11 de agosto de 2023

Antevisão da Premier League 2023/ 24

 Premier League - A espera terminou. O campeonato mais eletrizante e apaixonante do futebol europeu regressa esta noite e o entusiasmo não podia ser maior para acompanhar durante 38 jornadas toda a incerteza na classificação. Sem quebras de ritmo forçadas como o Mundial do Qatar e oxalá que sem tragédias a envolver a realeza britânica, a Premier League promete regressar com o vigor e competitividade de sempre.

    Enraizou-se na cultura desportiva a tradicional distinção do Top4 inglês, os quatro lugares que vêm dando acesso aos milhões da Liga dos Campeões. Ora, em 2024/ 25 a Champions muda substancialmente de formato e os 2 países com melhor coeficiente acumulado no decorrer desta época garantirão uma 5ª vaga direta na Champions. Considerando que Inglaterra foi nas três últimas épocas o país com melhor classificação no Ranking UEFA, a manutenção dessa tendência poderá conduzir à transformação do Top4 de sempre num novo Top5.

    Na última época houve corrida a dois: Guardiola e Arteta; Haaland e Odegaard; Manchester City e Arsenal. O emblema azul celeste conquistou a Premier (venceu 5 das últimas 6 edições), festejando mesmo um impressionante triplete com a FA Cup e Champions League. O City de Guardiola é favorito, não poderia ser doutra maneira; mas a análise faz-nos acreditar que esta Premier League 23/ 24 pode demorar bastante mais tempo do que as últimas provas a tornar-se um combate a dois. Para festejar um inédito tetra em Inglaterra, os cityzens terão que bater um ainda mais forte e menos imaturo Arsenal (vencedor da Community Shield), um Liverpool sem lesionados e com inovação tática, um Manchester United coeso e reforçado em posições-chave e um Chelsea bem diferente e com um treinador 100% adequado para o elenco.
    Há 5 favoritos, mas é impossível não abranger o lote de equipas especiais em Inglaterra a nove. O Aston Villa pode ser perigosamente subvalorizado por muitos e não é fácil encontrar antídoto para o conjunto multi-sistema de Emery; o Tottenham pode sofrer com dores de crescimento mas Postecoglou é o homem certo para revolucionar os spurs, operando a metamorfose de equipa encolhida e presa para equipa colorida, com alma e criativa, embora tudo indica sem Harry Kane; o Newcastle não está à toa na Champions e é Top2 a defender; e o Brighton de De Zerbi deslumbra e descobre talentos sem parar, cativando os neutros. A ordem dos 9 primeiros é um desafio, e qualquer equipa das restantes 11 que se intrometa nesta elite será franca candidata a sensação da prova.

    Como sempre, os clubes ingleses investiram e bem, e são inúmeros os novos craques. Inglaterra acolheu Nkunku (lesionado até Dezembro), Gvardiol, Højlund, Onana, Nicolas Jackson, Szoboszlai, Diaby, Tonali, Timber, Pau Torres, Kerkez, Vicario e Flekken, merecendo ainda destaque diversas movimentações internas como Declan Rice, James Maddison, Mac Allister, Mount, Havertz, Kovacic, Harvey Barnes, Tielemans, João Pedro, Elanga e James Trafford, além dos dossiers Caicedo, Maguire e Ward-Prowse prestes a conhecer resolução. Gera ainda curiosidade a 1.ª experiência no nível máximo do futebol inglês de jogadores que encantaram no Championship como Alex Scott, Maatsen, Ahmedhodzic, Ryan Giles, Manuel Benson e quem sabe Gustavo Hamer.

    Relembramos que desceram 3 equipas de grande peso e bom aproveitamento recente - Leicester City, Leeds United e Southampton -, chegando do super-competitivo Championship Burnley (101 pontos com Vincent Kompany), Sheffield United e Luton Town, o clube do estádio mais marcante desta edição.

    Acompanhem-nos então nesta completa Antevisão da Premier League 2023/ 24, numa tentativa de prever a classificação final e destaques individuais, sempre falível considerando as várias transferências até ao fecho desta janela e da de Janeiro e outros mil fatores:



 MANCHESTER CITY (1)

    
Há sempre mais História para escrever. O Manchester City entra em 2023/ 24 com Grealish ainda a ressacar a conquista do tão aguardado triplete (Premier League, Liga dos Campeões e FA Cup). Pep diz que o feito é irrepetível, e o grande adversário dos cityzens nesta edição pode ser mesmo o próprio City, ou a capacidade dos jogadores encontrarem dentro de si a motivação para continuarem "ligados" e esfomeados jogo após jogo. Mas podemos ver as coisas por este prisma: o City está a um título de festejar o tetra, algo que nunca nenhuma equipa conseguiu na História da 1ª divisão inglesa (ou seja, desde 1888), os reforços trazem sede renovada, e Erling Haaland vai certamente definir novos recordes para atingir, com os 40 golos só no campeonato no seu horizonte.
    O City perdeu Gündogan (que jogador!) e Mahrez, parece ter convencido Bernardo Silva e Kyle Walker a ficar, e reforçou-se até ao momento com a dupla croata Kovacic e Gvardiol. É fácil imaginar o médio de 29 anos a entrar bem na identidade deste City, podendo contribuir em várias posições, e Gvardiol é talvez o central com maior potencial da atualidade. Quando se tem Rúben Dias, Gvardiol, Stones, Aké e Rodri, é natural que os criativos se sintam mais tranquilos na hora de fazer um passe de rutura ou arriscar um drible.
    Taticamente, o City parte num híbrido e muito maleável 3-2-4-1, mas Pep costuma estar um (ou vinte) passo à frente da concorrência, o que nos permite especular que à medida que Arteta e Klopp se possam aproximar do sistema de Pep, já este esteja, qual jogador de xadrez, a aprimorar o antídoto para a sua própria criação. Ainda com muito potencial por explorar, Phil Foden e Julián Álvarez serão talvez os jogadores que mais podem evoluir este ano, e a dupla KDB-Haaland, em total sintonia, pode traduzir-se num brutal volume de golos.
    O tricampeão tem que partir na frente nas apostas, e veremos que reforços (gostávamos de ver Wirtz e Barcola nesta equipa, mas não nos importamos nada se os escolhidos forem Paquetá, Olise ou Doku) ainda recebe o melhor treinador do mundo até ao fecho do mercado. Incansável e praticamente imbatível nas retas finais das segundas voltas, a presença em Dezembro no Campeonato do Mundo de Clubes poderá contribuir para que a dada altura o City tenha que correr atrás do prejuízo.

