Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

11 de agosto de 2023

Antevisão da Premier League 2023/ 24

 Premier League - A espera terminou. O campeonato mais eletrizante e apaixonante do futebol europeu regressa esta noite e o entusiasmo não podia ser maior para acompanhar durante 38 jornadas toda a incerteza na classificação. Sem quebras de ritmo forçadas como o Mundial do Qatar e oxalá que sem tragédias a envolver a realeza britânica, a Premier League promete regressar com o vigor e competitividade de sempre.

    Enraizou-se na cultura desportiva a tradicional distinção do Top4 inglês, os quatro lugares que vêm dando acesso aos milhões da Liga dos Campeões. Ora, em 2024/ 25 a Champions muda substancialmente de formato e os 2 países com melhor coeficiente acumulado no decorrer desta época garantirão uma 5ª vaga direta na Champions. Considerando que Inglaterra foi nas três últimas épocas o país com melhor classificação no Ranking UEFA, a manutenção dessa tendência poderá conduzir à transformação do Top4 de sempre num novo Top5.

    Na última época houve corrida a dois: Guardiola e Arteta; Haaland e Odegaard; Manchester City e Arsenal. O emblema azul celeste conquistou a Premier (venceu 5 das últimas 6 edições), festejando mesmo um impressionante triplete com a FA Cup e Champions League. O City de Guardiola é favorito, não poderia ser doutra maneira; mas a análise faz-nos acreditar que esta Premier League 23/ 24 pode demorar bastante mais tempo do que as últimas provas a tornar-se um combate a dois. Para festejar um inédito tetra em Inglaterra, os cityzens terão que bater um ainda mais forte e menos imaturo Arsenal (vencedor da Community Shield), um Liverpool sem lesionados e com inovação tática, um Manchester United coeso e reforçado em posições-chave e um Chelsea bem diferente e com um treinador 100% adequado para o elenco.
    Há 5 favoritos, mas é impossível não abranger o lote de equipas especiais em Inglaterra a nove. O Aston Villa pode ser perigosamente subvalorizado por muitos e não é fácil encontrar antídoto para o conjunto multi-sistema de Emery; o Tottenham pode sofrer com dores de crescimento mas Postecoglou é o homem certo para revolucionar os spurs, operando a metamorfose de equipa encolhida e presa para equipa colorida, com alma e criativa, embora tudo indica sem Harry Kane; o Newcastle não está à toa na Champions e é Top2 a defender; e o Brighton de De Zerbi deslumbra e descobre talentos sem parar, cativando os neutros. A ordem dos 9 primeiros é um desafio, e qualquer equipa das restantes 11 que se intrometa nesta elite será franca candidata a sensação da prova.

    Como sempre, os clubes ingleses investiram e bem, e são inúmeros os novos craques. Inglaterra acolheu Nkunku (lesionado até Dezembro), Gvardiol, Højlund, Onana, Nicolas Jackson, Szoboszlai, Diaby, Tonali, Timber, Pau Torres, Kerkez, Vicario e Flekken, merecendo ainda destaque diversas movimentações internas como Declan Rice, James Maddison, Mac Allister, Mount, Havertz, Kovacic, Harvey Barnes, Tielemans, João Pedro, Elanga e James Trafford, além dos dossiers Caicedo, Maguire e Ward-Prowse prestes a conhecer resolução. Gera ainda curiosidade a 1.ª experiência no nível máximo do futebol inglês de jogadores que encantaram no Championship como Alex Scott, Maatsen, Ahmedhodzic, Ryan Giles, Manuel Benson e quem sabe Gustavo Hamer.

    Relembramos que desceram 3 equipas de grande peso e bom aproveitamento recente - Leicester City, Leeds United e Southampton -, chegando do super-competitivo Championship Burnley (101 pontos com Vincent Kompany), Sheffield United e Luton Town, o clube do estádio mais marcante desta edição.

    Acompanhem-nos então nesta completa Antevisão da Premier League 2023/ 24, numa tentativa de prever a classificação final e destaques individuais, sempre falível considerando as várias transferências até ao fecho desta janela e da de Janeiro e outros mil fatores:



 MANCHESTER CITY (1)

    
Há sempre mais História para escrever. O Manchester City entra em 2023/ 24 com Grealish ainda a ressacar a conquista do tão aguardado triplete (Premier League, Liga dos Campeões e FA Cup). Pep diz que o feito é irrepetível, e o grande adversário dos cityzens nesta edição pode ser mesmo o próprio City, ou a capacidade dos jogadores encontrarem dentro de si a motivação para continuarem "ligados" e esfomeados jogo após jogo. Mas podemos ver as coisas por este prisma: o City está a um título de festejar o tetra, algo que nunca nenhuma equipa conseguiu na História da 1ª divisão inglesa (ou seja, desde 1888), os reforços trazem sede renovada, e Erling Haaland vai certamente definir novos recordes para atingir, com os 40 golos só no campeonato no seu horizonte.
    O City perdeu Gündogan (que jogador!) e Mahrez, parece ter convencido Bernardo Silva e Kyle Walker a ficar, e reforçou-se até ao momento com a dupla croata Kovacic e Gvardiol. É fácil imaginar o médio de 29 anos a entrar bem na identidade deste City, podendo contribuir em várias posições, e Gvardiol é talvez o central com maior potencial da atualidade. Quando se tem Rúben Dias, Gvardiol, Stones, Aké e Rodri, é natural que os criativos se sintam mais tranquilos na hora de fazer um passe de rutura ou arriscar um drible.
    Taticamente, o City parte num híbrido e muito maleável 3-2-4-1, mas Pep costuma estar um (ou vinte) passo à frente da concorrência, o que nos permite especular que à medida que Arteta e Klopp se possam aproximar do sistema de Pep, já este esteja, qual jogador de xadrez, a aprimorar o antídoto para a sua própria criação. Ainda com muito potencial por explorar, Phil Foden e Julián Álvarez serão talvez os jogadores que mais podem evoluir este ano, e a dupla KDB-Haaland, em total sintonia, pode traduzir-se num brutal volume de golos.
    O tricampeão tem que partir na frente nas apostas, e veremos que reforços (gostávamos de ver Wirtz e Barcola nesta equipa, mas não nos importamos nada se os escolhidos forem Paquetá, Olise ou Doku) ainda recebe o melhor treinador do mundo até ao fecho do mercado. Incansável e praticamente imbatível nas retas finais das segundas voltas, a presença em Dezembro no Campeonato do Mundo de Clubes poderá contribuir para que a dada altura o City tenha que correr atrás do prejuízo.

Treinador: Pep Guardiola
Onze-Base (3-2-4-1): Ederson; Walker (Aké), Rúben Dias, Gvardiol; Stones, Rodri; Bernardo Silva, De Bruyne, Foden (Álvarez), Grealish; Haaland

Atenção a: Erling Haaland, Kevin De Bruyne, Phil Foden, Josko Gvardiol, Julián Álvarez


 ARSENAL (2)

   Não é por ter vencido a Community Shield, mas o Arsenal está pronto para ir à luta novamente. A equipa de Mikel Arteta quer vingar a última época, em que desperdiçou a vantagem que conquistou, e nos gunners tudo bate certo: há continuidade, a juventude está um ano mais experiente, e os reforços devem tornar este Arsenal mais forte. Porém, para nós, ainda insuficiente para partir na pole position do favoritismo.
    A grande conquista do defeso do Arsenal é Declan Rice. Pelo médio defensivo do West Ham, titular indiscutível da seleção inglesa e jogador pelo qual o campeão inglês e europeu Manchester City chegou a apresentar uma proposta, o clube do Norte de Londres pagou uns astronómicos 116 milhões. Mas Rice é um jogador para 10 anos e é um 2 em 1, um seis forte no desarme e na proteção da sua defesa mas também um oito forte no transporte. Havertz e Timber foram as restantes aquisições, estando para chegar Raya para quiçá roubar a baliza a Ramsdale. Sobre Timber, podemos dizer que o Arsenal parece ter acertado em cheio. O neerlandês faz várias posições e será difícil Arteta abdicar da sua presença no 11, seja a lateral, central ou mesmo no auxílio ao meio-campo. Kai Havertz pode ser um problema: o alemão é um reforço de luxo se Arteta conseguir puxar pelo seu lado Leverkusen e não pela sua versão recente, sem confiança e em terrenos mais adiantados. Mas, até para não "queimar" o jogador, o mais prudente seria guardá-lo inicialmente como 12.º jogador, até porque não faz sentido que surja à frente de Trossard na hieraquia.
    Com equilíbrio em todo o campo, algumas saudades do subvalorizado e também controverso Xhaka e com algumas dúvidas sobre a permanência de Partey, o Arsenal tem em 3 jovens craques os três principais motivos de esperança para fazer a diferença: Bukayo Saka, Martin Odegaard e Gabriel Martinelli. Jogadores de classe mundial, com mentalidade de campeões.
    O título é possível mas o 3.º lugar também. Custa-nos Mikel Arteta não ter aproveitado Balogun e desconfiamos que o técnico espanhol pode cometer esta época alguns erros de análise no decorrer da competição, e pagar a fatura.

Treinador: Mikel Arteta
Onze-Base (4-3-3): Ramsdale (Raya); Ben White (Timber), Saliba, Gabriel, Zinchenko; Rice, Partey, Odegaard; Saka, Gabriel Martinelli, Gabriel Jesus

Atenção a: Bukayo Saka, Martin Odegaard, Gabriel Martinelli, Declan Rice, Jurriën Timber

 LIVERPOOL (3)

    Em 2023/ 24, o Liverpool pode voltar a lutar pelo título. A temporada transata foi uma quase catástrofe, atenuada com uma reta final em que os reds ainda conseguiram dar 7 ao Manchester United e fechar a época quase nos lugares de Champions, a 4 pontinhos de distância do objetivo mínimo.
    Jürgen Klopp, ao contrário de Pep Guardiola, revelou doses excessivas de teimosia e intransigência, procurando exigir à sua equipa que jogasse como no passado, sem ter instrumentos para o seu futebol heavy metal. As lesões de Luis Díaz e Diogo Jota não ajudaram, em particular porque forçaram Darwin a ser atirado aos leões quando o uruguaio precisava de ser introduzido aos poucos, mas Klopp terá aprendido a lição.
    O meio-campo era o epicentro de todos os problemas, e tudo mudou nesse setor. Fabinho, Henderson, Keita, Milner e Oxlade-Chamberlain saíram, Thiago ainda pode sair, mas agora há Mac Allister e Szoboszlai. Tomando como exemplo a pré-época, o Liverpool será uma equipa capaz de marcar golos atrás de golos, mas também vai sofrer muitos. Ganhar todos os jogos por 3-2 ou 5-3 é preocupante, mas desde que os jogos sejam ganhos, ninguém vai querer saber o "como".
    O 4-3-3 dos últimos anos pode ser substituído por uma espécie de 3-2-2-3, uma versão aproximada do figurino adotado pelo Manchester City na segunda volta da época passada e pelo próprio Liverpool quando adaptou Trent Alexander-Arnold para interior, potenciando algumas das coisas que fazem de Trent um jogador único. O problema é que o atual esquema corre o risco de partir a equipa, que se poderá dispor por vezes quase num 3-2-5 - com os extremos a jogar por dentro pode não ser difícil os adversários atraírem Mac Allister e Szoboszlai para os corredores, e mesmo na defesa continuamos a ter algumas dúvidas sobre a colocação de Robertson a central do lado esquerdo e quanto à capacidade de van Dijk de voltar a ser pelo menos 80% do que era antes da sua grave lesão.
    Para nós, o Liverpool está a um médio defensivo de poder entrar realmente na luta pelo título. Um médio como Caicedo (a melhor opção, mas parece ter jurado amor ao Chelsea), Tchouameni ou Thuram e não como Lavia, jogador de potencial gigante mas ainda embrionário e a precisar de ser esculpido. Lembramos ainda que este era o mercado em que os reds sonharam com Bellingham, mas o refinado médio britânico escolheu Madrid.
    Claro está que quem tem Mo Salah (vêm aí números de gente grande do egípcio) e pode rodar Gakpo, Darwin, Jota e Díaz terá sempre a capacidade de colocar os adversários em sentido. E Anfield é um estádio como mais nenhum. 

