29 de maio de 2011

Sardinhas, Bailaricos, Beijinhos e até política

Paulo Portas: “Deixem-me provar a minha sardinha” – uma afirmação que consegue resumir bem o significado de campanha eleitoral em Portugal.

Se eu fosse candidato a primeiro-ministro, tinha passado Março e Abril inteiros no ginásio. Andar quilómetros e quilómetros, dançar com dezenas e dezenas de senhoras, comer farnéis e farnéis – tudo, por um voto. Parece-me pertinente o político português passar pelo menos 2/3 meses antes da campanha sempre a “encher”, para ficar em forma para a maratona política.
De resto, a participação dos políticos nas corridas da ponte 25 de Abril, etc. tem realmente lógica. Não se trata de ficar bem na fotografia, é sim uma espécie de pré-época para a campanha eleitoral.

Iniciou-se no dia 22 de Maio a campanha eleitoral. Terminará a 3 de Junho. Gosto sempre de ver as diferenças entre um político sem estar ainda em campanha e quando já está. Basicamente, antes de campanha fala por enigmas que nós temos que descodificar e quando o fazemos compreendemos que ele nos está a pedir o voto, que é o que em plena campanha eleitoral ele já diz com todos os dentes. É um pouco como no Harry Potter, ele nunca fala do Voldemort. É o Quem-nós-sabemos. Na política portuguesa, o verdadeiro nome do Quem-nós-sabemos também começa por V, chama-se voto.

Estamos agora na altura em que passa o Tempo de Antena de Campanha Eleitoral para a Assembleia da República. É sempre uma altura triste para muitas crianças e adolescentes porque os Morangos com Açúcar, na TVI, passam a ter uma duração menor. No entanto, a trama é essencialmente a mesma. A Joana era delegada de turma há já bastante tempo, mas só andava a fazer coisas más às amigas e na escola. As colegas de turma juntaram-se todas e decidiram que a iriam destituir. Ela agora pede desculpa. Porém, há uma diferença significativa. Aqui, não há amigas a traírem os namorados com os namorados das outras, e no fim da história nos últimos anos têm sido os maus da fita a ficarem bem. Nos Morangos o mau ou morre, ou torna-se bom. Ou fica maluco. Se não é assim nos Morangos, é assim nas outras telenovelas portuguesas todas.

Ao assistir ao Tempo de Antena notei em algumas coisas.
O Bloco de Esquerda tem o melhor conjunto de curtas-metragens, analisando do ponto de vista da criatividade da sua equipa de Publicidade/ Marketing.
 Também pude reparar no tempo de antena do Partido Socialista. Dizem mais vezes a palavra PSD do que a palavra PS, o que é interessante. Pedro Passos Coelho deve-se sentir lisonjeado. O PS devia ir ao psicólogo, ou não tem nada para dizer sobre si, ou está a ficar um bocadinho obcecado.
Ainda há o PND (Partido Nova Democracia): um partido que cortou as pernas ao publicar o seu tempo de antena. De resto, este partido já foi posto em tribunal pelas imagens que apresenta no tempo de antena. Suponho que tenha sido o líder do partido a pôr o responsável pela campanha televisiva em tribunal.
Por fim, o PAN. Um partido que quando se analisa o programa eleitoral não tem propostas assim tão descabidas mas, neste caso, a capa do livro hipoteca as hipóteses das pessoas o abrirem para lerem. PAN (Partido pelos Animais e pela Natureza) ou, numa acepção mais fácil e popular “O Partido dos Animais”. Esta conotação não ajuda em nada o Sr. Paulo Borges (que parece o Poupas ou a Leopoldina, uma ave portanto), a sua equipa e os seus cartazes com animaizinhos em origami. Eu, sinceramente, quando ouvi falar deste partido pela 1ª vez, imaginei que o objectivo deles seria transformar o parlamento numa espécie de Jumanji (filme). Imagino um hipopótamo como novo Jaime Gama (peço desculpa se te ofendi Jaime) e vários animais engravatados a discutir. Não estou a insultar os senhores políticos, mas imagino que os consensos a que iriam chegar seriam mais ou menos os mesmos. Aliás, a selva é um ecossistema com um funcionamento muito auto-suficiente e bem estruturado pela Mãe-Natureza e pelos impulsos inscritos no código genético dos animais, portanto talvez até funcionasse melhor. Mas não, não vou votar PAN. (Para quem já não se lembra Pan era também a neta do Songoku no Dragon Ball GT).

