Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

31 de maio de 2022

Balanço Final - Premier League 21/ 22

Que monumento do desporto é esta Premier League, a melhor liga do mundo! Saciando amantes de futebol por todo o planeta, a liga inglesa voltou a fazer das suas e a servir-nos um menu imprevisível, em que não houve um minuto 93:20 ("Agueeerooooo") mas houve um intervalo de seis minutos (3 golos do campeão Manchester City entre os 76' e os 81' diante do Aston Villa) capaz de sentenciar um turbilhão de emoções.
    O 4.º campeonato do City em 5 anos foi desde cedo uma luta a dois, voltando Guardiola e Klopp a levar as suas equipas ao limite, à superação constante e à quase-perfeição. No final, foram 93 pontos contra 92, podendo Oleksandr Zinchenko envolver o troféu com as cores da sua Ucrânia.
    Mesmo sem ter um ponta de lança (abram alas para Haaland!), o Manchester City conseguiu ser o melhor ataque da prova (99 golos), sofrendo tão poucos (26) como o rival Liverpool. O clube de Anfield, sempre pódio nos últimos 4 anos e vice em duas ocasiões, foi a equipa que menos derrotas acumulou (apenas West Ham e Leicester somaram 3 pontos contra os reds), não tendo porém conseguido alcançar qualquer vitória contra os restantes membros do Top-4: Man City, Chelsea e Tottenham.

    Quando deu para desviar o olhar da luta entre City e Liverpool, viu-se um Chelsea desorientado (marcado por uma declaração desnecessária de Lukaku, pelas lesões dos seus laterais e pela saída de cena de Abramovich), um Manchester United que conseguiu a proeza de cair 4 lugares na tabela depois de se reforçar com Ronaldo, Sancho e Varane, e embora o infantário do Arsenal tenha superado as expectativas e mostrado que há razões para confiar no futuro, há para os lados dos gunners inevitável frustração ao deixar escapar, quando dependiam só de si, o Top-4 e a Champions para o grande rival Tottenham, como sempre catalisado pela sintonia de Son e Kane, e com o italiano Antonio Conte a deixar sinais que a curto-prazo talvez possam ser os spurs o principal intruso na dicotomia do topo da classificação.
    Na época em que o Everton quase desceu, dizem adeus Burnley (nas 5 épocas anteriores tinha-se salvo tangencialmente em 3), Watford e Norwich, substituídos pelo Fulham de Marco Silva, pelo Bournemouth e pelo histórico Nottingham Forest. Das equipas promovidas, o sensacional Brentford acabou por ser a única a assegurar a sua continuidade. Sensacionais foram também o Newcastle (a equipa de Eddie Howe foi a 3.ª melhor na segunda volta, isto depois de nas primeiras 14 jornadas registar 0 vitórias, 7 empates e 7 derrotas), o Brighton e o Crystal Palace.
    Em jeito de curiosidade e balanço, foram 9 as equipas que mudaram de treinador no decorrer da época: Tottenham, Manchester United, Newcastle, Aston Villa, Everton, Leeds United e os 3 clubes relegados para o Championship.

    Acompanhem-nos então numa análise à época das 20 equipas da Premier League, sistematizando ideias-chave, o que correu bem, o que correu mal, quem brilhou e quem desiludiu:


 MANCHESTER CITY (1)

    Quando Pep Guardiola chegou a Manchester, o normal em Inglaterra era o vencedor da Premier League mudar anualmente. Neste momento, o City pode-se gabar de ter conquistado 4 dos últimos 5 campeonatos, com 100, 98, 86 e 93 pontos.
    Em 2021/ 22, os citizens voltaram a deliciar os amantes de futebol (por 7 vezes marcaram 5 ou mais golos) com um vendaval ofensivo mesmo sem contar nas suas fileiras com um 9. O futuro rima com Erling Haaland e os campeões ingleses merecem ver o norueguês a vestir de azul celeste.
    Mantendo a maldição na Liga dos Campeões, o City foi incontestável vencedor da Premier ao morar no 1.º lugar desde a jornada 15 até à 38. O Liverpool, em comparação, esteve em primeiro apenas uma jornada.
     Ficará na memória o Manchester City 3-2 Aston Villa da última jornada, uma emocionante reviravolta com 3 golos apontados aos minutos 76 (Gündogan), 78 (Rodri) e 81 (Gündogan) e excelente resposta às críticas do outrora rival Evra, que acusara o City de não ter personalidade ou líderes.
    No ano em que o City sofreu apenas 1 golo de bola parada e em que chegou aos 99 golos mesmo sem ter um super avançado ou alguém capaz de marcar acima de 15 golos, Guardiola voltou a escrever novas páginas de genialidade com Bernardo Silva a recuperar importância (melhor jogador do City na primeira volta), Cancelo a mudar-se para o lado esquerdo da defesa, Laporte a roubar a titularidade de Stones e Rodri a completar o curso para ser o 6 ideal num esquema de Pep. Faltou só outro rendimento do caríssimo Grealish, embora seja frequente os reforços de Guardiola só se soltarem no 2.º ano, e nunca faltou Kevin De Bruyne, MVP do campeonato e melhor médio do mundo, capaz de carregar a equipa, dizer presente nos momentos difíceis e parecer um jogador à parte mesmo em jogos com 22 estrelas em campo.
    Senhor do futebol inglês, cabe ao City dar o passo que falta e conquistar a tão desejada Champions, surgindo sempre novos desafios e metas para uma equipa exemplar no bom futebol, na inteligência, no compromisso e na fome de fazer sempre mais, fazendo quase sempre diferente.

Destaques: Kevin De Bruyne, Bernardo Silva, João Cancelo, Rodri, Phil Foden

 LIVERPOOL (2)

    Quase. Nunca na História do futebol inglês uma equipa venceu os 4 troféus (Premier League, Champions League, FA Cup e Carabao Cup) numa só época. Ao longo de 63 jogos, os comandados de Jürgen Klopp (no clube desde 2015 e já renovou até 2026) venceram as duas taças, ficaram a 1 ponto do topo da liga e perderam a final da máxima competição europeia de clubes diante do Real Madrid.
    A equipa de Anfield foi a que menos perdeu nesta Premier, com apenas duas derrotas diante de West Ham e Leicester, mas vacilou nos jogos grandes, não conseguindo vencer qualquer um dos restantes 3 membros do Top-4 final. Foram 2 empates contra o Manchester City (num par de jogos em que os campeões foram superiores), 2 empates contra o Chelsea e 2 empates contra o Tottenham.
    O regresso ao nível de 2019 e 2020 e aos mais de 90 pontos em 114 possíveis só foi possível graças ao reencontro de Alisson (melhor guarda-redes em Inglaterra) com a sua melhor forma e à possibilidade de voltar a contar com o centralão van Dijk a 100%, sem quaisquer lesões. Matip conquistou o merecido reconhecimento, Trent Alexander-Arnold deixou bem claro que ofensivamente é o melhor lateral-direito do mundo, Thiago Alcântara mostrou-se por fim adaptado ao país, aos colegas e ao ritmo e ideias do treinador e, além da habitual regularidade de Robertson, Mané (segue-se o Bayern?) e Fabinho, brilhou Diogo Jota na 1.ª volta e o super-reforço Luis Díaz na segunda.
    Mas houve, claro, um certo craque egípcio acima de todos. Mo Salah foi uma vez mais uma das figuras do campeonato, e quase obrigaria à encomenda de uma estátua caso tivesse mantido o nível da primeira volta (marcou 15 golos nas primeiras 17 jornadas). Infelizmente para os reds, o pós-CAN do número 11 foi de inesperado contraste, passando de melhor jogador do mundo a alguém que marcou apenas em 2 dos 10 jogos finais.
    92 pontos foram mais do que Real Madrid, PSG, Bayern Munique e AC Milan precisaram para vencer os seus campeonatos. O único problema do Liverpool é mesmo existir o ainda mais perfeito Manchester City. 

Destaques: Mohamed Salah, Trent Alexander-Arnold, Virgil van Dijk, Andy Robertson, Joel Matip

 CHELSEA (3)

    Quando esperávamos que o Chelsea de Tuchel usasse a conquista da Champions da época passada como catalisador para esta Premier League, a realidade trouxe a guerra e o flop do ano desta edição.
    A guerra na Ucrânia ditou o fim do reinado do oligarca russo Roman Abramovich, que 19 anos depois viu-se obrigado a vender o clube ao consórcio de Todd Boehly. Em campo, a surpresa pela negativa foi mesmo Romelu Lukaku. O poderoso avançado belga era visto como o jogador que aproximaria os blues da luta pelo título mas quando todos esperávamos a sua versão de Milão, aquilo que vimos foi a sua versão de Manchester, sem chama, num desperdício de talento iniciado numa idiota entrevista que, compreensivelmente, não caiu bem a Thomas Tuchel.
    A 18 pontos do 2.º lugar, o Chelsea sofreu não só com o processo Lukaku (não houve cereja no topo do bolo) mas também com as lesões dos laterais James e Chilwell e com o clima de indefinição até se formalizar a transição Abramovich-Boehly.
    Mason Mount (o mais consistente dos elementos do meio-campo e ataque numa bizarra época em que 21 diferentes jogadores marcaram golos pelo Chelsea), Reece James, Thiago Silva e Rüdiger foram alguns dos destaques numa temporada que marca o fim da viagem para vários jogadores da linha defensiva londrina (Rüdiger, Azpilicueta, Christensen e Marcos Alonso vão todos embora), não se podendo excluir similar revolução a meio-campo com as possíveis saídas de Jorginho e Kanté. Este Chelsea foi uma ilha, com a Champions quase sempre segura e o título numa galáxia muito, muito distante; e o próximo Chelsea o que será?

Destaques: Reece James, Antonio Rüdiger, Thiago Silva, Mason Mount, Kai Havertz

 TOTTENHAM (4)

    Hoje, parece a anos-luz de distância aquela altura em que o Tottenham foi orientado por Nuno Espírito Santo. NES foi o escolhido de Levy e Paratici, mas durou apenas 10 jornadas.
    A garantia da qualificação directa para a Champions foi resultado principalmente de duas coisas: o tempo que Harry Kane precisou para digerir a transferência falhada para o Manchester City, e a confiança que a direcção acabou por dar a Conte na hora de reforçar o plantel em Janeiro.
    Com Son Heung-Min (um dos 3 melhores jogadores e 2 melhores marcadores desta Premier League) sempre em alta rotação, os spurs sofreram com o "apagão" de Kane, com aquele que é um dos melhores avançados do mundo a marcar apenas 1 golo nas primeiras 15 jornadas. Daí para a frente, Hurricane acordou e a dupla mais produtiva da História da Premier League (Son-Kane) espalhou qualidade, golos e assistências de todas as formas e feitios.
    Kulusevski (muita atenção ao sueco na próxima época), Romero (o Ruben Dias argentino) e Bentancur foram reforços a sério, e se tivermos em consideração a capacidade do Tottenham ombrear com City (os spurs venceram os campeões nas duas voltas) e Liverpool (empataram com os reds em casa e fora), pode estar aqui o clube mais capaz de "chatear" os 2 super-favoritos.
    Agora que Kane não vai a lado nenhum, resta apenas saber mimar Antonio Conte com os jogadores que o italiano peça. Como os últimos anos mostram, entre Chelsea e Inter, Conte tem uma certa tendência para ter sempre as malas preparadas. 

