23 de maio de 2019

Barba nas Nações: Os Nossos 23

Os convocados de Portugal são anunciados hoje por volta das 12h30 na Cidade do Futebol por Fernando Santos. Antes, antecipamos o acontecimento atrevendo-nos - como temos feito em todas as recentes campanhas internacionais de Portugal - a revelar quais seriam os 23 que escolhíamos para a final four da Liga das Nações. A competição, disputada entre Porto e Guimarães, está longe de ser longa, totalizando um conjunto de 4 jogos (meias-finais, jogo do 3.º e 4.º e final). Por isso, ao contrário de um Mundial ou Euro (máximo de 7 jogos), os nossos jogadores têm apenas duas partidas para tentarem juntar um troféu inédito ao museu das Quinas.
    Portugal, Suiça, Holanda e Inglaterra são os finalistas da Liga A da Liga das Nações, competição que parecia estar a mais mas provou ser uma aposta ganha da UEFA. Curiosamente, o grupo de Portugal acabou por ser o menos emocionante, mas a divisão em trios proporcionou grandes espectáculos com a renovada Holanda de Koeman a bater a campeã do mundo França e a anterior campeã do mundo Alemanha, a Suiça a atirar a favorita Bélgica para fora da final four com um inesperado 5-2 na última jornada, e a Inglaterra (que geração!) a deixar para trás nada mais nada menos do que Espanha e Croácia.
    Na fase de qualificação, o benfiquista Haris Seferovic foi o melhor marcador (5 golos) e, como sabemos, não houve Cristiano Ronaldo, uma opção discutida e decidida entre o jogador, o seleccionador e a federação, para melhor adaptação do craque e capitão português a Itália e à Juventus. No entanto, CR7 estará entre os 23 para esta fase.
    Portugal terá pela frente a Suiça de Seferovic e companhia, beneficiando do facto das cada-vez-mais fortes Holanda e Inglaterra disputarem entre si um lugar na final. A Inglaterra, mescla em campo de Manchester City, Tottenham e Liverpool, beberá o incrível momento de forma destes clubes, 2 deles finalistas da Champions e o outro 1.º vencedor de sempre do triplete em terras de Sua Majestade. Também a Holanda conta nas suas fileiras com craques do Liverpool (van Dijk e Wijnaldum) e, entre vários nomes, é impossível não destacar as pérolas do Ajax, de Jong e de Ligt.

    Antes de passarmos aos 23 escolhidos pelo Barba Por Fazer, podemos tentar adivinhar o que estará na cabeça de Fernando Santos que, como sempre, terá em conta uma solução mista entre o rendimento dos jogadores nos seus clubes ao longo da época e a participação/ envolvimento na campanha de apuramento contra Itália e Polónia. Rui Patrício é um dos indiscutíveis, e a renúncia momentânea de Anthony Lopes (por larga margem o 2.º melhor guardião nacional) deve indicar que Beto e Cláudio Ramos serão os outros dois escolhidos. A existir algum surpresa, será Tiago Sá ou José Sá.
    Na defesa, João Cancelo, Pepe, Rúben Dias e Raphaël Guerreiro parecem dados adquiridos. Entre os laterais e como alternativas, embora não fosse a nossa opção, imaginamos que FS convoque Mário Rui para a esquerda e um entre Ricardo Pereira e Nélson Semedo para a direita. Já ao centro, José Fonte parte em vantagem sobre um dos possíveis estreantes na convocatória, o benfiquista Ferro. Podem claro está ir ambos, mas também é possível que a polivalência de Danilo Pereira para jogar a central e o facto de serem apenas 2 jogos leve o seleccionador a escalar apenas 3 centrais.
    Uns metros à frente, William Carvalho e Rúben Neves podem estar descansados porque vão ser chamados de certeza. Mais curiosidade temos em relação a João Moutinho - o médio de 32 anos não foi opção durante a qualificação, mas está perfeitamente identificado com o grupo e com o seleccionador, e cumpriu uma excelente temporada pelo Wolves. Bruno Fernandes e Pizzi foram reis do futebol português e isso deve ser tido em conta, devendo esta final four significar a não-chamada de João Mário (pelo contrário André Gomes, outra opção habitualmente pouco consensual ou pelo menos com rendimento questionável em campo, esteve muito bem pelo Everton e ainda pode contar).
    Depois, Bernardo Silva e Cristiano Ronaldo são os rostos da Selecção, e a grande época de Rafa pelo Benfica coloca-o em vantagem sobre outros extremos. André Silva teve (mais) uma época para esquecer, mas o facto de ter sido o melhor marcador luso na qualificação (3 golos) deve ser suficiente para que segure o lugar. Estamos mais do que convictos de que João Félix (não foi convocado para o Mundial Sub-20) estará na lista final, interessando perceber quem vai entre Gonçalo Guedes e Diogo Jota, ou se vão ambos.
    Ou seja, apostamos que Fernando Santos convocará Rui Patrício, Beto, Cláudio Ramos, João Cancelo, Nélson Semedo ou Ricardo Pereira, Pepe, Rúben Dias, José Fonte, Raphaël Guerreiro, Mário Rui, William Carvalho, Danilo Pereira, Rúben Neves, João Moutinho, Bruno Fernandes, Pizzi, Bernardo Silva, Rafa, Gonçalo Guedes, Cristiano Ronaldo, André Silva e João Félix. A este conjunto de vinte e duas escolhas, e dependendo das ideias de FS, pode-se juntar mais um central (Ferro), mais um médio centro (André Gomes) ou mais um elemento ofensivo (Diogo Jota, Bruma ou Gelson).

