalo Silva. Além dos primeiros passos do promissor Kikas, Licá recuperou bastante crédito, Diogo Viana fixou-se em definitivo a ala/ lateral e Eduardo Henrique mostrou capacidade para representar clubes de um patamar acima.

Destaques: Muriel, Licá, Gonçalo Silva, Vincent Sasso, Fredy



 SANTA CLARA (10)

    O histórico emblema português, que não militava no principal escalão desde 2003, regressou e não se fez rogado, fechando a contagem num honroso décimo lugar.
    Sem nunca descurar o bom futebol e a estima pelo esférico, a equipa muitíssimo bem orientada por João Henriques (1.º grande trabalho do técnico de 46 anos a este nível) enfrentou variadíssimos contratempos, revelando sucessiva capacidade de se adaptar. A saber: Thiago Santana começou a época como goleador de serviço, mas contraiu uma lesão grave; Fernando Andrade passou a assumir ofensivamente, acabando transferido para o FC Porto em Janeiro; o capitão e requintado médio iraniano Rashid esteve ausente na Taça da Ásia.
    Com sistemáticas novas soluções, o Santa Clara contrariou o nosso feeling inicial quando pensávamos que os Açores seriam o forte da equipa. Analisando as estatísticas, os açorianos somaram 20 pontos em casa e 22 fora de portas. Vendendo sempre caras as derrotas diante de Porto e Sporting, tiveram em Fábio Cardoso um central goleador (5 golos), mostrando o trinco Kaio o suficiente para ser há poucos dias negociado para o Krasnodar por 3 milhões, e percebendo-se que Rashid e Bruno Lamas são de uma casta diferente. Perante a constante necessidade de identificar um novo homem-golo, a lesão de Thiago Santana e a transferência de Fernando Andrade fizeram emergir Guilherme Schettine, um ponta de lança de 23 anos que teremos muita curiosidade de acompanhar em 2019/ 20.

Destaques: Osama Rashid, Fábio Cardoso, Kaio, Guilherme Schettine, Fernando Andrade

 MARÍTIMO (11)

    É sabido que quando um clube confia os destinos do seu clube a Petit, esse clube jamais vai ao fundo. Mas convenhamos, a garantia da manutenção está muito aquém da real valia deste Marítimo. Com uma embaraçosa marca de 26 golos marcados (ninguém marcou tão pouco entre as 18 equipas), os insulares trocaram à jornada 11 Cláudio Braga, o único treinador sobre o qual não tínhamos uma opinião formada no lançamento desta época, por Petit, e o antigo trinco de Boavista e Benfica conseguiu endireitar as coisas a partir da 16.ª jornada.
    É impossível dissociar a boa segunda volta (6.º melhor registo, com os mesmos 28 pontos alcançados nessas 19 jornadas que o 5.º melhor, o Boavista) do espectacular contributo do guarda-redes Charles - o guardião brasileiro até começou a época como suplente de Amir, mas fartou-se de defender, deu pontos e terá sido muito provavelmente o GR com maior nº de "defesas impossíveis" nesta Liga.
    Além de Charles, Edgar Costa mostrou em vários momentos o porquê de envergar a braçadeira de capitão, Vukovic mostrou valências interessantes, Pelágio parece ter condições para ser aposta de futuro, e Joel Tagueu despertou tarde mas acabou em grande com 6 golos marcados nas últimas 9 jornadas.

Destaques: Charles, Edgar Costa, Josip Vukovic, Joel, Zainadine

 PORTIMONENSE (12)

    A equipa que ajudou a mudar o rumo do título (Bruno Lage substituiu Rui Vitória depois de derrota encarnada em Portimão por 2-0, com dois auto-golos) teve uma prestação bastante low profile, mantendo-se sempre distante da apertada luta pela manutenção, sem no entanto sonhar com a Europa em momento algum.
    Com Jackson Martínez (9 golos) a atirar para o passado um longo calvário de lesões, conseguindo inspirar os colegas, achámos que o Portimonense poderia sofrer bastante com a saída do nipónico Shoya Nakajima, um talento ímpar que precisa de regressar urgentemente ao futebol europeu. No entanto, o samba conjunto de Paulinho, Bruno Tabata, Wellington e Lucas Fernandes foi suficiente para espalhar bom futebol em alguns estádios, enchendo o olho do adepto comum.
    Após passagem infeliz no Dragão, Paulinho recuou uma casa e apresentou-se como o jogador mais esclarecido e consistente do plantel, brilhando no corredor Wilson Manafá durante meia época o suficiente para rumar à Invicta, e convencendo-nos sobretudo os jovens Bruno Tabata (22 anos) e Lucas Fernandes (21 anos).