Treinador: Jürgen Klopp
Onze-Base (3-2-2-3): Alisson; Konaté, van Dijk, Robertson; Alexander-Arnold, Curtis Jones; Mac Allister, Szoboszlai; Salah, Gakpo (Darwin), Luis Díaz (Diogo Jota)

Atenção a: Mohamed Salah, Trent Alexander-Arnold, Alexis Mac Allister, Darwin Nuñez, Dominik Szoboszlai

 MANCHESTER UNITED (4)

    Erik ten Hag já fez o mais difícil. Quando o neerlandês chegou a Old Trafford, o Manchester United precisava de sacrifícios custosos para se poder regenerar, e ten Hag operou-os: descobriu as melhores versões de Rashford e Bruno Fernandes ao retirar Cristiano Ronaldo da equipa, e melhorou a defesa ao substituir o inseguro Maguire pelo pequeno gigante Lisandro Martínez. Este Verão trouxe mais uma decisão ousada: o clube não renovou com De Gea, e apostou em Onana, um guarda-redes que discutirá com Ederson o estatuto de melhor com os pés na Premier League, mas que talvez não seja capaz de fazer algumas defesas por instinto como o internacional espanhol fazia. Mantemos as nossas reticências quanto à troca de GR, mas é inquestionável que o United passará a ser uma equipa mais rápida a circular a bola e mais forte a fugir à pressão alta.
    Mas Onana não foi o único reforço. Ten Hag recebeu ainda Mason Mount (novo camisola 7), o novo parceiro de meio-campo de Casemiro e Bruno Fernandes; e Højlund é o novo ponta de lança dos red devils, uma aquisição que claramente faria o género de Sir Alex Ferguson. O dinamarquês terá que evitar as comparações com Haaland (até o nome convida a isso), algo que prejudicou Darwin na época anterior, e pode ser benéfico o United ainda contratar mais um ponta de lança até dia 31 para proteger o veloz e corpulento avançado ex-Atalanta.
    Num 4-2-3-1 ou 4-1-2-3, dependente da linha em que ten Hag queira ter Mount, o Manchester United caminha no sentido de se tornar uma equipa mortífera em transição, tendo para isso Bruno Fernandes (um dos favoritos para jogador com mais assistências esta época) a lançar jogadores rapidíssimos como Rashford e Højlund. Antony e Jadon Sancho (se ficar) têm que dar muito mais, Garnacho pede cada vez mais minutos, e Amad Diallo merecia ficar no plantel depois do que apresentou no Sunderland.

Treinador: Erik ten Hag
Onze-Base (4-2-3-1): Onana; Wan-Bissaka (Dalot), Varane, Lisandro Martínez, Shaw; Casemiro, Mount; Antony (Garnacho), Bruno Fernandes, Rashford; Højlund

Atenção a: Bruno Fernandes, Marcus Rashford, Rasmus Højlund, Lisandro Martínez, Luke Shaw

 CHELSEA (5)

    E se o 12.º classificado da temporada passada conseguisse qualificar-se para a Champions League um ano depois? Não haveria nada mais Chelsea do que isso.
    Na equipa desilusão de 22/ 23, verdade seja dita, era difícil que o panorama piorasse. A gestão imprevisível de Todd Boehly continua a ser um potencial problema, mas Mauricio Pochettino é senhor para "domesticar" com educação o norte-americano, blindando o balneário e colocando todo o clube a guiar-se pela sua visão e não pelos ideais, quiçá diferentes diariamente, do sucessor de Abramovich como dono do Chelsea.
    Há aproximadamente um ano atrás, escrevíamos que o Arsenal era a equipa que mais nos tinha impressionado na pré-época. Pois bem, o Verão deixou excelentes indicações sobre este Chelsea, que "limpou" a casa e começa a compor uma equipa bem ao jeito do treinador argentino, com muita juventude e fome de deixar uma marca no futebol mundial.
    Depois de gastar mais de 600 milhões na época passada, o clube de Londres tomou o gosto às vendas neste mercado, negociando Havertz, Mount e Kovacic com os rivais, vendendo Pulisic e Loftus-Cheek ao AC Milan e libertando Mendy e Koulibaly para a Arábia Saudita. Nkunku (o nosso reforço favorito desta Premier League, que infelizmente falhará os primeiros meses da competição por lesão) e Nicolas Jackson são os reforços mais impressionantes, juntando-se muitas soluções que já estavam dentro de portas: Poch soube confiar a Colwill a titularidade ao lado de Thiago Silva, Maatsen e Chukwuemeka conquistaram o seu espaço ao ter minutos, e Mudryk já deu ares de que poderá por fim explodir esta temporada.
    Mesmo tendo o clube contratado Sánchez na sua loja preferida de Brighton, é possível que ainda haja mexidas na baliza se Kepa for vendido. Pochettino agradecerá o arranque de campeonato acessível (a 1ª jornada, diante do Liverpool, é difícil, mas depois segue-se um período bom) e a ausência de competições europeias permitir-lhe-á poder efetivamente treinar os seus jogadores e preparar detalhadamente cada jornada. Ainda devem chegar jogadores a Londres - Caicedo será o complemento perfeito para Enzo Fernández - e os ingredientes parecem estar reunidos para uma temporada de significativo crescimento e encurtar de distâncias para o pelotão da frente.

Treinador: Mauricio Pochettino
Onze-Base (4-2-3-1): Kepa; James, Thiago Silva, Colwill, Chilwell; Enzo, Gallagher (Chukwuemeka); Sterling (Maatsen), Nkunku, Mudryk; Nicolas Jackson

Atenção a: Christopher Nkunku, Enzo Fernández, Levi Colwill, Mykhailo Mudryk, Nicolas Jackson

 ASTON VILLA (6)

    Talvez seja exagerado apontar o Aston Villa ao sexto lugar, o que significaria pelo menos duas equipas a vacilarem, mas o clube da cidade de Birmingham tem conseguido reforços muito acima da média, tem em Unai Emery um técnico 100% adequado aos jogadores e à dimensão do clube, e também tem sempre a sua graça arriscar numa semi-surpresa.
    Presentes na Liga Conferência - e muita atenção porque Emery não vai desconsiderar uma competição europeia, sobretudo a partir do formato a eliminar -, os villans poderão rodar mais sem prejuízo em comparação com as equipas presentes na Liga Europa, dada a menor qualidade dos emblemas presentes na Conference. A nível interno, esperamos ver o técnico basco a mudar de sistema tático ao longo dos jogos, e há matéria-prima para jogar em 4-4-2 (tática que pensamos que será o ponto de partida), 4-3-3 ou mesmo em 3-5-2.
    Sem perder ninguém, o Aston Villa acrescentou 3 jogadores ao seu plantel e os três são craques que imaginávamos que tivessem acabado em clubes mais cotados. Youri Tielemans assinou a custo zero, juntando-se a McGinn, Douglas Luiz, Boubacar Kamara, Jacob Ramsey e Emi Buendía como brilhantes opções de meio-campo; Pau Torres reencontrou-se com o treinador que já o orientara no Villarreal, melhorará instantaneamente a saída de bola e a exploração das costas do adversário, podendo funcionar como falso defesa esquerdo até Álex Moreno estar recuperado; e sobre Moussa Diaby até faltam palavras. O Villa conseguiu um jogador que fará tremer os defesas da Premier League com a sua velocidade e capacidade de drible, sendo peça decisiva no puzzle de uma equipa tão inteligente a atrair oponentes e que sabe tão bem quando operar a mudança de velocidade e quando "morder" furtivamente de forma a ter a melhor transição possível. 

Treinador: Unai Emery
Onze-Base (4-4-2): E. Martínez; Cash, Konsa (Mings), Pau Torres, Álex Moreno; McGinn, Kamara (Douglas Luiz), Tielemans, Jacob Ramsey (Buendía); Diaby, Watkins

Atenção a: Moussa Diaby, Ollie Watkins, Pau Torres, Boubacar Kamara, Álex Moreno

 NEWCASTLE (7)

    O Newcastle é uma das 4 equipas inglesas presentes na Liga dos Campeões. A queimar etapas mais rápido do que a Direção e Eddie Howe teriam sonhado, os magpies querem voltar a repetir a façanha, algo que achamos difícil se Liverpool, Chelsea e Tottenham melhorarem todos em relação ao ano passado.
    A melhor defesa da última Premier League - 33 golos sofridos, registo igual ao do Manchester City - continuará uma muralha, com Pope, Trippier, Schär, Botman e Burn a formarem um setor irrepreensível, que terá Livramento como novidade na gestão das posições de lateral direito e esquerdo. Honestamente, pensámos que o Newcastle aproveitaria a sua inesperada presença na liga milionária para apostar forte neste Verão com uma ou duas contratações cabeça-de-cartaz e que nos fizessem levar as mãos à cabeça. Até ver, não aconteceu, mas Sandro Tonali é um reforço que parecia impossível, e Harvey Barnes não tem a fantasia de Saint-Maximin (rumou à Arábia Saudita) mas é bastante provável que some bastantes mais golos e assistências do que o francês.
    Repetir o quarto está ao alcance dos pupilos de Howe, punindo em teoria as novas regras da Premier sobre maximização do tempo útil de jogo este Newcastle, que acabou por ganhar o carimbo de equipa astuta a jogar com o cronómetro, também para respirar e recuperar-se entre períodos de intensidade e agressividade extremas. Bruno Guimarães e Joelinton são um mimo, Almirón quererá mostrar que a temporada passada não foi um feliz acidente, e Isak e Callum Wilson repetirão saudável competição pela vaga de avançado centro.

Treinador: Eddie Howe
Onze-Base (4-3-3): Pope; Trippier, Schär, Botman, Burn; Tonali, Bruno Guimarães, Joelinton; Almirón, Isak (Callum Wilson), Harvey Barnes (A. Gordon)

Atenção a: Bruno Guimarães, Sandro Tonali, Kieran Trippier, Alexander Isak, Harvey Barnes


 TOTTENHAM (8)

    Dos tradicionais Top 6, o Tottenham Hotspur é simultaneamente aquele que tem menos responsabilidades e aquele cuja nossa previsão pode errar mais. Tudo indica, Harry Kane está mesmo de saída para Munique, com exames médicos marcados à hora de publicação deste artigo. O melhor marcador da História dos spurs e da seleção inglesa namorou todo o Verão com os bávaros, viveu os twists de sempre em qualquer negociação que envolva Daniel Levy, e salvo desfecho chocante, a Bundesliga e o Top3 de favoritismo na Liga dos Campeões serão a sua nova realidade.
    Com Kane e os seus 25 a 30 golos garantidos, mais tudo o resto que o completo avançado dá, talvez colocássemos o Tottenham na luta pelo Top5, mas assim é possível adivinhar uma queda para os lugares 7 a 9. Muita coisa depende da abordagem ao mercado pós-Kane, surgindo para já Richarlison como imediato sucessor e estando já contratado o ponta de lança argentino Alejo Véliz. Mas ainda deve chegar mais alguém. Para quem interpreta que Kane desistiu de bater o mítico recorde de Alan Shearer, a verdade é que a 47 golos de distância do feito, Kane pode perfeitamente jogar três épocas na Alemanha e regressar depois à Premier League com 33, a tempo de superar o histórico avançado inglês.
    Mas o Tottenham não é só Harry Kane. Numa temporada em que não há competições europeias (pode pesar favoravelmente, mantendo-se a equipa mais fresca), estamos convictos que os londrinos serão uma das equipas com maior revolução operada. De equipa enfadonha com serial winners (Conte e Mourinho) que só serviram para estragar o ADN do clube, o Tottenham deve transformar-se num corpo de futebol ambicioso, bloco subido, alta percentagem de posse de bola, muitos golos marcados e bastantes também sofridos. O australiano Ange Postecoglou (às vezes o melhor match é um plano C ou D) tentará imprimir a identidade que marcou o futebol do Celtic, algo que pode demorar algumas jornadas, e o 3-4-3 está morto e enterrado, sendo expectável um 4-3-3 com interiores com muita chegada ao ataque e elevado rendimento de Son e Kulusevski na cara do golo. Pessoalmente, estamos curiosos para ver como reorienta Big Ange a sua ideia de jogo usual considerando que Porro e Udogie não são o tipo de laterais que privilegiaria um treinador habituado a ter laterais a jogar por dentro e não tanto a dar largura.
    As contratações mostram que o clube está a pensar bem, destacando-se James Maddison a ter o salto que há muito merecia, e as apostas em Vicario (o mundo do futebol vai delirar com as defesas que o ex-Empoli é capaz) e van de Ven (um central que poderia perfeitamente ser o sucessor de van Dijk no Liverpool, tal é a sua qualidade e margem para crescer). 