Treinador: Pep Guardiola
Onze-Base (3-2-4-1): Ederson; Walker (Aké), Rúben Dias, Gvardiol; Stones, Rodri; Bernardo Silva, De Bruyne, Foden (Álvarez), Grealish; Haaland

Atenção a: Erling Haaland, Kevin De Bruyne, Phil Foden, Josko Gvardiol, Julián Álvarez


 ARSENAL (2)

   Não é por ter vencido a Community Shield, mas o Arsenal está pronto para ir à luta novamente. A equipa de Mikel Arteta quer vingar a última época, em que desperdiçou a vantagem que conquistou, e nos gunners tudo bate certo: há continuidade, a juventude está um ano mais experiente, e os reforços devem tornar este Arsenal mais forte. Porém, para nós, ainda insuficiente para partir na pole position do favoritismo.
    A grande conquista do defeso do Arsenal é Declan Rice. Pelo médio defensivo do West Ham, titular indiscutível da seleção inglesa e jogador pelo qual o campeão inglês e europeu Manchester City chegou a apresentar uma proposta, o clube do Norte de Londres pagou uns astronómicos 116 milhões. Mas Rice é um jogador para 10 anos e é um 2 em 1, um seis forte no desarme e na proteção da sua defesa mas também um oito forte no transporte. Havertz e Timber foram as restantes aquisições, estando para chegar Raya para quiçá roubar a baliza a Ramsdale. Sobre Timber, podemos dizer que o Arsenal parece ter acertado em cheio. O neerlandês faz várias posições e será difícil Arteta abdicar da sua presença no 11, seja a lateral, central ou mesmo no auxílio ao meio-campo. Kai Havertz pode ser um problema: o alemão é um reforço de luxo se Arteta conseguir puxar pelo seu lado Leverkusen e não pela sua versão recente, sem confiança e em terrenos mais adiantados. Mas, até para não "queimar" o jogador, o mais prudente seria guardá-lo inicialmente como 12.º jogador, até porque não faz sentido que surja à frente de Trossard na hieraquia.
    Com equilíbrio em todo o campo, algumas saudades do subvalorizado e também controverso Xhaka e com algumas dúvidas sobre a permanência de Partey, o Arsenal tem em 3 jovens craques os três principais motivos de esperança para fazer a diferença: Bukayo Saka, Martin Odegaard e Gabriel Martinelli. Jogadores de classe mundial, com mentalidade de campeões.
    O título é possível mas o 3.º lugar também. Custa-nos Mikel Arteta não ter aproveitado Balogun e desconfiamos que o técnico espanhol pode cometer esta época alguns erros de análise no decorrer da competição, e pagar a fatura.

Treinador: Mikel Arteta
Onze-Base (4-3-3): Ramsdale (Raya); Ben White (Timber), Saliba, Gabriel, Zinchenko; Rice, Partey, Odegaard; Saka, Gabriel Martinelli, Gabriel Jesus

Atenção a: Bukayo Saka, Martin Odegaard, Gabriel Martinelli, Declan Rice, Jurriën Timber

 LIVERPOOL (3)

    Em 2023/ 24, o Liverpool pode voltar a lutar pelo título. A temporada transata foi uma quase catástrofe, atenuada com uma reta final em que os reds ainda conseguiram dar 7 ao Manchester United e fechar a época quase nos lugares de Champions, a 4 pontinhos de distância do objetivo mínimo.
    Jürgen Klopp, ao contrário de Pep Guardiola, revelou doses excessivas de teimosia e intransigência, procurando exigir à sua equipa que jogasse como no passado, sem ter instrumentos para o seu futebol heavy metal. As lesões de Luis Díaz e Diogo Jota não ajudaram, em particular porque forçaram Darwin a ser atirado aos leões quando o uruguaio precisava de ser introduzido aos poucos, mas Klopp terá aprendido a lição.
    O meio-campo era o epicentro de todos os problemas, e tudo mudou nesse setor. Fabinho, Henderson, Keita, Milner e Oxlade-Chamberlain saíram, Thiago ainda pode sair, mas agora há Mac Allister e Szoboszlai. Tomando como exemplo a pré-época, o Liverpool será uma equipa capaz de marcar golos atrás de golos, mas também vai sofrer muitos. Ganhar todos os jogos por 3-2 ou 5-3 é preocupante, mas desde que os jogos sejam ganhos, ninguém vai querer saber o "como".
    O 4-3-3 dos últimos anos pode ser substituído por uma espécie de 3-2-2-3, uma versão aproximada do figurino adotado pelo Manchester City na segunda volta da época passada e pelo próprio Liverpool quando adaptou Trent Alexander-Arnold para interior, potenciando algumas das coisas que fazem de Trent um jogador único. O problema é que o atual esquema corre o risco de partir a equipa, que se poderá dispor por vezes quase num 3-2-5 - com os extremos a jogar por dentro pode não ser difícil os adversários atraírem Mac Allister e Szoboszlai para os corredores, e mesmo na defesa continuamos a ter algumas dúvidas sobre a colocação de Robertson a central do lado esquerdo e quanto à capacidade de van Dijk de voltar a ser pelo menos 80% do que era antes da sua grave lesão.
    Para nós, o Liverpool está a um médio defensivo de poder entrar realmente na luta pelo título. Um médio como Caicedo (a melhor opção, mas parece ter jurado amor ao Chelsea), Tchouameni ou Thuram e não como Lavia, jogador de potencial gigante mas ainda embrionário e a precisar de ser esculpido. Lembramos ainda que este era o mercado em que os reds sonharam com Bellingham, mas o refinado médio britânico escolheu Madrid.
    Claro está que quem tem Mo Salah (vêm aí números de gente grande do egípcio) e pode rodar Gakpo, Darwin, Jota e Díaz terá sempre a capacidade de colocar os adversários em sentido. E Anfield é um estádio como mais nenhum. 

Treinador: Jürgen Klopp
Onze-Base (3-2-2-3): Alisson; Konaté, van Dijk, Robertson; Alexander-Arnold, Curtis Jones; Mac Allister, Szoboszlai; Salah, Gakpo (Darwin), Luis Díaz (Diogo Jota)

Atenção a: Mohamed Salah, Trent Alexander-Arnold, Alexis Mac Allister, Darwin Nuñez, Dominik Szoboszlai

 MANCHESTER UNITED (4)