Destaques: Son Heung-Min, Harry Kane, Dejan Kulusevski, Cristian Romero, Rodrigo Bentancur

 ARSENAL (5)

    Pode-se olhar para a época do Arsenal e ver o copo meio cheio ou o copo meio vazio. Por um lado, os gunners subiram 3 lugares em comparação com as duas últimas temporadas, viram vários jovens talentos crescer e chegaram à última jornada com hipóteses de regressar ao Top-4 e à Liga dos Campeões. Por outro, o Top-4 e a Champions (que dificilmente seriam objectivos realistas no começo da época) só não aconteceram porque o Arsenal, quando só dependia de si, falhou no derby do Norte de Londres e na deslocação ao reduto do Newcastle, jogos em que se sentiu a inexperiência do grupo.
    Chegados ao fim da história, é fácil olhar para trás e identificar o mercado de Janeiro como um dos momentos decisivos. Ninguém esperava que o Arsenal, com legítimas chances de aproveitar as más épocas dos rivais, não tentasse contratar um ponta de lança depois de deixar sair Aubameyang; e no final, pareceu curto ver o jovem Nketiah a ser a principal esperança de golos de um emblema a tentar ser Top-4 na Premier League.
    Arteta não terá achado muita graça ao super-rendimento de Guendouzi no Marselha, mas terá ficado deliciado com o crescimento de Saliba na equipa de Sampaoli, faltando perceber se o central francês forçará ou não uma transferência em definitivo para a sua nova paixão. Em Londres, Bukayo Saka transformou o ódio gratuito que sofreu no final do Europeu em combustível para uma época fantástica, Ramsdale (grande quantidade de defesas impossíveis e muita coragem) surpreendeu-nos chegando mesmo a ser o melhor guardião da 1.ª volta, Odegaard consolidou-se como um líder sereno do grupo, e Ben White-Gabriel provaram óptima relação no coração da defesa. A este leque juntaram-se ainda os produtos da formação Smith Rowe, Gabriel Martinelli e Nketiah, que só precisam de continuar a ser aposta para se tornarem tudo aquilo que se espera deles.

Destaques: Bukayo Saka, Aaron Ramsdale, Martin Odegaard, Gabriel Magalhães, Ben White

 MANCHESTER UNITED (6)

    Uma época para esquecer. Desilusão do ano em Inglaterra, o Manchester United conseguiu a proeza de passar de 2.º para 6.º depois de (supostamente) se fortalecer com Cristiano Ronaldo, Jadon Sancho e Raphaël Varane, adquiridos por uma verba total de 160 milhões de euros.
    Como se explica então o annus horribilis em Old Trafford? Não é fácil. Num ano de várias humilhações (0-5 e 0-4 contra o Liverpool, 1-4 contra o Manchester City, 2-4 contra o Leicester, 1-4 contra o Watford, 0-4 contra o Brighton), os red devils mostraram em campo a total desorientação e falta de identidade ou projecto, torcendo agora para que Erik ten Hag (1.º treinador no pós-Sir Alex que parece encaixar na filosofia que tão bem caracterizou este gigante nos anos 90 e '00) não cometa os erros de Solskajer e Rangnick.
    Ironicamente, o melhor jogo do ano do United foi o 1.º - um arranque que prometia mundos e fundos com Bruno Fernandes a marcar um hat-trick, Pogba a conseguir um póker de assistências e Mason Greenwood (entretanto riscado, como não poderia deixar de ser mediante o seu comportamento fora de campo) a dar a entender que este seria o seu ano. Depois veio Cristiano Ronaldo e o craque português de 37 anos acabou por colocar o United com o "síndrome selecção portuguesa", por culpa dos treinadores, ao condicionar e "secar" jogadores como Bruno Fernandes, Sancho ou Rashford. Saber gerir CR7, figura de peso inigualável e máximo destaque individual (vêm à cabeça os hat-tricks contra Tottenham e Norwich e os bis contra o Arsenal e no seu 1.º jogo) à custa de versões mais ricas e equilibradas, será uma das principais tarefas de ten Hag que, no geral, sabe que dificilmente pode fazer pior do que uma equipa que sofreu 57 golos e marcou também 57 golos.
    Desta vez, além de Ronaldo, apenas De Gea e Fred marcaram pontos. Com ten Hag, esperam-se muitas caras novas e uma equipa mais viva e vibrante, sendo expectáveis bons desempenhos de Bruno Fernandes e Sancho, e gerando bastante curiosidade o processo Maguire (capitão de equipa mas com uma época embaraçosa de tão fraca).

Destaques: Cristiano Ronaldo, David De Gea, Fred

 WEST HAM (7)

    Para início de conversa fica bem dizer que só houve duas equipas a derrotar Manchester City, Liverpool e Chelsea em 2021/ 22: uma foi o Real Madrid, a outra foi o West Ham.
    Em boa verdade, os londrinos hammers mereciam o 6.º lugar desta época - marcaram mais golos do que o Manchester United e sofreram menos golos do que o Manchester United. Neste certame, impressionou sobretudo a capacidade do West Ham "partir" jogos e semear o caos contra Guardiola (2-2 no Etihad com um bis de Bowen, tendo a vitória contra o City acontecido nas grandes penalidades na Carabao), Klopp (vitória caseira por 3-2) ou Tuchel (nova vitória caseira por 3-2).
    Ao contrário do Leicester que não soube conciliar altas performances na Europa com o aproveitamento a nível interno, o West Ham mostrou tarimba de equipa grande, chegando até às meias-finais da Liga Europa (perderam com o Eintracht Frankfurt, que viria a levantar o troféu) sem deixar de realizar uma Premier League bem interessante.
    Com o vergonhoso capítulo de Zouma a meio caminho, ficou sempre a sensação que o West Ham esteve a um ponta de lança de distância de sonhar com coisas diferentes. Michail Antonio (épico mês de Agosto) fez uns golitos, mas os grandes destaques foram mesmo Declan Rice e Jarrod Bowen, dois jogadores com nível de Top-4. Na época da emocionante despedida do "Mr. West Ham" Mark Noble (22 anos ao serviço do clube), Rice mostrou estar mais do que preparado para herdar a braçadeira, enchendo o campo como poucos. Já Bowen, passou a dezena de golos e a dezena de assistências, e não surpreenderá se der o salto.

Destaques: Declan Rice, Jarrod Bowen, Michail Antonio, Aaron Cresswell

 LEICESTER CITY (8)

    Depois de 2 anos consecutivos às portas do Top-4, o Leicester City de Brendan Rodgers realizou uma época fraquinha, regressando ao patamar de 2018/ 19. 
    Semi-finalistas da Liga Conferência, os foxes até acabaram bem melhor do que toda a temporada deu a entender. Afinal, o 8.º lugar foi a posição mais alta em que o Leicester esteve nesta edição, ocupando-a apenas momentaneamente à jornada 16 e, ao cair do pano, numa ultrapassagem a Brighton e Wolves. O 5.º melhor ataque com tantas contrariedades demonstra que este pode ter sido um mero acidente de percurso, esperando-se mais do Leicester nas próximas temporadas.
    Além do foco dividido entre competições europeias (Liga Europa, num primeiro momento, e depois sim a Conference) e campeonato, o Leicester acusou a brutal instabilidade no seu 11 inicial, com uma praga de lesões a privar o treinador escocês de contar durante largos períodos com Fofana, Ndidi, Vardy ou Evans. A título de exemplo, em meados de Fevereiro o Leicester deslocava-se a Anfield com 2 médios defensivos como centrais.
    No meio de tudo isto, James Maddison (12 golos e 8 assistências) fartou-se de jogar à bola, e Dewsbury-Hall saiu beneficiado com tantas baixas entre os habituais titulares. Mesmo com bastantes jogos a menos, o lendário Jamie Vardy (35 anos) chegou aos 15 golos e Youri Tielemans (acaba contrato em 2023) deve ter feito as despedidas do King Power Stadium.

Destaques: James Maddison, Jamie Vardy, Harvey Barnes, Kiernan Dewsbury-Hall

 BRIGHTON (9)

    À terceira vez com Graham Potter, a classificação do Brighton fez finalmente justiça ao futebol praticado pela equipa-sensação de 2021/ 22. Tudo o que tem caracterizado os seagulls continuou lá: a proposta de jogo ousada, enérgica e cheia de personalidade, e o super-aproveitamento de quase todos os seus activos.
    Olhando para o percurso, saltam à vista o excelente arranque (12 pontos nas primeiras cinco jornadas) e a óptima conclusão - 5 vitórias nos últimos 8 jogos, impondo derrotas a Tottenham (fora), Arsenal (fora) e Manchester United (goleada por 4-0).
    O Brighton, com o plantel avaliado em 255 milhões de euros pelo Transfermarkt (apenas 4 equipas da Premier "valem" menos), mostra que Potter faz muito com pouco. Acreditamos que assim continue, e que o técnico de 47 anos esteja destinado a outros voos, mas será conveniente um maior reforço, sobretudo para as posições mais avançadas.
    Pensar neste Brighton & Hove Albion é pensar em Marc Cucurella (uma das melhores contratações do ano, exímio a dar profundidade no corredor esquerdo mas sábio e flexível para também actuar a 3.º central), em Yves Bissouma (no momento certo para dar o salto) e Leandro Trossard (à falta de maior inspiração de Maupay e Welbeck, sobressaiu o extremo belga).

Destaques: Marc Cucurella, Yves Bissouma, Leandro Trossard, Adam Webster, Moisés Caicedo 

 WOLVES (10)

    A 1.ª experiência de Bruno Lage na Premier League ficou abaixo dos melhores trabalhos de Nuno Espírito Santo (2019 e 2020) mas o 10.º posto final tem um travezinho a injustiça se for tido em conta o facto dos wolves terem passado 22 jornadas em 8.º e o arranque surreal com uma série de resultados negativos em jogos dominados pelo Wolverhampton.
    Depois de um reforço de plantel abaixo do exigível, o Wolves venceu em Old Trafford, venceu no Tottenham Hotspur Stadium, empatou com o Chelsea nas duas voltas e, no conjunto dos 4 jogos contra City e Liverpool, vendeu cara a derrota em três ocasiões, com aquele póker monumental de Kevin De Bruyne a servir de excepção.
     Constatar que os wolves foram a 5.ª melhor defesa do campeonato (apenas o Top-4 sofreu menos golos) não surpreende tendo em conta as exibições monumentais de José Sá e a regularidade de todo o seu sector defensivo, com especial destaque para Kilman e Coady, deixando Toti Gomes bons apontamentos na recta final. Também não surpreende, em sentido inverso, o estatuto de 4.º pior ataque (38 golos, pior só os três que desceram) mediante a veia pouco goleadora de Raúl e de Hwang, e a timidez/ irregularidade de Podence, Trincão (não funcionou), Adama Traoré (meia época até rumar a Barcelona) ou Pedro Neto (muito tempo lesionado).
    Em 2022/ 23 esperam-se mais golos, reforços a sério (muitos deles seguramente com ligação ao futebol português) e é possível que esta tenha sido a última época de Rúben Neves nos lobos.