Treinador: Ange Postecoglou
Onze-Base (4-3-3): Vicario; Pedro Porro, Romero, van de Ven, Udogie; Skipp, Bissouma, Maddison; Kulusevski, Son, Richarlison

Atenção a: Son Heung-Min, James Maddison, Richarlison, Guglielmo Vicario, Micky van de Ven

 BRIGHTON (9)

    Em vários momentos da temporada passada, o Brighton foi a equipa que nos deu mais gozo ver na Premier League. O City de Pep e o Arsenal de Arteta foram evidentemente mais fortes, mas os seagulls cativaram o adepto neutro com o seu futebol apoiado, veloz, pressionante e teimoso. Roberto De Zerbi melhorou a equipa, tornando os reis do xG desperdiçado num ataque de mão cheia, e com o tempo acabaremos por ver os melhores treinadores do mundo a copiarem algumas das ideias do italiano.
    Como sempre, o Brighton é renovação e crescimento constante. Depois do espetacular 6.º lugar, chegou o momento de vender o campeão do mundo Mac Allister ao Liverpool, e está visto que Moisés Caicedo (Chelsea ou Liverpool?) também dirá adeus por um valor recorde. Saindo o equatoriano, o Brighton passará a ter libras para distribuir por 2 ou 3 craques, e já todos sabemos a magia de que este clube é capaz na hora de descobrir os jogadores certos para potenciar.
    A presença na Liga Europa pode ser um contra, forçando o Brighton a jogar às quintas-feiras e ao fim-de-semana, embora o plantel seja profundo e equilibrado na diferença entre titulares e suplentes, sobretudo nas posições da frente.
    De Zerbi diz que a baliza ficará 50% para Steele, 50% para Verbruggen, e na defesa Estupiñán é capaz de melhorar a sua produtividade ofensiva. Pascal Gross continuará com um heat map de jogador total e, num plantel onde Milner e Lallana serão vozes firmes no balneário, Gilmour pode viver a sua temporada de afirmação. No ataque, é um fartote. March e o driblador nato Mitoma foram os destaques em 22/ 23, mas na nova temporada há que ter em conta o super reforço João Pedro, o irresistível Enciso, o rapidíssimo Adingra (brilhou na Summer Series) e ainda Evan Ferguson, um avançado que reúne todas as características para se tornar um dos grandes da Premier League.
    Há Caicedo por definir, há reforços por chegar (Kudus e Koopmeiners seriam um sonho) e atrevemo-nos a dizer que, se o Brighton voltar a encantar, De Zerbi será um dos treinadores com mais pretendentes daqui a um ano. A presença nas competições europeias pode retirar algum oxigénio e alguns quilómetros percorridos por jogo, o que nos leva a apontar a equipa a uma posição entre sexto e nono.

Treinador: Roberto De Zerbi
Onze-Base (4-2-3-1): Steele (Verbruggen); Veltman, Dunk, Webster (Igor), Estupiñán; Gross, Gilmour; March (Enciso), João Pedro, Mitoma; Evan Ferguson

Atenção a: João Pedro, Julio Enciso, Kaoru Mitoma, Evan Ferguson, Billy Gilmour

 WEST HAM (10)

    O West Ham é possivelmente a equipa destas 20 cuja previsão da classificação final mais depende do que o mercado fizer chegar ao Olímpico de Londres neste mês de Agosto. Os hammers têm David Moyes em conflito com a Direção, alegadamente por diferenças na prospeção (Moyes quer elementos da Premier e o novo diretor técnico, o ex-Leverkusen Tim Steidten, quer atrair jogadores do estrangeiro) e de facto preocupou a demora na falta de assertividade na contratação de 3 ou 4 jogadores de craveira e impacto imediato no 11, consequência inevitável depois do clube vender Declan Rice ao Arsenal por 116 (!) milhões de euros. O sucessor do camisola 41 está encontrado e é o mexicano Edson Álvarez, ex-Ajax.
    Numa certa esquizofrenia entre o aborrecimento interno e o brilho europeu, o West Ham continua presente nas competições europeias (Liga Europa) por ter vencido a última Liga Conferência. E já na temporada anterior a campanha europeia fora notável, com Rice, Bowen e companhia a serem eliminados nas meias-finais da LE.
    Novamente com a condicionante do futebol europeu, que força viagens, distribuição de minutos e uma profundidade de opções impróprias para um plantel algo curto como este, o West Ham vai tornar-se tudo indica o posto de reabilitação de Harry Maguire (o Manchester United já aceitou a proposta), que pode levar consigo o seu colega McTominay, e será sempre um bónus contar com um dos melhores cobradores de bolas paradas no mundo, James Ward-Prowse, cuja oficialização também deve estar para breve.
    A completa adaptação de Lucas Paquetá (ironicamente pode ir parar ao campeão City) ao futebol britânico pode ser uma das cartadas fortes para 23/ 24, e Bowen estará em princípio a entrar nos melhores anos da sua carreira. Falta um goleador a este West Ham, que desistiu de Scamacca mas acredita no prodigioso e possante Divin Mubama, e o 10.º lugar a que apontamos os hammers baseia-se fundamentalmente na confiança que as últimas semanas do mercado darão a Moyes os jogadores (Maguire, Ward-Prowse, etc) que tanto deseja para colocar as suas ideias em prática.

Treinador: David Moyes
Onze-Base (4-3-3): Fabianski; Coufal, Zouma, Aguerd, Emerson; E. Álvarez, Downes, Lucas Paquetá; Bowen, Benrahma, Michail Antonio

Atenção a: Lucas Paquetá, Jarrod Bowen, Edson Álvarez, Said Benrahma, Nayef Aguerd

 BRENTFORD (11)

    Ivan Toney. Ironicamente, vemo-nos forçados a apostar que o avançado inglês de 27 anos, autor de 34% dos golos do Brentford em 2022/ 23, será vilão fantasma e herói a meio da viagem, cumprido o castigo do vício.
    Com Thomas Frank, os bees são uma das equipas mais certinhas da Premier League, um conjunto hábil a adaptar-se aos oponentes e letal perante o desmazelo ou desinspiração adversária. Mas com Ivan Toney tão central a todo o processo, não só pelo que produz (20 golos em 22/ 23) como pela capacidade de permitir à equipa respirar e subir quando segura o esférico e temporiza de costas, o Brentford pode sofrer com saudades da sua figura até que a suspensão termine.
    O calendário inicial das abelhas de Londres pode ajudar a ganhar confiança e esquecer quem não está, mas em todo o caso 16 de Janeiro de 2024 (fim da suspensão de Ivan Toney) será uma data na cabeça de todos os adeptos do clube.
    A boa organização, defesa comunicativa e meio-campo inteligente, da única equipa que venceu o Manchester City nas duas voltas no ano em que os cityzens arrecadaram o triplete, chegam para considerarmos o Brentford um dos candidatos ao primeiro posto abaixo dos 9 mais fortes. Mbeumo, Wissa e Schade terão que dizer presente na ausência de Toney, e o neerlandês Mark Flekken (nos últimos anos foi insistentemente um dos guarda-redes com maior consistência na Bundesliga) terá que estar à altura dos desempenhos heroicos de Raya.


Treinador: Thomas Frank
Onze-Base (3-5-2): Flekken; Collins, Mee, Pinnock; Hickey, Jensen, Norgaard, Janelt, Rico Henry; Mbeumo, Wissa (Toney)

Atenção a: Bryan Mbeumo, Mark Flekken, Ivan Toney, Yoane Wissa, Rico Henry

 FULHAM (12)
    

    O Fulham de Marco Silva foi 10.º classificado na temporada passada e, caso mantenha os seus dois melhores jogadores, tudo leva a crer que possa repetir uma campanha similar.
    O técnico português, rotulado ao longo da sua carreira como infiel aos seus clubes e projetos, rejeitou os milhões da Arábia Saudita, e torcerá para que Mitrovic faça o mesmo. Há uma época do Fulham com Mitrovic e João Palhinha, e uma outra bem diferente sem eles, ultra dependente do brutal acerto na abordagem ao mercado na busca dos seus eventuais sucessores.
    Até agora, os cottagers ainda não perderam ninguém e receberam sim o central/ lateral Calvin Bassey e o mexicano Raúl Jiménez, uma ótima opção se o virmos como o 1.º avançado para sair do banco mas uma opção manifestamente insuficiente se por acaso for o substituto de Mitrovic. Willian prolongou a sua estadia no Craven Cottage mas, duas semanas depois desse anúncio oficial, chegou a acordo com os sauditas do Al-Shabab.
    Um dos clubes mais afetados pelos pontos de interrogação e cifrões vindos do Médio Oriente, o Fulham desespera pelo fecho do mercado. Uma temporada tranquila é a nossa expectativa, mantendo o clube um excelente guarda-redes como Bernd Leno, uma dupla de médios fantástica e equilibrada (Palhinha e Reed) e jogadores como Andreas Pereira e Harry Wilson (Silva quer o galês com a confiança que o levou a somar 20 assistências há dois anos) podem sempre fazer a diferença, estando em vias de acontecer um negócio com Adama Traoré, o extremo velocista com óleo de bebé nos bíceps.

Treinador: Marco Silva
Onze-Base (4-2-3-1): Leno; Tete, Tosin, C. Bassey (Diop), A. Robinson; João Palhinha, H. Reed; Harry Wilson, Andreas Pereira, Willian; Mitrovic (Raúl Jiménez, Carlos Vinícius)

Atenção a: João Palhinha, Aleksandr Mitrovic, Bernd Leno, Harry Wilson, Andreas Pereira

 CRYSTAL PALACE (13)

    Se ao ver o West Ham será estranho não ver Declan Rice, ver um jogo do Crystal Palace e não descobrir Wilfried Zaha (uma vida inteira nos eagles) na asa esquerda será certamente desconcertante.
    Novamente com Roy Hodgson (75 anos) no comando técnico, o clube londrino tem "meio da tabela" escrito na testa, podendo oscilar em sentido ascendente ou descendente um par de posições de acordo com o desfecho do dossier Olise - o extremo francês tem pretendentes mas está atualmente lesionado, o que pode contribuir para o adiar de uma transferência para um colosso, algo que acabará por acontecer mais cedo ou mais tarde.
    A rigidez do usual 4-3-3 deve dar lugar a um marcado 4-2-3-1 possibilitado pela aquisição de Lerma. O colombiano ex-Bournemouth é um reforço muito relevante, quer pela forma como ajudará Doucouré em tarefas defensivas, quer pela forma como essa dupla libertará por completo o mágico Ebe Eze, com o 10 à beira de "explodir" no futebol inglês, podendo facilmente tornar-se o melhor jogador fora dos grandes emblemas, estatuto que pertenceu durante algum tempo a James Maddison.
    Hodgson prefere Johnstone a Guaita, a defesa mantém-se a 100% e Andersen-Guéhi é uma dupla de qualidade certificada. Veremos quanto tempo precisa Matheus França para se ambientar e entrar no ritmo da Premier, e os adeptos torcerão para que entre Édouard e Mateta um deles embale em termos de golos. 

Treinador: Roy Hodgson
Onze-Base (4-2-3-1): Johnstone; Joel Ward, J. Andersen, Guéhi, Mitchell; Doucouré, Lerma; Olise (Ahamada), Eze, Matheus França; Edouard

Atenção a: Eberechi Eze, Michael Olise, Cheick Doucouré, Odsonne Édouard, Matheus França

 BURNLEY (14)

    O Burnley de Vincent Kompany (exímio comunicador e um líder nato capaz de inspirar os seus, homem de poucas horas de sono e obcecado pelo seu trabalho) passeou no Championship, fechando a época com 101 pontos. Madrugador na pré-época - ainda não tinha sido jogada a final da Liga dos Campeões e já os clarets estavam em exames médicos e estágio - o Burnley surgirá nesta Premier League irreconhecível para os mais desatentos, que podem pensar que este Burnley permanece aquela equipa limitada, ultra defensiva e fortemente orientada para o jogo direto. Kompany operou uma mudança de 180 graus e o Burnley é hoje uma equipa fluida, com jogadores polivalentes e capazes de interpretar várias posições. O ataque é dinâmico e pouco estático e os defesas têm que saber sair a jogar com confiança e qualidade. Kompany é pupilo de Guardiola, e isso vê-se em campo.
    A supremacia no segundo escalão deixou-nos inicialmente convictos que este Burnley seria capaz de disputar lugares com o West Ham, Crystal Palace, Brentford e Fulham a meio da tabela, mas o defeso tem deixado algo a desejar. Primeiro, o clube não conseguiu garantir em definitivo jogadores fulcrais que estavam apenas emprestados (Maatsen convenceu Pochettino no Chelsea, o Southampton não libertou Nathan Tella, máximo goleador deste Burnley na época passada, e mesmo Harwood-Bellis, que ainda não definiu o seu futuro até à data, atraiu maior nº de interessados ao capitanear a seleção inglesa campeã europeia de Sub-21).
    Pela positiva, Kompany recebeu Beyer (central muito elegante em posse) em definitivo, encontrou em Amdouni um avançado muito mais interessante do que aqueles que serviram a equipa no Championship, Berge é um fantástico complemento para Cullen e o guardião James Trafford chega em altas depois de ser um dos destaques do Euro Sub-21, mas terá que destronar Muric. Em paralelo, as aquisições em simultâneo de Redmond e Townsend deixam-nos de pé atrás por parecer que o Burnley está a tentar muitas coisas ao mesmo tempo, e o balneário pode ressentir-se.
    Não há Tella ou Maatsen como gostaríamos mas há Josh Brownhill, o jogador mais completo e peça central em todo o jogo dos clarets, e nos flancos a vertigem de Zaroury e as diagonais da direita para o centro de Manuel Benson podem marcar esta Premier League.