Na internet podemos acompanhar: a campanha ao minuto. Podemos aí encontrar bonitas frases, tais como:
               
PSD dá tréguas à carne assada e opta por servir hoje ao almoço, em Penafiel, aos cerca de 3500 comensais rojões, um prato típico minhoto.” – Mais uma frase, como a de Portas no início desta crónica, que traduz o período eleitoral português.

“Passos chega com uma hora de atraso e improvisa um minicomício em Amarante.” – a improvisação de minicomícios devia ser feita sob a forma de rap. Ficava bem, acho eu. E quando líderes políticos se encontrassem na mesma rua, fazia-se uma battle.

“PSD: Chove em Penafiel.”;
“PSD: Chove muito, mesmo muito em Penafiel” – o PSD faz tudo. Até de serviço de meteorologia.

“Pescadores de Matosinhos oferecem leme a Sócrates para liderar país.” – Os pescadores… pescam. Pois, é isso. Nunca os imaginei uns visionários políticos nem extraordinários sábios, portanto compreende-se.

“PS: Ou me engano muito ou vai chover não tarda nada.” – O PS também percebe de meteorologia. É pena. O governo é em Lisboa, não é nas nuvens. Às vezes é nas nuvens que esta gente parece andar toda, mas deixam-nos a todos com os pés bem assentes na terra e quase sem conseguir olhar para cima.

“Uma peixeira para Portas em Leiria: “é melhor do que o Tony Carreira"” – julgo que este seja o maior elogio que uma peixeira consegue fazer a alguém. Nessa peixeira, mora um voto no CDS-PP. Cheira-me que esta é das que vai à Avenida da Liberdade gritar pelo Tony. Esse “grande cantor”.
“Portas já visitou dois mercados e uma feira”. Toma lá, 3-0 para o Portas. A campanha eleitoral também parece por vezes um peddy-paper, quem conseguir ir a mais estações e ter melhores resultados nos jogos tradicionais ganha.

“PS: Pavilhão repleto dança ao som de YMCA.” – Qual o meu espanto quando eles já admitem à vista de todos as preferências “musicais” do seu líder… A bandeira do PS podia passar a ser um arco-íris.

“Fábio Coentrão junta-se a Sócrates em Caxinas” – Fábio, eu respeito-te tanto, mas nesta armaste-te em Figo. Uma coisa é certa, dizes que o Benfica fez de ti homem. Duvido que alguém faça do José homem (e não me estou a referir ao José Castelo Branco).

Paulo Portas: “Como dizia Kennedy, não te pergunto donde vens. Pergunto-te o que queres fazer”. Paulo, a frase de Kennedy é: “Ask not what your country can do for you. Ask what you can do for your country”. Parece-me uma tradução mal feita Paulo.

Numa coisa concordo com Francisco Louçã, porque o homem de vez em quando lá dá uso ao cérebro que tem (no qual vislumbro qualidade cognitiva normalmente mal empregue):

“A abstenção e o voto em branco são desistir do país”.


Dia 4 de Junho é dia de reflexão. Aquele dia em que ninguém pode pedir votos nem dizer os nomes dos partidos. Um dia para pensar. Aqui no Garganta Funda esse dia vai ser… diferente.
MP

3 comentários:

  1. Bom post.
    Com este tipo de frases que aqui foram citadas não sei se rio ou se chore...
    Tem-se falado pouco de politica nesta campanha eleitoral realmente, o que é uma pena e acima de tudo um desperdicio.
    Só uma pequena correcção, o dia de reflexão que se aproxima é 4 de Junho e não de Maio!
    Continuem o bom trabalho.

    ResponderEliminar
  2. Obrigado pelo reparo Special1.
    Esperamos que continue a visitar e comentar o blog

    ResponderEliminar
  3. A ideia da battle entre candidatos, em estilo rap, quando se encontrassem... seria fenomenal! :)
    Brincadeiras à parte, concordo 100% com o que foi escrito, e tenho pena de viver num país por vezes tão vergonhoso. É que nem em plena crise conseguem mostrar seriedade!
    Dia 5 lá estarei.

    ResponderEliminar