24 de março de 2012

Olhanense 0 - 0 Benfica

O Benfica empatou há pouco em Olhão e, apesar de não ter hipotecado as aspirações que tinha de vencer o campeonato, claramente dificultou a coisa. Um jogo muito fraco da equipa encarnada, que enfrentou um Olhanense desfalcado e que se soube defender bem, num deserto de ideias de parte a parte.

    A primeira parte não é muito difícil de resumir: foi muito fraca. Muitos passes falhados (Javi García hoje esteve displicente e desconcentrado), falta de raça, vontade e “genica” por parte dos jogadores do Benfica e uma enorme incapacidade em construir jogadas de perigo, marcou a primeira parte do lado benfiquista. Gaitán preferia jogar bonito a jogar simples e bem, Nélson Oliveira adiantava sempre imenso a bola e não aparecia na zona onde podia criar mais perigo (caía muito no flanco em vez de aparecer em zonas normalmente de Aimar, que era onde Rodrigo, quando em forma, rendia mais. E é o que se pede ao companheiro de Cardozo no ataque se Aimar não estiver em campo), Emerson estava igual a si mesmo, Cardozo ficava à espera que uma bola lhe caísse do céu e Maxi Pereira era o único que revelava alguma vontade em querer fazer acontecer alguma coisa.
    O Olhanense procurava sempre a velocidade de Salvador Agra e a experiência de Toy, defendendo no seu meio-campo, onde o duplo pivot Jander-Fernando Alexandre ia funcionando na perfeição, anulando sobretudo Witsel e Nélson, e a equipa algarvia procurava sempre Rui Duarte na definição das suas jogadas. O empate a zero ao intervalo justificava-se plenamente, e caracterizava na perfeição o jogo pobre a que se estava a assistir até então.

    Para a 2ª metade, Jorge Jesus lançou Pablo Aimar. Tirou Nolito, o que a meu ver não era o mais aconselhável. Na altura pensei que a solução podia passar por retirar de campo Gaitán e Nélson Oliveira, colocando Aimar e Rodrigo. A verdade é que a alteração não teve efeito imediato. O Benfica continuava com mais bola, é verdade, mas pouco ou nada fazia com ela. Aos 52 minutos, num lance de bola parada, Aimar colocou a bola na área e Javi García falhou a baliza por pouco. O Benfica continuava a falhar muitos passes, definia mal as jogadas e Jander começava a esgotar-se fisicamente, graças ao constante policiamento às acções de Witsel. Tudo de mau o Benfica fazia, e Cardozo acabou mesmo por bloquear um remate de Witsel na área.
    Mas nem tudo de mau tinha acontecido ainda. Aos 61 minutos, Pablo Aimar foi expulso com um cartão vermelho directo. Após uma bola disputada com Rui Duarte, o nº10 argentino, ao retirar a perna (da zona de contacto com a bola e graças ao impacto do choque com o pé de Rui Duarte), acerta em Rui Duarte, raspando os pitons no jogador português. Após várias repetições não consegui aferir com que intensidade é que o contacto acontece, se é só de raspão ou se crava mesmo os pitons. O que acho que se pode concluir é que não há intenção de Pablo Aimar, não foi uma agressão deliberada. E isso iliba-o de qualquer cartão.   
    Uma coisa é certa: João Capela teria que apresentar um critério uniforme. Mostrando o vermelho directo a Pablo Aimar no lance teria que também ter exibido o cartão da mesma cor em 2 lances: um deles quando Toy cravou os seus pitons em Javi García, na primeira parte, e o outro aos 82 minutos quando Meza fez um corte em “tesoura” por trás a Jardel. Lances que ofereciam muito menos discussão. Mas para que tudo isto acontecesse o João Capela teria que ser o quê? Um bom árbitro. E não há cá disso em Portugal. Ainda importa acrescentar que Pablo Aimar não jogará frente ao Braga, na luz, e considerando que se trata de um vermelho directo, correrá o risco de também não defrontar o Sporting em Alvalade.