Destaques: Paulinho, Jackson Martínez, Bruno Tabata, Shoya Nakajima, Wilson Manafá

 VIT. SETÚBAL (13)

    Estranha época teve o Vitória de Setúbal, equipa que parece ter tantas vidas como um gato, e que tememos (por se tratar de um histórico) que quando finalmente cair à II Liga, dificilmente se conseguirá levantar.
    Com 28 golos marcados (3.º pior ataque), pode-se dizer que os sadinos continuarão entre os grandes do futebol nacional devido à sua defesa - 39 golos sofridos, quando para efeitos de comparação o Braga sofreu 37, o Sporting 33 e o Benfica 31. O clube abdicou dos serviços de Lito Vidigal - que acabou no Boavista a festejar um simpático 8.º lugar - e coube ao outrora capitão setubalense, Sandro Mendes, "espremer" ao máximo um elenco bastante pobre.
    A maior vitória da época foi sem dúvida o regresso de Nuno Pinto (o lateral-esquerdo travou uma batalha contra um linfoma), assegurando os trintões Mendy, Vasco Fernandes e José Semedo a competitividade da equipa, e roubando holofotes o avançado Jhonder Cádiz, que aos 23 anos evoluiu como poucos esta época no futebol português.   

Destaques: Jhonder Cádiz, Hildeberto, Frederic Mendy, Vasco Fernandes, José Semedo

 DESP. AVES (14)

    José Mota iniciou a época, Augusto Inácio terminou-a. Nem a conquista da Taça de Portugal em 2018 chegou para prolongar o oxigénio no balão de Mota, que em boa hora passou o testemunho a Inácio, homem do futebol claramente com mais para dizer a partir de um banco de suplentes do que em qualquer programa televisivo de comentário desportivo (decente treinador, mau comentador, quando muitos são o inverso).
    Verdade seja dita, o Desportivo das Aves conseguiu exactamente os mesmos 18 pontos em cada uma das duas voltas. Mas com Inácio a equipa evoluiu sobremaneira no momento defensivo, surpreendendo em vários campos. Destaque principal para Mama Baldé (não esperávamos tamanho crescimento do jogador emprestado pelo Sporting, que provou ser definitivamente mais extremo do que lateral), devendo-se salientar o facto do lateral-direito Rodrigo Soares ter terminado a Liga NOS como o jogador do campeonato com maior nº de oportunidades de golo criadas. De resto, Beurnardeau teve um contributo importante entre os postes, e durante a vigência de Inácio, Luquinhas, Jorge Fellipe e Derley foram os jogadores que deram o maior salto.

Destaques: Mama Baldé, Rodrigo Soares, Jorge Fellipe, Luquinhas, Beurnardeau

 TONDELA (15)

    Depois de respirar saúde e tranquilidade na época passada, certame em que a equipa de Pepa reclamou a distinção de equipa-sensação e terminou no 11.º lugar, o Tondela regressou ao seu habitat natural, carimbando a manutenção apenas e só na última jornada com uma vitória por 5-2 diante do Desportivo de Chaves, autêntica final ou Survivor.
    Nesta altura já se sabe que Pepa (38 anos) não continuará em Tondela, sendo possível fazer um balanço extremamente positivo da passagem do técnico pelos beirões. Tomané voltou a ser o farol ofensivo da equipa, abraçando António Xavier o papel de mestre das assistências, e entre Delgado, Peña, Murillo e Pité, o chileno revelou-se o tecnicista mais consistente.
    Atrevemo-nos a achar que é desta que Cláudio Ramos ruma a outras paragens, sendo necessário para evitar novos sustos que o clube consiga atrair mais jogadores na linha de João Pedro, emprestado pelo LA Galaxy e reforço interessante na segunda volta.