Destaques: José Sá, Max Kilman, Rúben Neves, Conor Coady, Rayan Aït-Nouri 

 NEWCASTLE (11)

    O conto do Newcastle em 2021/ 22 escreve-se em duas voltas substancialmente distintas. Os magpies tinham zero vitórias à passagem da jornada 14 (nunca antes na História da competição uma equipa tinha escapado à despromoção em semelhante contexto), mas o dinheiro muda tudo. Ou não, neste caso, mais ou menos. Nos meses de Outubro e Novembro, iniciou-se o período saudita com o consórcio encabeçado pelo Public Investment Fund a adquirir o clube e a prometer um brutal investimento nos próximos anos. Do banco de suplentes saiu o ultrapassado Steve Bruce, e entrou Eddie Howe, um dos 3 melhores treinadores ingleses da actualidade.
    No mercado de Janeiro, o Newcastle percebeu o conflito que o seu estatuto de "novo rico" gerava junto de clubes vendedores e de potenciais alvos - os outros clubes perceberam que podiam esticar a corda, e muitos jogadores ficaram reticentes dado o perigo de confiar num clube cuja descida para o Championship ainda era uma hipótese. Neste cenário, Bruno Guimarães foi a grande aquisição, acompanhado por jogadores britânicos como o experiente Trippier, Dan Burn (adepto do clube), Chris Wood ou Targett.
    Há poucas palavras para descrever a segunda volta do Newcastle, inferior a apenas Liverpool e Manchester City. Com Joelinton (de flop a dianteiro para soberbo médio) como um dos Most Improved Players e Saint-Maximin a driblar mais do que qualquer outro jogador na Premier, o St. James' Park já sentiu um cheirinho da nova Era, aparentemente marcada por muito samba. Aguardemos então pelos próximos episódios, com vários reforços de luxo sob a supervisão do ex-director de futebol do Brighton, Dan Ashworth. 

Destaques: Joelinton, Bruno Guimarães, Allan Saint-Maximin, Dan Burn, Fabian Schär

 CRYSTAL PALACE (12)

    O facto do Crystal Palace ter sido a 7.ª equipa com melhor diferença entre golos marcados e sofridos mostra que esta 12.ª posição é algo mentirosa. Os eagles correram elevados riscos na transição de 20/ 21 para 21/ 22, incumbindo Patrick Vieira de ser o homem do leme num paradigma renovado em absoluto, com um elenco muito mais jovem. O adeus simultâneo de Cahill, Dann, Sakho, McCarthy, van Aanholt e Townsend poderia ter representado uma perda de "estofo" ou capacidade de lidar com a pressão, mas o defeso veranil veio a revelar-se um sucesso absoluto. Guéhi (que central!) e Andersen entenderam-se às mil maravilhas no eixo defensivo, Mitchell mostrou que pode virar caso sério nos próximos anos, Conor Gallagher terá sido o jogador que mais evoluiu este ano em Inglaterra, e no ataque entre Zaha, Olise, Eze, Mateta e Édouard (que luxo seria se Vieira tivesse podido contar com todos ao mesmo tempo) a equipa encontrou quase sempre respostas.
    Fica na História a vitória sem espinhas no Etihad (2-0) e ficam dados excelentes sinais para o futuro próximo, um futuro que não deve contar com Gallagher e no qual é expectável que o clube continue a olhar para o Championship e para excedentários dos grandes ingleses na hora de identificar reforços.

Destaques: Conor Gallagher, Wilfried Zaha, Marc Guéhi, Tyrick Mitchell

 BRENTFORD (13)

    Na nossa Antevisão feita em Agosto passado, apontámos o Brentford como a única equipa das promovidas que poderia sobreviver. Assim foi. As abelhinhas não estavam no primeiro escalão do futebol inglês desde 1947, mas a óptima gestão e planeamento (espécie de Moneyball) já davam a entender que todo e qualquer passo dado pela equipa londrina seria bem pensado e inteligente.
    O dinamarquês Thomas Frank (4 épocas no clube) tem em mãos o plantel mais nórdico da Premier League - 9 jogadores escandinavos - que mais nórdico ficou a 31 de Janeiro quando, num momento-chave, Christian Eriksen assinou um contrato de 6 meses. Com a camisola 21, o ex-Tottenham e Inter elevou o nível de todos à sua volta, coincidindo a sua entrada regular no onze inicial com o melhor futebol do Brentford, nos meses de Março, Abril e Maio.
    O pico da época dos bees aconteceu num extraordinário 4-1 em Stamford Bridge, destacando-se os golos de Ivan Toney, o equilíbrio de Norgaard, a utilidade de Wissa como suplente e as performances defensivas de elementos como Jansson, Pinnock e Raya.

Destaques: Ivan Toney, Christian Eriksen, Christian Norgaard, Pontus Jansson, David Raya  

 ASTON VILLA (14)

    A par do Newcastle, o Aston Villa parece ser o clube inglês que reúne melhores condições para viver assinalável crescimento sustentável nos próximos anos. Os villans canalizaram o dinheiro da venda de Jack Grealish (117 milhões) recheando-se com Buendía, Bailey ou Ings, mas a equipa de Birmingham acusou a saída do seu capitão, acabando Dean Smith por ser convidado a abandonar o projecto decorridas 11 jornadas, momento em que o Aston Villa estava em 16.º a 2 pontos dos lugares de descida.
    Numa das mais interessantes movimentações da época, a direcção conseguiu retirar Steven Gerrard do Rangers e numa fase inicial (4 vitórias nos primeiros 6 jogos) a escalada na tabela foi galopante e impressionante. A imagem final não foi tão positiva - 6 derrotas nos últimos 11 jogos, vencendo nesse intervalo de tempo apenas Norwich e Burnley - mas o plantel tem valor e potencial, e está visto que o factor Gerrard servirá para atrair craques inesperados (servem de exemplo Coutinho e, na antecâmara de 22/ 23, Boubacar Kamara).
    Desta edição, que quase culminou com um desgosto imposto ao campeão, fica a profundidade conferida pelos laterais Matty Cash e Lucas Digne (contratado em Janeiro), o nascimento do promissor box-to-box Jacob Ramsey, o super-consistente John McGinn e um flop chamado Leon Bailey. 

Destaques: Matty Cash, John McGinn, Jacob Ramsey, Ollie Watkins 

 SOUTHAMPTON (15)

    O Southampton terá sido, muito possivelmente, a equipa mais aborrecida desta Premier League 21/ 22. Os saints nunca estiveram em risco de descer, mas também nunca estiveram acima do 10.º lugar, e venceram apenas 1 dos seus últimos 12 jogos.
    Repetindo o 15.º lugar da época passada (em 5 anos, 4 presenças entre o 17.º e o 15.º lugares mostram que o clube está a habituar-se a um perigoso limbo), os comandados de Ralph Hasenhüttl estão hoje bem longe daquele Southampton pujante e com óptimo recrutamento que entre 2014 e 2017 encantou a Premier League e em especial o Liverpool, clube que roubou jogadores uns atrás dos outros.
    Poucos episódios relevantes ficam deste percurso, merecendo destaque o facto do Southampton ter sido uma das duas equipas desta Premier League a não sofrer golos em casa do campeão Manchester City (0-0). No geral, James Ward-Prowse (10 golos, recorde pessoal) voltou a mostrar que ninguém bate cantos e livres directos como ele, o central ganês Salisu foi um dos melhores na sua posição, brilhando ainda os laterais - Walker-Peters, convertido a lateral esquerdo, e Livramento, um talento de 19 anos que encontrou no St Mary's o espaço que não teria no Chelsea.

Destaques: James Ward-Prowse, Mohammed Salisu, Kyle Walker-Peters, Tino Livramento, Oriol Romeu

 EVERTON (16)

    A temporada do Everton foi uma progressiva descida aos infernos. Os toffees, um dos históricos da Premier League com 9 títulos de campeão e consecutivamente no 1.º escalão desde 1954, chegaram a experimentar o purgatório, mas in extremis foi garantida a manutenção.
    Os adeptos nunca acolheram de braços abertos Rafa Benítez, técnico com um passado de sucesso no grande rival Liverpool, e nem mesmo o bom arranque (à 7.ª jornada o clube estava em quinto) abafou o preconceito. A partir daí, foi sempre a descer, tendo um peso significativo a fratura de um dedo do pé de Dominic Calvert-Lewin, goleador que arrancara a todo o gás (marcou nas 3 primeiras jornadas) e que desde aí falhou 16 jogos. Além das saudades de DCL, pesou também o litígio de Lucas Digne e Rafa Benítez, acabando ironicamente por perder ambos o braço de ferro, deixando Goodison Park um depois do outro.
    Frank Lampard foi a opção de Farhad Moshiri, mas a sua tentação de privilegiar um futebol de equipa grande não casou bem com o limitado plantel e com o fantasma crescente da descida, fonte de pressão para adeptos e jogadores. Com o histórico ex-médio do Chelsea, o clube da cidade dos Beatles venceu apenas 6 em 18 jogos, desapontando a incapacidade de ressuscitar Dele Alli e van de Beek. Para a História ficam claramente as vitórias caseiras frente a Newcastle (1-0 marcado aos 90+9 e com a equipa reduzida a dez unidades), Manchester United (1-0), Chelsea (1-0) e por fim uma emocionante reviravolta de 3-2 contra o Crystal Palace, que culminou com eufórica invasão de campo.
    No meio da tormenta, destacou-se Richarlison, craque brasileiro que talvez pretenda rumar a ambientes mais estáveis e ambiciosos, Pickford com um leque de defesas impressionantes, e o menino Anthony Gordon.

Destaques: Richarlison, Jordan Pickford, Demarai Gray, Anthony Gordon

 LEEDS UNITED (17)

    Agora sim, o Leeds United pode respirar de alívio. O histórico do futebol inglês caiu numa espiral de azares e tiros nos pés, passou de equipa-sensação (fantástico 9.º lugar em 2020/ 21) para aflito desesperado, mas à última jornada foi assegurada a manutenção.
    A época do Leeds conta-se em três capítulos: El Loco, El Estaleiro e El Ted Lasso.
    I) No trabalho mais duradouro da sua carreira (Marcelo Bielsa orientou o Leeds durante 170 jogos, quando o seu máximo anterior era de 113 partidas em Bilbau), o visionário sexagenário, que inspirou Guardiola, Simeone, Pochettino e Gallardo, devolveu o Leeds ao patamar que a sua História reclama, "espremendo" os seus jogadores com uma intensidade brutal, uma meticulosa atenção ao detalhe e uma abordagem táctica ousada. A falta de reforços, duas ausências de peso e algum desgaste/ teimosia de Bielsa em largar o seu Plano A originaram um difícil e inimaginável divórcio.
    II) Para o declínio abrupto do Leeds, muito contribuíram as lesões de 2 dos 3 jogadores mais influentes do Leeds. Kalvin Phillips, o pêndulo da equipa, falhou 18 jogos, e Patrick Bamford, principal esperança da equipa para marcar golos (17 tentos na época anterior), jogou somente 557 minutos.
    III) O Leeds passou apenas 8 jornadas das 38 na zona de despromoção, mas 3 dessas 8 foram nas quatro finais, e a diferença de golos (-37, o terceiro pior registo) comprova que a salvação fintou as probabilidades. No pós-Bielsa, o clube escolheu o norte-americano Jesse Marsch, um treinador com muita taurina (orientou 3 clubes do universo Red Bull) e que, além do sotaque, deu ares de Ted Lasso (personagem de Jason Sudeikis na Amazon) pela trajectória que a época dos peacocks parecia seguir e pela invulgar invocação de Gandhi, da Madre Teresa ou de JFK.
    Raphinha foi o craque da equipa, e deve sair, mas há motivos para confiar num 2022/ 23 melhor, com um plantel bastante diferente (Brenden Aaronson foi o 1.º reforço oficializado, e entusiasma).

