2 de setembro de 2013

Crónica: O Primeiro Mijo é para os Pardais - o vídeo de Ana Borralho e João Galante

    Olá malta, vim ali da casa de banho agora. Ontem circulou pelo Facebook um vídeo a testemunhar o trabalho de dois "artistas" - Ana Borralho e João Galante, num projecto da Criativa-mente, intitulado "Art piss on money and politics". Para quem ainda não viu o vídeo, veja-o primeiro. Quem já teve a gigantesca sorte de gastar 8 minutos da sua vida com isto, pode saltar para baixo.


    Ora bem, há varias coisas para se dizer. Quando uma obra se chama "Art piss on money and politics", sabemos que a coisa não vai correr bem. Afinal de contas, o que é um "mijo artístico"? Para mim, seria um jogo do Ganha num Minuto, em que tínhamos que, com extremo controlo e pontaria, urinar para uma garrafa de água do Luso de 33cl a 3 metros de distância. Mas isso é para mim. Para a Ana Borralho e para o João Galante não. E quem são afinal estes seres? Conta a lenda que eles estudaram artes plásticas e que desde 2002 trabalham juntos (conselho: separem-se) com o seu trabalho a ser apresentado em vários países no estrangeiro.
    Agora acompanhem-me. O vídeo começa com um anunciante a bajular os nossos "artistas" e desde logo vemos uma mulher a arrastar um plástico e pensamos... Oh, com o diabo, lá vem o Dexter fazer aqui das suas. Mas não, antes fosse. Com muita gente à volta de um pano cinzento, vários colaboradores começam a espalhar folhas A4 pelo mesmo pano. As folhas contêm imagens de políticos e de dinheiro. Mas o mais interessante é que eles não espalham a coisa ao acaso, eles sabem que o Portas tem que ficar no espaço H9 (senão vai o submarino ao fundo) e que o Moreira da Silva tem que ficar perto, intervalados por uma ou duas imagens de moedas. O profissionalismo, o cuidado e a calma de alguém que a seguir vai cobrir as mesmas folhas de uma maneira tão invulgar... Foi um trabalho que durou algum tempo, conseguir as várias montagens de pequenas fotos: notas, Durão Barroso, Obama (não será racismo assistir-se a 10 caucasianos a urinarem em cima da foto dum afro-americano?), Merkel, etc. O espalhar das folhas A4 dura inclusive demasiado tempo, dando a ideia de que os "performers" estão sob o efeito de Xanax, isto ao som duns tenebrosos tambores.
    E, devagarinho, enquanto os fotógrafos vão mudando a objectiva e as pessoas vão fumando e aguardando ansiosamente, lá se colocam eles em cima dos papéis e depois, sem demoras... Calças para baixo e cá vai disto. Há os mais tímidos que se concentram na sua urina e tentam-se desinibir do ambiente, há aqueles que mijam a olhar em seu redor, mas todos eles parecem estar a sentir bastante o momento. "Este é o meu momento, o meu mijo, o meu político, a minha nota. Hoje, a minha vida muda.". Até que chega o campeão, por volta do minuto 4 e meio. O campeão é um polvo: ele tem um copo de vinho na mão, está a fumar, mas quer urinar ao mesmo tempo. Só que não consegue. Enquanto isso, o indivíduo que aparece à direita já está a agitar o seu Sampaio há horas e horas. Quando consegue, o campeão quase atinge o Cócoras. Quem é o Cócoras? É o homem que urina sentado, mantendo um enorme suspense da plateia sobre a possibilidade dele ir defecar, mas a obra chama-se "Art piss on money and politics", por isso ele sabe que não está ali para isso. Isso é na sala do lado (ou na "segunda parte" anunciada no fim). Voltemos ao campeão. Ele é o único que faz a coisa como deve ser: já que está ali, tenta cobrir uma vasta área, da esquerda à direita dos partidos, das mais pequenas moedas às mais valiosas notas. É um coleccionador. Um regador.
    Até que finalmente chega o main event do cartaz: a Mijona. A Mijona sofre de um síndrome chamado efeito Pumba: quem não se lembra do Pumba a chegar ao lago para beber água e todos os animais a afastarem-se?! "Sai tudo das folhas, agora é ela!". E lá fica ela, segundos e segundos a urinar após dias a guardar-se para a sua actuação. Com todos os olhares postos nela, ela não se intimida porque sabe que mija muita bem, ela mija muito! E pronto, quando acaba de encharcar o Cavaco, lá decide terminar, para êxtase da multidão em redor, mas não sem antes utilizar uma folha A4 reciclável dos Verdes para se limpar. E assim termina, com um aplauso colectivo.