    Daqui a poucas horas saberemos as escolhas de Fernando Santos. Estas seriam as nossas:


A Convocatória


  • Guarda-Redes: Rui Patrício (Wolves), Cláudio Ramos (Tondela), Tiago Sá (Braga)
  • Defesas: João Cancelo (Juventus), Nélson Semedo (Barcelona), Pepe (Porto), Rúben Dias (Benfica), Ferro (Benfica), Raphaël Guerreiro (Borussia Dortmund), Ricardo Pereira (Leicester City)
  • Médios: William Carvalho (Sporting), Danilo Pereira (Porto), Rúben Neves (Wolves), João Moutinho (Wolves), Pizzi (Benfica), Bruno Fernandes (Sporting)
  • Extremos: Bernardo Silva (Manchester City), Gonçalo Guedes (Valência), Rafa (Benfica), Diogo Jota (Wolves)
  • Avançados: Cristiano Ronaldo (Real Madrid), João Félix (Benfica), Rafael Leão (Lille)
Lista de Contenção: Beto (Goztepe), José Fonte (Lille), Florentino (Benfica), Chiquinho (Moreirense), André Gomes (Everton), Gelson Martins (Mónaco), André Silva (Sevilha)

    Como desde há muito tempo, o nosso nº 1 é um e só um: Rui Patrício. Embora pela primeira vez em várias fases finais o guardião integre a lista de convocados sem ser como guarda-redes do Sporting. Mas se há algo que um dos heróis portugueses do Euro-2016 conseguiu provar em 2018/ 19 foi que, mesmo na melhor Liga do mundo, continua a ser um dos melhores. Embora compreendamos a preferência do seleccionador por Beto, até por ser o tipo de atleta e ter a personalidade que faz "bom grupo", preferimos premiar 2 guarda-redes da Liga NOS que neste momento dão mais garantias - Cláudio Ramos já conhece o ambiente de Selecção, e há muito merece melhor que o Tondela, e Tiago Sá (não esperávamos tão boa época no Braga) dá corpo à nossa usual política de levar um guarda-redes jovem. E, enquanto Diogo Costa ou João Virgínia não dão o salto, alguma esperança realista mora no camisola 12 do Braga.

    Na defesa, Pepe Rúben Dias foram a dupla de centrais na fase de qualificação (e já teriam sido a nossa dupla no Mundial-2018) e, embora seja conveniente temperarem juntos os níveis de agressividade, são 2 exemplos de determinação, intensidade e concentração. Uma vez que só levamos 3 centrais, pela polivalência de um dos nossos médios defensivos e por serem apenas 2 jogos, parece-nos fazer sentido que esta Liga das Nações represente o início da integração de Ferro. O central do Benfica é um dos nomes para o futuro da Selecção, foi destaque na segunda volta de 2018/ 19, conhece como ninguém um dos centrais convocados, e por isso preferimo-lo em relação ao veterano José Fonte.
    Resolvido o centro da defesa, importa olhar para as laterais. E aí, pessoalmente parece-nos claro como a água que 4 jogadores levar: João CanceloNélson SemedoRicardo Pereira Raphaël Guerreiro. É certo que 3 destes jogaram no corredor direito ao longo desta época, mas tanto Cancelo como Ricardo sabem o que é actuar do lado esquerdo. De resto, é um factor importante o maior conhecimento em campo que Cancelo hoje tem das movimentações de Ronaldo, e perante a sempre questionável fiabilidade física de Guerreiro preferimos ter Ricardo Pereira (incrível época pelo Leicester) como Plano B do que jogadores como Mário Rui ou Kévin Rodrigues.

    No meio-campo, tudo começa como tem sido frequente em duas escolhas defensivas que dão segurança e corpo, William Carvalho e Danilo Pereira. Jogadores semelhantes, Danilo com maior acutilância defensiva, William com maior capacidade de conservar o esférico e de lançar jogo. Na contenção, deixaríamos o futuro da nossa posição 6 (Florentino), um dos melhores jogadores da Liga NOS deste ano (Chiquinho) e ainda André Gomes (convocado várias vezes quando não merecia, e desta vez que merece mais, talvez não seja).
    Depois, Rúben Neves e João Moutinho fartaram-se de jogar à bola ao longo de 2018/ 19 na equipa-sensação da Premier League. E essa sintonia e conforto pode ser importante caso Portugal assuma em alguns momentos um 4-3-3. A fechar as nossas escolhas, um médio que marcou uns modestos (ironia) 32 golos esta época, Bruno Fernandes, e o cérebro e maestro do Benfica campeão nacional, Pizzi. O sentido táctico de Pizzi e a meia distância de Bruno Fernandes (ninguém arrisca de longe como ele nestes 23), conjugados com as extraordinárias épocas de ambos, tornam-nos essenciais.

