27 de abril de 2014

Vitória "à Mourinho" complica sonho do justo campeão Liverpool

Liverpool  0 - 2  Chelsea (Demba Ba 45', Willian 90')

    O Liverpool vinha de 11 vitórias consecutivas na Premier League e não perdia desde 29 de Dezembro quando foi derrotado... em Stamford Bridge. Em Anfield os reds escorregaram, literalmente, e uma abordagem típica de José Mourinho nos grandes jogos ditou o resultado final. O Chelsea ofereceu o jogo à equipa da casa - até porque se não tivesse declaradamente oferecido, Mourinho sabia que perderia o jogo - e marcou, à serial killer (ou serial winner), no final da 1.ª e da 2.ª parte. Mourinho, tendo em vista a segunda mão da Champions com o Atlético, deixou de fora David Luiz, Oscar, não contou com Ramires suspenso, Cech, Terry e Hazard lesionados e deixou no banco Gary Cahill e Willian, mas ganhou.
    O fantástico ambiente de Anfield, possivelmente o estádio mais romântico para os verdadeiros amantes de futebol, viu Coutinho ter o primeiro lance de perigo. Suárez trabalhou no lado direito e com um grande passe descobriu o brasileiro, que rematou à malha lateral. Cedo se percebeu que o jogo teria resumidamente um sentido, a baliza de Schwarzer, com o Liverpool a ter uma esmagadora posse de bola e a rematar bastante mais. As transições do Chelsea resumiam-se a 3 homens (Schürrle, Salah e Ba) com o trio Matic, Mikel e Lampard sempre muito próximo da defesa, hoje comandada por Ivanovic. Aos 38' os jogadores do Chelsea pediram penalty por uma mão de Flanagan, mas Martin Atkinson fez bem em não assinalar - um árbitro rigoroso poderia considerar grande penalidade, mas estragar um dos jogos do título inglês com uma mão polémica era mau. Suárez e companhia continuaram a tentar comprar bilhete para o autocarro do Chelsea, e as constantes perdas de tempo do Chelsea ditaram que o árbitro compensasse os reds com 3 minutos de compensação. Rigorosamente no último minuto de descontos, o capitão Steven Gerrard escorregou (personificação literal da "escorregadela" do Liverpool) e Demba Ba teve via aberta rumo à baliza de Mignolet. O senegalês não perdoou e pôde ajoelhar-se e beijar a relva, como sempre faz. O resultado ao intervalo beneficiava a equipa que procurou defender praticamente em exclusivo, esperando o erro do adversário. Erro esse que o Liverpool não merecia cometer, e muito menos na pessoa do seu capitão, Gerrard, o elemento que mais merece erguer a taça de campeão.
    A 2.ª parte mostrou-nos mais do mesmo. O Liverpool continuou a ter a iniciativa, mas progressivamente foi revelando alguma imaturidade, com os jogadores a ficarem frustrados perante a muralha montada por Mourinho, numa estratégia hiper-defensiva mas eficaz, e algumas más decisões a surgirem mediante a gigante vontade de mudar o rumo do jogo. Gerrard, querendo redimir-se, começou a rematar mais vezes do que o normal (a maioria das vezes com sentido, outras não) e quando o esférico ia com perigo à baliza Schwarzer dizia presente - foi o caso dos remates de Joe Allen e Gerrard. Rodgers colocou Sturridge, Mourinho respondeu com Willian, e aos 63' valeu Mignolet com um excelente estirada a impedir que Schürrle fizesse o 0-2 numa diagonal. A experiência do Chelsea ia valendo, afundado cada vez mais atrás, e fazendo o Liverpool desnortear-se com o passar dos minutos. José Mourinho manteve o seu plano de jogo - que lhe estava a correr de feição -, colocou Gary Cahill passando a ter uma linha de 5 defesas, e Rodgers trocou Flanagan por Iago Aspas (uma desnecessária substituição, como se veio a verificar). Nos minutos finais o Liverpool colocou a circulação de parte e tentou jogar directo, subiu praticamente toda a equipa, mas acumulou erros e opções sem nexo: Iago Aspas começou a marcar (mal) os cantos, quando estavam em campo Coutinho, Gerrard e Suárez para o fazer; Sakho e Glen Johnson coleccionaram más abordagens, e no último minuto do período de compensação Sturridge perdeu a bola e deixou meio-campo para Fernando Torres e Willian correrem sozinhos. Uma perda de bola de um ex-Chelsea originou o contra-ataque do ex-Liverpool El Niño, tendo o espanhol dado o golo a Willian. Depois de vencer em casa do Manchester City por 1-0, Mourinho conseguiu levar o Chelsea a vencer em Anfield por 2-0. O treinador português não joga bonito, não ganha bonito, mas muito poucos têm a capacidade dele nos grandes jogos.

    Se o Liverpool vencesse hoje ou, no mínimo empatasse, continuava a ser o principal favorito na Premier League. Mourinho terá ajudado, sobretudo, o Manchester City. Os citizens vencendo os 2 jogos que têm a menos neste momento saltam para o 1.º lugar por terem superior goal average. Claro está que Mourinho conseguiu ainda que a sua equipa se mantenha viva e com algumas aspirações até ao fim, esperando algum erro de Liverpool ou City. Tanto Liverpool como City têm que jogar no terreno do Crystal Palace (o City está a vencer lá 1-0 neste momento, o pool joga na próxima jornada). Um dos jogos mais importantes desta Premier League passará a ser o Everton-Manchester City de 3 de Maio - o dia em que o Everton pode ajudar o maior rival a chegar ao título. Como havíamos dito há umas semanas, o título vai-se decidir nos jogos em Liverpool (como hoje foi exemplo disso).
    A nível individual, vários jogadores do Liverpool não compareceram na hora H. Gerrard, Suárez e Sterling ficaram frustrados perante a profunda defesa do Chelsea, e Coutinho talvez seja o melhor elemento da equipa da casa. No Chelsea, toda a defesa fez um incrível trabalho, fechando todos os caminhos possíveis e imaginários. Matic foi importantíssimo à frente da defesa e juntamente com Obi Mikel engoliram tacticamente Suárez, Schwarzer tal como em casa do Atlético Madrid não sofreu golos, Ivanovic foi o patrão da defesa e Azpilicueta foi mais uma vez impressionante. Ofensivamente apareceram nos momentos certos os jogadores certos (Schürrle e Ba, sobretudo), mas talvez o maior elogio hoje deva ser feito ao jovem central checo Tomas Kalas. Com 20 anos teve o seu 1.º jogo (e que jogo!) na Premier, não falhou e mostrou como os jogadores de Mourinho - sobretudo do ponto de vista táctico e físico - se transcendem nestes momentos chave.

Barba Por Fazer do Jogo: Tomas Kalas (Chelsea)
Outros Destaques: Coutinho; Schwarzer, Ivanovic, Azpilicueta, Matic, Mikel

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