    Erik ten Hag já fez o mais difícil. Quando o neerlandês chegou a Old Trafford, o Manchester United precisava de sacrifícios custosos para se poder regenerar, e ten Hag operou-os: descobriu as melhores versões de Rashford e Bruno Fernandes ao retirar Cristiano Ronaldo da equipa, e melhorou a defesa ao substituir o inseguro Maguire pelo pequeno gigante Lisandro Martínez. Este Verão trouxe mais uma decisão ousada: o clube não renovou com De Gea, e apostou em Onana, um guarda-redes que discutirá com Ederson o estatuto de melhor com os pés na Premier League, mas que talvez não seja capaz de fazer algumas defesas por instinto como o internacional espanhol fazia. Mantemos as nossas reticências quanto à troca de GR, mas é inquestionável que o United passará a ser uma equipa mais rápida a circular a bola e mais forte a fugir à pressão alta.
    Mas Onana não foi o único reforço. Ten Hag recebeu ainda Mason Mount (novo camisola 7), o novo parceiro de meio-campo de Casemiro e Bruno Fernandes; e Højlund é o novo ponta de lança dos red devils, uma aquisição que claramente faria o género de Sir Alex Ferguson. O dinamarquês terá que evitar as comparações com Haaland (até o nome convida a isso), algo que prejudicou Darwin na época anterior, e pode ser benéfico o United ainda contratar mais um ponta de lança até dia 31 para proteger o veloz e corpulento avançado ex-Atalanta.
    Num 4-2-3-1 ou 4-1-2-3, dependente da linha em que ten Hag queira ter Mount, o Manchester United caminha no sentido de se tornar uma equipa mortífera em transição, tendo para isso Bruno Fernandes (um dos favoritos para jogador com mais assistências esta época) a lançar jogadores rapidíssimos como Rashford e Højlund. Antony e Jadon Sancho (se ficar) têm que dar muito mais, Garnacho pede cada vez mais minutos, e Amad Diallo merecia ficar no plantel depois do que apresentou no Sunderland.

Treinador: Erik ten Hag
Onze-Base (4-2-3-1): Onana; Wan-Bissaka (Dalot), Varane, Lisandro Martínez, Shaw; Casemiro, Mount; Antony (Garnacho), Bruno Fernandes, Rashford; Højlund

Atenção a: Bruno Fernandes, Marcus Rashford, Rasmus Højlund, Lisandro Martínez, Luke Shaw

 CHELSEA (5)

    E se o 12.º classificado da temporada passada conseguisse qualificar-se para a Champions League um ano depois? Não haveria nada mais Chelsea do que isso.
    Na equipa desilusão de 22/ 23, verdade seja dita, era difícil que o panorama piorasse. A gestão imprevisível de Todd Boehly continua a ser um potencial problema, mas Mauricio Pochettino é senhor para "domesticar" com educação o norte-americano, blindando o balneário e colocando todo o clube a guiar-se pela sua visão e não pelos ideais, quiçá diferentes diariamente, do sucessor de Abramovich como dono do Chelsea.
    Há aproximadamente um ano atrás, escrevíamos que o Arsenal era a equipa que mais nos tinha impressionado na pré-época. Pois bem, o Verão deixou excelentes indicações sobre este Chelsea, que "limpou" a casa e começa a compor uma equipa bem ao jeito do treinador argentino, com muita juventude e fome de deixar uma marca no futebol mundial.
    Depois de gastar mais de 600 milhões na época passada, o clube de Londres tomou o gosto às vendas neste mercado, negociando Havertz, Mount e Kovacic com os rivais, vendendo Pulisic e Loftus-Cheek ao AC Milan e libertando Mendy e Koulibaly para a Arábia Saudita. Nkunku (o nosso reforço favorito desta Premier League, que infelizmente falhará os primeiros meses da competição por lesão) e Nicolas Jackson são os reforços mais impressionantes, juntando-se muitas soluções que já estavam dentro de portas: Poch soube confiar a Colwill a titularidade ao lado de Thiago Silva, Maatsen e Chukwuemeka conquistaram o seu espaço ao ter minutos, e Mudryk já deu ares de que poderá por fim explodir esta temporada.
    Mesmo tendo o clube contratado Sánchez na sua loja preferida de Brighton, é possível que ainda haja mexidas na baliza se Kepa for vendido. Pochettino agradecerá o arranque de campeonato acessível (a 1ª jornada, diante do Liverpool, é difícil, mas depois segue-se um período bom) e a ausência de competições europeias permitir-lhe-á poder efetivamente treinar os seus jogadores e preparar detalhadamente cada jornada. Ainda devem chegar jogadores a Londres - Caicedo será o complemento perfeito para Enzo Fernández - e os ingredientes parecem estar reunidos para uma temporada de significativo crescimento e encurtar de distâncias para o pelotão da frente.

Treinador: Mauricio Pochettino
Onze-Base (4-2-3-1): Kepa; James, Thiago Silva, Colwill, Chilwell; Enzo, Gallagher (Chukwuemeka); Sterling (Maatsen), Nkunku, Mudryk; Nicolas Jackson

Atenção a: Christopher Nkunku, Enzo Fernández, Levi Colwill, Mykhailo Mudryk, Nicolas Jackson

 ASTON VILLA (6)

    Talvez seja exagerado apontar o Aston Villa ao sexto lugar, o que significaria pelo menos duas equipas a vacilarem, mas o clube da cidade de Birmingham tem conseguido reforços muito acima da média, tem em Unai Emery um técnico 100% adequado aos jogadores e à dimensão do clube, e também tem sempre a sua graça arriscar numa semi-surpresa.
    Presentes na Liga Conferência - e muita atenção porque Emery não vai desconsiderar uma competição europeia, sobretudo a partir do formato a eliminar -, os villans poderão rodar mais sem prejuízo em comparação com as equipas presentes na Liga Europa, dada a menor qualidade dos emblemas presentes na Conference. A nível interno, esperamos ver o técnico basco a mudar de sistema tático ao longo dos jogos, e há matéria-prima para jogar em 4-4-2 (tática que pensamos que será o ponto de partida), 4-3-3 ou mesmo em 3-5-2.
    Sem perder ninguém, o Aston Villa acrescentou 3 jogadores ao seu plantel e os três são craques que imaginávamos que tivessem acabado em clubes mais cotados. Youri Tielemans assinou a custo zero, juntando-se a McGinn, Douglas Luiz, Boubacar Kamara, Jacob Ramsey e Emi Buendía como brilhantes opções de meio-campo; Pau Torres reencontrou-se com o treinador que já o orientara no Villarreal, melhorará instantaneamente a saída de bola e a exploração das costas do adversário, podendo funcionar como falso defesa esquerdo até Álex Moreno estar recuperado; e sobre Moussa Diaby até faltam palavras. O Villa conseguiu um jogador que fará tremer os defesas da Premier League com a sua velocidade e capacidade de drible, sendo peça decisiva no puzzle de uma equipa tão inteligente a atrair oponentes e que sabe tão bem quando operar a mudança de velocidade e quando "morder" furtivamente de forma a ter a melhor transição possível. 

