28 de janeiro de 2013

Tenho a Barba Por Fazer e Estes Filmes Deves Ver

Humanos que gostam de cinema, lamento informar-vos (por não concordar) mas em princípio o óscar de melhor filme será entregue a Argo. O filme de Ben Affleck (é bom realizador o rapaz, isso não está em questão) venceu o prémio de melhor filme nos Producers Guild Awards e, visto que vários membros do comité de votação são os mesmos da Academia, deverá ser o veredicto final. Reforçando esta forte possibilidade está o facto dos últimos 5 vencedores dos PGA terem vencido depois o óscar de melhor filme. No entanto, hoje falamos de filmes não-nomeados para óscares. O filme francês Rust and Bone (De Rouille et D'os), que merecia ter tido outras atenções como filme estrangeiro e pelas performances dos dois actores principais do filme - Marion Cotillard e o não tão conhecido Matthias Schoenaerts -, e Seven Psychopaths, um inteligente filme carregado de humor negro em que Sam Rockwell faz um bom papel.

Rust and Bone

Realizador: Jacques Audiard
Argumento: Jacques Audiard, Thomas Bidegain, Craig Davidson
Elenco: Marion Cotillard, Matthias Schoenaerts, Armand Verdure
Classificação IMDb: 7.6

    (Palmas – silêncio – Palmas – silêncio). Foi isto que eu fiz quando acabei de ver o filme. Não, não foi, vamos ser sinceros. Primeiro porque antes deste filme merecer outros mereceriam e segundo porque eu não bato palmas a filmes, quem faz isso é o meu pequeno “eu” cinéfilo dentro do meu cérebro. Sabem quem é que bate palmas no final dos filmes? Os fãs do Twilight. Sim, eu uma vez fui ver um filme do Twilight, mas era meramente por experiência sociológica. Adiante.
    Hoje falamos de um filme francês. Tendo ganho algum respeito pelo cinema francês após ver “The Intouchables”, sentia à priori que o antigo país de Gérard Depardieu (agora chamado Жера́р Депардьё) tinha dado ao mundo mais um bom filme. Algo merecedor de ser visto. Primeiro porque qualquer filme com a Marion Cotillard merece ser visto. Depois porque no trailer a música era dos M83. Bom gosto.
    O bom gosto musical continua no filme, com duas músicas de Bon Iver (Wash e The Wolves). Resumindo, tal como em “The Intouchables”, somos levados às vidas de duas pessoas, aos seus mundos, às suas lutas, aos seus problemas e aos seus bons momentos. Stéphanie é uma treinadora de baleias numa espécie de Zoomarine e Alain é um homem que se muda com o seu filho para casa da sua irmã, procurando ganhar dinheiro nem que para isso tenha que lutar na rua. A relação entre ambos torna-se mais forte após um acidente no Zoomarine (vamos manter este nome) que faz com que Stéphanie perca as pernas. Não havia maneira suave de dizer isto, portanto foi logo de uma vez. Um filme descomplexado, e com dois actores que sobem o nível nos seus papéis. Cotillard é boa actriz, mas já há uns tempos que não roubava o ecrã todo para ela por um papel seu, e Matthias Schoenaerts apresenta-se ao mundo com um grande papel (uma das cenas mais emocionantes do cinema deste ano é precisamente o momento em que ele desespera tentando salvar o seu filho). 
    Causa bastante confusão e pena o não-reconhecimento por parte da Academia. O filme merecia a nomeação para Melhor Filme Estrangeiro, é melhor que Amour, e dependendo ou não da inclusão de The Intouchables poder-se-ia discutir se deveria ou não ganhar. Mais um bom filme francês, em que as pessoas e as suas emoções constroem progressivamente o filme, e o Schoenaerts lá vai dar o salto para Hollywood. Justamente, acrescente-se. Já agora, faz sentido ver Bullhead (o anterior filme mais conhecido em que Schoenaerts foi protagonista e que foi nomeado para melhor filme estrangeiro). Ainda não vi, mas talvez seja bom.

Seven Psychopaths

Realizador: Martin McDonagh
Argumento: Martin McDonagh
Elenco: Colin Farrell, Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson
Classificação IMDb: 7.4

    Humor Negro. É disto que se trata o filme Seven Psychopaths.
    Se se pegasse num caldeirão e se juntasse uma pitada de Quentin Tarantino com uma pitada de Todd Phillips (realizador de “A Ressaca”) e sal, só porque dá gosto, dava portanto o realizador Martin McDonagh. Seven Pscychopaths conta a história de um guionista alcoólico (Colin Farrell) que não encontra inspiração para escrever o seu novo guião, intitulado com o nome do filme, procurando inspiração para criar cada um dos seus sete psicopatas junto do seu melhor amigo (Sam Rockwell) – um homem que tem um “negócio” com um amigo (Christopher Walken) que consiste em roubar cães para depois os “encontrar” e devolver aos donos, ganhando dinheiro pelo simpático gesto. Basicamente o catalisador da energia do filme e da acção/ inspiração para a personagem de Farrell surge quando um cão roubado é o cão de um mafioso (Woody Harrelson).
    Ok, a sinopse disto é muito fraca. E isso é que surpreende no filme. Macabro mas cómico, inteligente mas directo, Seven Psychopaths é um filme diferente que se vai construindo rumo às cenas finais, numa contagem de psicopatas e numa constante edificação de cada personagem e do seu universo. Com um argumento bem pensado, muita sátira e um bom elenco (provavelmente o melhor Ensemble a seguir a Silver Linings Playbook), o filme junta rostos fortes – Christopher Walken, Woody Harrelson, Tom Waits – mas sustenta-se sobretudo pela personagem de Sam Rockwell. Mais um dos casos em que o actor secundário rouba o protagonismo todo. História com pouco potencial à partida, mas surpreendentemente bem realizada e interpretada, e Rockwell tem uma prestação que justificava melhor uma nomeação para óscar do que a de Alan Arkin. Não será para todos os gostos, mas assim é o cinema e a arte. MP

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