    A partir da expulsão de Aimar, o Benfica apesar de com 10 elementos, assumiu o jogo. Levantou-se tarde da cama o Benfica, e a verdade é que não fez grande diferença. Jorge Jesus leu o jogo e decidiu retirar Witsel, colocando Rodrigo. Na altura fazia mais sentido retirar Nélson Oliveira, Gaitán ou Cardozo.
    Com a saída de Witsel o Benfica hipotecou as hipóteses que tinha de construir uma jogada de jeito e a partir daí, primou pelo “chuveirinho” para a área. O Olhanense, na altura já com Salvador Agra a defesa direito, viria ainda a assustar e bem o Benfica, primeiro numa arrancada de Salvador Agra à qual o jogador de 1 metro e 20 (figura de estilo utilizada: hipérbole) acabou por não dar o melhor seguimento; e depois num remate perigoso que Artur defendeu. A equipa de Jorge Jesus baseava o seu jogo em bolas despejadas para a área por Luisão (parecia o Benfica do tempo do Quique Flores), e geralmente mal despejadas. Até final do encontro, Jesus ainda trocou Emerson por Saviola, o que não era um risco porque estava a ganhar um jogador em campo, Cardozo ainda rematou muito por cima depois de receber bem a bola na área e, em cima do apito final, Saviola rematou para uma decisiva defesa de Fabiano Freitas.

    Hoje no Benfica, quase todos merecem um destaque negativo. Uma apatia preocupante e generalizada, que apenas não contagiou Maxi Pereira, o único que correu, correu, mas não teve uma equipa à sua volta.  Num jogo decisivo, fulcral para o principal objectivo da equipa encarnada, os jogadores não estiveram à altura. Javi García, Gaitán, Nélson Oliveira e Cardozo estiveram muitos furos abaixo do que podiam fazer.
    Na equipa de Olhão, toda a defesa e o meio-campo defensiva teve bastante mérito. Não digo muito porque, sem querer tirar brio a este ponto conquistado, houve muito demérito do Benfica. Salvador Agra correu que se fartou, Rui Duarte sacou a expulsão de Aimar e foi um bom ponto de equilíbrio e passador, Fabiano defendeu o remate de Saviola no último minuto e os médios defensivos Jander e Fernando Alexandre, tal como o defesa Vasco Fernandes, estiveram sempre no sítio certo. Acima de todas estas figuras, o central Maurício. O experiente central brasileiro foi o maior obstáculo, quase sempre em jogo aéreo, que o Benfica encontrou. Sempre concentrado, sempre com a agressividade (no bom sentido) que faltou a tantos jogadores do Benfica, acabou ainda por retirar uma bola, cabeceada por Gaitán, quase em cima da linha de golo. Aos 35 anos, uma grande exibição. Acrescente-se ainda que o Olhanense não pôde contar hoje com André Pinto, Cauê e Wilson Eduardo – 3 importantes jogadores da equipa algarvia.


    Pelo que apresentou em campo, o Benfica não merecia ganhar. Como de resto não ganhou, ainda me é difícil aceitar, humanos leitores. Apesar de não sabermos como seria o jogo se Capela não expulsasse Pablo Aimar, temos que ser realistas – o Benfica não produziu uma jogada minimamente interessante, fez a 2ª pior exibição nesta época (pior só o jogo de Guimarães) e, quando podia vencer, subir ao 1º lugar provisoriamente e pressionar Braga e Porto, vacilou. Porto e Braga ganharam hoje um factor extra de motivação para os seus jogos e o Benfica pode muito bem queixar-se de si próprio, porque (apesar de por vezes alguns factores externos actuarem) já auto-dificultou a tarefa de ser campeão. Faltam 6 jogos ao clube da luz, e 7 aos restantes e ainda há um Benfica-Braga, um Braga-Porto, jogos do Sporting com os 3 candidatos, um Marítimo-Porto. Pode ser que o Paços de Ferreira deixe o campeonato equilibrado. Honestamente, não ganhando o Benfica, acredito mais num Braga campeão do que num Porto campeão. Ao menos, que os jogadores do Benfica corram, corram e joguem à bola como deve ser, compensando minimamente, conseguindo uma excelente exibição contra o Chelsea. MP



Olhanense 0 - 0 Benfica

Olhanense: Fabiano; Luís Filipe (Mateus), Vasco Fernandes, Maurício, Ismaily; Jander (Meza), Fernando Alexandre, Rui Duarte; Salvador Agra, Toy, Dady (Vítor Vinha).
Treinador: Sérgio Conceição

Benfica: Artur; Maxi Pereira, Luisão, Jardel, Emerson (Saviola); Javi García, Witsel (Rodrigo), Gaitán, Nolito (Aimar); Nélson Oliveira, Óscar Cardozo.
Treinador: Jorge Jesus

Golos: ---

Melhor em campo "Barba Por Fazer": Maurício.

0 comentários:

Enviar um comentário