Treinador: Unai Emery
Onze-Base (4-4-2): E. Martínez; Cash, Konsa (Mings), Pau Torres, Álex Moreno; McGinn, Kamara (Douglas Luiz), Tielemans, Jacob Ramsey (Buendía); Diaby, Watkins

Atenção a: Moussa Diaby, Ollie Watkins, Pau Torres, Boubacar Kamara, Álex Moreno

 NEWCASTLE (7)

    O Newcastle é uma das 4 equipas inglesas presentes na Liga dos Campeões. A queimar etapas mais rápido do que a Direção e Eddie Howe teriam sonhado, os magpies querem voltar a repetir a façanha, algo que achamos difícil se Liverpool, Chelsea e Tottenham melhorarem todos em relação ao ano passado.
    A melhor defesa da última Premier League - 33 golos sofridos, registo igual ao do Manchester City - continuará uma muralha, com Pope, Trippier, Schär, Botman e Burn a formarem um setor irrepreensível, que terá Livramento como novidade na gestão das posições de lateral direito e esquerdo. Honestamente, pensámos que o Newcastle aproveitaria a sua inesperada presença na liga milionária para apostar forte neste Verão com uma ou duas contratações cabeça-de-cartaz e que nos fizessem levar as mãos à cabeça. Até ver, não aconteceu, mas Sandro Tonali é um reforço que parecia impossível, e Harvey Barnes não tem a fantasia de Saint-Maximin (rumou à Arábia Saudita) mas é bastante provável que some bastantes mais golos e assistências do que o francês.
    Repetir o quarto está ao alcance dos pupilos de Howe, punindo em teoria as novas regras da Premier sobre maximização do tempo útil de jogo este Newcastle, que acabou por ganhar o carimbo de equipa astuta a jogar com o cronómetro, também para respirar e recuperar-se entre períodos de intensidade e agressividade extremas. Bruno Guimarães e Joelinton são um mimo, Almirón quererá mostrar que a temporada passada não foi um feliz acidente, e Isak e Callum Wilson repetirão saudável competição pela vaga de avançado centro.

Treinador: Eddie Howe
Onze-Base (4-3-3): Pope; Trippier, Schär, Botman, Burn; Tonali, Bruno Guimarães, Joelinton; Almirón, Isak (Callum Wilson), Harvey Barnes (A. Gordon)

Atenção a: Bruno Guimarães, Sandro Tonali, Kieran Trippier, Alexander Isak, Harvey Barnes


 TOTTENHAM (8)

    Dos tradicionais Top 6, o Tottenham Hotspur é simultaneamente aquele que tem menos responsabilidades e aquele cuja nossa previsão pode errar mais. Tudo indica, Harry Kane está mesmo de saída para Munique, com exames médicos marcados à hora de publicação deste artigo. O melhor marcador da História dos spurs e da seleção inglesa namorou todo o Verão com os bávaros, viveu os twists de sempre em qualquer negociação que envolva Daniel Levy, e salvo desfecho chocante, a Bundesliga e o Top3 de favoritismo na Liga dos Campeões serão a sua nova realidade.
    Com Kane e os seus 25 a 30 golos garantidos, mais tudo o resto que o completo avançado dá, talvez colocássemos o Tottenham na luta pelo Top5, mas assim é possível adivinhar uma queda para os lugares 7 a 9. Muita coisa depende da abordagem ao mercado pós-Kane, surgindo para já Richarlison como imediato sucessor e estando já contratado o ponta de lança argentino Alejo Véliz. Mas ainda deve chegar mais alguém. Para quem interpreta que Kane desistiu de bater o mítico recorde de Alan Shearer, a verdade é que a 47 golos de distância do feito, Kane pode perfeitamente jogar três épocas na Alemanha e regressar depois à Premier League com 33, a tempo de superar o histórico avançado inglês.
    Mas o Tottenham não é só Harry Kane. Numa temporada em que não há competições europeias (pode pesar favoravelmente, mantendo-se a equipa mais fresca), estamos convictos que os londrinos serão uma das equipas com maior revolução operada. De equipa enfadonha com serial winners (Conte e Mourinho) que só serviram para estragar o ADN do clube, o Tottenham deve transformar-se num corpo de futebol ambicioso, bloco subido, alta percentagem de posse de bola, muitos golos marcados e bastantes também sofridos. O australiano Ange Postecoglou (às vezes o melhor match é um plano C ou D) tentará imprimir a identidade que marcou o futebol do Celtic, algo que pode demorar algumas jornadas, e o 3-4-3 está morto e enterrado, sendo expectável um 4-3-3 com interiores com muita chegada ao ataque e elevado rendimento de Son e Kulusevski na cara do golo. Pessoalmente, estamos curiosos para ver como reorienta Big Ange a sua ideia de jogo usual considerando que Porro e Udogie não são o tipo de laterais que privilegiaria um treinador habituado a ter laterais a jogar por dentro e não tanto a dar largura.
    As contratações mostram que o clube está a pensar bem, destacando-se James Maddison a ter o salto que há muito merecia, e as apostas em Vicario (o mundo do futebol vai delirar com as defesas que o ex-Empoli é capaz) e van de Ven (um central que poderia perfeitamente ser o sucessor de van Dijk no Liverpool, tal é a sua qualidade e margem para crescer). 

Treinador: Ange Postecoglou
Onze-Base (4-3-3): Vicario; Pedro Porro, Romero, van de Ven, Udogie; Skipp, Bissouma, Maddison; Kulusevski, Son, Richarlison

Atenção a: Son Heung-Min, James Maddison, Richarlison, Guglielmo Vicario, Micky van de Ven

 BRIGHTON (9)

    Em vários momentos da temporada passada, o Brighton foi a equipa que nos deu mais gozo ver na Premier League. O City de Pep e o Arsenal de Arteta foram evidentemente mais fortes, mas os seagulls cativaram o adepto neutro com o seu futebol apoiado, veloz, pressionante e teimoso. Roberto De Zerbi melhorou a equipa, tornando os reis do xG desperdiçado num ataque de mão cheia, e com o tempo acabaremos por ver os melhores treinadores do mundo a copiarem algumas das ideias do italiano.
    Como sempre, o Brighton é renovação e crescimento constante. Depois do espetacular 6.º lugar, chegou o momento de vender o campeão do mundo Mac Allister ao Liverpool, e está visto que Moisés Caicedo (Chelsea ou Liverpool?) também dirá adeus por um valor recorde. Saindo o equatoriano, o Brighton passará a ter libras para distribuir por 2 ou 3 craques, e já todos sabemos a magia de que este clube é capaz na hora de descobrir os jogadores certos para potenciar.
    A presença na Liga Europa pode ser um contra, forçando o Brighton a jogar às quintas-feiras e ao fim-de-semana, embora o plantel seja profundo e equilibrado na diferença entre titulares e suplentes, sobretudo nas posições da frente.
    De Zerbi diz que a baliza ficará 50% para Steele, 50% para Verbruggen, e na defesa Estupiñán é capaz de melhorar a sua produtividade ofensiva. Pascal Gross continuará com um heat map de jogador total e, num plantel onde Milner e Lallana serão vozes firmes no balneário, Gilmour pode viver a sua temporada de afirmação. No ataque, é um fartote. March e o driblador nato Mitoma foram os destaques em 22/ 23, mas na nova temporada há que ter em conta o super reforço João Pedro, o irresistível Enciso, o rapidíssimo Adingra (brilhou na Summer Series) e ainda Evan Ferguson, um avançado que reúne todas as características para se tornar um dos grandes da Premier League.
    Há Caicedo por definir, há reforços por chegar (Kudus e Koopmeiners seriam um sonho) e atrevemo-nos a dizer que, se o Brighton voltar a encantar, De Zerbi será um dos treinadores com mais pretendentes daqui a um ano. A presença nas competições europeias pode retirar algum oxigénio e alguns quilómetros percorridos por jogo, o que nos leva a apontar a equipa a uma posição entre sexto e nono.