    Vamos só a algumas notas. Ana Borralho + João Galante... era de prever que teríamos um galante borralho, que é uma maneira eloquente de dizer que vamos a assistir a uma merda com pedigree. Eu perdoava toda esta gente se eles fossem gatos ou cães, mas assim não. Ou então sou eu que tenho uma mente pouco sensível para a arte: li de resto algures que isto era uma nova forma de arte - mijARTE.
    Posso ainda ser um pouco mais inconveniente (para eles) ou útil (para vocês) e dizer-vos que esta talentosa dupla recebe de apoio do Estado para a Associação Cultural Casa Branca um valor anual de 75.640,94€, o que equivale a uns 6.303,41€ por mês, dando assim um salário mensal a Galante e Borralho de 3.150,70€. Sim, meus amigos, eles ganham dinheiro com isto. Só que em vez de usá-lo para comprar um cérebro, eles esbanjam-no convocando bexigas desempregadas.
    Volta Joana Vasconcelos, estás perdoada.

Correcção: Os cerca de 75.000€ que a Associação Cultural Casa Branca recebe por parte do Estado não correspondem ao salário dos artistas, sendo sim distribuídos para diversos serviços que a mesma Associação presta, para além da criação de peças e trabalhados da dupla Ana Borralho e João Galante.

                    Miguel Pontares








8 comentários:

  1. Meu caro os 75 mil euros sao para a associacao Casa Branca e nao salarios dos artistas.
    A associacao presta outros servicos para alem da criacao de pecas e trabalhos por esta dupla.
    Mas claro que o detalhe nao e' consigo.
    Fica-se pela rama. Critica ignorante e raivosa.

    E esta' mais do que certo quando menciona que tem uma mente pouco sensivel para a Arte.
    Nao so tem mas nao faz a minima ideia do que e' arte e as suas naturais dinamicas nem faz ideia de qual o proposito da arte numa sociedade.

    E' engracado como no campo da medecina, das tecnologias, da economia poucas sao as vezes que vemos gente que nao e' da area a dar palpites e opinioes sarcasticas.

    Mas na arte (talvez porque a materia prima seja mais facil de reconhecer pelo comum dos mortais e seja facil de associar 'as coisas do dia a dia) todo o santo homem tem uma opiniao sobre arte. E' sobre arte educacao.
    Porque a arte usa cores e todos nos tivemos ja a oportunidade de escolher a cor das nossas camisas acham-se qualificados para opinar sobre arte. Porque leram muita BD enquanto pequeninos e porque tiveram uma cadeira sobre arte no 5 ano acham que sabem o que e' arte.

    No entanto apesar de fazerem contas 'a vida e de terem que gerir o budget da casa nao se acham no direito de opinar sobre economia. E porque ja tomaram porradoes de panadol nao passam a achar que podem opinar sobre medecina...

    E' realmente curioso.

    PS. no caso de se sentir tentado ao uso do
    tradicional ataque de marreta que todo
    o ser que perde os argumentos recorre.
    -Nao eu nao sou artista, nao conheco a Dupla em questao e nao recebo nenhum subsidio do estado.
    Sou Designer e trabalho por cada nota que meto no bolso e o que me diferencia de si e' que tenho interesse pela arte e me informo.

    Atentamente
    M

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  2. Obrigado pelo reparo relativo à canalização do dinheiro da associação Casa Branca. Mas nesse caso faz sentido (sem "politiquices", porque isto é tudo menos um artigo político) que a dupla promova o acto de urinar sobre quem de certo modo ajuda a pôr alguns projectos artísticos de pé, com o tal dinheiro (distribuído entre a criação de peças e trabalhos e ainda outros serviços, como diz)?

    Digo-lhe honestamente que sou movido por arte na minha vida, mas no caso específico não me revejo na forma embora perceba naturalmente a mensagem. Claro está que toda a arte tem o condão de agradar a gregos e poder desagradar a troianos - daí a arte ser tantas vezes um risco e apaixonante, vanguardista e por muitos incompreendida. Tal como a arte, qualquer artigo com um humor e sátira em larga dose (que é o propósito deste espaço) é esperado também que agrade a uns e desagrade a outros. E para que uns partilhem, achem piada e se riam, naturalmente sei que nós que aqui escrevemos pagamos o preço junto do verso da moeda.

