29 de março de 2012

Tenho a Barba Por Fazer e estes Filmes Deves Ver

Já há algum tempo que não recomendamos filmes, penso que desde a altura dos Óscares, mas não morremos cinefilamente. Tanto eu como TM continuaremos a sugerir nestes "Tenho a Barba Por Fazer e estes Filmes Deves Ver" o que nos for dando na tola. E é precisamente esse o problema da personagem do primeiro filme - não consegue controlar a tola. Qual? Ambas. Ambas? Sim, ambas.. Em "Shame", Michael Fassbender interpreta um obssessivo/ compulsivo em sexo. Um filme sério, pesado, chocante e impressionante, realista e sem tabus que fica marcado pelo grande papel do actor alemão. Para além de "Shame", sugiro ainda "We Need to Talk About Kevin", um thriller ficcional baseado numa obra de Lionel Shriver e que explora o drama duma mãe recordando o crescimento do seu filho até ele se tornar um psicótico e perigoso jovem. Com potencial para filmes de culto, sugeri-os aqui. Mas nós voltaremos (riso maléfico)!

Shame

Realizador: Steve McQueen
Argumento: Abi Morgan, Steve McQueen
Elenco: Michael Fassbender, Carey Mulligan
Classificação IMDb: 7.9

Sugerir “Shame” espero que não me rotule como obsessivo/ compulsivo em sexo como a personagem de Michael Fassbender neste filme. Steve McQueen fez um filme que em alguns momentos se torna muito parado, mas que no geral consegue mostrar bem a cabeça duma pessoa obcecada em sexo, fruto duma infância perturbadora (cuja génese da perturbação nunca é revelada). Brandon Sullivan (Michael Fassbender) é um empresário bem-sucedido de 30 e tal anos de Nova Iorque, cuja vida se pauta pela rotina e por padrões comportamentais diários, desconhecendo toda a gente que ele se debate todos os dias com uma compulsão sexual que o torna completamente dependente, impedindo-o de manter uma relação normal com uma mulher e perdendo o controlo ao deparar-se com todo o tipo de emoções. A chegada de Sissy (interpretada por Carey Mulligan), irmã de Brandon, também ela perturbada mentalmente, adultera todo o critério e rigor presentes no dia-a-dia de Brandon e impede-o de ser como é (masturbar-se constantemente, ver ponografia, seduzir mulheres unicamente para alimentar o seu vício, etc.), o que o transtorna e fá-lo desesperar. 
    Ao longo do filme, Steve McQueen consegue captar a essência da mente deturpada de Brandon, deixando-nos de certa forma angustiados, chocados ou impressionados com as proporções que toma a doença de Brandon. Em certos momentos McQueen consegue mostrar que Brandon faz o que faz não por prazer, mas sim por desespero. Porque sente alívio ao fazê-lo, e as expressões faciais de Michael Fassbender ao longo do filme atestam isso mesmo. O filme acaba por ser, em certa medida, polémico, intenso e atrevido pela forma como aborda um tema difícil de ver no grande ecrã sem preconceitos e da forma mais realista possível. “Shame” tem momentos que marcam, como Brandon correndo e ouvindo Bach para se acalmar, o desespero no rosto de Brandon já perto do filme satisfazendo o seu vício, a forma como Brandon sente repulsa ao pensar que outros homens podem fazer com a sua irmã o que ele faz com todas as mulheres e ainda o olhar da personagem principal na última cena do filme, passível de 2 interpretações, mas que parece revelar que Brandon se sente, de facto, envergonhado de ser como é. O alemão Michael Fassbender é sem dúvida alguma um dos grandes actores do cinema actual e faz um grande papel neste filme, digno de nomeação para óscar. Se eu o considerava um “actor do c******”, a verdade é que é precisamente essa parte dele que quem vê o filme vê-se obrigado a ver, o que é chato. Mas de resto vale a pena ver. 
   Nem toda a gente gostará de “Shame”, não é um filme fácil, mas a meu ver trata-se duma obra-prima moderna e dum filme sincero – sofremos com Fassbender e vemos como um vício pode corromper e destruir alguém, tornando-nos incapazes de sentir. Um filme sobre sexo, prazer, solidão e desespero. E Fassbender continua a marcar pontos.
We Need to Talk About Kevin

Realizador: Lynne Ramsay
Argumento: Lynne Ramsay, Rory Kineear, Lionel Shriver
Elenco: Tilda Swinton, Ezra Miller, John C. Reilly
Classificação IMDb: 7.7

Quando acabei de ver “Drive” senti que tinha acabado de ver um filme que reunia condições para daqui a uns anos ser um filme de culto. Com “We Need to Talk About Kevin” senti a mesma coisa. Na obra em que o filme se baseia, a escritora Lionel Shriver optou por escrever na 1ª pessoa, assumindo a postura da mãe (Eva) escrevendo sob a forma de cartas para o marido desta. Já no filme, Lynne Ramsay (realizadora e co-argumentista) optou por montar a coisa doutra forma – optaram por uma estrutura complexa, desarticulada, um bocado como um pesadelo é, mostrando com analepses e prolepses a época anterior e posterior a um marcante acontecimento da história desta família. O filme inicia-se numa “tomatada” em Espanha e tem precisamente o objectivo de mostrar que a cor vermelha dominará o filme. Basicamente, Eva interroga-se se terá ou não culpa da pessoa que o seu filho (que ela nunca desejou realmente ter) se tornou, e dum acto em concreto que ele cometeu. O filme acompanha o crescimento de Kevin, o filho de Eva, e o quotidiano familiar duma família onde o pai é um pai desligado e que acha que tudo está sempre bem, e Eva não consegue criar laços com o filho Kevin, que tem tudo o que quer mas que não acredita ter um lugar no mundo, revelando-se perturbado e mau, mas inteligente e metódico.
   A nível de realização, Lynne Ramsay faz um grande trabalho, conduzindo este thriller da melhor forma, levando o suspense até ao fim e permitindo a construção de todo o puzzle só no fim do filme. Tilda Swinton interpreta a mãe Eva, foi nomeada para um globo de ouro, mas merecia também perfilar nas nomeadas para o óscar. Já Ezra Miller, jovem actor de 19 anos, faz um excelente papel e também podia bem ter sido nomeado para melhor actor secundário, dando vida ao psicótico e perigoso Kevin. O actor Ezra Miller disse em entrevista, sobre a sua personagem, “Ficaria com muito medo de ser amigo de alguém como o Kevin. O mal vive dentro das pessoas, devemos saber que somos capazes do bem e do mal” – eu também teria medo do Kevin, mas isso é porque eu sou muito medricas. Nunca tinha escrito medricas. Adiante. Kevin é precisamente uma pessoa, como tantas que existem por aí, com um fundo mau. O norueguês Breivik é um caso semelhante a esta personagem – alguém perturbado, metódico e cruel. Em suma, “We Need to Talk About Kevin” é um dos últimos grandes filmes que vi e acho que, imitando um pouco o título, toda a gente precisa de falar um bocadinho sobre este filme. MP

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