Treinador: Roberto De Zerbi
Onze-Base (4-2-3-1): Steele (Verbruggen); Veltman, Dunk, Webster (Igor), Estupiñán; Gross, Gilmour; March (Enciso), João Pedro, Mitoma; Evan Ferguson

Atenção a: João Pedro, Julio Enciso, Kaoru Mitoma, Evan Ferguson, Billy Gilmour

 WEST HAM (10)

    O West Ham é possivelmente a equipa destas 20 cuja previsão da classificação final mais depende do que o mercado fizer chegar ao Olímpico de Londres neste mês de Agosto. Os hammers têm David Moyes em conflito com a Direção, alegadamente por diferenças na prospeção (Moyes quer elementos da Premier e o novo diretor técnico, o ex-Leverkusen Tim Steidten, quer atrair jogadores do estrangeiro) e de facto preocupou a demora na falta de assertividade na contratação de 3 ou 4 jogadores de craveira e impacto imediato no 11, consequência inevitável depois do clube vender Declan Rice ao Arsenal por 116 (!) milhões de euros. O sucessor do camisola 41 está encontrado e é o mexicano Edson Álvarez, ex-Ajax.
    Numa certa esquizofrenia entre o aborrecimento interno e o brilho europeu, o West Ham continua presente nas competições europeias (Liga Europa) por ter vencido a última Liga Conferência. E já na temporada anterior a campanha europeia fora notável, com Rice, Bowen e companhia a serem eliminados nas meias-finais da LE.
    Novamente com a condicionante do futebol europeu, que força viagens, distribuição de minutos e uma profundidade de opções impróprias para um plantel algo curto como este, o West Ham vai tornar-se tudo indica o posto de reabilitação de Harry Maguire (o Manchester United já aceitou a proposta), que pode levar consigo o seu colega McTominay, e será sempre um bónus contar com um dos melhores cobradores de bolas paradas no mundo, James Ward-Prowse, cuja oficialização também deve estar para breve.
    A completa adaptação de Lucas Paquetá (ironicamente pode ir parar ao campeão City) ao futebol britânico pode ser uma das cartadas fortes para 23/ 24, e Bowen estará em princípio a entrar nos melhores anos da sua carreira. Falta um goleador a este West Ham, que desistiu de Scamacca mas acredita no prodigioso e possante Divin Mubama, e o 10.º lugar a que apontamos os hammers baseia-se fundamentalmente na confiança que as últimas semanas do mercado darão a Moyes os jogadores (Maguire, Ward-Prowse, etc) que tanto deseja para colocar as suas ideias em prática.

Treinador: David Moyes
Onze-Base (4-3-3): Fabianski; Coufal, Zouma, Aguerd, Emerson; E. Álvarez, Downes, Lucas Paquetá; Bowen, Benrahma, Michail Antonio

Atenção a: Lucas Paquetá, Jarrod Bowen, Edson Álvarez, Said Benrahma, Nayef Aguerd

 BRENTFORD (11)

    Ivan Toney. Ironicamente, vemo-nos forçados a apostar que o avançado inglês de 27 anos, autor de 34% dos golos do Brentford em 2022/ 23, será vilão fantasma e herói a meio da viagem, cumprido o castigo do vício.
    Com Thomas Frank, os bees são uma das equipas mais certinhas da Premier League, um conjunto hábil a adaptar-se aos oponentes e letal perante o desmazelo ou desinspiração adversária. Mas com Ivan Toney tão central a todo o processo, não só pelo que produz (20 golos em 22/ 23) como pela capacidade de permitir à equipa respirar e subir quando segura o esférico e temporiza de costas, o Brentford pode sofrer com saudades da sua figura até que a suspensão termine.
    O calendário inicial das abelhas de Londres pode ajudar a ganhar confiança e esquecer quem não está, mas em todo o caso 16 de Janeiro de 2024 (fim da suspensão de Ivan Toney) será uma data na cabeça de todos os adeptos do clube.
    A boa organização, defesa comunicativa e meio-campo inteligente, da única equipa que venceu o Manchester City nas duas voltas no ano em que os cityzens arrecadaram o triplete, chegam para considerarmos o Brentford um dos candidatos ao primeiro posto abaixo dos 9 mais fortes. Mbeumo, Wissa e Schade terão que dizer presente na ausência de Toney, e o neerlandês Mark Flekken (nos últimos anos foi insistentemente um dos guarda-redes com maior consistência na Bundesliga) terá que estar à altura dos desempenhos heroicos de Raya.


Treinador: Thomas Frank
Onze-Base (3-5-2): Flekken; Collins, Mee, Pinnock; Hickey, Jensen, Norgaard, Janelt, Rico Henry; Mbeumo, Wissa (Toney)

Atenção a: Bryan Mbeumo, Mark Flekken, Ivan Toney, Yoane Wissa, Rico Henry

 FULHAM (12)
    

    O Fulham de Marco Silva foi 10.º classificado na temporada passada e, caso mantenha os seus dois melhores jogadores, tudo leva a crer que possa repetir uma campanha similar.
    O técnico português, rotulado ao longo da sua carreira como infiel aos seus clubes e projetos, rejeitou os milhões da Arábia Saudita, e torcerá para que Mitrovic faça o mesmo. Há uma época do Fulham com Mitrovic e João Palhinha, e uma outra bem diferente sem eles, ultra dependente do brutal acerto na abordagem ao mercado na busca dos seus eventuais sucessores.
    Até agora, os cottagers ainda não perderam ninguém e receberam sim o central/ lateral Calvin Bassey e o mexicano Raúl Jiménez, uma ótima opção se o virmos como o 1.º avançado para sair do banco mas uma opção manifestamente insuficiente se por acaso for o substituto de Mitrovic. Willian prolongou a sua estadia no Craven Cottage mas, duas semanas depois desse anúncio oficial, chegou a acordo com os sauditas do Al-Shabab.
    Um dos clubes mais afetados pelos pontos de interrogação e cifrões vindos do Médio Oriente, o Fulham desespera pelo fecho do mercado. Uma temporada tranquila é a nossa expectativa, mantendo o clube um excelente guarda-redes como Bernd Leno, uma dupla de médios fantástica e equilibrada (Palhinha e Reed) e jogadores como Andreas Pereira e Harry Wilson (Silva quer o galês com a confiança que o levou a somar 20 assistências há dois anos) podem sempre fazer a diferença, estando em vias de acontecer um negócio com Adama Traoré, o extremo velocista com óleo de bebé nos bíceps.

