3 de agosto de 2020

Prémios BPF Liga NOS 2019/ 20

Após termos partilhado os nossos prémios referentes à Premier League, chegou a vez da nossa Liga NOS.
    Se há (mais de) um ano atrás o Benfica comemorava a reconquista, desta vez é o Porto que pode celebrar o regresso ao 1.º lugar. Num campeonato surpreendente, o Benfica acumulou erros atrás de erros e pagou o preço: águias e dragões apresentaram um futebol pobre, pareceram em vários momentos deixar claro que o vencedor seria não o melhor mas sim o menos mau, e no final das contas, o Futebol Clube do Porto sagrou-se justíssimo vencedor, demonstrando os pupilos de Sérgio Conceição sempre um querer e crer maiores.
    A Covid-19 ditou o campeonato mais longo de todos os campeonatos, uma agonia prolongada para os benfiquistas e uma longa espera azul e branca, com desfecho feliz na Invicta. Quem diria a meio da prova que o Benfica de Bruno Lage, com 16 vitórias e uma derrota em 17 jogos, com 7 pontos de vantagem para o rival Porto, viria a desperdiçar significativa margem para acabar 5 pontos atrás do novo campeão nacional? E se à entrada para 2019/ 20 o Benfica contava 5 títulos nas últimas 6 épocas, à entrada para 2020/ 21 tudo é diferente, e o Porto tem agora 2 dos últimos três.
    A nível individual, foi uma campanha nivelada por baixo. Corona, Pizzi (18 golos e 14 assistências), Alex Telles (um defesa com 11 golos marcados), Paulinho, Otávio, Fábio Martins, Carlos Vinícius (melhor marcador) e Taremi foram alguns dos destaques, mas muito longe do patamar qualitativo de Bruno Fernandes ou Jonas nas últimas épocas em Portugal.
    Falar de 2019/ 20 é falar de um projecto jovem e entusiasmante chamado Famalicão, de um Braga que se tornou o primeiro Sporting da classificação e de muitos jovens valores com minutos a sério - Francisco Trincão, Marcus Edwards, Edmond Tapsoba, Pedro Gonçalves, Gustavo Assunção, Filipe Soares, Nuno Mendes, Eduardo Quaresma, Nehuen Pérez, Galeno, Pêpê, Uros Racic, Nilton Varela, Romário Baró, Fábio Vieira e Vítor Ferreira são miúdos para acompanhar nos próximos anos, uns cá, outros noutras paragens.

    O futebol é feito de jogadores e por isso os prémios abaixo são, praticamente, só deles. Abaixo encontrarão o nosso 11 do Ano, Jogador e Jovem do Ano, Treinador do Ano e algumas categorias adicionais. Vamos lá a isto:



Guarda-Redes: O que cresceu Odysseas Vlachodimos... Se no Verão passado a baliza nos parecia ser um dos sectores em que o Benfica tinha obrigação de mudar algo, muitos meses depois o número 99 calou-nos bem calados. O greco-alemão foi um dos jogadores mais fiáveis das águias (o erro na final da Taça é a prova de que no melhor pano cai a nódoa), mascarou em muitos jogos problemas maiores e demonstrou uma segurança incomparável a qualquer outro dos seus colegas de posição. É natural que Jorge Jesus não dê ordens para reforçar a baliza, ficando servido com o melhor guarda-redes em solo nacional em 2019/ 20 e à partida com Hélton Leite (guardião mais ao jeito de JJ, por acaso), extraordinário keeper que só pecou por ter falhado várias jornadas por lesão.
    Agustín Marchesín revelou-se boa aposta azul e branca, embora preferíssemos ver Diogo Costa na baliza em 20/ 21, Mateus Pasinato, decisivo na classificação final do Moreirense, foi rei no número de defesas, e por fim Marco (melhor 1.ª volta do que 2.ª) foi o melhor guarda-redes português na prova, e um especialista a defender grandes penalidades.