Treinador: Vincent Kompany
Onze-Base (4-2-3-1): Trafford (Muric); Roberts, O'Shea, Beyer, C. Taylor; Cullen, Berge; Manuel Benson, Brownhill, Zaroury; Amdouni

Atenção a: Josh Brownhill, Manuel Benson, Zeki Amdouni, Anass Zaroury, James Trafford

 BOURNEMOUTH (15)
    Quando soubemos que o Bournemouth tinha despedido Gary O'Neil, o homem que salvou uma equipa que parecia mais do que condenada à descida, a primeira sensação foi de ingratidão e injustiça. O futebol é duro e os timings importam e, com frieza, Andoni Iraola tem de facto potencial para elevar o projeto para outros voos. O ex-Rayo Vallecano, outrora um defesa direito com mais de 500 jogos pelo Athletic Bilbao, colocou a sua anterior equipa em 11.º e 12.º da La Liga, valorizando e muito jogadores como Isi Palazón, Fran García e Álvaro García.
    Os cherries reúnem um lote de jogadores pontuado pela juventude, e há matéria-prima para Iraola singrar num campeonato que tem sido de boa memória para os compatriotas Pep, Arteta e Emery.
    Temos poucas dúvidas que o Bournemouth se tornará uma equipa bem mais entusiasmante e apelativa, contagiante mesmo, do que a sua recente versão de 22/ 23, mas muita atenção ao calendário, que na Premier mais do que em qualquer outro campeonato pode realmente fazer a diferença no trajeto de jogadores e treinadores: nas primeiras 7 jornadas, o Bournemouth enfrentará Liverpool, Tottenham, Chelsea, Brighton e Arsenal. Recomenda-se portanto que o clube avalie bem a potencial evolução e assimilação da identidade que Iraola quer implementar, mesmo que - como é esperado - os resultados demorem a aparecer.
    Milos Kerkez, o alvo prioritário do Benfica para substituir Grimaldo, é uma das caras novas, e as nossas maiores expectativas recaem sobre Dango Ouattara, que nos primeiros meses de Premier foi uma sombra do que apresentara no Lorient, e Alex Scott, médio ex-Bristol City que já foi elogiado por Guardiola e que era o grande talento jovem do Championship. Brooks quer recuperar o tempo perdido, Christie e Rothwell parecem ter entrado bem no que o treinador quer, uma dupla Senesi-Zabarnyi é boa no papel, e de jogadores como Billing e Solanke já se sabe aquilo com que se pode contar. Justin Kluivert é o jóker deste plantel.

Treinador: Andoni Iraola
Onze-Base (4-3-3): Neto; Aarons, Senesi, Zabarnyi (Kelly), Kerkez; Traorè, Billing, Alex Scott; Dango Ouattara, Brooks (Tavernier, Kluivert), Solanke

Atenção a: Philip Billing, Alex Scott, Dango Ouattara, Milos Kerkez, David Brooks

 EVERTON (16)

   O primeiro dos sobreviventes (17.º classificado em 2022/ 23) pode esperar novamente muito sofrimento e muita análise comparativa aos mais vulneráveis candidatos à descida nas derradeiras jornadas. O Everton entra nesta nova campanha pela primeira vez com Sean Dyche desde o momento zero, e esse fator é-nos suficiente por si só para não deixar os toffees ir ao fundo.
    O clube está apertado financeiramente, e esta é a última temporada no fervoroso e clássico Goodison Park. Teremos despedida em festa ou inauguração do Everton Stadium (52 mil lugares, enquanto que o atual recinto leva 39 mil) em depressão no Championship?
    Um 4-5-1 compacto deve ser a principal arma de Dyche, que contará com o eterno Pickford a comandar uma linha defensiva na qual Tarkowski foi promovido a capitão. Aos 38 anos, Ashley Young traz muita experiência mas não poderá jogar os jogos todos, e o meio-campo com Onana, Doucouré e Gana Gueye continuará a ser osso duro de roer. Equipa guerreira mas "amarrada" confiará a Iwobi e McNeil as doses moderadas e ocasionais de criatividade, sendo previsível que Danjuma (camisola 10) acabe a funcionar muitas vezes como avançado centro se Calvert-Lewin voltar a acumular lesões. Chermiti, verde mas de perfil aproximado a DCL, terá uma palavra a dizer.
    O "fator Sean Dyche", sinónimo de algumas clean sheets e de muitos empates "chatos", e a personalidade de vários elementos levam-nos a acreditar na manutenção. Tudo indica que os toffees serão uma equipa incómoda de defrontar e com jogos maioritariamente desagradáveis de assistir. Se Dele Alli renascer depois da entrevista que deu a Gary Neville, teríamos aqui uma das histórias da temporada! 

Treinador: Sean Dyche
Onze-Base (4-5-1): Pickford; Patterson, Tarkowski, Godfrey (Keane), A. Young; Iwobi, Onana, Gueye, A. Doucouré, McNeil; Calvert-Lewin (Danjuma)

Atenção a: Jordan Pickford, Arnaut Danjuma, James Tarkowski, Amadou Onana, Dwight McNeil

 NOTTINGHAM FOREST (17)


    O Nottingham Forest está ligeiramente mais fraco. Depois do brutal investimento da época passada (195 milhões gastos e um batalhão infindável de jogadores adquiridos), o Forest acalmou. O cumprimento do FFP assim obriga os reds, que deixaram de ter na baliza o seu porto seguro chamado Keylor Navas e à esquerda Renan Lodi, elemento de suprema consistência.
    À parte disso, Steve Cooper continua a ter essencialmente o mesmo grupo, impondo-se que Marinakis rejeite todas as abordagens por Brennan Johnson, um dos poucos jogadores realmente especiais no plantel. Os adeptos torcerão para que Awoniyi comece a temporada num momento de forma idêntico ao apresentado nas jornadas finais da Premier League 22/ 23, e quem tem Gibbs-White e Danilo tem boa ligação entre setores garantida.
    Caberá ao sueco Anthony Elanga mostrar que o Manchester United cometeu um erro ao aceitar vendê-lo, faltando porém perceber se a chegada do ex-red devil foi pensada numa antecipação à eventual saída de Johnson, se Cooper pondera mudar para uma espécie de 4-2-3-1 ou se Gibbs-White recuará uns metros no terreno para deixar Brennan e Elanga no apoio a Awoniyi.
    Embora o clube da terra natal do Robin Hood apresente qualidade em quase todos os setores, no momento atual estamos desconfiados deste Forest. Podemos estar errados mas o destino mais certo nas circunstâncias presentes será uma classificação entre 16.º e 19.º. 

Treinador: Steve Cooper
Onze-Base (3-4-2-1): Turner; Worrall, Boly, McKenna; Aurier, Danilo, Gibbs-White, Aina; Elanga, Brennan Johnson; Awoniyi

Atenção a: Brennan Johnson, Morgan Gibbs-White, Taiwo Awoniyi, Anthony Elanga, Danilo

 WOLVES (18)

    Nunca é bom sinal quando um clube e o seu treinador seguem caminhos distintos a 3 dias da competição arrancar oficialmente. A falta de reforços levou Julen Lopetegui a fazer o raio-X que está à vista de todos: o "bater com a porta" do espanhol, acostumado a ver satisfeitos os seus caprichos nas janelas de transferências, surgiu numa fase em que os wolves manifestam sinais idênticos aos que conduziram Leicester, Southampton e Leeds a (pelo menos) um ano de castigo na segunda divisão.
    Claramente a apresentar os sintomas de abstinência, já vistos noutros clubes, de quando um super-empresário deixa de "alimentar" um projeto com o mesmo foco e interesse, o Wolves escolheu Gary O'Neil como sucessor, e o ex-Bournemouth tentará operar novo milagre, iniciando funções praticamente no dia 1 da temporada oficial, herdando um plantel sobre o qual só poderá opinar nestas últimas semanas de Agosto. 
    O Wolves tarda em apresentar verdadeiros reforços, tendo já perdido jogadores relevantes, nuns casos pelo surgir de propostas irrecusáveis (Rúben Neves mudou-se para o Al-Hilal a troco de 55 milhões, Collins foi para o Brentford por 27 milhões), noutros pela deficiente análise do potencial dos jogadores (Ryan Giles tem tudo para brilhar no Luton, e Hoever foi emprestado ao Stoke mas tinha lugar neste plantel), acrescentando-se ainda a transferência por valores modestos de Raúl Jiménez para o Fulham. Os problemas de tesouraria apertam aquele que ainda é o clube mais português da Premier League, e a solução de recurso para salvar este Wolverhampton podem ser alguns empréstimos bem ponderados.
    A equipa não conta com a veterania e liderança de Moutinho ou Coady mas com certeza continua a ter qualidade: Matheus Nunes e Max Kilman destacam-se dos demais. Ou em 4-3-3 ou em 4-4-2, na turma laranja deveremos ver o regressado Doherty a encostar Semedo. Matheus, João Gomes e Lemina ou Boubacar Traoré garantem um meio-campo musculado e intenso, mas pode faltar golo a esta equipa, que pagou uns muito exagerados 50M por Matheus Cunha, ainda não estando decidido se Fábio Silva fica, e sendo importante não esquecer o gigante Sasa Kalajdzic, que em 22/ 23 esteve toda a época afastado com uma grave lesão.
    Há qualidade mas estão à tona muitos indicadores que nos levam a crer que esta será uma equipa prestes a viver um limbo perigoso, realizando no fundo duas pré-épocas e esperando-se que lute pela sobrevivência até ao derradeiro apito final.

Treinador: Gary O'Neil
Onze-Base (4-3-3): José Sá; Doherty, Dawson, Kilman, Aït-Nouri; Lemina, Matheus Nunes, João Gomes; Sarabia (Podence), Pedro Neto, Matheus Cunha (Kalajdzic)

Atenção a: Matheus Nunes, Max Kilman, João Gomes, Matheus Cunha, Matt Doherty

 LUTON TOWN (19)

    Mal podemos esperar para ver os mais endinheirados emblemas da Premier League e os jogadores mais conhecidos do planeta a entrar em campo no mítico reduto de Kenilworth Road. O estádio paredes meias com as casas dos locais promete proporcionar uma experiência única (a bancada Oak já foi notícia mas sê-lo-á muito mais quando o Luton tiver o seu primeiro jogo em casa), e na verdade a grande força do Luton Town nesta Premier terá que estar na capacidade de fazer do seu modesto (pouco mais de 10 mil lugares) mas inusitado e desconfortável estádio a sua fortaleza de pontos.
    Os vencedores do Play-Off em Wembley, deixando para trás o Coventry no desempate por grandes penalidades, chegam à primeira divisão 31 anos depois da última vez, com a particularidade dessa temporada de 91/ 92 ter sido a última antes da competição adotar a designação de Premier League.
    Rob Edwards comanda a equipa, depois de substituir Nathan Jones quando este iniciou uma aventura desastrosa no Southampton, e o seu 3-5-2 poderá ser bem mais complicado de contrariar do que o sistema do Sheffield United, por exemplo. O capitão e central goleador na Hora H, o galês Tom Lockyer, é um dos símbolos num elenco em que Marvelous Nakamba (existe algum jogador de futebol com um nome melhor?) encaixou que nem uma luva, onde Pelly-Ruddock Mpanzu é história sem igual, tendo representado o Luton em 5 escalões distintos, e que tem agora Ross Barkley como contratação surpresa. O ex-Everton e Nice nunca mais foi o mesmo, mas o sistema e o estatuto especial podem "acordá-lo", embora não acreditemos muito nisso. 
    Os golos virão de Carlton Morris, secundado pelo poderoso Adebayo ou pelo reforço Ogbene, e a fonte de dinâmica e desequilíbrio serão sem duvidas os dois alas - o esquerdino Ryan Giles foi durante 2 anos seguidos, no Cardiff e no Middlesbrough, um dos jogadores com mais oportunidades criadas no Championship, e Kaboré não "rebentou" nas duas experiências por empréstimo na Ligue 1, mas aos 22 anos ainda vai mais do que a tempo de ser tudo aquilo que prometeu na CAN de 2021, certame em que foi eleito melhor jogador jovem.