Treinador: Marco Silva
Onze-Base (4-2-3-1): Leno; Tete, Tosin, C. Bassey (Diop), A. Robinson; João Palhinha, H. Reed; Harry Wilson, Andreas Pereira, Willian; Mitrovic (Raúl Jiménez, Carlos Vinícius)

Atenção a: João Palhinha, Aleksandr Mitrovic, Bernd Leno, Harry Wilson, Andreas Pereira

 CRYSTAL PALACE (13)

    Se ao ver o West Ham será estranho não ver Declan Rice, ver um jogo do Crystal Palace e não descobrir Wilfried Zaha (uma vida inteira nos eagles) na asa esquerda será certamente desconcertante.
    Novamente com Roy Hodgson (75 anos) no comando técnico, o clube londrino tem "meio da tabela" escrito na testa, podendo oscilar em sentido ascendente ou descendente um par de posições de acordo com o desfecho do dossier Olise - o extremo francês tem pretendentes mas está atualmente lesionado, o que pode contribuir para o adiar de uma transferência para um colosso, algo que acabará por acontecer mais cedo ou mais tarde.
    A rigidez do usual 4-3-3 deve dar lugar a um marcado 4-2-3-1 possibilitado pela aquisição de Lerma. O colombiano ex-Bournemouth é um reforço muito relevante, quer pela forma como ajudará Doucouré em tarefas defensivas, quer pela forma como essa dupla libertará por completo o mágico Ebe Eze, com o 10 à beira de "explodir" no futebol inglês, podendo facilmente tornar-se o melhor jogador fora dos grandes emblemas, estatuto que pertenceu durante algum tempo a James Maddison.
    Hodgson prefere Johnstone a Guaita, a defesa mantém-se a 100% e Andersen-Guéhi é uma dupla de qualidade certificada. Veremos quanto tempo precisa Matheus França para se ambientar e entrar no ritmo da Premier, e os adeptos torcerão para que entre Édouard e Mateta um deles embale em termos de golos. 

Treinador: Roy Hodgson
Onze-Base (4-2-3-1): Johnstone; Joel Ward, J. Andersen, Guéhi, Mitchell; Doucouré, Lerma; Olise (Ahamada), Eze, Matheus França; Edouard

Atenção a: Eberechi Eze, Michael Olise, Cheick Doucouré, Odsonne Édouard, Matheus França

 BURNLEY (14)

    O Burnley de Vincent Kompany (exímio comunicador e um líder nato capaz de inspirar os seus, homem de poucas horas de sono e obcecado pelo seu trabalho) passeou no Championship, fechando a época com 101 pontos. Madrugador na pré-época - ainda não tinha sido jogada a final da Liga dos Campeões e já os clarets estavam em exames médicos e estágio - o Burnley surgirá nesta Premier League irreconhecível para os mais desatentos, que podem pensar que este Burnley permanece aquela equipa limitada, ultra defensiva e fortemente orientada para o jogo direto. Kompany operou uma mudança de 180 graus e o Burnley é hoje uma equipa fluida, com jogadores polivalentes e capazes de interpretar várias posições. O ataque é dinâmico e pouco estático e os defesas têm que saber sair a jogar com confiança e qualidade. Kompany é pupilo de Guardiola, e isso vê-se em campo.
    A supremacia no segundo escalão deixou-nos inicialmente convictos que este Burnley seria capaz de disputar lugares com o West Ham, Crystal Palace, Brentford e Fulham a meio da tabela, mas o defeso tem deixado algo a desejar. Primeiro, o clube não conseguiu garantir em definitivo jogadores fulcrais que estavam apenas emprestados (Maatsen convenceu Pochettino no Chelsea, o Southampton não libertou Nathan Tella, máximo goleador deste Burnley na época passada, e mesmo Harwood-Bellis, que ainda não definiu o seu futuro até à data, atraiu maior nº de interessados ao capitanear a seleção inglesa campeã europeia de Sub-21).
    Pela positiva, Kompany recebeu Beyer (central muito elegante em posse) em definitivo, encontrou em Amdouni um avançado muito mais interessante do que aqueles que serviram a equipa no Championship, Berge é um fantástico complemento para Cullen e o guardião James Trafford chega em altas depois de ser um dos destaques do Euro Sub-21, mas terá que destronar Muric. Em paralelo, as aquisições em simultâneo de Redmond e Townsend deixam-nos de pé atrás por parecer que o Burnley está a tentar muitas coisas ao mesmo tempo, e o balneário pode ressentir-se.
    Não há Tella ou Maatsen como gostaríamos mas há Josh Brownhill, o jogador mais completo e peça central em todo o jogo dos clarets, e nos flancos a vertigem de Zaroury e as diagonais da direita para o centro de Manuel Benson podem marcar esta Premier League.

Treinador: Vincent Kompany
Onze-Base (4-2-3-1): Trafford (Muric); Roberts, O'Shea, Beyer, C. Taylor; Cullen, Berge; Manuel Benson, Brownhill, Zaroury; Amdouni

Atenção a: Josh Brownhill, Manuel Benson, Zeki Amdouni, Anass Zaroury, James Trafford

 BOURNEMOUTH (15)
    Quando soubemos que o Bournemouth tinha despedido Gary O'Neil, o homem que salvou uma equipa que parecia mais do que condenada à descida, a primeira sensação foi de ingratidão e injustiça. O futebol é duro e os timings importam e, com frieza, Andoni Iraola tem de facto potencial para elevar o projeto para outros voos. O ex-Rayo Vallecano, outrora um defesa direito com mais de 500 jogos pelo Athletic Bilbao, colocou a sua anterior equipa em 11.º e 12.º da La Liga, valorizando e muito jogadores como Isi Palazón, Fran García e Álvaro García.
    Os cherries reúnem um lote de jogadores pontuado pela juventude, e há matéria-prima para Iraola singrar num campeonato que tem sido de boa memória para os compatriotas Pep, Arteta e Emery.
    Temos poucas dúvidas que o Bournemouth se tornará uma equipa bem mais entusiasmante e apelativa, contagiante mesmo, do que a sua recente versão de 22/ 23, mas muita atenção ao calendário, que na Premier mais do que em qualquer outro campeonato pode realmente fazer a diferença no trajeto de jogadores e treinadores: nas primeiras 7 jornadas, o Bournemouth enfrentará Liverpool, Tottenham, Chelsea, Brighton e Arsenal. Recomenda-se portanto que o clube avalie bem a potencial evolução e assimilação da identidade que Iraola quer implementar, mesmo que - como é esperado - os resultados demorem a aparecer.
    Milos Kerkez, o alvo prioritário do Benfica para substituir Grimaldo, é uma das caras novas, e as nossas maiores expectativas recaem sobre Dango Ouattara, que nos primeiros meses de Premier foi uma sombra do que apresentara no Lorient, e Alex Scott, médio ex-Bristol City que já foi elogiado por Guardiola e que era o grande talento jovem do Championship. Brooks quer recuperar o tempo perdido, Christie e Rothwell parecem ter entrado bem no que o treinador quer, uma dupla Senesi-Zabarnyi é boa no papel, e de jogadores como Billing e Solanke já se sabe aquilo com que se pode contar. Justin Kluivert é o jóker deste plantel.

