10 de fevereiro de 2013

A Caminho dos Óscares: The Master | The Sessions

E olha, parece que hoje terminamos de nos alongar sobre os filmes nomeados para as principais categorias dos óscares. Um filme com 3 nomeações (actor, actor secundário e actriz secundária) sobre um alcoólico que volta da II Guerra e que encontra um Mestre, e não é dos sete anões. E depois um filme no qual John Hawkes (não nomeado para óscar) interpreta um homem com poliomielite que, aos 38 anos, quer perder a virgindade e chama então uma terapeuta sexual para o ajudar - ela sim, Helen Hunt, está nomeada.

The Master

Realizador: Paul Thomas Anderson
Argumento: Paul Thomas Anderson
Elenco: Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams
Classificação IMDb: 7.6

Pois bem, o realizador de ‘There Will Be Blood’ e ‘Magnolia’ voltou. Tal como em Magnolia, a história vem toda da sua cabeça. Tal como em Magnolia, entra Seymour Hoffman (agora com papel mais relevante). Foi o último filme indicado em alguma das principais categorias nos Óscares a surgir para o grande público e a história agradará apenas a alguns, e dividirá mais opiniões do que normalmente. The Master é um filme esquisito, embora pareça por vezes que é esquisito só porque sim e que as pessoas que gostarão dele serão aquelas que gostam só de alguns filmes esquisitos e diferentes por serem… esquisitos e diferentes.
    O filme de Paul Thomas Anderson aborda o regresso de Freddie Quell (Joaquin Phoenix) após a 2ª Guerra Mundial, voltando revoltado e com alguns distúrbios (descontrolo nas suas compulsões sexuais, grande agressividade e um alcoolismo incorrigível), não concebendo limites para si e estando perdido. É neste contexto que aleatoriamente conhece Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), um carismático líder duma espécie de ceita – A Causa – cujos ideais são futuristas para a época e se baseiam em estudos relacionados com as vidas passadas e em muitas das crenças-base da Cientologia (já houve suspeitas levantadas que a personagem de Seymour Hoffman representava o “pai” da cientologia – L. Ron Hubbard – mas foram negadas). Freddie dedica-se então à Causa e vive bebendo os conhecimentos e as fortes convicções de Lancaster e de todos os que este arrasta consigo. Com A Causa, Freddie ganha um foco, o qual defende por vezes com a sua própria errática agressividade, mas não corrige o seu comportamento e o seu alcoolismo, acabando por se afastar. Lancaster admira Freddie e podem-se considerar personagens totalmente adversos, mas ambos marcantes. Importa ainda falar de Peggy Dodd (Amy Adams), mulher da personagem de Seymour Hoffman, e que acaba por ser parte importante d’A Causa e das decisões do “mestre” Lancaster. A tal coisa dos homens serem a cabeça, mas as mulheres serem o pescoço.
    Retira-se pouco sumo no final do filme, e merecia um desfecho diferente, acabando por ser um filme abaixo de muitos este ano, embora conte com dois bons papéis – interpretados por Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman. Tão longe de Johnny Cash ou da sua personagem no Gladiador, Phoenix está completamente transformado, transtornado, enquanto que Seymour Hoffman engrandece a sua personagem, que já de si tinha algum potencial. Não sendo filme de óscar, e daí pelo menos não estar (e bem) nomeado para melhor filme, The Master oferece-nos no entanto uma das cenas do ano no Cinema – num questionário em jeito de “processamento” (técnica de Lancaster Dodd) em que o Mestre Seymour Hoffman faz uma série de perguntas criteriosamente formuladas, às quais Phoenix tem que responder sem piscar os olhos. Phoenix não tem grandes possibilidades na sua categoria (nem sei mesmo se nós o nomearíamos), mas Seymour Hoffman pode criar algumas expectativas – o óscar de melhor actor secundário é neste momento uma incógnita e poderá ir para qualquer um dos nomeados.