Treinador: Rob Edwards
Onze-Base (3-5-2): Kaminski; Andersen, Lockyer, Bell; Kaboré, Mpanzu, Nakamba, Barkley, Ryan Giles; Adebayo (Ogbene), Carlton Morris

Atenção a: Carlton Morris, Ryan Giles, Issa Kaboré, Elijah Adebayo, Thomas Kaminski

 SHEFFIELD UNITED (20)

    Não nos parece que o recorde negativo de pontos da Premier League (Derby County com 11 pts em 2007/ 08) esteja em risco, mas com o aproximar do arranque oficial da temporada fica mais e mais difícil encontrar argumentos a favor da manutenção do Sheffield United. É pouco comum uma equipa promovida em Inglaterra surgir na divisão acima com pior plantel do que aquele que apresentara meses antes.
    Os blades estão acostumados ao carimbo de clube ioiô, alternando épocas excelentes no Championship com performances para esquecer no nível acima. A equipa de Paul Heckingbottom ficou em segundo lugar, garantindo a promoção automática, e 91 pontos não são coisa pouca. Mas além deste plantel estar formatado para competir estoicamente apenas na dura Liga de 24 equipas e 46 jornadas, acusando a transição, a saída do verdadeiro talismã da equipa acaba por ditar esta condenação ao 20.º lugar como previsão. O senegalês Iliman Ndiaye (para muitos adeptos do clube, o melhor jogador que alguma vez vestiu a camisola do United) era a luz da equipa, um elemento verdadeiramente especial no drible, na energia e na aceleração. Ndiaye terminava contrato em 2024 e o clube rendeu-se, negociando a sua transferência para o Marselha, clube do coração do jogador, por 17 milhões de euros. Um final de ligação agridoce, fatal golpe na esperança dos adeptos e na moral da equipa, que porventura teria beneficiado a longo-prazo de ter uma época de Ndiaye na Premier, mesmo perdendo depois o craque a custo zero.
    Num inabalável 3-5-2, menos arriscado do que a versão dos tempos de Chris Wilder, o Sheffield United promete muita luta, podendo apresentar à nata do futebol inglês um dos centrais mais interessantes da atualidade, o bósnio Anel Ahmedhodzic. É obrigatório que ainda cheguem reforços ao Bramall Lane (Gustavo Hamer, fantástico médio do Coventry, será um reforço de sonho caso se concretize), não estando à priori Vinicius Souza à altura de Sander Berge, vendido ao Burnley. Foderingham vai ter muito para defender, Trusty e o tunisino Slimane são jogadores muito aceitáveis, Jebbison tarda em corresponder às expectativas e o reforço Bénie Traoré (ótimas indicações no campeonato sueco ao serviço do Hacken) terá a árdua tarefa de fazer esquecer o jogador que fazia a cidade acreditar.

Treinador: Paul Heckingbottom
Onze-Base (3-5-2): Foderingham; Ahmedhodzic, Egan, Trusty; Baldock, V. Souza, Norwood, Slimane, Lowe; Bénie Traoré, McBurnie

Atenção a: Anel Ahmedhodzic, Bénie Traoré, Auston Trusty, Anis Ben Slimane, Oliver Norwood

Antevisão da Liga Portugal Betclic 2023/ 24

   Liga Portugal Betclic Tudo novamente. Terminada a Jornada Mundial da Juventude, as jornadas passam agora a ser outras, numa história de 34 capítulos até conhecer o campeão nacional da temporada 2023/ 24.
    Sem um Mundial a interromper e com o Euro 2024 apenas como sobremesa no longínquo horizonte do próximo Verão, a Liga portuguesa (agora Betclic e não Bwin) promete emoções fortes, muita intensidade nos jogos cabeça-de-cartaz e, infelizmente, mais polémicas do que seria recomendável.

    O Benfica entra na nova época como detentor do troféu (desde 2018, Portugal tem assistido todos os anos a um campeão diferente, sem que Benfica, Porto ou Sporting consigam estabelecer-se como força dominante inequívoca) e os adeptos encarnados vão pedir bem alto o "39". Roger Schmidt não terá o impacto da novidade mas tem o benefício de, mantendo a pose calma, o sorriso descomplexado e o discurso seguro, ter ao seu dispor um grupo com rotinas criadas, órfão de Grimaldo e Gonçalo Ramos mas reforçado com craques muito acima da média para a nossa realidade, como Kökçü e o regressado Di María.
    FC Porto, Sporting de Braga e Sporting tudo farão para destronar o clube da Luz, representando esta época um marco invulgar ao transitarem de 22/ 23 os mesmos quatro treinadores. O defeso portista tem sido tímido: Sérgio Conceição perdeu Uribe em fim de contrato mas a SAD ainda não negociou qualquer transferência de jogadores à partida com mercado como Diogo Costa, Taremi e Otávio; e recebeu apenas Nico González e Fran Navarro, esperando-se continuada aposta no mercado interno.
    O Braga, por sua vez, está nitidamente mais forte - Artur Jorge deixou de contar com Iuri Medeiros e Sequeira, mas teve o plantel apetrechado com nomes como José Fonte, Rony Lopes ou Zalazar, além das passagens a título definitivo de Bruma, Niakaté e Victor Gómez.
    Entre leões, Rúben Amorim estará agradado com o clube, que atuou no mercado privilegiando qualidade a quantidade, identificando os alvos certos e negociando pacientemente até os ter. Ugarte disse adeus, mas Gyökeres e Hjulmand (a poucas horas de ser apresentado) serão amores à primeira vista dos adeptos, parecendo faltar ainda um ala direito, a não ser que Amorim o "encontre" através de uma adaptação de quem já tem nas suas fileiras.

    A estabilidade e a saúde do Top4 deixam antever um ainda maior acentuar da distância para o grupo dos Outros, onde anualmente as equipas-sensação se veem ou desmanteladas dos seus principais atletas ou impedidas de consolidar projeto e ideias, perdendo o treinador. Em 2023/ 24, Arouca, Desp. Chaves, Estoril, Gil Vicente, Vizela e o promovido Moreirense têm novo treinador, importando sublinhar a mudança de Vítor Campelos do Chaves para o Gil, e a escolha de Daniel Ramos como sucessor de Armando Evangelista, técnico que aproveitou a onda do seu sucesso arouquense para surfar novo desafio no Brasileirão.
    Moreirense, Farense e Estrela da Amadora (14 anos mais tarde) substituem na tabela Santa Clara, Paços de Ferreira e Marítimo. Desde 1985 que não havia uma edição da Liga portuguesa sem equipas insulares. Triste, para as companhias aéreas e para o malvado nevoeiro.

    2023/ 24 conserva muita qualidade nos relvados nacionais. Rafa, Aursnes, António Silva, Otávio, Taremi, Diogo Costa, Pedro Gonçalves ou Ricardo Horta mantêm-se todos por estes lados, tendo a Liga recebido não só 13 anos depois um dos melhores extremos do futebol mundial na última década, mas também boas novidades como Kökçü, Gyökeres, Jurásek, José Fonte, Nico González, Otso Liimatta, Ronie Carrillo, Jesús Castillo, Cristo González, Mangala e Paulo Victor.
    Como sempre, algumas transferências internas - casos de Fran Navarro, Vitor Carvalho, Adrián Marín e Ricardo Mangas - numa temporada que pode ser de afirmação para jovens valores como João Neves, Henrique Araújo, Diomande, Schjelderup, Gustavo Sá, Tiago Araújo, Kodisang e Alanzinho.

    Cabe-nos então apresentar a nossa previsão para 23/ 24, em termos de destaques coletivos e individuais, sujeita como sempre aos retoques finais do mercado de transferências, tanto a nível de entradas como de saídas:



     BENFICA (1)

    O Sport Lisboa e Benfica entra em 2023/ 24 confiante, saudável e estável. Campeão em título é, regra geral, o lógico favorito, e os encarnados querem assim o "39" festejando um bicampeonato, coisa que se tornou uma raridade na ocidental praia lusitana.
    Roger Schmidt conhece os seus jogadores, a equipa técnica tem agora um conhecimento mais aprofundado da liga portuguesa, e a abordagem deste mercado terá deixado a esmagadora maioria dos benfiquistas satisfeitos. Grimaldo e Gonçalo Ramos, 2 dos 4 melhores jogadores do Benfica na época passada, partiram para outras aventuras, mas o ucraniano Trubin (o gigante de 1,99m não deve demorar a reclamar a titularidade) é um upgrade naquela que talvez seja a posição mais importante no futebol, e Jurásek (opção 2 depois de perdida a corrida por Kerkez), jogador bem diferente de Grimaldo, tem muita margem para se soltar e acumular assistências; no meio-campo, o turco Orkun Kökçü não deveria em condições normais vir parar ao futebol português, mas felizmente veio e será o verdadeiro sucessor de Enzo Fernández; quanto a Ángel Di María, o bom filho que regressa a casa 13 anos mais tarde, é apreciar cada minuto enquanto durar o sonho. Arthur Cabral foi o avançado escolhido e, embora haja uma fina hipótese de não resultar e até perder o lugar para o super eficaz Musa, o nosso feeling é que Cabral tem o perfil que costuma fazer estragos em Portugal, conjugando força, técnica e uma combinação que pode fazer dele arma tanto contra equipas em bloco baixo como nos jogos mais complicados da época, em que o Benfica se veja a ter menos bola do que gostaria, mas mais espaço livre para explorar.
    Este é o último ano das correrias de Rafa na Luz, é o primeiro a sério do menino fenómeno João Neves, é uma temporada em que Morato deixará Otamendi descansar mais vezes, e na qual Schjelderup pode começar a mostrar que a malta do FM não se enganou sobre ele.
    O 4-2-3-1 com toda a gente a pensar o mesmo continuará a ser a disposição preferencial encarnada, muitas vezes com um dos extremos a ser na verdade um médio interior. Schmidt verá testada nos próximos meses a sua até agora incondicional fidelidade a João Mário, e em relação a António Silva (novo número 4) o melhor é começar a mentalizar que o jovem centralão, já na hierarquia de capitães, será fortemente cobiçado em 24-25. Quanto a Neres, se tudo correr como os benfiquistas esperam, voltará a provocar os seus nemesis no Instagram, possivelmente de modo menos direto e mais encriptado.
    O Benfica parte na frente, quer ser bicampeão e voltar a brilhar na Liga dos Campeões, mas o estatuto de alvo a abater e a responsabilidade das quinas de campeão serão um novo desafio.

Treinador: Roger Schmidt
Onze-Base (4-2-3-1): Trubin; Bah, António Silva, Otamendi, Jurásek; João Neves, Kökçü; Di María, Rafa, Aursnes (David Neres, João Mário); Arthur Cabral

Atenção a: Ángel Di María, Orkun Kökçu, Fredrik Aursnes, João Neves, Anatoliy Trubin

 SPORTING (2)

    Ser paciente é uma arte. O Sporting esperou muitos anos para festejar o seu tão desejado título com Rúben Amorim, e o técnico, com o suporte de Viana e Varandas, tem sabido esperar neste defeso pelo jogador certo, o alvo primordial. Em 2022/ 23, os leões falharam todos os objetivos e acabaram a Liga em 4.º lugar. Poucos jogadores se valorizaram, mas Ugarte fez o suficiente para deixar o PSG disposto a pagar 60 milhões por ele. Com esse encaixe, aliado ao pagamento formalizado de Pedro Porro por parte do Tottenham, o Sporting ganhou fundo de maneio para atacar pelo menos duas das 3 posições deficitárias: avançado centro, médio defensivo e ala direito.
    Na pré-época, Amorim fez o que qualquer bom treinador faz: experimentou sistemas, testou jogadores em posições distintas, fez casting de ativos de permanência incerta. Eduardo Quaresma aproveitou, Afonso Moreira e Catamo também, Pedro Gonçalves comprovou que é o jogador central de todo o jogo leonino, seja como médio seja mais adiantado, e Gyökeres (jogador que curiosamente nos fez assistir à transmissão de vários jogos do Coventry na época passada só para o ver, longe de imaginarmos que viria cá parar) já conquistou os adeptos.
    Com origem no 3-4-3 dos últimos anos, o Sporting terá esta temporada variantes para colocar em campo, flexibilidade permitida pelas caraterísticas do avançado sueco, que oferecerá a opção de ser o 9 acompanhado por Trincão, Edwards ou Pote, ou partindo da esquerda e abrindo assim espaço para uma boa coabitação com Paulinho, muito útil para o avançado português. A intensidade de Gyökeres a "chatear" e desgastar os defesas será tónico essencial na pressão leonina, podendo Alvalade festejar a sociedade em desenvolvimento Viktor & Pedro, e desesperar por maior regularidade de Trincão e Edwards.
    A iminente chegada do dinamarquês Hjulmand (jogador combativo, que muito facilmente recorre ao carrinho para desarmar, com grande raio de ação, mais parecido com Palhinha do que com Ugarte) corrigirá a mais evidente lacuna, e o jogador do Lecce, à imagem de Gyökeres, deverá fazer brotar da parte dos adeptos amor à primeira vista ou, neste caso, ao primeiro jogo.
    Temos as nossas dúvidas quanto aos três centrais que serão titulares (Inácio é o mais indiscutível, e Diomande deve afirmar-se), só vemos Catamo e Afonso Moreira com chances de retirar Esgaio da sua posição caso não chegue nenhum ala, e Nuno Santos pode estar a caminho da sua melhor época de leão ao peito.
    O mais seguro seria apostar Porto em segundo, mas a grande dor de cabeça que este Sporting atualizado pode ser nos confrontos diretos entre ambos levam-nos a dar uma marginal e se calhar injustificada vantagem ao clube lisboeta.