Treinador: Andoni Iraola
Onze-Base (4-3-3): Neto; Aarons, Senesi, Zabarnyi (Kelly), Kerkez; Traorè, Billing, Alex Scott; Dango Ouattara, Brooks (Tavernier, Kluivert), Solanke

Atenção a: Philip Billing, Alex Scott, Dango Ouattara, Milos Kerkez, David Brooks

 EVERTON (16)

   O primeiro dos sobreviventes (17.º classificado em 2022/ 23) pode esperar novamente muito sofrimento e muita análise comparativa aos mais vulneráveis candidatos à descida nas derradeiras jornadas. O Everton entra nesta nova campanha pela primeira vez com Sean Dyche desde o momento zero, e esse fator é-nos suficiente por si só para não deixar os toffees ir ao fundo.
    O clube está apertado financeiramente, e esta é a última temporada no fervoroso e clássico Goodison Park. Teremos despedida em festa ou inauguração do Everton Stadium (52 mil lugares, enquanto que o atual recinto leva 39 mil) em depressão no Championship?
    Um 4-5-1 compacto deve ser a principal arma de Dyche, que contará com o eterno Pickford a comandar uma linha defensiva na qual Tarkowski foi promovido a capitão. Aos 38 anos, Ashley Young traz muita experiência mas não poderá jogar os jogos todos, e o meio-campo com Onana, Doucouré e Gana Gueye continuará a ser osso duro de roer. Equipa guerreira mas "amarrada" confiará a Iwobi e McNeil as doses moderadas e ocasionais de criatividade, sendo previsível que Danjuma (camisola 10) acabe a funcionar muitas vezes como avançado centro se Calvert-Lewin voltar a acumular lesões. Chermiti, verde mas de perfil aproximado a DCL, terá uma palavra a dizer.
    O "fator Sean Dyche", sinónimo de algumas clean sheets e de muitos empates "chatos", e a personalidade de vários elementos levam-nos a acreditar na manutenção. Tudo indica que os toffees serão uma equipa incómoda de defrontar e com jogos maioritariamente desagradáveis de assistir. Se Dele Alli renascer depois da entrevista que deu a Gary Neville, teríamos aqui uma das histórias da temporada! 

Treinador: Sean Dyche
Onze-Base (4-5-1): Pickford; Patterson, Tarkowski, Godfrey (Keane), A. Young; Iwobi, Onana, Gueye, A. Doucouré, McNeil; Calvert-Lewin (Danjuma)

Atenção a: Jordan Pickford, Arnaut Danjuma, James Tarkowski, Amadou Onana, Dwight McNeil

 NOTTINGHAM FOREST (17)


    O Nottingham Forest está ligeiramente mais fraco. Depois do brutal investimento da época passada (195 milhões gastos e um batalhão infindável de jogadores adquiridos), o Forest acalmou. O cumprimento do FFP assim obriga os reds, que deixaram de ter na baliza o seu porto seguro chamado Keylor Navas e à esquerda Renan Lodi, elemento de suprema consistência.
    À parte disso, Steve Cooper continua a ter essencialmente o mesmo grupo, impondo-se que Marinakis rejeite todas as abordagens por Brennan Johnson, um dos poucos jogadores realmente especiais no plantel. Os adeptos torcerão para que Awoniyi comece a temporada num momento de forma idêntico ao apresentado nas jornadas finais da Premier League 22/ 23, e quem tem Gibbs-White e Danilo tem boa ligação entre setores garantida.
    Caberá ao sueco Anthony Elanga mostrar que o Manchester United cometeu um erro ao aceitar vendê-lo, faltando porém perceber se a chegada do ex-red devil foi pensada numa antecipação à eventual saída de Johnson, se Cooper pondera mudar para uma espécie de 4-2-3-1 ou se Gibbs-White recuará uns metros no terreno para deixar Brennan e Elanga no apoio a Awoniyi.
    Embora o clube da terra natal do Robin Hood apresente qualidade em quase todos os setores, no momento atual estamos desconfiados deste Forest. Podemos estar errados mas o destino mais certo nas circunstâncias presentes será uma classificação entre 16.º e 19.º. 

Treinador: Steve Cooper
Onze-Base (3-4-2-1): Turner; Worrall, Boly, McKenna; Aurier, Danilo, Gibbs-White, Aina; Elanga, Brennan Johnson; Awoniyi

Atenção a: Brennan Johnson, Morgan Gibbs-White, Taiwo Awoniyi, Anthony Elanga, Danilo

 WOLVES (18)

    Nunca é bom sinal quando um clube e o seu treinador seguem caminhos distintos a 3 dias da competição arrancar oficialmente. A falta de reforços levou Julen Lopetegui a fazer o raio-X que está à vista de todos: o "bater com a porta" do espanhol, acostumado a ver satisfeitos os seus caprichos nas janelas de transferências, surgiu numa fase em que os wolves manifestam sinais idênticos aos que conduziram Leicester, Southampton e Leeds a (pelo menos) um ano de castigo na segunda divisão.
    Claramente a apresentar os sintomas de abstinência, já vistos noutros clubes, de quando um super-empresário deixa de "alimentar" um projeto com o mesmo foco e interesse, o Wolves escolheu Gary O'Neil como sucessor, e o ex-Bournemouth tentará operar novo milagre, iniciando funções praticamente no dia 1 da temporada oficial, herdando um plantel sobre o qual só poderá opinar nestas últimas semanas de Agosto. 
    O Wolves tarda em apresentar verdadeiros reforços, tendo já perdido jogadores relevantes, nuns casos pelo surgir de propostas irrecusáveis (Rúben Neves mudou-se para o Al-Hilal a troco de 55 milhões, Collins foi para o Brentford por 27 milhões), noutros pela deficiente análise do potencial dos jogadores (Ryan Giles tem tudo para brilhar no Luton, e Hoever foi emprestado ao Stoke mas tinha lugar neste plantel), acrescentando-se ainda a transferência por valores modestos de Raúl Jiménez para o Fulham. Os problemas de tesouraria apertam aquele que ainda é o clube mais português da Premier League, e a solução de recurso para salvar este Wolverhampton podem ser alguns empréstimos bem ponderados.
    A equipa não conta com a veterania e liderança de Moutinho ou Coady mas com certeza continua a ter qualidade: Matheus Nunes e Max Kilman destacam-se dos demais. Ou em 4-3-3 ou em 4-4-2, na turma laranja deveremos ver o regressado Doherty a encostar Semedo. Matheus, João Gomes e Lemina ou Boubacar Traoré garantem um meio-campo musculado e intenso, mas pode faltar golo a esta equipa, que pagou uns muito exagerados 50M por Matheus Cunha, ainda não estando decidido se Fábio Silva fica, e sendo importante não esquecer o gigante Sasa Kalajdzic, que em 22/ 23 esteve toda a época afastado com uma grave lesão.
    Há qualidade mas estão à tona muitos indicadores que nos levam a crer que esta será uma equipa prestes a viver um limbo perigoso, realizando no fundo duas pré-épocas e esperando-se que lute pela sobrevivência até ao derradeiro apito final.