    Não me senti tentado ao uso do tradicional ataque de marreta. Achei que não era necessário porque não sou ignorante e raivoso, porque não gosto de marretas e porque acredito que, se neste caso não gostou, ainda tenho esperança que consiga tirar de si um sorriso noutra crónica. Talvez daqui a uns tempos usemos a mesma cor perante determinada situação.
    E volto a agradecer a correcção relativamente aos 75 mil euros porque (embora não lhe tenha parecido) gosto do detalhe e embora esta crónica tenha um carácter pouco informativo e mais "lúdico" e opinativo é importante que não se promova desinformação no leitor, procedendo em Contra-Informação.

    PS. Se virmos bem o mundo aclama arte com "urina" ao aclamar o Manneken Pis.

    Obrigado pelo feedback e continue por aí M.

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  3. Caro(a) M,
    Já que é um(a) ser super informado(a) no que toca a arte, faça o favor de me dar um contacto de um "artista" deste género. É que eu estou farto de despejar arte pela minha sanita abaixo. Não sou careiro. Não me importo de receber 1 ou 2 euros por cada vez que urino sobre fotografias.

    Já agora explique-me o que é a "medecina". Ou será que só os que percebem arte como o(a) senhor(a) é que sabem o que é a "medecina"? É provável...

    Já agora leia mais sobre o que estes jovens(?) escrevem. Pode ser que comece a aperceber-se que o intuito deles é opinar usando o humor. Se não tem sentido de humor, tenho pena de si. Deve levar uma vida muito divertida.

    PS: Se não está informado(a) sobre as várias maneiras de fazer humor, está a falhar... É que o humor também é arte.

    Atentamente,
    Pintassilgo.

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  4. Arte é arte, e mais nada...cada um gosta e come do quer, todos tem direito à diferença...sei respeitar isso. Agora eu tenho direito a ficar indignado, por esta CORJA andar, a fazer esta MERDA, à custa do meu trabalho...(se me pagarem para mijar, retiro tudo o que disse, há anos que o faço, com muita arte...)

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  5. é arte.
    Pois mas a arte não é algo sagrado, intocável.
    É má arte, sem qualidade. Lixo, disfarçado de arte.
    E é hipocrisia, simulam desprezar o dinheiro e os politicos, mas são bem pagos para fazer estes disparates e são pagos precisamente pelo estado, ou seja são parasitas de politicos.

    Se querem realmente menosprezar o dinheiro e os politicos não recebam dinheiro do estado. Arranjem um trabalho honesto e façam este tipo de arte sem parasitarem o estado, o contribuinte. Este tipo de porcarias pode bem ser feito nos tempos livres de um trabalho honesto.

    ocni

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  6. A questão não é se se trata de arte ou não! O Problema é a finalidade.. será justo atribuir financiamento público!? Que mensagem passou!? Que beneficio traz aos cidadãos!? Atribuíam financiamento de igual modo,se não fossem os meninos que são?

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  7. E se fosse art fuck on money and politics, fodiam em cima das mesmas imagens mas em posições diferentes. Penso que seria mais artístico. E contratavam o designer, que todos percebemos que por amor à arte não se importava de representar o povo de cocaras a levar no artístico traseiro ou outras opções(o que não faltaria era imagens de jornal para essa pose). Agora entendo donde vem a expressão...."estes gajos sairam-me cá uns artistas"...., vem deste tipo de movimentos niilistas.

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  8. Arte (do latim ars, significando técnica e/ou habilidade) geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada a partir da percepção, das emoções e das ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias da consciência. in http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte
    Ora, não sei em que parte é que fazer xixi em público pode ser considerada uma manifestação de ordem estética ou comunicativa. E quem se sentirá estimulado com um "espetáculo" destes?
    Também gostava de saber quantas pessoas foram, espontaneamente, assistir a esta "urinada" (por analogia com cagada), pagando bilhete, e sabendo ao que iam. Só de pensar que ia ter de olhar para aqueles rabos todos ao léu dá-me arrepios, já para não falar do cheiro a urinol. Arte? Bhah...!

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