Destaques: Raphinha, Jack Harrison, Liam Cooper

 BURNLEY (18)

    Seis temporadas depois, esgotou-se a fórmula, esgotou-se o plafond de milagres do Burnley. Sem nunca fugir ao seu ADN super-conservador e recusando-se a fazer um upgrade no seu plantel, dotado de pouquíssima criatividade/ capacidade de desequilibrar, o Burnley caiu apenas no último dia, afundando-se um mês depois de atirar Sean Dyche (ícone que já se confundia com o próprio clube, tendo servido os clarets de 2012 a 2022) para fora do barco. O interino Michael Jackson (sim, o nome é mesmo este) ainda iludiu toda a gente com 3 vitórias nos seus primeiros 4 jogos, que lhe valeram inclusive o prémio de Treinador do Mês de Abril, mas 3 derrotas nos últimos 4 embates ditaram a descida, respirando de alívio nesse período Everton e Leeds United.
    Com um plantel combativo e ultra-defensivo (é estranho ver uma equipa a descer com 53 golos sofridos, quando houve 10 equipas a defender matemática e objectivamente pior), o Burnley não se pode queixar do rendimento de Nick Pope e James Tarkowski (acaba contrato e deve ter meio campeonato interessado em garanti-lo), bem como do centro-campista Josh Brownhill, um jogador subvalorizado que poderia brilhar se tivesse outras companhias. Cornet foi destacado o melhor marcador, com 9 golos, o talentoso Dwight McNeil teve um contributo directo paupérrimo (zero golos e uma assistência) e Weghorst não conseguiu dar sequência ao seu impacto inicial.

Destaques: Josh Brownhill, Nick Pope, Max Cornet, James Tarkowski

 WATFORD (19)

    Em terras de Rainha Isabel II, o Watford é sinónimo de colecção de treinadores. Em 2021/ 22 foram três (Xisco Muñoz, Claudio Ranieri e Roy Hodgson) mantendo Gino Pozzo a sua média de rescisões e apresentações.
    Na sua pior Premier League de sempre em termos pontuais, os hornets viveram o período mais saudável com Ranieri, destacando-se uma vitória por 5-2 em casa do Everton e uma goleada caseira (4-1) frente ao Manchester United, hecatombe que ditou o despedimento de Solskjaer. Depois de Ranieri, o clube acreditou que Hodgson, outro veterano destas andanças, seria capaz de fazer do Watford uma espécie de Crystal Palace (defesa segura e vertigem a partir dos extremos), mas o experiente treinador de 74 anos não conseguiu reescrever o destino.
    Individualmente, Sarr foi uma sombra do seu potencial, revelando-se Emmanuel Dennis (contratado por módicos 4 milhões de euros) uma das boas surpresas da competição.

Destaques: Emmanuel Dennis, Hassane Kamara, Cucho Hernández

 NORWICH (20)

    O último classificado da Premier League foi, incontestavelmente, a pior equipa desta edição. Com modestos 22 pontos (5 vitórias, 7 empates e 26 derrotas), os canários de Carrow Road marcaram apenas 23 golos ao longo do campeonato, sofrendo 84. Mantém-se o comportamento iô-iô desta equipa, incapaz de se estabelecer na primeira divisão, alternando primeiros lugares no Championship (o Norwich foi campeão em 18-19 com 94 pontos e em 20-21 com 97 pontos) com a vigésima posição da Premier League - aconteceu em 19-20 e voltou a acontecer agora.
    O alemão Daniel Farke, no clube desde 2017 e um dos poucos factores de estabilidade no sobe e desce de diferentes realidades, não resistiu aos maus resultados, mas Dean Smith (ex-Aston Villa) também não conseguiu salvar o Norwich da condenação.
    Embora o salto do Championship para a Premier League se faça sempre sentir, a transferência de Emi Buendía, MVP do ano da subida com 15 golos e 16 assistências, dificultou ainda mais o processo de transição. O jogo do Norwich passava todo pelos pés do argentino e nenhum dos potenciais substitutos (Rashica, Tzolis e Sargent) conseguiu ter um décimo da sua influência.
    A época cinzenta do pequeno Billy Gilmour surpreendeu-nos pela negativa, voltando o finlandês Teemu Pukki a marcar os seus golitos (11) num elenco onde o limitado mas assertivo Grant Hanley e o keeper Tim Krul procuraram remar para o lado certo.

Destaques: Teemu Pukki, Grant Hanley, Tim Krul

29 de maio de 2022

Prémios BPF Premier League 2021/ 22

    Que privilégio é poder assistir semanalmente à Premier League na era de Guardiola e Klopp! Trinta e oito jornadas depois, a liga inglesa conheceu o seu desfecho, guardando muita ansiedade e plot twists dignos das melhores séries da HBO até aos últimos minutos.
    Na luta titânica entre as duas melhores equipas do mundo nos últimos anos, ambas com uma regularidade impressionante, sorriu o Manchester City (4.º campeonato em 5 anos), com 1 ponto (93 contra 92) a fazer a diferença no topo da tabela, numa edição que trouxe à memória 2018/ 19, temporada em que no concurso "Quem Quer Ser Mais Perfeito?" o Liverpool somou 97 pontos, mas viu o rival azul celeste festejar com 98.
    2021/ 22 fica na História como época de emoções fortes. Afinal, quando os árbitros apitaram para se jogarem os dez embates da última jornada, ainda estava por decidir o 1.º lugar, quem garantiria a última presença no Top-4, e a manutenção. Pela primeira vez na História da competição, nenhuma das 20 posições da tabela já estava 100% entregue a um emblema quando a derradeira ronda arrancou.

    Além da nova corrida a dois, esta Premier teve um Chelsea que ficou longe de se intrometer na luta pelo título, prejudicado por algumas lesões (pagou a fatura ao perder os dois laterais, James e Chilwell, em simultâneo), pelo flop Lukaku e pela instabilidade gerada pela venda forçada do clube, há tantos anos nas mãos do oligarca Roman Abramovich; no Norte de Londres, o Tottenham bateu o Arsenal, com Antonio Conte a colocar os spurs de Harry Kane e Son Heung-Min (que dupla!) no caminho certo. O Manchester United caiu de 2.º para 6.º, mesmo depois de se reforçar com Ronaldo, Sancho e Varane, e em sentido inverso houve desempenhos sensacionais de Brighton, Brentford, Crystal Palace e, claro, do novo rico Newcastle.

    No plano individual, emergiram principalmente 3 figuras, dominantes em diferentes períodos da prova - Mohamed Salah foi o melhor jogador do Mundo durante a primeira volta, Kevin De Bruyne carregou o City rumo ao título a partir do momento em que deixou as lesões para trás, e Son Heung-Min esteve sempre com a corda toda, conseguindo mesmo a proeza de dividir a Bota de Prata com o craque egípcio do Liverpool.
    Bernardo Silva, Trent Alexander-Arnold, João Cancelo, Virgil van Dijk, Harry Kane, Rodri, Declan Rice ou Jarrod Bowen foram outros dos destaques superlativos numa Liga que recebeu fantásticos reforços como Luis Díaz, Kulusevski, Cristian Romero, Eriksen, Bruno Guimarães, Cucurella e José Sá, e em que ficámos impressionados com a evolução inesperada de atletas como Joelinton, Conor Gallagher ou Ramsdale.

    Como todos os anos, é chegada a altura de indicarmos aqueles que foram para nós os melhores do ano: o nosso 11, o Jogador do Ano e o Jovem Jogador do Ano, o Treinador do Ano, e ainda algumas categorias complementares.



Guarda-Redes: Num olhar global por toda a Europa, cremos que apenas Courtois, Maignan e Vicario estiveram esta época a um nível superior do que o melhor guarda-redes desta Premier League. De regresso ao seu melhor nível - o Liverpool em 20-21 acusou claramente os dossiers Alisson e van Dijk - o guardião brasileiro voltou a mostrar que é o melhor na sua posição em Inglaterra, sendo peça-chave na caminhada do Liverpool, dizendo presente nos momentos difíceis e acabando a partilhar as Luvas de Ouro (20 jogos sem sofrer golos) com o compatriota Ederson. O camisola 31 do City voltou a estar bem e a impressionar com a sua loucura e qualidade a distribuir, mas deixou pontualmente a sensação que poderia ter feito mais em alguns lances.
    No campo das surpresas estiveram José Sá e Aaron Ramsdale, brilhantes reforços de Wolves e Arsenal respectivamente. O inglês, para o qual olhávamos com bastante desconfiança, é bem capaz de ter sido o GR com maior número de intervenções espectaculares nesta edição, caindo no entanto o seu rendimento ao longo da segunda volta. Já o nosso José Sá revelou a melhor percentagem de sucesso na hora de travar remates, fazendo esquecer por completo Rui Patrício.
    Por fim, David De Gea. O espanhol evitou males maiores em Old Trafford, confirmando a sua tendência para render individualmente de forma inversamente proporcional ao desempenho colectivo do United.


Lateral Direito: Ninguém tem dúvidas, embora tenha apenas 23 anos (nos quais já soma 161 jogos na Premier League), que Trent Alexander-Arnold será um dos melhores da História na sua posição. O lateral britânico, dono dos melhores cruzamentos e passes longos a rasgar em Inglaterra, fechou a época com 2 golos e 12 assistências, sendo mesmo Top-5 dos candidatos a Jogador do Ano. As reticências em relação ao seu comportamento defensivo mantêm-se (do outro lado, por exemplo, Robertson é mais equilibrado), mas a atacar não há no mundo nenhum lateral direito ao seu nível.
    E se o título foi disputado a dois, também a rivalidade à direita da defesa parecia a dada altura um embate renhido. Reece James (5 golos e 9 assistências), do Chelsea, realizou uma 1.ª volta estratosférica, ombreando com TAA, mas um calvário de lesões impediu quase em absoluto o seu contributo entre as jornadas 20 e 32.
    Notável foi também o fulgor do inglês naturalizado polaco Matty Cash, sobretudo desde que Steven Gerrard assumiu o comando do Villa, enquanto que Kyle Walker (apenas 1756 mins) voltou a mostrar que nenhum DD defende tão bem como ele em Inglaterra, e Tino Livramento (família portuguesa do lado do pai) foi uma das revelações ao transitar da formação do Chelsea para os quadros do Southampton. 


Defesa Central: Numa das decisões mais difíceis deste 11, por mais que adoremos Rúben Dias, não há como não reconhecer a soberba época do sempre subvalorizado Joel Matip. Irrepreensível na suas acções, dominante e taco-a-taco com o colega van Dijk, o jogador dos Camarões nascido na Alemanha merece todos os elogios que finalmente está a colher, um pouco como aconteceu no último par de anos com Rüdiger.
    Rúben Dias continuou a ser um líder e um guerreiro na defesa do City (marcou e assistiu mais, mas esteve ausente na recta final, período em que Matip disparou), Cristian Romero provou ser um dos reforços do ano e um defesa raçudo para crescer muito com Conte, Thiago Silva foi um dos destaques da 1.ª volta e Max Kilman afirmou-se em definitivo e fixou-se no 11 do Wolverhampton com toda a confiança de Bruno Lage.