Treinador: Rúben Amorim
Onze-Base (3-4-3): Adán; Diomande, Coates, Gonçalo Inácio; Esgaio, Morita, Pedro Gonçalves, Nuno Santos; Edwards, Gyökeres, Trincão

Atenção a: Pedro Gonçalves, Viktor Gyökeres, Nuno Santos, Marcus Edwards, Ousmane Diomande

 PORTO (3)

    Sabemos que o FC Porto vai complicar a vida ao Benfica, dê por onde der. Sabemos que Sérgio Conceição vai encontrar soluções dentro de casa caso perca jogadores-chave. Sabemos que, nos jogos grandes, os azuis e brancos vão entrar com uma intensidade capaz de esbater quaisquer distâncias que possam existir a nível qualitativo.
    Os dragões começaram a época oficial com uma derrota custosa na Supertaça, com Pepe a fazer das suas e Sérgio Conceição a oferecer-nos novo tesourinho deprimente e a bater recordes de vergonha alheia. Mas aqueles primeiros 20 minutos de jogo captam bem tudo o que o Porto pode ser este ano: versatilidade tática, supremacia física e de atitude, trabalho de casa bem feito.
    Ao contrário dos rivais Benfica e Sporting, que têm vendido os seus maiores trunfos a bom preço, o Porto não tem vendido. Duvidamos que o clube seja capaz de segurar simultaneamente Taremi, Diogo Costa e Otávio, e a venda tardia de algum destes elementos terá que ser colmatada em tempo recorde, estando teoricamente alinhavados alguns alvos no mercado interno (Iván Jaime, Costinha, Guga e Onyemaechi foram associados).
    O Porto perdeu Uribe a custo zero e ganhou Nico González e Fran Navarro. Se ninguém sair, e ainda entrar pelo menos Alan Varela (claramente um jogador à Porto), escusado será dizer que os azuis e brancos partirão mais fortes. Otávio deve ficar, mas é provável que entre o melhor guarda-redes da Liga e o avançado mais completo, um deles saia nos próximos vinte dias. E sim, a dupla de centrais continua com 40 e 36 anos até ao dia em que David Carmo passe de Flop a Most Improved Player.
    O sempre complicado e flutuante 4-4-2 para 4-3-3 continuará, e não teria lógica mudar algo que tem resultado, mérito do treinador e em particular de jogadores como Otávio e Pepê; quem quiser ser campeão terá que igualar a energia, o crer e o querer de um forte candidato que achamos que ainda poderá ficar enfraquecido, fortalecendo-se logo depois com jogadores que podem demorar a convencer Conceição.
     

Treinador: Sérgio Conceição
Onze-Base (4-4-2): Diogo Costa; Pepê, Pepe, Marcano, Zaidu; Otávio, Nico González, Eustáquio, Galeno; Taremi, Fran Navarro

Atenção a: Otávio, Mehdi Taremi, Pepê, Diogo Costa, Fran Navarro

 BRAGA (4)

     O Sporting de Braga foi terceiro, e não duvidamos que consiga repetir o feito ou até mesmo, quem sabe, terminar em segundo lugar. Os arsenalistas têm algo que os vem distinguindo dos 3 tradicionais "grandes" - não há nenhuma outra equipa em Portugal, com jogadores bastante acima da média, em que o diferencial qualitativo entre as primeiras opções e as respetivas alternativas do banco seja tão pequeno. Isto acontece porque há bom planeamento, porque há vontade de manter um balneário em harmonia e sempre pronto a ir a jogo, e ao contrário do Sporting e FC Porto, e mesmo no Benfica isso também se aplica em algumas posições, quando há lesões no Braga, a equipa raramente acusa e segue em frente.
    Com a perspetiva viva de entrar na fase de grupos da Liga dos Campeões (o encaixe financeiro seria incrível, faltando ultrapassar Marselha ou Panathinaikos), os guerreiros do Minho estão prontos para competir em todas as frentes e estão mais fortes do que há um ano, notável se tivermos em conta que o clube chegou aos 78 pontos.
    Apenas sem Iuri Medeiros e Sequeira, mas reforçado com José Fonte, Rony Lopes, Rodrigo Zalazar, Vítor Carvalho e Adrián Marín, mais o exercer das opções em definitivo por Bruma, Niakaté e Victor Gómez, o Braga está nisto para ganhar ou, no mínimo, para se manter na luta pelo título até ao fim.
    Artur Jorge já mostrou que tem mais do que capacidade para fazer deste Braga uma equipa de futebol de encher o olho, e será essencial que na "liguilha" entre os 4 principais emblemas, o Braga consiga somar mais pontos e não acabar inclusive ocasionalmente goleado.
    Ricardo Horta é um dos melhores jogadores da Liga, Bruma entrou nesta época a todo o gás e é um dos elementos mais imprevisíveis em lances de 1 para 1 em Portugal, poder alternar entre Abel Ruiz e Banza é um luxo, Al Musrati é um dos melhores médios defensivos que por cá anda, e o mesmo se pode dizer sobre Matheus entre os postes.
    Vemos o Sporting de Braga mais forte, mas a tendência para vacilar nos jogos grandes, quando a distância do Top 4 para o resto se acentua a cada ano, é o que nos faz relegar o Braga para o posto mais baixo dos... 4 grandes.

Treinador: Artur Jorge
Onze-Base (4-4-2): Matheus; Victor Gómez, José Fonte, Niakaté, Adrián Marín; Zalazar (Rony Lopes, Pizzi), Al Musrati, André Horta, Bruma; Ricardo Horta, Abel Ruiz (Banza)

Atenção a: Ricardo Horta, Bruma, Al Musrati, Abel Ruiz, Niakaté

 FAMALICÃO (5)

    Uma vez mais, João Pedro Sousa tem a juventude em ebulição a querer apresentar-se ao futebol português. Vila Nova de Famalicão teve nos últimos anos Pedro Gonçalves, Ugarte, Simon Banza, Fábio Martins, Nehuén Pérez ou Toni Martínez; Penetra foi o último a proporcionar uma transferência simpática, mudando-se para o AZ da Eredivisie, e o mágico espanhol Iván Jaime ainda é um jackpot por acontecer neste defeso, em princípio rumo ao FC Porto ou ao futebol espanhol. Ivo Rodrigues também saiu, embora a custo zero, para a Arábia Saudita.
    O Arouca é uma verdadeira equipa, o Estoril apresenta soluções para todos os gostos e o Vitória deu provas com Moreno que defende com rigor, mas em talento puro nenhum desses candidatos ao 5º lugar se compara ao Famalicão.
    Os famalicenses, que têm os miúdos campeões nacionais de juniores para lançar caso seja oportuno, têm um grande guarda-redes (Luiz Júnior) e na defesa Nathan é muito bem-vindo de regresso ao futebol luso depois de boa passagem pelo Boavista, e Otávio (tremendo potencial físico, faltando apenas corrigir algumas falhas episódicas de concentração) vai realizar desta feita a sua primeira época completa na equipa principal do clube. Youssouf e Gustavo Assunção dispensam apresentações, e Gustavo Sá brilhou no Euro Sub-19, fazendo sentido que o Famalicão o segure e JP Sousa aposte nele como terceiro médio/ jogador nas costas do avançado. Tudo leva a crer que Iván Jaime já está com a cabeça noutras paragens, o que abrirá espaço para Puma Rodríguez e Dobre (o romeno dá a sensação que, se engatar, pode virar muitos jogos do campeonato do avesso). Mas atenção, o substituto direto de I. Jaime é o pequeno finlandês Otso Liimatta, um esquerdino muito especial mas que pode necessitar de algum tempo para se adaptar a esta nova realidade.
    Cádiz e Pablo que nos perdoem, mas na frente esta é a época de Henrique Araújo. O avançado emprestado pelo Benfica está com 21 anos, terá colegas a servi-lo com qualidade e por isso a fasquia de exigência tem que ser colocada nos 15 golos.
    Acompanhem este Famalicão, porque o futuro do futebol português passa pelas botas de alguns destes intérpretes.

Treinador: João Pedro Sousa
Onze-Base (4-3-3): Luiz Júnior; Nathan, Riccieli, Otávio, Francisco Moura; Z. Youssouf, Gustavo Assunção (Topic), Gustavo Sá; Puma Rodríguez (Dobre), Iván Jaime (Liimatta), Henrique Araújo 

Atenção a: Henrique Araújo, Luiz Júnior, Gustavo Sá, Alex Dobre, Otso Liimatta

 AROUCA (6)

    Dá gosto ver este Arouca a tomar decisões e a crescer. Eleito nos nossos Prémios BPF de fim de época a "equipa sensação" de 22/ 23, o Arouca ficou sem treinador, sem o capitão/ patrão da defesa e sem um dos seus jogadores mais fortes a desequilibrar, mas mesmo assim continuamos a acreditar que os arouquenses têm condições para repetir o 5.º ou ficar um ou dois lugares abaixo.
    Armando Evangelista aproveitou a sua justificada valorização e cruzou o Oceano Atlântico para treinar o Goiás no Brasileirão. Daniel Ramos recebeu uma herança pesada, mas os bons trabalhos que desenvolveu sobretudo nos clubes insulares (Marítimo primeiro e Santa Clara mais tarde) fazem dele, julgamos, o homem certo no lugar certo. As suas equipas costumam caraterizar-se pelo pragmatismo, com boa tomada de decisão e critério e poucos toques até chegar à grande área adversária - e curiosamente era mesmo assim o Arouca com Evangelista.
    Não há João Basso (muita gente ficou a dormir e lá foi ele para o Santos) e não há Antony, mas o especialista em defender grandes penalidades de Arruabarrena continua, e um craque silencioso como Morlaye Sylla também passou despercebido até agora, para gáudio do clube de Aveiro. Entre os reforços, Kouassi (2ª passagem pelo clube) e Jason Remeseiro (mais de 100 jogos na liga espanhola) têm entrada direta no onze, mas quem mais nos chamou a atenção foi mesmo Cristo González. O avançado formado no Castilla, que pode dizer aos netos que marcou 1 golo pela equipa principal do Real Madrid, tem fama de party boy mas, se estiver com a cabeça limpa e comprometido com a causa, pode ser um dos grandes reforços deste campeonato. As primeiras semanas têm mostrado um bonito entendimento entre Cristo e Mújica, uma dupla espanhola que pode tornar-se mais e mais conhecida à medida que o tempo passe.

Treinador: Daniel Ramos
Onze-Base (4-4-2): de Arruabarrena; Tiago Esgaio, Opoku, Galovic, Mateus Quaresma; Kouassi, David Simão, Sylla, Jason; Cristo González, Mújica

Atenção a: de Arruabarrena, Morlaye Sylla, Cristo González, Rafa Mújica, Mateus Quaresma

 ESTORIL (7)

    No espaço de meses, o clube da Linha mudou muito. Álvaro Pacheco, o homem da boina, foi o escolhido para substituir Ricardo Soares e o 11 inicial canarinho já não conta com Tiago Santos (brilhante futuro, pode singrar no Lille de Paulo Fonseca), Francisco Geraldes, João Carvalho, Joãozinho ou Tiago Gouveia.
    Na esquematização do novo plantel, o Estoril esteve bem ao premiar jogadores com bom rendimento na sua equipa de Sub-23, numa Liga Revelação que o clube tem aproveitado ano após ano. O central Volnei e os médios neerlandeses Finn Dicke e Ivan Pavlic surgem na primeira equipa nesse contexto.
    Pacheco terá ao seu dispor um leque de opções com maior qualidade do que aquele que tinha em Vizela, e o mais importante será rapidamente estabilizar um 11 base e conseguir criar uma equipa (o coletivo sempre foi o valor mais importante nos seus vários anos no distrito de Braga). Competição não faltará: se os laterais parecem ser Raúl Parra e Tiago Araújo, para o centro da defesa há a hipótese de manter Vital e Álvaro ou privilegiar os recém-chegados Cabaco (o uruguaio tem bastantes jogos de La Liga no CV) e Mangala (duvidamos da sua condição física, mas se estiver bem é um reforço incrível e até há pouco tempo completamente impensável). A nossa aposta? Um misto, com Bernardo Vital e Cabaco. No meio-campo, dá para aproveitar as rotinas de Dicke e Pavlic, mas Guitane é um jogador requintado, Holsgrove foi o único jogador além de Gaitán a marcar pontos no Paços de Ferreira, Mor Ndiaye tem um perfil que mais ninguém tem no plantel, e mesmo João Marques pode entrar nas contas.
    Na frente, Rodrigo Gomes foi emprestado pelo Braga, mas o mais certo é Heriberto e Rodrigo Martins assumirem os flancos. Alejandro Marqués tem obrigação de fazer mais neste segundo ano em Portugal, caso contrário perderá o lugar para Cassiano.
    Sejam pacientes com este Estoril, e o tempo pode traduzir-se numa das equipas mais ágeis e fortes em transição desta Liga Portugal Betclic.

