1 de dezembro de 2014

Crítica: Still Alice

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2015 
Realizador: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Argumento: Lisa Genova, Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Elenco: Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewart
Classificação IMDb: 7.5 | Metascore: 72 | RottenTomatoes: 88%
Classificação Barba Por Fazer: 74

    Nomeada para 4 óscares (1998, 2000 e dois em 2003) Julianne Moore pode ter em 'Still Alice' finalmente a sua escada para subir ao palco e receber a estatueta dourada. Mas vamos por partes.
    Em 2007 a escritora e neuro-cientista Lisa Genova lançou Still Alice, a sua primeira obra até então. Passados sete anos chega ao grande ecrã a adaptação da história de Alice Howland (Julianne Moore), uma mulher de 50 anos com um percurso académico brilhante e expert em Linguística, a quem é diagnosticado Alzheimer, que normalmente surge em idade mais avançada. Alice, casada com John (Alec Baldwin) e com três filhos (Lydia, Anna e Tom, interpretados por Kristen Stewart, Kate Bosworth e Hunter Parrish), começa o filme como uma mãe enérgica, comprometida com o trabalho enquanto professora e investigadora na sua área, com um QI acima da média.
    Durante 1 hora e 40 minutos a evolução de Alice impressiona e ninguém consegue ficar indiferente. Desde os primeiros sintomas, dos primeiros exames até à última palavra, ao último olhar, Julianne Moore carrega o filme, convence sobremaneira, numa personagem enriquecida em pequenos pormenores. Alice Howland (mérito de Lisa Genova mas também da dupla de realizadores/ argumentistas na conversão cinematográfica) "resulta" ainda melhor por no momento zero ser uma mulher altamente qualificada e dotada de uma elevada capacidade cognitiva, com brutal consciência do significado da Língua e das palavras. Alice testa-se, procura soluções alternativas, fins extremos e resiste até mais não.
    A deterioração de Alice reflecte-se no olhar de Julianne Moore, que perde progressivamente a noção do tempo, do espaço, a memória de quem é, o conhecimento de quem a rodeia. Impressiona no elogio ao teatro da filha Lydia, a comer um gelado com o marido, a reagir ao vídeo que preparou outrora para si própria, na procura de um simples telemóvel e, claro, naquele discurso. O filme é Julianne Moore por todos os lados (está feito nesse sentido, também) mas nos desempenhos secundários apenas Kristen Stewart merece algum crédito, ao demonstrar algumas emoções, ela que tendencialmente se mostrou já tão crua e vazia em vários papéis. Alec Baldwin, embora numa personagem que por vezes não parece encaixar a 100%, poderá dizer que em 2 anos consecutivos desempenhou o papel do marido de uma vencedora. Isto se Moore suceder a Blanchett.
    Pessoalmente não sou propriamente fã de Julianne Moore. Longe disso. Ainda vivo naquela terra imaginária e remota onde a Julianne Moore e a Jodie Foster estão ambas numa nuvem, impedidas de entrar em filmes, e que de lés a lés dá sumo de laranja. No entanto, ultrapassada a minha loucura e com capacidade de separar as coisas, sei ver que se Foster foi brilhante por exemplo como Clarice Starling, Julianne Moore tem preparado nos últimos anos o caminho que está a conseguir. Os seus papéis em 'The Kids Are All Right', 'Crazy Stupid Love', 'Don Jon' e o seu contributo como Alma Coin tornaram mais familiar um rosto e uma presença que brilha mais do que nunca em Still Alice.
    E por isso é que, por esta altura, Julianne Moore é tida como a candidata nº 1 a arrecadar o óscar de Melhor Actriz e suceder a Cate Blanchett. Nenhum desempenho feminino deste ano parece estar ao nível de Blanchett (a quem aquela personagem de Woody Allen assentou na perfeição), mas talvez Julianne Moore se destaque ligeiramente da concorrência - Rosamund Pike, Felicity Jones e Shailene Woodley estiveram bem, mas ainda falta ver Reese Witherspoon, Amy Adams, Marion Cotillard, Jessica Chastain, sem desconsiderar Jennifer Aniston e Hillary Swank. O timing parece certo para Julianne Moore, e Hollywood e a Academia gostam muito dos timings das coisas; e embora o filme não seja lendário, longe disso, a actuação de Moore é bastante positiva. Cena a cena Julianne Moore consegue passar a ideia de que Alice está a perder um bocadinho de si de cada vez, e é nessa evolução que o espectador vai, numa proporcionalidade inversa, encontrando motivos para se preocupar com Alice, para ser também impactado e afectado. Para sofrer com ela.
    
    Pode ser desta que Julianne Moore consiga o seu primeiro Óscar, que não fará comichão a ninguém depois desta transformação rumo à demência, numa personagem na qual nos perdemos ao acompanhar a forma como o olhar dela deriva de objectivos, da família e do trabalho para algures entre nada e o além.

0 comentários:

Enviar um comentário