Defesa Central: Virgil van Dijk é um monstro no melhor dos sentidos da palavra. Centralão, presença de impor respeito, o neerlandês reemergiu como uma das figuras do Liverpool, tudo isto depois da uma época em que os reds caíram brutalmente, órfãos do seu patrão defensivo.
    Entre os restantes centrais, Aymeric Laporte reconquistou Guardiola e jogou o seu melhor futebol desde que está em Inglaterra, atirando John Stones (titularíssimo ao lado de Rúben Dias em 20-21) várias vezes para o banco; Rüdiger despediu-se dos palcos ingleses porventura na sua melhor versão, pelo menos a nível interno; Guéhi desvinculou-se do Chelsea para ser o pilar da defesa do rejuvenescido Crystal Palace de Patrick Vieira; e Mohammed Salisu, no seu Ano 2 em Inglaterra, mostrou finalmente aquilo de que é feito. 


Lateral Esquerdo: Quis o destino, ou quis Pep Guardiola, que o nosso Lateral Direito do 11 do ano passado fosse o nosso Lateral Esquerdo desta vez. João Cancelo, tal como o nosso escolhido em seguida para médio defensivo, prova que não há nada como o tempo. Tempo de adaptação, de compreensão do ritmo muito próprio do campeonato e de assimilação das ideias de Pep. O lateral luso de 28 anos foi o jogador de campo mais utilizado pelos campeões e foi o jogador do City com mais passes. Um dos principais responsáveis pelo título, com 1 golo e 7 assistências, números que ainda assim não ilustram de forma apropriada a forma como o polivalente Cancelo desequilibrou e castigou os adversários.
    Como concorrentes seus este ano: Andy Robertson, quiçá o lateral mais regular dos últimos anos no futebol mundial, quando somados os desempenhos defensivo e ofensivo; Marc Cucurella, uma espécie de super-Grimaldo e um exemplo da óptima prospecção do Brighton de Graham Potter; e ainda o destro convertido a lateral-esquerdo Kyle Walker-Peters e Tyrick Mitchell, chamado em Março pela 1.ª vez à selecção inglesa.


Médio Defensivo: O antigo seleccionador espanhol Vicente del Bosque popularizou a frase "quando olhas para o jogo não vês Busquets, mas quando olhas para Busquets vês o jogo todo". Guardiola teve o 5 do Barça e agora tem Rodri, um facilitador que faz da antecipação, do posicionamento e da inteligência as suas maiores armas. Com o bónus de ter marcado 7 golos (alguns deles, grandes golos), Rodrigo Hernández foi um regalo toda a época. Neste momento, executa e pensa como Guardiola, e toda a equipa reflecte e ganha com isso.
    Ao falar de médios defensivos e da Premier League, actualmente a conversa tem que ir parar a Declan Rice. O médio do West Ham, herdeiro de Mark Noble como capitão, é cada vez menos um mero recuperador e cada vez mais um médio faz-tudo (traz à memória Roy Keane, embora com mais elegância e menos dureza). Compreende-se que os grandes ingleses queiram perder a cabeça por ele, mas sentimos que ainda será hammer em 22-23.
    Nos vice-campeões, Fabinho encheu o campo, destacando-se ainda Bissouma e Rúben Neves, dois elementos que parecem prontos para dar o salto.


Médio Centro: Quando Mo Salah teimava em deliciar os adeptos fim-de-semana sim fim-de-semana sim, exibindo-se como melhor do mundo na primeira metade da Premier League, só Bernardo Silva lhe conseguia a espaços morder os calcanhares e incomodar na corrida a MVP. Entretanto, a dinâmica da época mudou bastante, e o próprio Bernardo Silva deixou de carregar a equipa, mas o melhor jogador português em 2021-21 foi sempre a fotografia perfeita deste Manchester City: um génio virtuoso capaz de aliar a toda a sua qualidade técnica uma inteligência ímpar para perceber o jogo e uma disponibilidade física/ intensidade/ sede competitiva inesgotáveis.
    No centro do campo, James Ward-Prowse cimentou o seu estatuto de melhor cobrador de bolas paradas da actualidade, Mason Mount foi sempre o jogador ofensivo mais esclarecido dos blues, Thiago Alcântara espalhou classe agora finalmente ambientado a terras de Sua Majestade e às intenções de Klopp, e o pouco valorizado Josh Brownhill fez mais do que suficiente para que algum clube sobrevivente o resgate e impeça de descer com o Burnley ao Championship.


Médio Centro: O melhor médio do mundo e, para nós, o Jogador do Ano desta Premier League 2021/ 22. O futuro melhor amigo de Haaland marcou golos como nunca (15, batendo o seu máximo anterior de 13) e carregou verdadeiramente os campeões ingleses quando a coisa apertou. Com um contributo reduzido nas primeiras 14 jornadas (nesse período, só cumpriu os 90 minutos em duas ocasiões), a partir do momento em que as lesões ficaram para trás, KDB foi o máximo destaque individual da Premier, impressionando sobretudo dois factores: a sua apetência para marcar em jogos grandes (marcou nas 2 voltas ao Liverpool, mas também ao Chelsea e ao Manchester United) e o facto de, num Manchester City-Liverpool com 22 estrelas em campo, mesmo aí De Bruyne conseguir destacar-se e parecer um jogador diferenciado. Cada vez mais o debate Gerrard-Scholes-Lampard vai ganhando um quarto elemento.
    Merece referência também a super-época de James Maddison (12 golos e 8 assistências), o brutal salto de rendimento de Conor Gallagher, os primeiros passos do prodigioso Jacob Ramsey e ainda Martin Odegaard, um líder sereno neste novo Arsenal.


Extremo Direito: Um dos 3 melhores jogadores do ano em Inglaterra, Mo Salah parecia lançado para competir pela Bola de Ouro e pela Bota de Ouro. Nas primeiras 17 jornadas, o craque egípcio marcou 15 golos, deixando-nos mal habituados a pensar que chegaria aos 30 e tal golos. Mas não. O pós-CAN (Salah perdeu a final frente ao Senegal de Sadio Mané, nas grandes penalidades) foi custoso e a queda de rendimento abrupta, fechando a temporada com um registo irreconhecível - marcou em apenas 2 dos últimos 10 jogos. Aquém das épocas globais de Benzema, Lewandowski ou Mbappé, Salah foi o melhor marcador (honra partilhada com Son Heung-Min, ambos com 23 golos) e o melhor assistente desta Premier League, mas podia ter feito muito mais.
    À direita do ataque, foi delicioso assistir à explosão de Jarrod Bowen (12 golos e 10 assistências, juntando-se nessa capacidade de fazer +10 tanto em golos como em assistências à elite composta por Mbappé, Benzema, Nkunku, Vinícius Jr., Salah, Berardi, Diaby, Payet, Milinkovic-Savic ou Bourigeaud), Saka reagiu da melhor forma ao traumático episódio no desfecho do Euro 2020 com uma época cheia de personalidade, Mahrez voltou a iludir os defesas contrários e Raphinha salvou o Leeds, sendo muitíssimo provável a sua transferência para outra realidade. 


Extremo Esquerdo: Depois de 9 jogadores do Liverpool ou do Manchester City, as últimas duas vagas do 11 do ano pertencem a um terceiro clube, aqui representado pela parceria mais produtiva na História da Premier League.
    O sul-coreano Son Heung-Min é um dos melhores jogadores do mundo. Poucas vezes o nome de Son surge quando se enumeram os grandes jogadores da actualidade, mas tem que ser feita justiça: o camisola 7, pela primeira vez dono da distinção de melhor marcador da Premier League, é um craque de finalização fria, meia distância potente e velocidade desconcertante. 23 golos, nenhum deles de grande penalidade.
    Igualmente desconcertantes foram Sadio Mané (próxima paragem Munique?), o diamante Phil Foden, e dois dribladores por natureza, Allan Saint-Maximin (cuidado com ele quando o nível médio de jogadores do Newcastle subir em 22-23) e Wilfried Zaha, eterno "prisioneiro" do Crystal Palace.


Ponta de Lança: Diogo Jota deslumbrou na 1.ª volta, perdendo algum peso e espaço com a chegada de Luis Díaz, Cristiano Ronaldo registou uns impressionantes 18 golos (marcados em 12 jogos) aos 37 anos mas, embora máximo destaque individual da época do United, "secou" e condicionou os colegas, Ivan Toney não acusou a transição para o 1.º escalão e a "pechincha" Emmanuel Dennis (custou 4 milhões de euros) é o nosso último destaque numa vaga que não ficaria mal entregue a Watkins ou Vardy.
    Acima de todos estes, esteve Harry Kane, uma vez mais o ponta de lança em destaque no campeonato inglês. Perturbado pela transferência gorada para o Manchester City, o 10 dos spurs demorou a "reencontrar-se", mas quando por fim limpou a cabeça, as super-exibições seguiram-se umas às outras. Com 17 golos e 9 assistências, foi o mais completo e influente dos avançados, contribuindo e muito para elevar o seu amigo Son Heung-Min a melhor marcador. Com 183 golos é o 5.º melhor marcador da História da Premier League; o recorde de Shearer (260) está ao alance, pelo menos Agüero e Andy Cole tudo indica serão ultrapassados na próxima época, e os adeptos do Tottenham podem descansar visto que Hurricane deve ficar no clube para sempre.



    Esta época, não nos faz comichão se alguém escolher Salah ou Son como máximo destaque, mas Kevin De Bruyne é o nosso Jogador do Ano da Premier League 2021/ 22. O melhor médio da actualidade disse presente quando a pressão aumentou (não é à toa que o City só desmoronou em Madrid frente ao Real na Champions quando KDB já tinha saído), carregou a equipa, picou o ponto nos jogos grandes, mostrou ser feito de outra matéria mesmo num Manchester City-Liverpool em que todos os jogadores são craques. Basicamente, De Bruyne foi o jogador que vimos apresentar um nível mais elevado durante mais tempo, quase não sofrendo de oscilações de rendimento como Salah ou Bernardo. A regularidade e o prazer que dá aos adeptos, não quantificável, têm que ser valorizados.
    Possibilitando diferentes ordenações, parece-nos consensual que o pódio de jogadores desta Premier League teria sempre que juntar ao médio belga os 2 melhores marcadores, Mohamed Salah e Son Heung-Min (23 golos para ambos), respectivamente o melhor jogador africano e o melhor jogador asiático da actualidade.
    Rodri, Cancelo, Bowen, Rice, van Dijk ou Matip não seriam escolhas descabidas para este nosso habitual Top-6, mas optámos por fechar com Trent Alexander-Arnold (super influente no Liverpool, com alto impacto e assinalável regularidade) e Harry Kane, que quando finalmente se "encontrou" acumulou super-exibições.



    Numa categoria outrora entregue a Mason Mount, Alexander-Arnold, Leroy Sané, Dele Alli ou Harry Kane, esta é a vez de Phil Foden. O craque de Stockport, com 22 anos acabinhos de fazer, já poderia ter ganho na época passada, mas a maior regularidade de Mount levou-nos a escolher o médio do Chelsea. Desta vez foi unânime. Os seus números estiveram longe de ser estratosféricos (9 golos e 5 assistências em 2133 minutos) mas a qualidade de Filth Foden vai muito além dos números: entre ziguezagues, recepções orientadas e o QI necessário para integrar o exigente onze do City, Foden é o grande talento inglês desta nova vaga, e acreditamos que não demore muito a justificar uma presença na categoria de Jogador do Ano.
    No ano em que Mason Greenwood foi riscado, brilhou Reece James na sua capacidade de surgir a partir da direita, Bukayo Saka com todo o seu atrevimento e agilidade, Conor Gallagher com um inesperado amadurecimento acompanhado por uma hábil chegada à área, Smith Rowe (faltou-lhe apenas conseguir instalar-se em definitivo no 11 inicial) com a sua qualidade em transição, e Jacob Ramsey, o box-to-box certo para ser laminado por Steven Gerrard.