Treinador: Álvaro Pacheco
Onze-Base (4-3-3): Dani Figueira; Raúl Parra, Bernardo Vital (Mangala), Cabaco, Tiago Araújo; Finn Dicke, Ndiaye (João Marques), Pavlic; Heriberto Tavares, Rodrigo Martins, A. Marqués

Atenção a: Tiago Araújo, Alejandro Marqués, Erick Cabaco, Finn Dicke, Heriberto Tavares

 VIT. GUIMARÃES (8)

    É sempre um duro revés quando, num par de jogos, uma equipa deita logo por terra um dos objetivos da temporada. Sexto classificado na Liga Bwin, o Vitória queria chegar à fase de grupos da Liga Conferência e a vitória como visitante por 4-3 no terreno dos eslovenos do Celje dava a entender que a cruzada europeia estava bem encaminhada. No entanto, os vitorianos não marcaram qualquer golo na cidade berço e acabaram eliminados nas grandes penalidades. O intenso público de Guimarães tem rédea curta e Moreno iniciará a época pressionado e com reduzida margem de erro.
    No balanço entre saídas e entradas, o Vitória deve aos adeptos e a si mesmo algum investimento se quiser lutar novamente por uma qualificação europeia. Bamba e André Amaro saíram ambos para o Qatar, por 9 e 8,5 milhões respetivamente, e Anderson Silva (avançado forte a sair do banco) abraçou uma nova experiência no futebol turco. O Vitória pagou 1 milhão para fazer de Ricardo Mangas o novo dono do corredor esquerdo, tendo o azar do ex-Boavista se lesionar na pré-época, e teve olho ao atrair a custo zero João Mendes, Nuno Santos e Tomás Ribeiro, vendo ainda algum potencial no que Butzke apresentou ao serviço do Paços de Ferreira e convencendo Telmo Arcanjo, Jovem Jogador do Ano na Liga SABSEG, que o Estádio D. Afonso Henriques será o palco certo para espalhar a sua classe.
    Não colocamos o Vitória nas posições de "equipa sensação" (habituais 5.º, 6.º e 7.º) mas Moreno sabe colocar esta equipa a defender, e não hesitará em lançar jovens da formação se sentir que estão preparados.
    Esperar por dois ou três excedentários dos "grandes" podia ajudar. Boas prestações defensivas deverão ser suficientes para segurar vários 1-0, mas por não vermos muitos jogadores capazes de passar os 5 golos/ época, colocamos este Vitória, o clube dos Silvas, duas posições abaixo do ano passado e 3 abaixo do seu objetivo.

Treinador: Moreno
Onze-Base (3-5-2): Bruno Varela; Tounkara, Tomás Ribeiro, Villanueva; Maga, Dani Silva, João Mendes, Tiago Silva, Afonso Freitas (Mangas); Jota Silva, André Silva 

Atenção a: André Silva, Jota Silva, Ricardo Mangas, João Mendes, Dani Silva

 GIL VICENTE (9)

    O Gil foi 5.º há duas épocas com Pedrinho e Samuel Lino sob orientação de Ricardo Soares. A aposta em Ivo Vieira não correu bem, mas o substituto Daniel Sousa acabou por realizar um trabalho positivo. O jovem técnico de 38 anos não continuou em Barcelos, mas o clube acabou por aproveitar e bem o falhanço na mudança de Vítor Campelos para o Championship, para treinar o Cardiff, acolhendo assim o treinador que vem de uma época muito acima das expectativas ao colocar o Desportivo de Chaves em 7.º e com 46 pontos.
    Clube cada vez mais mentalizado para o facto de jogador valorizado ser jogador perdido, o Gil Vicente vendeu o seu goleador Fran Navarro ao FC Porto, chegando ainda a entendimento com o Sporting de Braga para a transação dos passes de Vítor Carvalho e Adrián Marín. Tomás Araújo, após excelente empréstimo, regressou à Luz, e o georgiano Aburjania fez as malas para a Turquia. Visto de uma forma simplista, como resposta, o Gil Vicente precisava de encontrar um novo número 9, um novo centrocampista agressivo e intenso, renovando ainda 50% da linha defensiva titular.
    Ora, além de manter jogadores importantes como Andrew, Zé Carlos, Kanya Fujimoto (será este o ano dele?) e Murilo, os gilistas investiram uma soma conjunta de 1 milhão e 200 mil euros para encontrar o seu novo médio e a sua renovada esperança de fazer balançar as redes contrárias. O peruano Jesús Castillo (22 anos) é um elemento em que está depositada muita confiança, e o croata Roko Baturina, irmão mais velho do prodigioso Martin Baturina, procura a melhor época da sua carreira, sendo interessante constatar quão diferente é o seu perfil em comparação com o antecessor, Fran Navarro. Caso Baturina falhe na adaptação ao nosso campeonato, Alipour e Miguel Monteiro, jovem da casa, estarão à espreita.
    Com plantel com margem para crescer, o Gil Vicente recorreu ainda aos empréstimos para colmatar lacunas. Martim Neto é a jovem águia emprestada nesta temporada, e pode formar um triângulo rico com Castillo e Kanya; e Leonardo Buta (irmão mais novo de Aurélio Buta) foi emprestado pela Udinese, ficando no ar se Campelos conseguirá fazer dele o senhor jogador que Bruno Langa se tornou sob a sua orientação em Chaves.

Treinador: Vítor Campelos
Onze-Base (4-3-3): Andrew; Zé Carlos, Gabriel Pereira, Rúben Fernandes, Buta; Jesús Castillo, Martim Neto, Kanya Fujimoto; Murilo, Boselli, Baturina (Alipour)

Atenção a: Andrew, Murilo, Kanya Fujimoto, Martim Neto, Roko Baturina

 CASA PIA (10)
    Nova época, o mesmo Casa Pia. Na antecâmara de 2023/ 24, os gansos mantêm Filipe Martins no comando técnico e, apesar de já não terem o efeito surpresa que em parte contribuiu para o extraordinário arranque na primeira volta do ano passado, a estabilidade no balneário contribuirá seguramente.
    O facto de apontarmos os casapianos ao mesmo lugar em que terminaram a última edição deve-se a acreditarmos que a equipa continuará forte, solidária e muito organizada no setor defensivo, mas continuando a faltar poder de fogo, a não ser que vários jogadores elevem bastante a sua produção média. O Casa Pia poderá ser colecionador de empates e, como consequência, poderá ser durante larga percentagem da prova uma equipa com diferença de golos a rondar o nulo.
    Afonso Taira e Lucas Soares são as únicas saídas notáveis, estando ainda por perceber entre Poloni e o reforço Gaizka Larrazabal quem passará a ocupar a posição de ala direito. Do lado oposto, Leonardo Lelo chegou a ser apontado ao Benfica e ao Sporting mas, para já, continua em Pina Manique. O treinador e os adeptos agradecem.
    Equipa consistente e bem treinada, o Casa Pia deve realizar uma época pacífica, ficando a ver de longe a luta pela manutenção. Para sonhar com algo mais, precisará que Godwin jogue toda a competição como jogou no primeiro terço do ano passado, torcendo ainda para que o reforço Fernando Andrade volte aos seus tempos de Santa Clara, para que Diogo Pinto e/ ou Yuki Soma exijam mais de si mesmos, e finalmente fazendo votos que ou Clayton (está com 2 golos em 2 jogos oficiais) ou Felippe Cardoso se façam matadores.

Treinador: Filipe Martins
Onze-Base (3-4-2-1): Ricardo Batista; Varela, Vasco Fernandes, Zolotic; Gaizka (Poloni), Ângelo Neto, Beni, Lelo; Fernando Andrade (Diogo Pinto, Soma), Godwin; Clayton

Atenção a: Saviour Godwin, Leonardo Lelo, Clayton Silva, Diogo Pinto, Vasco Fernandes

 DESP. CHAVES (11)
    Ajudem-nos a entender esta linha de raciocínio: em 2022/ 23, o recém-promovido Desportivo de Chaves terminou a Liga em sétimo, sendo a par do Arouca uma das duas equipas sensação da prova. Vítor Campelos, obreiro do sucesso, não continuou no clube e esteve com pé e meio no Cardiff, mas acabou em Barcelos a treinar o Gil Vicente. Quem escolheu o Chaves como novo timoneiro? José Gomes, o homem que não foi capaz de impedir a descida do Marítimo à Segunda Liga. É assim o futebol português...
    Achamos natural uma queda de alguns lugares na tabela, sendo realista apontar os transmontanos ao setor da classificação entre o 9.º e o 13.º lugares, terras de ninguém, habitualmente de equipas com alguns empates e poucas emoções, positivas ou negativas.
    Há que sublinhar que o clube perdeu 3 peças de grande preponderância no 11 inicial - o guardião Paulo Vítor abraçou um novo desafio na Arábia Saudita, o maestro João Teixeira foi ganhar o seu pé de meia para o Qatar e o sempre certinho João Mendes viu premiada a sua boa época com uma transferência para o Vit. Guimarães. Bruno Langa (talvez o lateral esquerdo que melhor defende em Portugal) renovou e, na zona das chegadas do aeroporto, são bem-vindos ao clube nomeadamente Hugo Souza, Bruno Rodrigues e Paulo Victor. O guarda-redes de 24 anos, ex-Flamengo, é um "monstro" no melhor sentido da palavra com 1,99m, dono de tremenda agilidade e rapaz para, em dia sim, colecionar defesas para a fotografia e encher a baliza lance após lance. No entanto, em pouco tempo a sua carreira no Brasileirão já foi do céu (chegou a ser chamado por Tite à canarinha em 2018) ao inferno, carregando o rótulo de desastrado devido a algumas fífias e paragens mentais. Será certamente um jogador para acompanhar com particular atenção. Bruno Rodrigues deixou o Braga em definitivo para tentar encontrar nos flavienses o seu espaço de afirmação, e Paulo Victor é, cremos, a principal aposta do clube para o ataque, rematando com os dois pés e podendo jogar como avançado ou a partir de um flanco.

Treinador: José Gomes
Onze-Base (4-3-3): Hugo Souza; João Correia, Steven Vitória, Bruno Rodrigues, Bruno Langa; Guima, João Pedro, Benny; Paulo Victor, Abass, Héctor

Atenção a: Bruno Langa, Paulo Victor, Guima, Hugo Souza, Héctor

 RIO AVE (12)
    O Rio Ave enfrenta em 2023/ 24 um obstáculo que o demarca de todas as restantes 17 equipas: o clube de Vila do Conde está sob embargo da FIFA, impedido de contratar jogadores (tal como já acontecera no mercado de Inverno) devido ao caso Olinga. O clube agora presidido por Alexandrina Cruz - primeira mulher presidente de um clube de futebol profissional da I Liga! - poderá ver-se forçado a apostar em jogadores da incubadora Sub-23 ou mesmo dos juniores, um cenário para já desnecessário dada a permanência de todos os habituais titulares à exceção de Samaris.
    Luís Freire é um ótimo treinador, um simplificador de processos e alguém que conseguiu dotar este Rio Ave de uma verdadeira identidade de jogo, e desde que não saia nenhum dos melhores jogadores, o mais sensato é apontar os vilacondenses ao meio da tabela, parecendo exagerado falar em Europa.
    O 3-5-2 com Patrick William, Aderllan e Pantalon a formar o trio de centrais continuará a ser a aposta, pedindo sempre este sistema enorme disponibilidade e alta rotação constante quer de Costinha à direita, quer de Fábio Ronaldo à esquerda. Se Costinha e Guga, apontados recentemente ao FC Porto, acabarem por sair, o Rio Ave pode mesmo ter que suar e sofrer para não descer; caso contrário, em princípio não devem existir dramas, algo aliás difícil num clube onde há Ukra para animar sempre a malta.

Treinador: Luís Freire
Onze-Base (3-5-2): Jhonatan; Patrick William, Aderllan, Renato Pantalon; Costinha, Guga, Amine, João Graça, Fábio Ronaldo; E. Boateng, André Pereira (Leonardo Ruiz)

Atenção a: Costinha, Guga, Fábio Ronaldo, Emmanuel Boateng, Patrick William

 BOAVISTA (13)

    Que vida difícil tens tu, Armando Teixeira aka Petit. Tal como há um ano atrás, altura em que os axadrezados venderam num curto espaço de tempo Sauer, Porozo e Musa, também este Verão ficou marcado pelas saídas do goleador Yusupha e do desequilibrador Kenji Gorré, ambos para o Qatar, com Ricardo Mangas a mudar-se para a cidade-berço, Reggie Cannon a rescindir por salários em atraso e o quarentão Bracali a colocar um ponto final na sua bela carreira. Que tudo te corra bem, Rafael.
    Petit está mais do que habituado a esta realidade de se ver obrigado a reinventar equipas, descobrindo soluções e pontuando o suficiente para estar longe da zona dos aflitos nas jornadas finais. Poucas vezes se menciona isto mas cada vez mais as equipas de Petit são equipas mais fortes a atacar do que a defender (apenas o Top4 marcou mais golos do que o Boavista na época passada).
    Ainda em risco de perder até 31 de Agosto jogadores como Onyemaechi, Pedro Malheiro e Makouta, saídas que claramente obrigariam o clube do Bessa a investir, as "panteras negras" tentarão manter tudo o que puderem, podendo dar-se o caso de jovens como Tiago Morais ou Martim Tavares somarem mais minutos. Dos dois lados do campo, uma dúvida e um palpite - por recearmos que César seja um significativo downgrade em relação a Bracali, há a hipótese de ser João Gonçalves (jovem de 22 anos da formação) o escolhido, e o eslovaco Róbert Bozeník pode atingir números idênticos aos de Yusupha.

