4 de janeiro de 2014

Crítica: 12 Years a Slave

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2014 
Realizador: Steve McQueen
Argumento: Salomon Northup, John Ridley
Elenco: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o, Benedict Cumberbatch, Sarah Paulson, Paul Dano, Brad Pitt 
Classificação IMDb: 8.1 | Metascore: 96 | RottenTomatoes: 96%
Classificação Barba Por Fazer: 81


    Depois de 'Django Unchained', 'Lincoln' (por todo o enredo se desenrolar à volta da decisão de abolir a escravatura) e mais recentemente 'The Butler', o papel dos negros no contexto socio-cultural americano parecia estar já gasto e usado demais no cinema recente. No entanto, McQueen arriscou e conseguiu uma perspectiva diferente. Um filme forte, intenso, cru e sem tabus. A impressão digital característica de Steve McQueen.
    12 Years a Slave relata a história verídica de Salomon Northup - baseando-se o argumento no livro que foi escrito pelo próprio em 1853. Salomon Northup (Chiwetel Ejiofor) era um homem livre que, depois de enganado e raptado, é introduzido numa rede de escravidão, servindo diferentes "mestres" ao longo do tempo, num período em que os escravos eram encarados como propriedade e não como pessoas. Depois de vários filmes com a escravidão e o racismo presentes, surge o mais transparente, o mais fiel, e no qual a escravização de um homem livre resulta bem com a audiência por se poder imaginar como seria essa passagem. Em 'Django Unchained', Jamie Foxx interpreta um homem com algumas semelhanças, mas o efeito Tarantino nesse caso coloca o filme num espectro diferente. Quentin cartoonizou aquilo que McQueen mostra totalmente sem filtros. 12 Years a Slave é mais realista, menos sanguinário (Tarantino é Tarantino, é um mundo à parte, incomparável), mas com uma dose muito maior de sofrimento. Depois de escravizado, Salomon diz a dada altura I don't want to survive. I want to live. Mas a verdade é que na hora seguinte o que vemos é Salomon de facto a tentar sobreviver, para poder depois finalmente voltar a viver, procurando manter-se são e racional numa conjuntura criminosa. O primeiro "mestre" de Salomon - então obrigado a responder pelo nome Platt - é Ford (Benedict Cumbercatch), um homem que percebe que Salomon não pertence àquele mundo (como ninguém devia pertencer), que o defende mas que não é capaz de lutar definitivamente pela sua emancipação. Ford protege-o de Tibeats (Paul Dano), um dos actores em destaque no filme. Paul Dano tem várias cenas de enorme qualidade, e é um actor que já merecia outro reconhecimento e protagonismo.
    O 2.º mestre a que Salomon/ Platt é entregue é Edwin Epps, interpretado por Michael Fassbender, provavelmente o maior destaque do filme a nível de interpretação. Um homem que abusa de uma das suas escravas (Patsey - Lupita Nyong'o) contra a vontade da sua mulher (Sarah Paulson). Edwin Epps é a total personificação de um mundo preconceituoso e desajustado, uma personagem que acha que os seus escravos são sua propriedade, lidando com eles ao sabor do vento. O destino de Salomon só muda quando surge Bass (Brad Pitt), um canadiano capaz de lutar pelo certo em vez de esconder a cabeça entre as pernas e aceitar o errático mundo.
    Steve McQueen conseguiu um dos filmes do ano. Para tal contribuiu a excelente banda sonora de Hans Zimmer, um rico património gráfico a nível de Fotografia e, claro, um elenco magnificamente escolhido e trabalhado. Actores como Paul Dano e Sarah Paulson estão e são excelentes e continuam a demonstrar terem potencial para voos mais altos; Lupita Nyong'o - à partida disputará o óscar de melhor actriz secundária com Jennifer Lawrence - é uma das boas surpresas, numa personagem em total desespero e que suplica a Salomon que ponha termo à sua vida. Depois há Chiwetel Ejiofor, que será certamente nomeado para melhor actor nos óscares. Conseguiu mostrar a dificuldade que era manter a sanidade, mantendo a esperança no seu futuro. Por fim, Michael Fassbender. O menino-bonito de McQueen (titular indiscutível nos filmes do realizador, já participara em 'Hunger' e 'Shame') é A personagem de 12 Years a Slave. Mexe com os outros à medida que ele próprio actua consoante o que lhe dá na cabeça, e é um nome garantido na categoria de melhor actor secundário do ano. Será entre ele e Jared Leto, provavelmente.
    Um bom filme, com momentos marcantes (a forma como Salomon luta por subsistir quase enforcado; os diálogos mais icónicos de Salomon com Edwin Epps e com Patsey; a música cantada no funeral em que a câmara foca apenas Salomon; o castigo de Patsey; os vários segundos apreciando a reflexão e o desespero no olhar de Salomon, num claro momento à McQueen).
    Parte como um dos favoritos a filme do ano e nos próximos óscares deve somar aproximadamente 11 nomeações. Melhor Filme, Melhor Realizador (Steve McQueen), Melhor Actor (Chiwetel Ejiofor), Melhor Actor Secundário (Michael Fassbender), Melhor Actriz Secundária (Lupita Nyong'o), Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Banda Sonora e talvez mais 3 categorias técnicas.
    Intenso, dramático, violento, marcante. Alguém lhe chamou 'A Lista de Schindler' dos filmes sobre escravidão. É exagerado, mas 12 Years a Slave já tem lugar marcado na história do cinema moderno.

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