The Sessions

Realizador: Ben Lewin
Argumento: Ben Lewin
Elenco: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood
Classificação IMDb: 7.4

Até há uns dias, eu não gostava do John Hawkes. Primeiro, porque tinha medo dele. Tive medo dele quando vi os Despojos de Inverno (o primeiro filme a sério de Jennifer Lawrence) e voltei a ter medo dele em Martha Marcy May Marlene. Pronto, eu não tenho medo de nada. Excepto do Fernando Luís (o Inspector Max e Médico de Família), o meu arqui-inimigo!
    Hoje já gosto do John Hawkes e, finalmente, reconheço o talento como actor que o universo cinematográfico já anda a tentar vender há alguns anos. Baseado numa história verídica e inteiramente dedicado e realizado em memória de Mark O’Brien, The Sessions (“Seis Sessões” em português) conta a história dum homem (jornalista e poeta) que na sua infância ficou paralisado fruto de poliomielite, precisando de um ventilador médico (iron lung) para o ajudar a respirar e sobreviver.
    John Hawkes interpreta portanto Mark O’Brien, sendo que o filme explora o momento aos 38 anos em que O’Brien decide que quer perder a sua virgindade. As dúvidas, confissões e apoios são procurados junto do padre Brendan (William H. Macy), acabando O’Brien por recorrer a uma terapeuta sexual, Cheryl Cohen-Greene (Helen Hunt). O filme “vive” da relação entre os dois últimos.
    O filme baseia-se sobretudo na relação de O’Brien com Cheryl, tendo em conta que se baseia precisamente num artigo publicado por O’Brien no jornal The Sun, “On Seeing a Sex Surrogate”. O’Brien era um exemplo, um homem como os outros que encarava bem a sua situação, inseguro e amedrontado aos 38 anos relativamente à componente sexual, mas acreditando em Deus por entender, humoristicamente, que tinha que haver alguém para ele culpar. É um filme com um tema diferente, enriquecido pelo potencial da pessoa Mark O’Brien mas igualmente pelos desempenhos de John Hawkes e Helen Hunt. Pessoas com mais de 40 anos que fantasiaram muito tempo com Helen Hunt, poderão vê-la neste filme nua. Mais do que uma vez. Hunt foi justamente nomeada, mas Hawkes deveria ter sido também nomeado para melhor actor, pese embora este ano seja um ano com boas interpretações masculinas (ao contrário de 2012 – Clooney, Bichir e Oldman estavam todos abaixo deste ano - e tal como 2011 – em que houve bons desempenhos de Eisenberg, James Franco, Firth, Bardem e Jeff Bridges). Embora tenha reunido algumas críticas por abordar o tema de forma demasiado leve, o que até acho que é um dos bónus do filme, a título de curiosidade posso dizer que o actor John Hawkes usou uma bola de futebol por baixo das suas costas para simular a curvatura das costas de O’Brien e treinou veementemente a marcação de números de telefone usando apenas um marcador seguro pela boca.
    Filme diferente, 2 bons actores, descomplexado e humano. Não sendo de todo filme de óscar, a verdade é que é superior a Beasts of the Southern Wild e filmes com o mesmo astral (The Kids Are All Right, por exemplo) já foram nomeados.
    E por fim, deixemos o poeta Mark O’Brien, ter a última palavra, num poema escrito para a sua terapeuta:

“Let me touch you with my words, for my hands are limp as empty gloves.
Let my words stroke your hair, slide down your back, and tickle your belly.
For my hands, white and free flying as bricks, ignore my wishes and stubbornly refuse to carry out my quietest desires.
Let my words enter your mind, bearing torches.
Admit them willingly into your being so that they may caress you gently within.”


E pronto, lá para pertinho de 24 de Fevereiro, indicaremos quem esperamos que ganhe as estatuetas douradas de 2013 e comunicaremos também quais serão os nossos nomeados e vencedores, umas estatuetas douradas muito muito parecidas, mas com... a barba por fazer. MP


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