Treinador: Petit
Onze-Base (3-4-3): João Gonçalves; Chidozie, Sasso, Abascal; Pedro Malheiro, Seba Pérez, Makouta, Onyemaechi; Salvador Agra, Bruno Lourenço, Bozenik

Atenção: Róbert Bozeník, Pedro Malheiro, Bruno Onyemaechi, Gaius Makouta, Bruno Lourenço

 VIZELA (14)

    Que se faça a piada logo no arranque para depois se falar de futebol - o novo técnico do Vizela chama-se Pablo Villar, mas para muitos poderá ser instintivo ler Pabllo Vittar. Adiante. O Vizela vem de duas épocas em crescendo na Liga Portugal (14.º e 11.º lugares, com Pacheco e Tulipa), registo notável para um clube que em 2020 disputava a 3ª divisão do futebol nacional.
    No virar de página para 23/ 24, a Direção optou por um treinador desconhecido, o que não ajuda a determinar o que poderá ser este Vizela. Pablo Villar, espanhol de 36 anos com algum "mundo" (treinou, como principal ou adjunto, em Espanha, na Ucrânia, na China, na Eslováquia e na Lituânia), assumiu as rédeas de um plantel que é o quarto pior avaliado segundo o Transfermarkt mas que tem valido sempre pelo coletivo, sem ter craques de nomeada nem elementos capazes de acumular doses generosas de golos ou assistências.
    Embora a eliminação precoce na Taça da Liga diante do AVS seja um mau presságio, confiamos na homogeneidade deste grupo de jogadores, com elevado conhecimento uns dos outros e automatismos desenvolvidos, mesmo que diferentes treinadores lhes peçam diferentes coisas. Buntic transmite segurança na baliza, Bruno Wilson e Anderson são parceria de sucesso, Tomás Silva é um lateral/ médio bastante subvalorizado, Méndez e Nuno Moreira teimam em transparecer que só estão a emprestar ao jogo 50% do seu verdadeiro potencial, e Samu e Kiko Bondoso são os jogadores a que a bola é passada no minuto 90 quando algo tem que acontecer. Na frente, sim, há mudanças. O montenegrino Osmajic será aposta no Cádiz, o que faz surgir a dúvida: será Iker Unzueta (avançado oriundo da terceira divisão espanhola) ou Jardel (11 golos apontados pelo Feirense, fenómeno nas redes sociais depois de um muito engraçado "penalty estátua") o novo homem-golo? 

Treinador: Pablo Villar
Onze-Base (4-3-3): Buntic; Tomás Silva, Bruno Wilson, Anderson, Matheus Pereira; Rashid, Alex Méndez, Samu; Kiko Bondoso, Nuno Moreira, Iker Unzueta (Jardel)

Atenção a: Samu, Kiko Bondoso, Bruno Wilson, Tomás Silva, Nuno Moreira

 MOREIRENSE (15)

    Moreira de Cónegos teve futebol de Primeira Liga entre 2014 e 2022, incluindo um 6.º lugar em 2019 e duas épocas em 8.º em 2020 e 2021. Não surpreendeu por isso que, ao descer à II Liga, o Moreirense tenha estado quase sempre a anos-luz da concorrência, parecendo mera formalidade e apenas uma questão de tempo o garantir da promoção.
    Paulo Alves fez subir a equipa, mas é Rui Borges (ex-Mafra) agora o homem do leme. O plantel atual está longe daquilo a que os cónegos nos habituaram nos seus melhores anos, com Chiquinho, João Palhinha, Iuri Medeiros, Rafael Martins, Fábio Pacheco, Pasinato ou Filipe Soares em destaque.
    Num 4-3-3 muito dependente dos seus extremos - João Camacho é um perigo à solta mas precisa de obter melhores números e o sul-africano Kodisang está no ponto para partir a loiça toda e levar muita gente a perguntar "Como é que o Braga aceitou vendê-lo?" - terá que ser André Luís o goleador de serviço, pautando o trio de médios por enorme equilíbrio. Ofori é um recuperador nato, Gonçalo Franco é a cola de toda a equipa, e Alanzinho é 1,65m de talento puro, tendo registado 8 golos e 9 assistências na época transacta.
    Caio Secco e Kewin proporcionarão luta acesa pelas luvas titulares, Marcelo e Maracás têm muitos anos de Primeira Liga, e Godfried Frimpong (formado no Benfica) será muitas vezes a mudança de velocidade a partir da esquerda.
    Dificilmente será uma época tranquila, mas pensamos que o Moreirense se pode safar in extremis por ter jogadores diferenciados (Alanzinho e Kodisang, sobretudo) e um onze sólido e à medida do que costuma resultar no futebol português.

Treinador: Rui Borges
Onze-Base (4-3-3): Kewin (Caio Secco); Fabiano, Maracás, Marcelo, Frimpong; Orofi, Gonçalo Franco, Alanzinho; João Camacho, Kodisang, André Luís

Atenção a: Alanzinho, Kodisang, Gonçalo Franco, João Camacho, André Luís


 PORTIMONENSE (16)

    Há 3 anos e meio no cargo, Paulo Sérgio é o 2.º treinador da Liga Portugal Betclic há mais tempo no mesmo clube, apenas superado por Sérgio Conceição. O clube de Portimão leva seis temporadas consecutivas sem descer, mas o futebol praticado vem sendo menos e menos impressionante, mesmo que a tabela por vezes não o reflita.
    Portimão perdeu Moufi e Pedro Sá, mas em boa verdade nenhuma saída poderia representar um grande revés (Filipe Relvas será possivelmente o jogador mais cotado dos algarvios) uma vez que os tempos em que o clube apresentava nas suas fileiras craques como Beto ou Nakajima estão lá atrás.
    Apontamos o Portimonense ao lugar de Play-Off, mas qualquer classificação de 13.º para baixo nos parece possível. Kosuke Nakamura é um daqueles guarda-redes que sem dificuldades atinge as 7 ou 8 defesas por jogo, Guga é o novo Moufi, Seck continua à esquerda e Pedrão-Relvas deve ser a dupla de centrais. A continuidade existe também no setor intermédio, com Maurício, Carlinhos e Estrela, e é na frente que Paulo Sérgio tem nova matéria-prima para trabalhar: Sylvester Jasper veio do Fulham, Rildo assinou depois de fazer coisas incríveis no Santa Clara embora em apenas uma mão cheia de jogos, e Paulinho regressa a Portugal, emprestado pelos dinamarqueses do Viborg, ele que no arranque da época passada marcou 9 golos em 12 jogos pelo Estrela da Amadora. Porém, quem realmente capta o nosso interesse neste Portimonense é mesmo Ronie Carrillo. O avançado equatoriano de 26 anos pode ser uma das grandes novidades desta edição, sendo um pequeno mistério como é que um jogador desta qualidade demorou tanto tempo a sair do seu país.
    Apontado aos lugares finais, mas com chances de escapar ao purgatório, o Portimonense pode até respirar bem melhor se o ataque se entender desde cedo e se Ronie corresponder às nossas elevadas expectativas.

Treinador: Paulo Sérgio
Onze-Base (4-3-3): Kosuke Nakamura; Guga, Pedrão, Filipe Relvas, Seck; Maurício, Paulo Estrela, Carlinhos; Jasper (Paulinho), Rildo, Ronie Carrillo

Atenção a: Ronie Carrillo, Kosuke Nakamura, Filipe Relvas, Sylvester Jasper, Paulinho

 ESTRELA DA AMADORA (17)

    Por muito que a massa adepta do Marítimo não merecesse a descida, deixou-nos contentes o regresso do Estrela da Amadora ao escalão máximo do futebol luso 14 anos mais tarde. Ao rebobinar a cassete, vemos que se encontrava nesse Estrela de 2009 por exemplo Silvestre Varela, prestes a dar o salto para o FC Porto. O clube de formação de Paulo Bento, Jorge Andrade, Dimas, Miguel ou Calado, onde Rúben Dias deu os primeiros passos antes de se mudar ainda menino para a Luz, e ao qual associamos sempre o mítico Gaúcho, é uma presença refrescante na I Liga, esperando-se bons jogos na Reboleira.
    Com Patrice Evra como investidor através do grupo norte-americano My Football Club, os tricolores têm privilegiado a aposta no talento disponível nas divisões secundárias nacionais na hora de preparar o plantel para este teste de fogo na piscina dos grandes.
    Sérgio Vieira subiu com a equipa, e os melhores jogadores continuam também. Kialonda é claramente central para estas andanças, o lateral direito Jean Felipe (4 golos e 8 assistências na época passada) deve manter-se influente através do seu corredor e das bolas paradas, e Bruno Brígido mantém-se entre os postes. Há Ronald e Ronaldo Tavares (Ndour nunca foi um verdadeiro goleador por onde passou mas pode "encostar" o gigante formado no Sporting), há Vitó e Aloísio no centro do terreno de jogo, há talento e irreverência com Regis e Capita, e agora passará a haver também Léo Jabá, extremo que já rendeu no futebol grego.
    Não achamos que o Estrela tenha obrigação de continuar entre os 18, mas o ambiente especial do Estádio José Gomes pode ser uma importante arma, e são vários os elementos que curiosa e estranhamente nos parecem até poder render mais neste contexto mais exigente.

Treinador: Sérgio Vieira
Onze-Base (3-4-3): Bruno Brígido; Miguel Lopes, Kialonda, Mansur; Jean Felipe, Aloísio, Vitó, João Reis; Regis (Capita), Léo Jabá, Ronaldo Tavares (Ndour)

Atenção a: Kialonda, Jean Felipe, Regis, Léo Jabá, Ronaldo Tavares 

 FARENSE (18)

    Numa Antevisão algo aborrecida e nada ousada, ao contrário de 22/ 23, em que as três equipas recém-promovidas (Rio Ave, Casa Pia e Chaves) garantiram todas a manutenção, desta feita achamos mais provável os 3 que subiram descerem novamente um ano depois.
    O Farense - a AF de Faro volta a ter duas equipas na primeira divisão - não estava entre os grandes desde a temporada de 20/ 21, uma edição na qual os leões foram razoavelmente prejudicados pela arbitragem e em que brilhou o escocês Ryan Gauld, com um pé esquerdo iluminado e baixo centro de gravidade a abrilhantar uma equipa pouco exuberante.
    Promovido por via do seu 2.º lugar na Liga Portugal SABSEG, o Farense manteve José Mota no comando técnico, algo que pode indicar que esta será uma das equipas a mudar de treinador (quiçá mais do que uma vez) no decorrer das próximas 34 jornadas.
    Mota pede reforços e faz sentido que os peça. Marco Matias (7 golos e 14 assistências na temporada passada) e Rui Costa continuam pelo Algarve, mas o ponta de lança Pedro Henrique, que chegou a pertencer ao Benfica, mudou-se para a Polónia, o que abriu espaço no 11 para o reforço Bruno Duarte, de regresso ao futebol português.
    Luiz Felipe é um bom reforço para a baliza se apresentar aquilo que fez dele um dos poucos destaques da B SAD em 21/ 22 e não o que o impediu de roubar a titularidade a Buntic no Vizela no ano seguinte, e Gonçalo Silva é um bom "patrão" podendo formar boa dupla com Artur Jorge numa defesa que ainda não nos inspira muita confiança, sendo o espanhol Fran Delgado uma incógnita e pedindo-se a Talys ou Talocha que façam esquecer Abner, transferido para o futebol belga. Fabrício Isidoro, Cláudio Falcão e Mattheus (ex-Sporting, Vitória e Estoril, e filho de Bebeto) formam um meio-campo muito forte para a II Liga mas talvez curto para este patamar.
    Em suma, há qualidade mas o plantel ainda parece muito formatado para triunfar na SABSEG. A experiência é ponto a favor, mas para haver surpresa vários jogadores terão que provar que são capazes de apresentar na Betclic aquilo que com mestria fazem um patamar abaixo.

Treinador: José Mota
Onze-Base (4-3-3): Luiz Felipe; Fran Delgado, Gonçalo Silva, Artur Jorge, Talys (Talocha); Cláudio Falcão, Fabrício Isidoro, Mattheus Oliveira (Rafael Barbosa); Marco Matias, Rui Costa, Bruno Duarte

Atenção a: Marco Matias, Fabrício Isidoro, Cláudio Falcão, Bruno Duarte, Mattheus