Lateral Direito: Aos 27 anos, Jesús Corona jogou como nunca e foi influente como nunca antes, no Porto e no futebol português. Actuando umas vezes a lateral direito e outras a extremo direito, ocupando ainda pontualmente o corredor esquerdo, o polivalente mexicano foi um dos jogadores da máxima confiança de Sérgio Conceição, e a peça no xadrez azul e branco que apresentou um rendimento mais elevado num nº maior de jogos.
    Benfica (mesmo tendo André Almeida alcançado o seu máximo de golos numa época) e Sporting não acrescentam nenhum eleito às nossas escolhas, nas quais destacamos Ricardo Esgaio, sobretudo sob a orientação de Rúben Amorim, e o velocista Nanú, que encontrou na passagem do Marítimo para uma defesa a 5 a sua praia táctica. Sacko fez por justificar um salto para outro campeonato, e Wilson Manafá (2.º jogador do Porto nestes cinco, dada a dupla função que Corona desempenhou, ajudando-nos "colocar" aqui Tecatito para ter um 11 do Ano mais forte e uma categoria de extremos direitos bastante lotada), que tanto à direita como à esquerda evoluiu bastante no capítulo defensivo.



Defesa Central (Lado Dto.): O melhor defesa central do ano em Portugal. Numa defesa que "meteu água" em muitos jogos, algo que se explica não só mas também pelo brutal decréscimo de rendimento de Ferro de 18/ 19 para 19/ 20, Rúben Dias foi, jogo após jogo, o ponto de equilíbrio na defesa encarnada. Titular da selecção portuguesa, o verdadeiro capitão do Benfica, mesmo sem envergar a braçadeira, cresceu como líder do quarteto defensivo de Bruno Lage/ Nélson Veríssimo e fez o que pôde e o que não pôde para manter os encarnados na rota do título. O clube falhou, mas claramente não terá sido por culpa de Rúben.
    Mbemba, o herói da final da Taça de Portugal, foi fundamental no último terço do campeonato, Coates elevou a sua forma com Amorim e Nehuén Pérez mostrou aos 20 anos que pode ser um caso sério. No entanto, e mesmo tendo saído a meio do campeonato, é essencial vincar a marca que deixou Edmond Tapsoba. O central do Burkina Faso, hoje jogador do Bayer Leverkusen que não hesitou em pagar 18 milhões ao Guimarães, deixou-nos deliciados enquanto representou o emblema da cidade-berço. A defesa de Ivo Vieira nunca mais foi a mesma depois da saída deste completíssimo central.



Defesa Central (Lado Esq.): Pepe não foi incrível. Não foi o Pepe do Euro 2016 ou do Euro 2012, mas foi o "patrão" da defesa menos batida do campeonato, e tudo aos 37 anos. Se na época passada a chegada de Pepe acabou por afectar a harmonia defensiva dos dragões, ao desfazer a dupla de sucesso Felipe-Éder Militão, desta vez o coração da defesa portista foi sempre Pepe +1. Com Marcano (também presente nas nossas escolhas, mesmo tendo perdido o lugar para Mbemba nos últimos tempos) e Mbemba, Pepe foi um dos representantes da voz de Sérgio Conceição em campo.
    É já com saudades que nos despedimos de Jérémy Mathieu, um dos melhores centrais que vimos vestir a camisola do Sporting, Aderlan Santos foi fulcral no trajecto do Rio Ave, e Fábio Cardoso (menos goleador do que em 18/ 19 mas superior defensivamente) fez por merecer uma transferência para um clube com outros objectivos.



Lateral Esquerdo: Não há, em Portugal, quem cruze melhor que Alex Telles. O lateral esquerdo do Porto, juntamente com Corona um dos 2 jogadores mais "especiais" neste Porto versão 2019/ 20, manteve sempre um nível alto, brilhando nos dois lados do campo. Um lateral sem lacunas, Alex Telles é uma das peças-chave deste modelo de Sérgio Conceição: exímio cobrador de bolas paradas, é muito graças a ele que o Porto se torna tão forte nos livres e cantos. Momento alto da sua época? Aquele golaço de meia distância ao Portimonense nos últimos minutos do encontro no Dragão.
    A acompanhar Alex Telles, Grimaldo esteve francamente abaixo da temporada anterior, deixando em conjunto com Ferro o Benfica permeável no espaço entre ambos. Sequeira chegou a parecer recomendar uma chamada de Fernando Santos,o imparável Zaidu Sanusi terá cativado Sérgio Conceição com o seu pulmão, e Matheus Reis acrescentou fluidez e criatividade ao projectar-se no ataque do Rio Ave, desenvolvendo boa sintonia com Nuno Santos.