Treinador do Ano: Numa perspectiva global, Jürgen Klopp foi até ao fim em todas as frentes - tão perto da inédita quadrupla, ficando a 1 ponto do campeão Manchester City, vencendo as duas taças e perdendo a final da Champions com o Real Madrid. No entanto, sempre foi nosso critério avaliar em exclusivo a Premier League e, nesse sentido, Pep Guardiola é uma vez mais o nosso eleito.
    O técnico espanhol de 51 anos consolidou a hegemonia do City conseguindo o 4.º título num intervalo de cinco anos, e preparando-se para tentar em 2022/ 23 um tricampeonato que, no formato Premier League, apenas o United de Sir Alex Ferguson conseguiu. Guardiola orientou um City que somou 93 pontos e marcou 99 golos praticamente sem contar com um avançado de raiz; passou João Cancelo para o lado esquerdo, mudou a dupla de centrais, confiou a Bernardo Silva maiores responsabilidades e viu Rodri ficar "no ponto". Guardiola gasta muito, sim com certeza (Grealish esteve longe de justificar o que custou, mas será melhor só nos pronunciarmos no final da próxima época), mas o investimento traduz-se em resultados, os jogadores evoluem e o futebol é contagiante. Falta, tanto para Pep como para o City, quebrar a maldição da Champions, mas avaliando uma prova de regularidade, o Manchester City é a melhor equipa da actualidade. Venha de lá esse Erling Haaland.
    Além dos treinadores de Manchester City e Liverpool, e com alguma pena de não podermos incluir Thomas Frank, Patrick Vieira, Bruno Lage ou até mesmo Mikel Arteta, os nossos 3 restantes treinadores são Graham Potter (o Brighton foi a equipa sensação, e temos muita curiosidade de acompanhar as próximas etapas da carreira do treinador com apelido de feiticeiro), Eddie Howe (incrível recuperação!) e Antonio Conte (garantiu o Top-4 e mostrou que com jogadores escolhidos por si a dedo, como Kulusevski e Bentancur, o clube deve confiar na sua visão).



Melhor Marcador: 1. Mohamed Salah (Liverpool) - 20
2. Son Heung-Min (Tottenham) - 20
3. Cristiano Ronaldo (Manchester United) - 18

Melhor Assistente: 1. Mohamed Salah (Liverpool) - 13
2. Trent Alexander-Arnold (Liverpool) - 12
3. Harvey Barnes (Leicester City) - 10

Clube-Sensação: Brighton
Desilusão: Manchester United
Most Improved Player: 1. Conor Gallagher, 2. Aaron Ramsdale, 3. Joelinton
Reforço do Ano: Luis Díaz (Liverpool)
Flop do Ano: Romelu Lukaku (Chelsea)
Melhor Golo: Mohamed Salah (Liverpool 2 - 2 Manchester City) (Link)






25 de maio de 2022

Balanço Final - Liga Bwin 21/ 22

    Liga Bwin - Em 2021 aconteceu o que não acontecera nos 18 anos anteriores; em 2022 o Porto fez História com um novo máximo de pontos em Portugal (91) e recuperando o primeiro posto do futebol nacional, pela 3.ª vez em 5 anos com Sérgio Conceição.
    Com o melhor ataque (86 golos marcados), a melhor defesa (22 golos sofridos) e uma quase-invencibilidade (em Braga e a poucas jornadas do fim, Ricardo Horta impôs a única derrota aos dragões), o Porto foi efectivamente a equipa mais consistente em campo. Mantendo em altas os índices de compromisso e fome de ganhar cada duelo, a equipa portista revelou sempre o engenho de todos os jogadores estarem sintonizados e conscientes de como teriam que falar a uma só voz, com e sem bola. Este Porto não precisava de algumas decisões bastante dúbias e difíceis de entender que foram acontecendo pontualmente ao longo da prova, sendo urgente garantir que não se voltam a repetir cenas vergonhosas como o final do Porto-Sporting de Fevereiro deste ano.

    2021/ 22 começou embalado pela fantasia de Luis Díaz, um jogador que já estava muito acima da nossa realidade e que brilhou sem comparação ou concorrência até viajar para Liverpool. Mas perante a saída do craque colombiano, prevaleceu a força do colectivo: quem tem Uribe e Otávio sabe sempre como interpretar o jogo, quem tem Taremi tem golos e mergulhos, quem tem Vitinha, Fábio Vieira e Diogo Costa tem futuro.
    O Sporting manteve matematicamente viva a esperança de se sagrar bicampeão até à penúltima jornada, momento em que na Luz se assistiu ao coroar dos novos campeões. Sonho para uns, pesadelo absoluto para outros. Na época dos encarnados, salvou-se a inesperada e prestigiante campanha europeia (eliminação do Barcelona na fase de grupos da Champions, eliminação do Ajax nos oitavos e decente réplica perante o Liverpool) e a grande época do melhor marcador (26 golos) Darwin Núñez. Pela segunda vez em 3 anos, acabou o interino Veríssimo no comando, demonstrativo da falta de estabilidade e visão coordenada dos encarnados, para quem se segue agora uma germanização que implicará por certo dores de crescimento, mas também entusiasma e muito.

    Belenenses SAD e Tondela dizem Adeus ao primeiro escalão, que se prepara para receber o Rio Ave e o Casa Pia, numa edição em que o Gil Vicente de Ricardo Soares foi a sensação da prova (impressionante 5.º lugar, com óptimo futebol e excelentes prestações de Samuel Lino e Pedrinho) e em que o Braga não soube aproveitar o desnorte benfiquista.

    Guardamos já com saudade o facto de termos tido em simultâneo Luis Díaz e Sarabia na nossa ocidental praia lusitana, numa Liga que certificou Darwin e Matheus Nunes para outras paragens, em que Ricardo Horta se tornou o melhor marcador da História do Braga, onde Matheus Reis, André Franco, Pêpê ou André Ferreira evoluíram como poucos, e onde pudemos acompanhar os promissores passos dos Vitinhas (o do Porto e o do Braga), da restante jovem armada portista (Fábio Vieira, Diogo Costa, Evanilson e João Mário), bem como Samuel Lino, Gonçalo Inácio, Gonçalo Ramos, Porozo, Filipe Relvas ou Miguel Maga.

    Acompanhem-nos então neste balanço final, que analisa em detalhe as 18 equipas da Liga portuguesa, procurando determinar o que correu bem, o que correu mal, quem se destacou e quem desiludiu:



 PORTO (1)

    Para os lados dos Aliados, diz-se que o campeão voltou. Pela 3.ª vez desde que Sérgio Conceição foi apresentado, o Porto sagrou-se campeão nacional (2018, 2020 e agora 2022), estabelecendo um novo recorde de pontos (91) em Portugal, e ficando muito perto da invencibilidade (apenas 1 derrota, em Braga, em 34 jornadas).
    Os dragões acabaram a época com o melhor ataque e a melhor defesa, e face ao futebol dominador e tacticamente rico, não precisavam (em teoria) de ter tido tanta intervenção "divina" para assegurar o primeiro lugar.
    Falhando na Liga dos Campeões (missão muito difícil num grupo com Liverpool, Atlético e AC Milan), o Porto não perdeu internamente com qualquer um dos rivais, eliminando inclusive Benfica e Sporting na sua caminhada até à final da Taça de Portugal frente ao Tondela (3-1). Na Liga, de Agosto até ao dia 25 de Abril foram praticamente só vitórias (os azuis e brancos empataram apenas duas vezes com o Sporting, uma em casa com o Gil Vicente e outra fora na Madeira). Até Fevereiro, muito contribuiu a fantasia do colombiano Luis Díaz, por larga margem o MVP do campeonato até rumar a Liverpool. Mérito teve depois Conceição ao conseguir encontrar soluções, não permitindo à sua equipa acusar a saída do seu principal craque, num percurso que ficou marcado pela clareza e elegância de Vitinha, pela dinâmica e intensidade de Otávio, pelos golos de Taremi e Evanilson, pelo trabalho na sombra de Uribe e pela liderança de Pepe e Mbemba.
    Com um futebol intenso, pressionante e muito difícil de contrariar, Sérgio Conceição conseguiu ainda dois extras apreciados pelos adeptos: o Porto de 2021/ 22 teve muito mais arte (consequência natural de ter Vitinha, Otávio e Fábio Vieira a pensarem o jogo) e muito mais ADN Olival no onze.

Destaques: Luis Díaz, Otávio, Mehdi Taremi, Vitinha, Matheus Uribe

 SPORTING (2)

    Consciente de que no futebol é "tudo ou nada", Rúben Amorim reconheceu que, nessa redutora análise, esta época do Sporting foi "nada". Mas todos sabemos que não. É elucidativo da transformação que Amorim, Viana e Varandas operaram no Sporting o facto do 2.º lugar e 85 pontos terem sabor de desilusão. Os leões repetiram a marca pontual do ano do título, conseguiram algo que não acontecera na década anterior (Top-2 em dois anos consecutivos), consolidando a presença do Sporting na Champions, competição onde esta temporada a turma verde e branca durou até aos oitavos (Borussia Dortmund ficou pelo caminho nos grupos), perdendo de forma expressiva com o Manchester City, como qualquer equipa portuguesa perderia.
    Vencedores da Taça da Liga e da Supertaça, e derrotados pelo Porto nas meias-finais da Taça, os leões pagaram cara a fatura da imperfeição (deslizes custosos contra Santa Clara e Braga), ficando este campeonato com sensação agridoce face a algumas decisões bastante difíceis de compreender e mediante o facto do Sporting não ter sido inferior ao Porto, bem pelo contrário, nos 2 embates da Liga, que acabaram empatados.
    A nível individual, Pablo Sarabia brindou os adeptos do Sporting com toda a sua qualidade, num empréstimo que mais pareceu um sonho; Matheus Reis e Matheus Nunes subiram muito de rendimento, e a equipa acusou a falta de Pedro Porro quando o lateral-direito esteve lesionado. Paulinho dá muito ao jogo mas teria mesmo assim que dar mais golo, o convidado in media res Slimani virou dossier complicado, Vinagre foi tremenda desilusão, e se há dois jogadores cujo decréscimo de rendimento impactou o futebol da equipa foram Pote e João Palhinha. 