Treinador: Gary O'Neil
Onze-Base (4-3-3): José Sá; Doherty, Dawson, Kilman, Aït-Nouri; Lemina, Matheus Nunes, João Gomes; Sarabia (Podence), Pedro Neto, Matheus Cunha (Kalajdzic)

Atenção a: Matheus Nunes, Max Kilman, João Gomes, Matheus Cunha, Matt Doherty

 LUTON TOWN (19)

    Mal podemos esperar para ver os mais endinheirados emblemas da Premier League e os jogadores mais conhecidos do planeta a entrar em campo no mítico reduto de Kenilworth Road. O estádio paredes meias com as casas dos locais promete proporcionar uma experiência única (a bancada Oak já foi notícia mas sê-lo-á muito mais quando o Luton tiver o seu primeiro jogo em casa), e na verdade a grande força do Luton Town nesta Premier terá que estar na capacidade de fazer do seu modesto (pouco mais de 10 mil lugares) mas inusitado e desconfortável estádio a sua fortaleza de pontos.
    Os vencedores do Play-Off em Wembley, deixando para trás o Coventry no desempate por grandes penalidades, chegam à primeira divisão 31 anos depois da última vez, com a particularidade dessa temporada de 91/ 92 ter sido a última antes da competição adotar a designação de Premier League.
    Rob Edwards comanda a equipa, depois de substituir Nathan Jones quando este iniciou uma aventura desastrosa no Southampton, e o seu 3-5-2 poderá ser bem mais complicado de contrariar do que o sistema do Sheffield United, por exemplo. O capitão e central goleador na Hora H, o galês Tom Lockyer, é um dos símbolos num elenco em que Marvelous Nakamba (existe algum jogador de futebol com um nome melhor?) encaixou que nem uma luva, onde Pelly-Ruddock Mpanzu é história sem igual, tendo representado o Luton em 5 escalões distintos, e que tem agora Ross Barkley como contratação surpresa. O ex-Everton e Nice nunca mais foi o mesmo, mas o sistema e o estatuto especial podem "acordá-lo", embora não acreditemos muito nisso. 
    Os golos virão de Carlton Morris, secundado pelo poderoso Adebayo ou pelo reforço Ogbene, e a fonte de dinâmica e desequilíbrio serão sem duvidas os dois alas - o esquerdino Ryan Giles foi durante 2 anos seguidos, no Cardiff e no Middlesbrough, um dos jogadores com mais oportunidades criadas no Championship, e Kaboré não "rebentou" nas duas experiências por empréstimo na Ligue 1, mas aos 22 anos ainda vai mais do que a tempo de ser tudo aquilo que prometeu na CAN de 2021, certame em que foi eleito melhor jogador jovem.

Treinador: Rob Edwards
Onze-Base (3-5-2): Kaminski; Andersen, Lockyer, Bell; Kaboré, Mpanzu, Nakamba, Barkley, Ryan Giles; Adebayo (Ogbene), Carlton Morris

Atenção a: Carlton Morris, Ryan Giles, Issa Kaboré, Elijah Adebayo, Thomas Kaminski

 SHEFFIELD UNITED (20)

    Não nos parece que o recorde negativo de pontos da Premier League (Derby County com 11 pts em 2007/ 08) esteja em risco, mas com o aproximar do arranque oficial da temporada fica mais e mais difícil encontrar argumentos a favor da manutenção do Sheffield United. É pouco comum uma equipa promovida em Inglaterra surgir na divisão acima com pior plantel do que aquele que apresentara meses antes.
    Os blades estão acostumados ao carimbo de clube ioiô, alternando épocas excelentes no Championship com performances para esquecer no nível acima. A equipa de Paul Heckingbottom ficou em segundo lugar, garantindo a promoção automática, e 91 pontos não são coisa pouca. Mas além deste plantel estar formatado para competir estoicamente apenas na dura Liga de 24 equipas e 46 jornadas, acusando a transição, a saída do verdadeiro talismã da equipa acaba por ditar esta condenação ao 20.º lugar como previsão. O senegalês Iliman Ndiaye (para muitos adeptos do clube, o melhor jogador que alguma vez vestiu a camisola do United) era a luz da equipa, um elemento verdadeiramente especial no drible, na energia e na aceleração. Ndiaye terminava contrato em 2024 e o clube rendeu-se, negociando a sua transferência para o Marselha, clube do coração do jogador, por 17 milhões de euros. Um final de ligação agridoce, fatal golpe na esperança dos adeptos e na moral da equipa, que porventura teria beneficiado a longo-prazo de ter uma época de Ndiaye na Premier, mesmo perdendo depois o craque a custo zero.
    Num inabalável 3-5-2, menos arriscado do que a versão dos tempos de Chris Wilder, o Sheffield United promete muita luta, podendo apresentar à nata do futebol inglês um dos centrais mais interessantes da atualidade, o bósnio Anel Ahmedhodzic. É obrigatório que ainda cheguem reforços ao Bramall Lane (Gustavo Hamer, fantástico médio do Coventry, será um reforço de sonho caso se concretize), não estando à priori Vinicius Souza à altura de Sander Berge, vendido ao Burnley. Foderingham vai ter muito para defender, Trusty e o tunisino Slimane são jogadores muito aceitáveis, Jebbison tarda em corresponder às expectativas e o reforço Bénie Traoré (ótimas indicações no campeonato sueco ao serviço do Hacken) terá a árdua tarefa de fazer esquecer o jogador que fazia a cidade acreditar.

Treinador: Paul Heckingbottom
Onze-Base (3-5-2): Foderingham; Ahmedhodzic, Egan, Trusty; Baldock, V. Souza, Norwood, Slimane, Lowe; Bénie Traoré, McBurnie

Atenção a: Anel Ahmedhodzic, Bénie Traoré, Auston Trusty, Anis Ben Slimane, Oliver Norwood

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