Médio Centro: Honestamente, não pensávamos que João Palhinha pudesse virar o jogador que é hoje. Orientado por diversos treinadores ao longo do ano, o trinco mostrou-se um dos reis dos desarmes e das disputas no ar, e ao contrário de muitos dos seus colegas de equipa, que passaram a jogar muito mais quando treinados por Rúben Amorim, Palhinha já vinha a render bastante antes com Sá Pinto. Com 1,90m e na calha para fazer as malas e rumar a um campeonato Top-5, João Palhinha foi um dos Most Improved Players deste ano.
    A entrada de Sérgio Oliveira no leque de escolhas de Conceição - somou apenas 1.307 minutos na Liga, e também por isso não vence nesta posição - coincidiu com a escalada do Porto na tabela; Gustavo Assunção demonstrou em Famalicão a melhor saída de bola de um seis em Portugal; Gabriel foi um dos melhores médios do campeonato quando o Benfica esteve bem, mas também esteve irreconhecível quando o Benfica caiu a pique; e Pêpê conseguiu afirmar-se em definitivo em Guimarães.



Médio Centro: Em boa verdade, é apenas o facto de Bruno Fernandes ter saído no mercado de Janeiro, deixando um registo de 8 golos e 7 assistências em 17 jogos, que o impede de constar como escolha nº 1 numa posição que, continuando cá, seria dele a 200%.
    Diego Lopes teve laivos e rasgos de virtuosismo técnico, mas extra-Bruno Fernandes, foram três os médios criativos ou box-to-box que nos deixaram rendidos: Taarabt, Pedro Gonçalves e Otávio. Um dos méritos de Bruno Lage em 2019/ 20 foi o de recuperar Adel Taarabt. O médio marroquino "renasceu" e num Benfica tantas vezes desligado e sem inspiração, acrescentou a capacidade de queimar linhas, transportar, inventando o que ninguém esperava e sendo, muitas vezes desacompanhado, o motor vermelho e branco.
    Pedro Gonçalves deslumbrou e aproveitou da melhor maneira a sua passagem por Famalicão como montra para outros palcos. É médio de equipa grande, homogéneo na apetência para levar jogo e galgar metros, aguentando fisicamente o choque e a exigência de jogos com mais elevada intensidade e surpreendendo ocasionalmente com sua qualidade técnica, não-evidente à primeira vista. Não obstante, a nossa escolha recaiu em Otávio, um elemento prioritário para Conceição, determinante na forma de jogar do Porto, que se adaptou à filosofia do treinador ganhando muitas coisas e perdendo outras, e que - como Ramires em 2009/ 10 ou João Mário em 2015/ 16 - brilhou sem bola e como híbrido entre a direita e o centro de jogo.



Extremo Direito: É difícil analisar Pizzi. O médio direito do Benfica jogou sempre - com Jorge Jesus, com Rui Vitória ou com Bruno Lage. Acabou a época com números que, se o futebol se limitasse a uma análise Excel, fariam dele o MVP da prova: 18 golos e 14 assistências. Mas, apesar de ninguém ter marcado e assistido mais do que ele, esteve longe de encantar, e é perfeitamente legítimo que muitos adeptos coloquem Marcus Edwards ou Francisco Trincão nos seus onzes do ano. No nosso caso, e colocando tudo na balança, parece-nos injusto não incluir Pizzi mediante o seu impacto, mesmo tendo presentes todos os seus contras.
    Numa posição claramente bem servida, Bruno Tabata espalhou qualidade técnica exigindo-se que o retirem de Portimão, e Diogo Gonçalves fez por merecer nova oportunidade na Luz. Mas a bola foi mais feliz quando esteve nos pés de Marcus Edwards e Trincão, os 2 principais jovens talentos da Liga NOS em 2019/ 20. Um vai para o Barcelona, e o outro?