Destaques: Pablo Sarabia, Matheus Reis, Matheus Nunes, Pedro Porro, Gonçalo Inácio

 BENFICA (3)

    Longe vão os tempos de domínio encarnado em Portugal. Depois de terminar sempre em 1.º ou 2.º entre 2010 e 2020, as últimas duas épocas foram depressivas para os lados da Luz, com o clube remetido ao bronze e afastado bem cedo da luta (a dois) pelo título.
    A temporada de 2021/ 22 começou enganadora, com João Mário a parecer ter corrigido muita coisa, mas em Outubro começaram os desaires e, chegados os embates com os grandes rivais, Rui Costa deixou de confiar em Jorge Jesus. Esta época, as águias perderam com o Porto 3 vezes (3-0 na Taça, 3-1 no Dragão uma semana depois no 1.º jogo de Nélson Veríssimo, e finalmente 1-0 na Luz com Zaidu a confirmar o título) e com o Sporting por duas ocasiões (3-1 na Luz e 2-1 na final da Allianz Cup), salvando-se apenas a deslocação a Alvalade.
    A época que ditou a iminente revolução, com a germanização do clube a partir de agora orientado por Roger Schmidt, ficou marcada pela positiva no percurso europeu. Os encarnados deixaram o Barcelona pelo caminho na fase de grupos, eliminaram o Ajax nos oitavos-de-final e bateram o pé ao Liverpool na fase seguinte. Ao longo de 55 jogos em todas as competições, o Benfica viu o uruguaio Darwin Núñez explodir e conquistar a Bota de Prata (26 golos na Liga, 34 no total da época) sendo certa a sua transferência, faltando apenas saber o destino. Rafa rendeu com Jesus; Yaremchuk ficou muito aquém do esperado; Lucas Veríssimo (gravíssima lesão) fez muita falta; Otamendi, Grimaldo e Weigl fizeram o que podiam; Gilberto deu sempre tudo; e a principal esperança talvez esteja mesmo na conquista da Youth League, com Henrique Araújo, Diego Moreira, Martim Neto e companhia a mostrarem que, apesar do presente ser cinzento e nublado, o futuro não tem que o ser.

Destaques: Darwin Núñez, Rafa, Álex Grimaldo, Nicolás Otamendi, Julian Weigl

 BRAGA (4)

    Na última época de Carlos Carvalhal - o clube já apresentou Artur Jorge como novo treinador, uma opção que mostra que a aposta na formação passará a ser uma das imagens de marca - o Braga encantou na Europa, viu o seu maior craque alcançar o estatuto de Lenda, e maltratou os 3 grandes na segunda volta.
    Longe do Gil Vicente mas igualmente longe do Benfica, o Braga fica neste campeonato como a única equipa que foi capaz de impor uma derrota ao Porto. Os gverreiros conseguiram aliás a proeza de vencer também Benfica (3-2) e Sporting (2-1 em Alvalade, com aquele golo de Gorby aos 90+7) na 2.ª volta, mas o brilho maior foi mesmo na Liga Europa, numa caminhada que durou até aos quartos-de-final, caindo os arsenalistas em Glasgow perante o finalista Rangers.
    A irregularidade colectiva foi nota constante, sobretudo até a equipa embalar em Fevereiro, mas Ricardo Horta nunca se deixou contagiar, inspirando sempre os colegas. O agora melhor marcador da História do clube, 3.º melhor marcador desta edição da Liga (19 golos), fartou-se de jogar à bola, criou oportunidades como mais nenhum jogador, e se este não for o momento de dar o merecido salto, esse nunca acontecerá.
    Com Matheus a agigantar-se mais na Liga Europa, e com os miúdos Vitinha, Roger (ainda tem 16 aninhos), Rodrigo Gomes ou Falé a terem os primeiros minutos, surpreendeu-nos o flop Mario González, e estamos convictos que Al Musrati e David Carmos (que centralão em perspectiva) podem representar interessantes encaixes financeiros.

Destaques: Ricardo Horta, Al Musrati, Iuri Medeiros, Vitinha, David Carmo

 GIL VICENTE (5)

    Estávamos em 2000. O Big Brother estreava, o Gladiador estava nos cinemas, as pessoas jogavam Snake no telemóvel e o Gil Vicente, com Casquilha, Paulo Jorge, Fangueiro, Carlitos e Guga acabava o campeonato no 5.º lugar. Máquina do tempo e, 22 anos depois, Ricardo Soares igualou o feito de Álvaro Magalhães, com apenas 2 pontos a menos.
    A equipa sensação da Liga Bwin 2021/ 22 foi um exemplo. Um case study de futebol vistoso, com Ricardo Soares a deixar uma vez mais a sua marca na transição e na óptima tomada de decisão no processo ofensivo, uma lição na arte de contratar (Fran Navarro foi o "achado" do campeonato, e Frelih e Andrew acabaram por cumprir, não sofrendo o Gil com a saída do excelente Kritciuk), sendo Barcelos o palco da melhor época da carreira de Pedrinho (que jogador!), da explosão de Zé Carlos e, claro está, Samuel Lino, o craque brasileiro de quem um dia diremos "Ainda me lembro quando ele estava no Gil Vicente".
    Como sempre acontece com as equipas-revelação, os galos correm o risco de cair numa descaracterização e hipotecar a consolidação do projecto. Manter Ricardo Soares (incompreensível se não tiver propostas) é obrigatório, mas além de Lino, percebe-se se Pedrinho, Fran, Zé Carlos, Lucas ou Kanya não estiverem no clube na próxima época.

Destaques: Samuel Lino, Pedrinho, Fran Navarro, Zé Carlos, Kanya Fujimoto

 VIT. GUIMARÃES (6)

    Pepa, esperávamos muito mais. Com um treinador à procura de afirmação plena e um plantel recheado de jovens valores, a tendência no Verão passado era confiar que este Vitória ia tentar incomodar o rival Braga na tabela. Mas não: não só os vimaranenses acabaram a 17 pontos dos rivais do Minho, como ainda acabaram atrás do Gil Vicente. E, convenhamos, se o Gil não tivesse escorregado várias vezes na segunda volta, a distância seria bem maior.
    Com alguma dificuldade em encontrar o seu onze, Pepa ficou no limbo em muitas matérias. Porventura prejudicado pelo facto de contar com um plantel muito extenso, bem diferente do que tivera no Paços de Ferreira, Pepa "espremeu" poucos elementos, acabando por se valorizar sobretudo André Almeida e Miguel Maga, este último após a saída de Sacko. Além do maliano, o Vitória perdeu ainda no decorrer do campeonato André André para as Arábias e Marcus Edwards para o Sporting. Em 2021/ 22, houve supremacia no jogo aéreo de Óscar Estupiñán, houve demasiadas expulsões para Alfa Semedo, houve Geny Catamo a justificar novo empréstimo, mas houve acima de tudo uma grande mão cheia de nada.
    Pepa não perdeu qualidade, e com boa visão de mercado e 5-6 reforços não é difícil recolocar o Vitória onde pertence.

Destaques: Óscar Estupiñán, Rochinha, Miguel Maga, André Almeida, Ibrahima Bamba

 SANTA CLARA (7)

    Desde que regressou à piscina dos grandes em 2018, o Santa Clara fez sempre Top-10. Curiosamente, os 40 pontos deste ano foram a pior marca do clube nos últimos 4, mas significaram a 2.ª melhor classificação em similar período.
    A única equipa com desfecho verdadeiramente feliz entre aquelas que tiveram 3 treinadores diferentes ao longo dos 9 meses de competição disse adeus a Daniel Ramos, reconheceu rapidamente que Nuno Campos como erro de casting, e encontrou em Mário Silva o novo líder (renovou até 2024).
    Os açorianos acusaram, como era de esperar, a transferência de Carlos Jr. para a Arábia Saudita em Agosto, ficando a equipa órfã do seu principal activo. Lincoln e Morita pegaram na equipa, Ricardinho deu um assinalável salto competitivo e os problemas extra-futebol de Allano não ajudaram. Não sendo Cryzan um super-goleador, pode-se dizer que a equipa só teve um verdadeiro homem-golo em Fevereiro, quando "sacou" Kyosuke Tagawa. O internacional japonês demorou a acomodar-se, mas o seu rendimento em Abril foi uma boa amostra de quão importante seria adquiri-lo em definitivo.
    No futuro próximo, é sabido que Morita deve sair, mas parece-nos que uma pré-época pensada por Mário Silva pode resultar num novo paradigma para o lado dos Açores.

Destaques: Lincoln, Ricardinho, Hidemasa Morita, Kyosuke Tagawa, Cristian Tassano

 FAMALICÃO (8)

    Não nos perguntem como é que o Famalicão terminou este campeonato em 8.º lugar. A matemática consegue explicá-lo, mas a monitorização progressiva da Liga e o futebol jogado em campo fariam prever tudo menos isto. É que a 3 jornadas do fim (o Famalicão venceu os três embates finais) a equipa morava num perigoso 14.º lugar, a apenas 4 pontos do Play-Off de descida. No geral, os famalicenses não foram nem de perto melhor equipa do que Estoril, Marítimo, Paços de Ferreira ou Boavista, mas as contas fazem-se no fim e, 34 jornadas depois, a turma de Rui Pedro Silva ficou a apenas 1 ponto do registo da época anterior (39 contra 40) melhorando no entanto em um lugar a sua classificação.
    Esta época, começou Ivo Vieira (2 vitórias, 5 empates e 8 derrotas em 15 jornadas) e acabou o trabalho Rui Pedro Silva (7 vitórias, 7 empates e 5 derrotas em 19 jogos).
    Como já é apanágio com muita juventude (média de idades não chega a 24 anos), 2021/ 22 em Famalicão foi a época do goleador francês Simon Banza, e de Pêpê Rodrigues, um maestro recuado que tinha lugar em equipas de dimensão bem superior. Entre os mais meninos, foi o central-lateral Penetra quem marcou mais pontos.
    Com outra consistência de João Carlos Teixeira, Iván Jaime e Heriberto, este Famalicão voava.

Destaques: Simon Banza, Pêpê, Adrián Marín, Bruno Rodrigues, Alexandre Penetra

 ESTORIL (9)

    Para quem acompanhou minimamente o Estoril campeão da II Liga, havia poucas dúvidas que a equipa de Bruno Pinheiro acabaria por fazer um campeonato tranquilo. Em Agosto, apontámos os canarinhos ao 13.º lugar, mas as expectativas foram excedidas.
    Com um arranque de campeonato de fazer inveja (4 vitórias nos primeiros 5 jogos), o Estoril viu o seu principal craque (Miguel Crespo) rumar ao Fenerbahçe ao fim de 3 jornadas, e também se viu privado em Janeiro do imprevisível e atrevido Chiquinho, reforço do Wolves de Bruno Lage.
    Tivesse Bruno Pinheiro contado com Crespo e Chiquinho toda a época e acreditamos que nesta altura seria discutível entre Gil Vicente e Estoril a que equipa pertencia o estatuto de sensação da prova. Como as coisas aconteceram, emergiu André Franco, o 10 esquerdino que brilhou mais na I Liga do que no escalão secundário, e que deve agitar o mercado.
    Romário Baró desiludiu-nos, Ferraresi mostrou uma vez mais aquilo de que é feito, Arthur Gomes fez umas malandrices nos corredores, e Joãozinho, Rosier e Gamboa disseram sempre presente.

