13 de janeiro de 2014

Crónica: Liderança em nome do Rei

    Ontem foi dia de clássico. Um clássico que se disputou a um Domingo à tarde como já não acontecia há duas dezenas de anos. E um clássico com emoções acrescidas devido ao falecimento de Eusébio da Silva Ferreira - o Rei de todos os benfiquistas.
    Para o início da partida estava preparada uma coreografia com cartolinas para homenagear Eusébio. Cerca de 5 minutos antes da entrada dos intervenientes do jogo, todo o estádio ergueu a sua cartolina negra como sinal de luto. Ao entrarem os jogadores de ambas as equipas, o Estádio da Luz passou de negro para vermelho e branco com faixas em memória do Rei. Um cenário e ambiente fantásticos que culminaram no minuto de silêncio absoluto respeitado por todas as 63 mil pessoas. Bem... Nem todas. Mas o que são 9 ou 10 inergúmenos no meio de uma multidão? Exactamente... Não são nada.
    Para o jogo, Jorge Jesus surpreendeu no onze. Se fosse um jogo contra outro adversário não surpreenderia, mas ontem surpreendeu ao apostar no onze certo frente ao Porto - factor que poucas vezes tinha aconteu. Jesus desta vez não se retraiu e jogou com dois avançados mostrando que em casa mandamos nós. Oblak foi a aposta na baliza e Markovic e Nico Gaitán foram as asas da águia. No lado do Porto não houve mudanças tendo Ricardo Quaresma figurado no banco de suplentes.
    As equipas apresentaram-se inicialmente nervosas. O Benfica pressionava mais e o Porto ia fazendo notar cada vez mais a sua intranquilidade com constantes oferendas ao adversário. Sem grandes demoras, o Benfica chegou ao golo. Markovic pegou na bola a meio campo e só parou à porta da área adversária fazendo lembrar a corrida do seu golo contra o Sporting. O sérvio ao chegar à entrada da área serviu com enorme classe Rodrigo que, já dentro de área e descaído para a esquerda, disferiu um remate frio e potente para dentro da baliza de Helton. O Estádio da Luz foi ao rubro assim como todos os jogadores do Benfica. Rodrigo dedicou o golo ao Pantera Negra e a verdade é que o seu remate fez lembrar um pouco os remates característicos do Rei. Mas isso é apenas uma opinião minha. Helton estava algo inseguro, mas salvou os portistas de um novo golo encarnado ao sair-se da baliza e da sua área para cortar uma bola que colocava Gaitán isoladíssimo. O Porto esteve muito perto de chegar ao empate num erro clamoroso da arbitragem ao não assinalar fora-de-jogo a Jackson Martinez. O colombiano estava apenas com a baliza e Oblak pela frente e não conseguiu melhor do que atirar o esférico para o lado. O intervalo chegou e os portistas pediam Quaresma.
    Contudo, os treinadores não quiseram mexer nas suas equipas. Os azuis e brancos tiveram logo uma oportunidade de ouro no início do segundo tempo. Rodrigo carregou Jackson à entrada da área o que originou um livre perigosíssimo para o Porto. Carlos Eduardo bateu, mas na baliza estava um assombroso Jan Oblak que nem vacilou por um segundo segurando a bola calmamente. O Benfica era cada vez mais dominador e Markovic voltou a causar estragos na defesa portista culminando com um pontapé cruzado obrigando Helton a aplicar-se. No seguimento do canto, a bola ressalta primeiro na cabeça de um jogador do Porto e vai ter com Matic que tenta cabecear para fora do alcance de Helton, mas vê o seu remate ser negado pela mão de Mangala. Grande penalidade e cartão amarelo por mostrar ao central francês. Um erro que foi atenuado segundos depois pelo golo do Benfica que viria a surgir de novo canto. Enzo Perez converteu de forma exímia e Garay antecipou-se a Mangala e Helton saltando mais alto que ambos para um grande golo de cabeça. Um golo que fez voltar a explodir o Estádio da Luz com os jogadores a festejar o golo efusivamente com a claque encarnada. Fantástico ambiente... Paulo Fonseca reagiu de imediato e tirou do campo Licá - que estava a fazer uma exibição paupérrima - e colocou o Harry Potter do norte. Porém, os adeptos encarnados ambicionavam números mais expressivos. E Rodrigo teve tudo nos pés para dar essa alegria à massa encarnada. Lima isolou o espanhol de cabeça, mas o jovem - ao que parece de partida - atirou por cima tendo sido atrapalhado com a pressão de Mangala que o obrigou a chutar com o seu pé mais fraco. Os ânimos aqueciam para o lado dos dragões com Jackson Martinez a atirar Maxi Pereira ao chão por ter perdido o lance para o uruguaio. Cartão vermelho por mostrar ao colombiano. Não expulsa justamente, expulsa injustamente. Danilo cai na área benfiquista tendo havido contacto com Garay, mas sem qualquer falta. O árbitro Artur Soares Dias mostrou o segundo amarelo ao brasileiro e somou assim mais um erro à sua arbitragem pouco ortodoxa. O Porto instalava-se no meio campo adversário, mas sem criar grandes oportunidades de golo. Quaresma, a terminar a partida, é carregado nas costas por Garay o que poderia ser classificado como grande penalidade. Contudo, fica na dúvida a velha questão da intensidade. Por fim, a cereja no topo do bolo para Artur Soares dias. Contra-ataque encarnado, Enzo isola-se e Mangala varre o jogador e a bola ao mesmo tempo com uma entrada violenta. Artur apita, dá amarelo a Enzo e decide fazer bola ao solo... No mínimo caricato. Artur ainda teve tempo para perdoar nova expulsão desta vez a Josué que mostrou os pitons à canela de Siqueira já sem grandes hipóteses de chegar à bola.
    Assim terminou a partida entre os dois grande rivais portugueses com uma vitória inteiramente justa do Benfica que homenageou da melhor forma Eusébio da Silva Ferreira. Grande jogo colectivo encarnado. Garay e Matic foram dois gigantes dentro de campo e Enzo foi o grande jogador de sempre. Lima abdicou de ser o finalizador para ajudar a construção dos ataques, Rodrigo esteve sempre nos sítios certos e Markovic foi o desequilibrador. Gaitán não foi menos importante apesar de não ter aparecido tanto. Do outro lado só Fernando foi gigante. Enorme jogo do brasileiro que no fim quis trocar a camisola com Nemanja Matic. O sérvio agradeceu aos adeptos como toda a equipa, porém com bastantes gestos de despedida acenando para todo o estádio e batendo no peito como que dizendo que estamos no seu coração.

    É uma pena se de facto for verdade a consumada saída de Matic do Benfica. Num momento destes era importante segurar um médio tão importante como o sérvio é no plantel caso se queira ser campeão. 25 milhões é pouco para um jogador de tamanha classe e importância.
    Quanto ao jogo foi uma bonita homenagem ao Rei, mas foram apenas 3 pontos importantes. A maior homenagem que a equipa pode fazer é vencer o campeonato e para isso ainda falta muito. Nada está ganho e a humildade tem que prevalecer até ao fim. Foi um importante passo, mas não é mais que isso... um passo.

Barba Por Fazer do Jogo: Ezequiel Garay (SL Benfica)
Outros Destaques: Matic, Enzo, Markovic,Rodrigo; Fernando.



               Tiago Moreira

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