Extremo Esquerdo: Rodeado de juventude, num plantel com média de idades de 23 anos, o capitão Fábio Martins realizou a sua melhor época no futebol português (e já apresentara bom nível em Chaves em 2016/ 17), emprestando a sua experiência e criatividade, menos incisivo do que outrora quando praticamente todos os lances eram diagonais da esquerda até ao seu remate, e tornando-se um jogador muito mais completo e preponderante em vários momentos do jogo. Foi, no mínimo, um dos 8 melhores jogadores da Liga.
    Há que destacar ainda a época extraordinária de Ricardo Horta, que apontou 12 golos na Liga e com 24 golos no total das competições dobrou o seu máximo individual até à data. Rafa parecia ter tudo para disputar com Pizzi o estatuto de MVP da Liga após a transferência de Bruno Fernandes, mas acabou por não corresponder às expectativas; Luis Díaz semeou o terror em alguns jogos, embora sem se afirmar como indiscutível; e Nuno Santos mostrou que podem contar com ele, prometendo disputa acesa entre os grandes pelo seu pé esquerdo.



Avançado/ Ponta de Lança: O melhor marcador da Liga marcou 18 golos em apenas 1.784 minutos. Quer isto dizer que Vinícius - 12 golos como titular, 6 golos como suplente - marcou 1 golo a cada 99 minutos, algo bem diferente dos restantes concorrentes com 18 golos (Taremi, 2.354 minutos, 1 golo a cada 131) e Pizzi (2.827 minutos, 1 golo a cada 157 minutos). É indiscutível que o melhor Benfica foi aquele que teve o homem que festeja de braços cruzados na frente, sendo difícil compreender por vezes a sua gestão com Bruno Lage, e a preferência de Veríssimo, que claramente não lhe facilitou a vida na corrida à Bota de Prata, por Seferovic. Contra Vinícius, o facto de nas últimas 12 jornadas ter marcado apenas 3 golos.
    A pujança de Moussa Marega voltou a fazer a diferença na nossa Liga, Toni Martínez trabalhou claramente mais do que aquilo que marcou, Mohammadi deixou apontamentos técnicos muito interessantes, e Kraev ora no apoio ao ponta de lança ora numa posição mais adiantada, evidenciou-se como uma das melhores apostas de Vítor Oliveira.



Avançado/ Ponta de LançaAqui está o melhor Avançado do Ano em Portugal. Alegadamente a caminho de Inglaterra, e inexplicavelmente ignorado por Fernando Santos até hoje, Paulinho foi o melhor jogador da Liga se excluirmos elementos de Porto e Benfica, revelando-se muito mais importante no processo ofensivo do Braga do que os goleadores Carlos Vinícius e Mehi Taremi na forma de jogar de Benfica e Rio Ave. Paulinho soube jogar a dois, soube ser ponta de lança num 4-3-3 e soube, principalmente, ser a referência num 3-4-3 ladeado por Horta e Trincão. Joga muito, e por isso vai embora.
    Mehdi Taremi mostrou que o mercado asiático pode trazer bons valores, e quase foi melhor marcador da prova; Fábio Abreu conseguiu exibir na I Liga o que já mostrara no segundo escalão do futebol português; e, embora também pudéssemos incluir Soares, optámos por premiar Sandro Lima e Douglas Tanque.