Destaques: André Franco, Chiquinho, Arthur Gomes, Joãozinho, Loreintz Rosier

 MARÍTIMO (10)

    Merecia mais do que o décimo lugar este Marítimo. Os únicos representantes da Madeira escaparam à vida aflitiva da época anterior (15º lugar), mas o caso esteve muito mal parado durante a vigência do hispânico Julio Velázquez. Estávamos com 11 jornadas decorridas, e os leões maritimistas tinham modestos 7 pontos em 33 possíveis. A Direcção chamou Vasco Seabra e o parceiro de padel de Álvaro Pacheco (treinador do Vizela) corrigiu tudo o que havia para corrigir.
    O efeito da chicotada psicológica fez-se sentir: de equipa com 1 vitória e 4 empates em 11 jogos, o Marítimo passou a equipa com 5 vitórias e 1 empate nos primeiros 7 jogos de Vasco Seabra no clube. Pelo meio, apenas um violento (7-1) acidente de percurso na Luz.
    O Caldeirão tirou pontos a Porto e Sporting este ano, e vibrou com as defesas de Paulo Victor (defender 3 penáltis num campeonato não é para todos), com a assertividade do super fiável quarteto formado por Winck, Zainadine, Matheus Costa (central mais goleador da Liga) e Vitor Costa, com o requinte do franco-argelino Rafik Guitane, e com os golos de Joel Tagueu e Alipour.
    Conservando guarda-redes e defesas, e reforçando os sectores mais avançados com jogadores mais ao jeito do futebol idealizado por Vasco Seabra, cuidado com este Marítimo em 2022/ 23!

Destaques: Paulo Victor, Matheus Costa, Vitor Costa, Rafik Guitane, Joel Tagueu

 PAÇOS FERREIRA (11)

    Tal como o Marítimo, o Paços de Ferreira foi um dos clubes em que o impacto da mudança de treinador foi positivo. A segunda passagem de Jorge Simão pela Capital do Móvel não correu bem, deixando este o cargo à 14.ª jornada quando o Paços estava a apenas 1 ponto do Play-Off de despromoção. Com César Peixoto (aguardamos com expectativa a sua evolução como timoneiro), a equipa encontrou-se, e o 11.º lugar é algo enganador uma vez que os castores terminaram a apenas 2 pontos do sétimo Santa Clara.
    Na Mata Real, André Ferreira foi uma das histórias da época. O guarda-redes de 25 anos, com passado na formação do Benfica, disparou de rendimento, revelando uma influência nos resultados da equipa como poucos guardiões tiveram nesta Liga. O Paços beneficiou da experiência do esquerdino Antunes (35 anos), da capacidade de Nuno Santos aproveitar a 100% todos os seus empréstimos, e claro, mesmo tendo jogado apenas 301 minutos, Nico Gaitán foi... Nico Gaitán.
    Sem acusar sobremaneira a saída do luso-canadiano Stephen Eustáquio para o Porto, parece-nos que o Paços ficou a um ponta de lança (tivesse Denilson Jr. outra regularidade e seria excelente) de realizar uma época memorável. À primeira vista, a queda do impressionante 5.º lugar com Pepa para este 11.º lugar soa a época falhada, mas somando tudo vemos uma temporada positiva, com um treinador ajustado ao projecto e o evitar de uma depressão pós-Pepa.

Destaques: André Ferreira, Nuno Santos, Antunes, Lucas Silva

 BOAVISTA (12)

    Podemos dizer que, neste balanço final, o Boavista está aqui a empatar. Afinal, em 34 jornadas, o clube do Bessa empatou exactamente metade (17).
    Entre as 4 equipas que terminaram com 38 pontos (Marítimo, Paços de Ferreira, Boavista e Portimonense), os axadrezados acabaram por ser a equipa que mais destaques individuais teve. Petit substituiu João Pedro Sousa em boa hora e o homem da casa parece ser o técnico certo para o momento do clube. Com um 11 inicial sempre muito compacto, 2021/ 22 foi o ano em que Gustavo Sauer (entretanto reforço do Botafogo de Luís Castro) se fartou de cortar para dentro e disparar com o seu pé esquerdo, em que o croata  de 1,90m Petar Musa ("o melhor avançado em Portugal a jogar de costas" nas palavras do seu treinador) fez o suficiente para convencer o Benfica, em que Jackson Porozo reclamou para si o estatuto de central mais promissor extra-grandes (juntamente com David Carmo, do Braga) numa equipa sempre bem servida por Makouta a transportar e encher o corredor central e Hamache na asa esquerda.
    Ficaremos atentos aos reforços deste Boavista, numa fase em que o scouting está a dar cartas. E acreditamos que os miúdos da formação tenham mais oportunidades em 2023.

Destaques: Gustavo Sauer, Petar Musa, Jackson Porozo, Gaïus Makouta, Yanis Hamache

 PORTIMONENSE (13)

    Terceira época de Paulo Sérgio em Portimão, terceira manutenção para o Portimonense. Venham mais duas. O único representante do Algarve na Liga Bwin realizou uma primeira volta bem superior à segunda (a saída do entusiasmante lateral-esquerdo Fali Candé para o Metz teve o seu peso), mas a despromoção nunca pareceu um cenário realmente possível.
    Com uma mancha relacionada com a mini-polémica em torno do Porto 7-0 Portimonense, os alvinegros voltaram a apresentar momentos de bom futebol e a potenciar jogadores, tudo isto sem ter um craque diferenciado como aconteceu em 20-21 com o ponta de lança Beto.
    É provável que esta tenha sido a época de despedida de Samuel Portugal (merece outros palcos) na baliza do Portimonense, e quem tem Moufi, Pedrão, Willyan ou Filipe Relvas (muita atenção à sua evolução) terá sempre a baliza protegida.
    Do meio-campo para a frente, Carlinhos rendeu o que esperávamos que Luquinha rendesse, Nakajima recuperou uma pontinha da sua alegria, justificando-se uma tentativa de garantir em definitivo o colombiano Iván Angulo.

Destaques: Samuel Portugal, Fali Candé, Fahd Moufi, Carlinhos, Filipe Relvas

 VIZELA (14)

    O homem da boina não desiludiu e o Vizela, depois de regressar ao patamar máximo do futebol português 36 anos depois, assegurou a manutenção, procurando agora criar raízes e desenvolver-se sustentável com épocas mais tranquilas.
    Tendo como ponto alto um 1-1 na Luz (jogo em que os encarnados viram Taarabt ser expulso logo aos 7 minutos), o Vizela mostrou-se competitivo sem precisar de ter revolucionado o plantel que ficara em segundo na 2.ª Liga.
    Guilherme Schettine e Cassiano partilharam o papel de goleador da equipa, Pedro Silva e Charles dividiram a baliza, e o denominador transversal a toda a caminhada dos vizelenses foi mesmo a qualidade e rapidez de execução do "10" Kiko Bondoso. Gostávamos de o ver por exemplo no Gil Vicente.
    Além do craque de Moimenta da Beira, também Samu e Koffi (que pulmão!) foram habituais destaques, ficando a impressão que Nuno Moreira pode ser um jogador de pico tardio e crescer muito nos próximos anos.

Destaques: Kiko Bondoso, Samu, Koffi Kouao, Cassiano, Nuno Moreira

 AROUCA (15)

    No começo da época, achávamos que a descida do Arouca era quase certa. Das 3 equipas promovidas, Estoril e Vizela pareciam reunir ingredientes para sobreviver, mas o Arouca não possuía similares argumentos. No entanto, vários meses depois, nenhuma das três equipas desceu, e os arouquenses fizeram toda a época sem entrar em desespero, confiando que o segredo estaria em manter Armando Evangelista no comando.
    Superando as expectativas, o Arouca festejou a manutenção a uma jornada do fim, contribuindo os desempenhos defensivos de figuras como João Basso, Victor Braga e Thales. O ingresso de David Simão em Janeiro revelou-se fundamental para dotar a equipa de maior experiência no miolo, e na frente de ataque houve Arsénio, houve Bukia (claramente não tanto como na temporada anterior) e houve sobretudo André Silva, o homem que marcou do seu meio-campo.
    A lição que o Arouca conta esta época a Moreirense, Tondela e Belenenses SAD é simples: muitas vezes, a estabilidade é o melhor caminho.

Destaques: André Silva, João Basso, Victor Braga, Thales

 MOREIRENSE (16)

    Para o Moreirense, o futuro é ainda incerto, faltando disputar a segunda mão do Play-Off com o Desportivo de Chaves, 3.º classificado da SABSEG. Em todo o caso, é evidente a queda em desgraça de um emblema que ficou em oitavo lugar nas duas épocas anteriores, entregue a Vasco Seabra e Ricardo Soares, e 6.º em 2018/ 19 com Ivo Vieira.
    Esta época houve João Henriques durante 12 jogos, Lito Vidigal fez uma cameo durante 4 jornadas, terminando o percurso Ricardo Sá Pinto.
    Pouco há a destacar na temporada dos cónegos, o clube de Kevin Mirallas. Que coisa estranha de escrever. Em suma, brilhou André Luís a partir do banco (apontou 4 golos como suplente utilizado, um máximo esta época em igualdade com Marcus Edwards, Bruno Duarte e Boselli), Derik Lacerda mostrou características interessantes, Yan melhorou os seus números, e na defesa Rosic e Amador primaram pela consistência.

Destaques: André Luís, Yan, Derik Lacerda, Pedro Amador, Lazar Rosic

 TONDELA (17)

    Após 7 temporadas na Primeira Liga, o Tondela vê-se relegado de forma algo inesperada. Quase tão inesperada quanto a presença dos beirões na final da Taça de Portugal.
    É complicado negar a justiça da condenação quando o Tondela venceu apenas 1 jogo nas últimas 14 jornadas do campeonato. É inevitável não ganhar expressão a fatia de ingratidão para com o técnico espanhol Paco Ayestarán, homem que (tal como Pepa no passado) fez omeletes sem ovos e que orientou a equipa durante 5 dos 6 jogos na caminhada até à final do Jamor. A aposta em Nuno Campos visava um "abanão", mas este não aconteceu.
    Os auriverdes foram a pior defesa (67 golos sofridos), acusando na Hora H a juventude de alguns elementos, nem se podem queixar de falta de penáltis ou do desacerto de João Pedro (marcou 7 em 7) da marca, acabando a equipa da AF Viseu por ficar muito longe de ser o melhor ambiente para florescer o talento de Tiago Dantas e Eduardo Quaresma. Entre os jogadores menos experientes, ficou-nos na retina o uruguaio Juan Manuel Boselli, cuja pouca utilização temos alguma dificuldade em compreender.

Destaques: João Pedro, Neto Borges, Juan Manuel Boselli, Salvador Agra

 BELENENSES SAD (18)

    Do último classificado da Liga Bwin, ficará sempre na memória o episódio mais vergonhoso (ok, vamos fingir que não aconteceu o final do Porto-Sporting) e de maior amadorismo desta edição, quando em finais de Novembro o BSAD se apresentou em campo contra o Benfica com apenas 9 jogadores, sendo um dos jogadores de campo um guarda-redes. O desfecho foi um 7-0 digno de ligas não-profissionais do INATEL e um jogo que durou 48 bizarros minutos.
    Numa época com 3 treinadores (Petit, Filipe Cândido e finalmente Franclim Carvalho), o Belenenses desce - e temos muita dificuldade em acreditar que seja capaz de regressar nos próximos anos ao 1.º escalão - com o pior ataque (23 golos em 34 jogos), a equipa mais indisciplinada (114 cartões amarelos e 11 vermelhos) e, embora a última dezena de jogos não tenha sido péssima, ficou sempre claro que este plantel não permitia milagres.
    Luiz Felipe salvou males maiores na baliza, Afonso Sousa tornou ocasionalmente o futebol do "lanterna vermelha" mais risonho, e na frente destacou-se aqui e ali Safira (7 golos).

Destaques: Luiz Felipe, Safira, Afonso Sousa