    Chegando ao sector mais avançado, Bernardo Silva é o jogador à volta do qual esta Selecção deve ser construída. Uma ideia que não hipoteca a percepção da lenda viva que é Ronaldo, mas acreditamos que a melhor versão e o melhor futebol deste grupo surgirá em campo de acordo com quão mais confortável e natural Bernardo Silva for deixado, até porque infelizmente e sem ser culpa de ninguém, os últimos anos provaram a tendência de um decréscimo da qualidade das acções do ataque português quando tenta jogar para Ronaldo, que embora hoje não seja a nossa melhor solução para chegar à baliza adversária, será hoje e sempre a melhor opção para fazer balançar as redes.
    A acompanhar Bernardo (é desta que lhe dão o 10?), as nossas escolhas seriam Gonçalo GuedesRafa Diogo Jota. Por razões razoavelmente idênticas: todos acrescentam velocidade e explosão, golo, e conseguem actuar tanto no corredor esquerdo como numa parelha de avançados na frente. Por fim, sobre Cristiano Ronaldo não há nada a dizer (ok, não fez a qualificação mas é o capitão e uma inspiração com uma fome incurável de conquistas) e João Félix é o menino bonito deste elenco. Um talento ímpar, a principal promessa lusa entre os jogadores que já ascenderam a profissionais, um talento especial. A fechar as nossas escolhas, e por sentirmos falta de um jogador com estas características, Rafael Leão. Fernando Santos optará por André Silva, e caso chame uma alternativa possante para 9 será Dyego Sousa, mas quanto a nós não temos grandes dúvidas, até face às características defensivas de Suiça, Holanda e Inglaterra, que os argumentos em campo do ex-Sporting e actual prodígio do Lille podiam ter um papel a desempenhar.


O Onze

    Tem alguma piada o facto deste 11 ser praticamente na íntegra o onze que defendemos para Portugal no Mundial-2018. No entanto, Fernando Santos não convocou Cancelo (cuja titularidade já defendemos aqui no BPF desde 2016), não fez de Rúben Dias o parceiro de Pepe, não convocou Rúben Neves, e pouca importância (minutos) deu a Bruno Fernandes.

    Ora bem, as luvas são de Rui Patrício e a nossa defesa é aquela que acreditamos que será também a preferida do seleccionador - João Cancelo à direita, Raphaël Guerreiro à esquerda, Pepe e Rúben Dias como centrais. Pormenores importantes: a propensão ofensiva do lateral da Juventus combinar na perfeição com as movimentações para terrenos interiores de Bernardo Silva, e o conforto que Raphaël Guerreiro apresenta como interior ou médio centro, o que pode ser útil dependendo da forma como Portugal optar por sair a jogar.

    Nas restantes 6 vagas, embora em teoria preservar a ligação Moutinho-Neves do Wolves seja inteligente, não podemos ignorar que a dupla de médios certinhos que nem um relógio suiço está protegida no Wolves por um sistema diferente (3-4-3 ou 3-5-2). E Portugal precisa de ganhar dimensão física, necessitando assim da presença de William Carvalho ou Danilo Pereira junto a Rúben Neves. Ainda assim, parece-nos que Moutinho teria um importante papel a desempenhar, sobretudo na gestão da bola e no controlo dos tempos caso Portugal se apanhe na frente.
    Olhar para o campo e ver Bernardo Silva e Bruno Fernandes nas alas pode ser estranho, mas até faz mais sentido do que algumas apostas de FS no passado (João Mário + André Gomes, ou João Mário + Renato Sanches). Essencialmente, Portugal precisa que Bernardo (que pela intensidade com e sem bola que hoje apresenta com Guardiola nunca se vai poupar) tenha a vida facilitada pelos colegas, e em Bruno Fernandes Portugal ganha capacidade de visar a baliza a 20-25 metros, dinâmica e ousadia para assumir nos momentos de maior aperto. Contar com Rafa ou Gonçalo Guedes nos convocados permite se for preciso alterar o desenho e tornar a equipa mais vertical, mas estamos convictos que Bernardo e Bruno Fernandes são compatíveis, dotando a equipa de alguma flexibilidade (caso faça sentido encaixar no adversário sem bola num 4-3-3, Bruno pode surgir perto de William e Neves, deixando Bernardo numa linha de 3 na frente).
    À frente, risco máximo. João Félix e Cristiano Ronaldo nunca jogaram juntos, mas só arriscando saberemos se o namoro do capitão português e da nossa nova coqueluche podia dar em casamento táctico. Sabemos que a opção André Silva existe precisamente para fixar jogadores (como Benzema no Real Madrid ou Mandzukic na Juventus) e soltar Cristiano, mas achamos que a energia e o atrevimento de João Félix, além da sua qualidade técnica, poderiam retirar à nossa Selecção alguns maus vícios, estimulando e alimentando Ronaldo de outra maneira, menos óbvia mas mais rica.




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