    A ironia das ironias dita que, com toda a justiça e de forma não forçada, em ano de novo coronavírus o melhor jogador do nosso campeonato tenha sido Jesús "Tecatito" Corona.
    Enzo Pérez (13/14), Nico Gaitán (14/15), Jonas (15/ 16 e 17/18), Pizzi (16/17) e Bruno Fernandes (18/19) foram connosco os antecessores do ora extremo-direito ora lateral-direito do FC Porto, para nós uma escolha indiscutível mesmo tendo estado a num nível bem distante do apresentado por exemplo por Bruno Fernandes e Jonas em épocas recentes.
    Jesús Corona foi, acima de tudo, regularidade. Não teve números do outro mundo (4 golos e 11 assistências) mas foi na esmagadora maioria dos jogos do Porto o melhor em campo, sacrificando-se em prol do colectivo, e revelando enorme capacidade de influenciar o tabuleiro de jogo - jogou por fora, jogou por dentro, desequilibrou, assistiu, jogou, fez jogar, defendeu... Foi tudo o que Sérgio Conceição lhe pediu e tudo o que a equipa precisou.
    De resto, e aceitando que Carlos Vinícius, Fábio Martins, Trincão, Taremi e Ricardo Horta também seriam escolhas totalmente admissíveis, os nossos restantes 5 finalistas são Pizzi, Alex Telles, Paulinho, Otávio e Marcus Edwards.
    Tantas vezes criticado pelos adeptos encarnados - e muitas vezes de forma compreensível - é impossível ignorar o impacto de Pizzi neste campeonato. O médio direito das águias marcou 18 golos e fez 14 assistências. Ninguém marcou mais do que ele, ninguém assistiu mais do que ele. Mas os números não são tudo e, por isso mesmo, não é o nosso Jogador do Ano.
    Alex Telles esteve ao nível a que nos tem habituado, continuando a parecer um milagre como é que um lateral-esquerdo desta qualidade continua por cá. Um lateral com 11 golos, fundamental com a sua capacidade de cruzar, sendo por isso igualmente influente no jogo corrido do Porto e nas sempre ameaçadoras bolas paradas.
    Paulinho foi para nós o melhor Avançado do Ano em Portugal, pela forma como foi muito mais do que apenas um goleador, contribuindo muitíssimo mais para o processo ofensivo do Braga do que Vinícius e Taremi fizeram nas suas equipas; Otávio (cada vez melhor jogador, mas sempre questionável a sua postura enquanto profissional) foi um dos motores do Porto, um dínamo que esteve sempre em alta rotação, sendo a personificação das principais nuances tácticas do Porto de Conceição, e tal como Corona, um exemplo de sacrifício e de querer ser campeão. Por fim, Marcus Edwards destruiu defesas, encantou Guimarães e, com 21 anos, é o mais jovem atleta neste sexteto cuja média de idades é 26 anos.



    William Carvalho, Óliver, Renato Sanches, Gelson Martins, Rúben Dias e João Félix. Nos seis anos anteriores em que distinguimos os melhores em Portugal, foram estes os vencedores na categoria de Jovem Jogador do Ano. Em comum? Todos se destacaram ao serviço de um dos 3 "grandes". 2019/ 20 marca uma substancial diferença - não só o vencedor é um jovem jogador que não pertence aos quadros de Benfica, Porto e Sporting, como de forma inédita também todos os 6 finalistas não pertencem a águias, dragões e leões, representando sim Vit. Guimarães (2), Sporting de Braga (1) e Famalicão (3).
    O jovem elenco que João Pedro Sousa rentabilizou em Vila Nova de Famalicão alimenta metade das nossas escolhas de final de época nesta categoria. Cedido pelo Atlético de Madrid, o argentino Nehuén Pérez mostrou ser aos 20 anos um dos melhores projectos de defesa central do nosso campeonato. Claro que, a nível de jovens centrais, nenhum brilhou mais do que Tapsoba, o central vimaranense do Burkina Faso que após 32 jogos (16 na Liga) e 8 golos na cidade-berço rumou ao Bayer Leverkusen por 18 milhões de euros. Um daqueles casos invulgares que ao fim de 90 minutos já se percebia tratar-se de um jogador especial, e que ao fim de 180 já deveria ter sido abordado pelos grandes, que aparentemente ficaram a dormir.
    No miolo do Famalicão, Gustavo Assunção, filho do antigo trinco do Porto, Paulo Assunção, mostrou ser um médio defensivo muito acima da média para a sua idade, um jogador com perfil para os mais altos voos, exímio a ler o jogo e a desenrascar-se de toda e qualquer situação de aperto, parecendo estar sempre 1 segundo à frente dos adversários. Uns metros à sua frente, Pedro Gonçalves revelou-se um entusiasmante box-to-box: encheu o campo nos jogos com os grandes, mostrou qualidade técnica, energia e sentido táctico, e não surpreende que esteja a ser associado ao novo campeão nacional.
    Mas sem margem para dúvidas, e também por força da transferência precoce de Tapsoba, os 2 grandes talentos desta edição foram dois extremos que encantaram no Minho: o inglês Marcus Edwards e o novo reforço do Barcelona, Francisco Trincão. Dois prodígios, dribladores natos, focados que nem flechas rumo às balizas rivais, que foram sinónimo de grandes golos e de defesas humilhados. O que nos faz optar por Edwards (incrível scouting do Vitória, que certamente encaixará muitos milhões com a sua transferência, imaginamos que para a Premier League) é o facto de nos ter entusiasmado mais, sendo neste momento mais jogador do que Trincão, embora o extremo português apresente maior potencial.