Destaques: Tomané, António Xavier, Juan Delgado, Ricardo Costa

 DESP. CHAVES (16)

    Havia qualidade para muito mais. Depois dos bons campeonatos de 2017 (11.º) e 2018 (6.º), a última jornada desta época sentenciou a descida do Chaves ao segundo escalão. Esta temporada para esquecer começou com Daniel Ramos no comando, experimentou dar a volta com Tiago Fernandes, e acabou a aceitar o abismo com José Mota.
    Com 3 diferentes treinadores (nenhuma equipa nesta edição da Liga NOS teve tantos, se ignorarmos o jogo do Boavista com Jorge Couto como interino), o Chaves mostrou um desacerto e gestão confusa que em nada têm caracterizado o clube nos últimos anos. A Daniel Ramos, treinador cujas equipas jogam um futebol pouco ambicioso (competentes a defender e mortíferas em transição) mas eficaz e que se destacara no Marítimo, achamos que o Chaves não deu o tempo e a estabilidade suficientes. Tiago Fernandes (um dos "mitos" desta temporada, construído por aqueles que avaliam treinadores com base nas flash interviews e não no futebol jogado em campo, foi a fama que ganhou como treinador depois do Sporting ter somado resultados positivos consigo, embora praticando um futebol paupérrimo) revelou-se um erro de casting, e a aposta na velha guarda, leia-se José Mota, também foi um tiro ao lado.
    Entre tantos desastres, importa não esquecer também a perda a meio da época do activo mais valioso do clube - Stephen Eustáquio, que numa movimentação inesperada rumou ao Cruz Azul do México -, valorizando-se apenas o fiável central Maras e a espaços jogadores como Luther Singh, William e Niltinho.

Destaques: Nikola Maras, William, Stephen Eustáquio

 NACIONAL (17)

    É difícil olhar para o Nacional da Madeira e não pensar nos chocantes 10-0 impostos pelo Benfica de Bruno Lage na Luz no dia 10 de Fevereiro. Na altura, o clube insular até reagiu bem ao traumatizante resultado com duas vitórias nas 3 jornadas seguintes, mas é difícil defender Costinha e os seus pupilos quando nas 10 jornadas finais somaram apenas 2 pontos...
    A pior defesa da prova (73 golos sofridos) acabou no lugar que prevíamos aquando da nossa Antevisão, ficando sempre a sensação que este se tratava de um dos plantéis com mais carências entre as 18 equipas. Após perder no Verão os seus 2 máximos goleadores, Ricardo Gomes e Murilo, o Nacional nunca veio a ter homens-golo desse nível, sobressaindo nesse aspecto apenas Bryan Róchez (10 golos) e João Camacho (7). Pela negativa, o georgiano Arabidze de quem esperávamos muito mais, e pela positiva o facto da luta pelo título não ter sofrido nenhum volteface devido a uma das habituais situações de nevoeiro na Choupana. Poucos elogios há a fazer, merecendo Costinha uma palavra de apreço por ter sempre procurado dotar a equipa de uma postura positiva - aqui e ali demasiado inocente - e tendo o lateral-direito Kalindi mostrado qualidade para justificar a sua continuidade noutra equipa das sobreviventes.

Destaques: Kalindi, João Camacho, Bryan Róchez, Daniel Guimarães

 FEIRENSE (18)

    A 20 de Agosto de 2018, com duas jornadas decorridas, o Feirense juntava-se aos 3 grandes com 6 pontos e duas vitórias. Depois do 16.º lugar da época anterior, apenas 1 ponto acima das duas equipas que então desceram (Paços de Ferreira e Estoril), e até contra as expectativas iniciais, tudo levava a crer que a equipa de Santa Maria da Feira poderia tentar repetir o feito de 2016/ 17 (8.º lugar). Só que não.
    Depois dessas duas vitórias em outros tantos jogos, o Feirense só voltou a vencer... na última jornada. Pelo meio, 20 derrotas e 11 empates. Nuno Manta Santos resistiu no comando técnico até à 20.ª jornada, deixando na altura a equipa a 5 pontos da salvação, mas com o substituto (Filipe Martins, com um registo de uma vitória, 3 empates e 10 derrotas) o Feirense acabou a 15 pontos de distância do Tondela, última equipa a assegurar a manutenção. E pode-se constatar que a equipa só se soltou (empates por 4-4 contra Chaves e Santa Clara, vitória em jeito de pedido de desculpas no último capítulo) após estar condenada.
    Entre poucos razões para sorrir, Tiago Silva fez o que pôde para adiar a descida, não devendo ter dificuldade em encontrar clube na Liga NOS (gostávamos de o ver regressar ao Restelo sob o comando de Silas) e a principal nota de destaque vai mesmo para o central Briseño, um dos bons valores do nosso campeonato na sua posição e que achamos que poderia surpreender se adquirido por Braga, Vit. Guimarães ou mesmo por um dos 3 grandes.

Destaques: Briseño, Tiago Silva, Babanco



por Miguel Pontares e Tiago Moreira

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