23 de novembro de 2013

The National na MEO Arena (Reportagem 21/11/2013)

Foi ontem no outrora Pavilhão Atlântico, actual MEO Arena, que os The National deram o seu 11.º concerto em Portugal, funcionando Lisboa como um ponto final na tour europeia. A banda norte-americana de Matt Berninger veio apresentar Trouble Will Find Me e a equipa do Barba Por Fazer esteve lá.

    Antes do intimismo contagiante, acolhedor e hipnotizador da banda que colocou a MEO Arena com uma assistência "decente", surgiram os This is The Kit - banda de Bristol (Reino Unido) que tem feito a abertura dos concertos dos The National nesta digressão. É sempre bom quando conhecemos uma banda pela 1.ª vez ao vivo. Embora já com 10 anos de existência (só mais quatro que a banda da noite), o folk dos This is the Kit avança a medo, enquanto a plateia vai chegando e Kate Stables - vocalista e epicentro do palco - vai-se também ela soltando, entre banjos e guitarras, com uma voz que podia bem ter integrado a banda sonora do filme "Brave". O acolhimento que os This is The Kit fazem aos fãs de The National é bom, adequado e o momento alto é uma "Two Wooden Spoons", que se percebe ao 1.º ouvir que é a música mais forte da banda, com Kate Stables a assobiar como ninguém e a embalar qualquer um.

    Passa algum tempo e chegam os The National. Os gémeos Dessner assumem as guitarras, os Devendorf a bateria e o baixo e Matt Berninger chega e reforça aquele estatuto de herói invulgar. Qual Walter White (Breaking Bad) vemo-lo e pensamos eis aquele homem comum, que podia ser nosso vizinho debaixo, e se torna de microfone na mão numa personagem marcante da actualidade musical. De copo de vinho na mão, óculos e roupa preta, Berninger chega ao microfone e abre - como em Madrid, no dia anterior - com "Don't Swallow the Cap" e "I Should Live in Salt" do novo álbum. O concerto segue com a plateia a galvanizar-se e sobe de tom e vibração quando surge uma das músicas de Trouble Will Find Me que melhor resulta ao vivo: "Sea of Love". O ritmo baixa quando Berninger ecoa If I stay here trouble will find me / If I stay here I'll never leave / If I stay here trouble will find me / I believe. E é essa a sensação que passa para o público - cada um de nós nunca vai dali sair, porque cada um se sente em casa ao ouvir o role de músicas de 14 anos de sucessos, com uma evolução progressiva e uma banda 100% madura neste momento.
    O bom alinhamento (escolhido como é apanágio pelo guitarrista Aaron Dessner) perdura com "Hard to Find", também do novo álbum e que integrou já a 3.ª temporada de Suits, e Berninger mantém-se delicadamente agarrado ao microfone, numa simbiose que nos dá uma desejada "Afraid of Everyone" (a evidenciar no final que a acústica da MEO Arena podia ser melhor, embora ontem as queixas não tenham sido muitas comparativamente com o habitual) e depois "I Need My Girl", outra das calmas deste novo álbum. Pelo meio ouve-se uma "Lean" que integrará a banda sonora do segundo The Hunger Games... "Já viram o The Hunger Games? É bom? Eu ainda não vi", confessa Berninger, entre um copo e outro e a preparar o público para a galopante intensidade que aí vem.

    É provavelmente com "Abel", do longínquo Alligator, que o público começa a mexer mais. Talvez pelo público saber que o concerto se vai encaminhando para o fim e a 11.ª visita está a valer a pena, talvez pelo saudosismo desse mesmo álbum, embora o mais completo álbum da banda seja provavelmente High Violet de 2010. O ambiente enche-se com luzes rosa quando Berninger canta "Pink Rabbits" e tudo o que vem a seguir parece uma música só perfeita e interminável de tanta qualidade seguida. "England" e a sua composição envolvente, um must para quem os ouve pela 1.ª vez, convence em larga escala e "Graceless" é a última música do novo álbum a figurar no alinhamento. Talvez uma troca com "Sea of Love" e a presença de "Exile Vilify" seriam as duas únicas alterações para tudo ficar lendário.
    Surge um silêncio duradouro e, num ambiente roxo e azulado em palco, começam-se a ouvir as primeiras batidas de algo. Muitos não reconhecem, mas quem a conhece como a palma da mão sabe que é "About Today" na sua génese. As guitarras entram e os minutos são uma viagem a um dos mais incríveis temas dos The National, do EP Cherry Tree, e que imortalizou a cena final do filme Warrior. Curiosamente uma música que nós (BPF) ajudámos a difundir, disponibilizando o vídeo mais visto online de "About Today". Ouvi-la era indispensável. Obrigado The National. "Fake Empire" fecha a primeira estadia dos The National em palco e no intervalo de minutos seguinte, enquanto a multidão desespera pelo regresso, é inevitável pensar-se que Bryan Dessner foi uma das figuras do concerto, com a sua enorme energia com a guitarra.

    O encore chega então e a primeira preocupação que surge é o facto de Berninger se ter esquecido da garrafa de vinho nos bastidores. O assunto lá se resolve e é procedido pelo discurso sobre como a equipa que tem andado com eles nesta digressão tem sido incansável. "Sorrow" é a música que abre o encore, dedicada então à equipa, não pela letra (naturalmente) mas por ser mais um dos êxitos incontornáveis de High Violet. Segue-se "Mr. November", a última faixa do tal Alligator que já lá vai há oito anos com Berninger a conviver bem de perto com a plateia no seio desta e depois, muito provavelmente, o momento alto da noite. Embora numa perspectiva pessoal tenha sido "About Today" a encher as medidas e a materializar algo apenas até então imaginado, numa perspectiva geral foi com "Terrible Love" que a MEO Arena atingiu o clímax. Tudo começa naquele tom calmo mas à medida que avança é não só a plateia de pé mas também todo o Balcão 1 em sentido. Foi, na realidade, a verdadeira música de despedida, mas o adeus final (soa mais a "até já" tal o apreço dos The National pelo público português - "um dos que já gostava e acreditava em nós no início quando poucos nos apoiavam") é - magnificamente bem escolhido e a repetir Madrid - com "Vanderlyle Crybaby Geeks". Toda a banda concentra-se no centro do balco, num agradecimento em forma de hino cantado a uma só voz por toda a MEO Arena, com pouco instrumental.
    Equilibrado, íntimo, apaixonante e completo. É praticamente meia-noite quando o último verso de todos (I'll explain everything to the geeks) se difunde e esmorece pela noite, mas toda a gente sai de barriga cheia e "coração musical" satisfeito.

- É a primeira vez que aqui no Barba Por Fazer fazemos a cobertura a um concerto de uma banda só - já o tínhamos feito em dias de edições de alguns festivais de Verão - mas sempre que estivermos presentes em algum assim o faremos.

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