Treinador do Ano: Há um ano atrás perdemo-nos em elogios a Bruno Lage. Quem podia imaginar o quanto baixaria a sua cotação depois de, após época de estreia em que teve o mérito de acertar em cheio no Plano A correndo tudo de feição, revelar total incapacidade de reagir às constantes adversidades que foram surgindo, terminando em total desnorte e sem nunca ter conseguido encontrar e estabilizar sequer o melhor onze para esta época...
    Num conjunto de 5 treinadores onde também poderia estar João Henriques (Santa Clara), e que não esquece os trabalhos de final de época de Petit, Pepa e Ricardo Soares ao comando, respectivamente, de Belenenses SAD, Paços de Ferreira e Moreirense, tudo começa em Vítor Oliveira. O lendário treinador das subidas cumpriu com distinção novo desafio - dispôs-se a assumir o comando técnico de um Gil Vicente totalmente renovado depois de subir 2 escalões de uma vez, fechando a temporada num confortável e pacífico 10.º lugar, bem longe da zona de descida.
    Carlos Carvalhal teve a humildade de abraçar o projecto do Rio Ave, mesmo depois de há poucos anos estar a treinar na Premier League, e saiu valorizado e recompensado: a equipa de Vila do Conde foi uma das que praticou melhor futebol em Portugal, sem ter por ex. as armas do Vit. Guimarães, e Carvalhal consigo assim "saltar" para Braga, uma casa à qual regressa 14 anos depois muito mais treinador.
    Rúben Amorim arrasou os grandes em Braga, conquistou uma Taça da Liga e tornou-se, por convicção de Frederico Varandas, o 3.º treinador mais caro (10 milhões de euros) da História do futebol. Estamos curiosos para ver o seu Sporting em 20/ 21, sendo certo que Amorim já mostrou capacidade de fazer crescer jogadores e fazer 2 plantéis diferentes assimilarem a sua ideia de jogo.
    Finalmente, Sérgio Conceição merece elogiosas palavras pelo facto de ter acreditado no título quando muitos no Dragão já tinham desistido, tendo influência a partir do banco na forma como venceu sempre os duelos com o principal oponente directo, e colhendo algum crédito pelo facto deste Porto ter sido colectivamente coeso, embora sem grandes destaques individuais. Contra o vencedor da Liga e da Taça de Portugal, a sua crónica postura que é tudo menos exemplo numa altura em que se procura exorcizar a toxicidade do futebol nacional, e o facto deste ter sido muito provavelmente o pior Porto de Sérgio Conceição.
    Por tudo isto, João Pedro Sousa é a nossa escolha de 2019/ 20 para Treinador do Ano. O antigo adjunto de Marco Silva chegou a Famalicão, encontrou um grupo de jovens promessas que não se conheciam entre si, e fez deles a equipa-sensação desta edição, com futebol de encher o olho. Falhou a qualificação europeia, de modo angustiante, nos segundos finais da prova, mas não deixou de terminar com mais golos do que Sporting e Rio Ave, ou com menos derrotas do que Braga, Sporting e Rio Ave. 2020/ 21, época em que temos bastante curiosidade de acompanhar as estreias de Tiago Mendes e Mário Silva, será um ano de confirmação para o técnico de 48 anos, que certamente terá nas suas mãos um elenco bem diferente.



Melhor Marcador: 1. Carlos Vinícius (Benfica) - 18
2. Mehdi Taremi (Rio Ave) - 18
3. Pizzi (Benfica) - 18

Melhor Assistente: 1. Pizzi (Benfica) - 14
2. Jesús Corona (Porto) - 11
3. Otávio (Porto) - 9

Clube-Sensação: Famalicão
Desilusão: Benfica
Most Improved Player: 1. Odysseas Vlachodimos, 2. Adel Taarabt, 3. João Palhinha
Reforço do Ano: Marcus Edwards (Vit. Guimarães)
Flop do Ano: Raúl de Tomás (Benfica)
Melhor Golo: Pedrinho (Paços de Ferreira 1 - 0 Tondela) (Link)





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