17 de fevereiro de 2015

Crítica: Fifty Shades of Grey

Realizadora: Sam Taylor-Johnson
Argumento: Kelly Marcel, E.L. James
Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Marcia Gay Harden, Jennifer Ehle
Classificação IMDb: 4.1 | Metascore: 46 | RottenTomatoes: 25%
Classificação Barba Por Fazer: 40


    O romance erótico, que nasceu de certa forma a partir do vampiresco Twilight, chegou, esgotou salas de cinema por todo o lado e tem sido mal recebido pela Crítica. Por mais que se dê uma oportunidade ao filme, é inequívoco: é mau. Pronto, é mesmo muito mau. Por múltiplos motivos que vamos esmiuçar.
    Durante os últimos meses Fifty Shades of Grey tornou-se um dos filmes mais aguardados de 2015: o Marketing à sua volta foi bem feito, o trailer rapidamente ascendeu a mais visto de sempre no Youtube, e os vários músicos que contribuíram para a banda sonora ajudaram na criação de expectativas por parte dos fãs. O guilty pleasure de muitas mulheres chegou pela mão de Sam Taylor-Johnson, e com Dakota Johnson e Jamie Dornan na pele de Anastasia Steele e Christian Grey.
    Para quem não está familiarizado com a trilogia de E.L. James, 'Fifty Shades of Grey' cruza os caminhos de uma estudante universitária virgem com um milionário atraente mas perturbado, sádico e praticante de bondage e dominação/ submissão. É importante ter em conta que esta Crítica é feita sem ter lido a trilogia, conhecendo o enredo apenas nos seus traços genéricos.
    O filme foi um sucesso em termos de Box Office, e as mentes mais conservadoras imaginariam que passaria de livro que as mães escondem debaixo da almofada para filme em que as pessoas vão e desejam que as luzes se apaguem para não serem identificadas. Mas não é nada disso. A dada altura a preocupação passa a ser o filme nunca mais acabar, e numa sociedade com cada vez menos tabus o conteúdo sexual de 'Fifty Shades of Grey' não tem nada de muito grave. É só estúpido.

    O que é que falha então nestas 50 Sombras? Praticamente tudo. Mas vejamos uma coisa de cada vez. Dakota Johnson e Jamie Dornan (sobretudo o segundo) têm sido castigados pela Crítica, mas vamos deixá-los para o fim. A coisa começa mal graças a um trio: Sam Taylor-Johnson, Kelly Marcel e E.L. James. Taylor-Johnson como realizadora nunca conseguiu atribuir o tom correcto ao filme, o argumento parece uma sucessão de momentos desligados e fragmentados e muito provavelmente a contribuição de E.L. James para várias escolhas pode, neste caso e contrariamente por exemplo a J.K. Rowling no 'Harry Potter', ter funcionado contra o filme. O que é certo é que há uma quantidade significativa de awkward moments (frases do livro como "I'm fifty shades of fucked up" ou "Laters, baby" soam incrivelmente esquisitas e descontextualizadas; nas cenas de sexo parece faltar clima, exceptuando-se talvez a cena com gelo; há muita palmada ali que não tem pés nem cabeça; e para além da química entre os 2 actores não existir, também não parece ter havido muita ajuda para combater isso; é escusado comentar aquele momento "I don't make love. I fuck.. hard").
    Pensar no tom certo é pensar em muita coisa que devia ter sido diferente - embora as contribuições de Beyoncé ou The Weeknd tenham valor, a banda sonora em si de Danny Elfman é uma das piores do ano, com vários momentos a serem editados de uma forma que retiram quase a carga sexual e a tensão, dando em vez disso vontade de rir. Depois, por muito que os livros tenham sido um sucesso, é diferente contar uma história no cinema - fica a ideia de que Kelly Marcel terá tentado reproduzir (mal?) o livro, quando provavelmente o universo 'Fifty Shades of Grey' precisaria de uma outra construção do ponto de vista do argumento, do background das personagens. Se calhar, ter-se feito uma série (a HBO ou a Showtime seriam a "casa" perfeita) baseada nos livros mas seguindo em certa medida um caminho próprio (como 'Hannibal', 'Fargo' ou '12 Monkeys') poderia ter resultado melhor. É apenas uma ideia.

    E por fim, embora pessoalmente ache que são os últimos culpados, os actores Dakota Johnson e Jamie Dornan são o rosto do falhanço. Houve muitos nomes que foram apontados aos 2 papéis: Ryan Gosling, Robert Pattinson, Matt Bomer e Charlie Hunnam (que esteve com os 2 pés no barco mas saltou fora a tempo) para Grey, Shailene Woodley ou Felicity Jones para Anastasia. Perante o que temos efectivamente, Dakota é talvez a coisa menos má no meio disto tudo. Encaixa bem naquela fusão de vizinha do lado com bibliotecária inocente, e a verdade é que sendo a maioria dos fãs do sexo feminino, era a personagem de Christian Grey que tinha maior pressão sobre si. Jamie Dornan teve um valente peso nos ombros ao ter que corresponder às fantasias de mulheres, mulheres e mais mulheres. E conseguiu? Parece que não. O que não quer dizer que Dornan seja o péssimo actor que toda a gente diz ser. Se virem a série norte-irlandesa 'The Fall' verão Dornan na pele de Paul Spector, uma das personagens melhor construídas no actual panorama televisivo. É fácil depreender que o casting de Dornan foi a 1.ª série de 'The Fall', só que infelizmente para Dornan enquanto que Spector é um psicopata que mata mulheres, Christian Grey tem que simultaneamente intimidar mas tornar-se um símbolo sexual, e não um símbolo de medo. Jamie Dornan construiu as 2 personagens de forma idêntica (será que foi aconselhado a manter o registo de 'The Fall'?) e enquanto que a sua falta de expressão encaixa na perfeição no tom que Allan Cubitt deu à série, nestas 50 Sombras Dornan parece desconfortável, ficando ainda mais estranho sem o seu sotaque (e a barba, já agora). Mas havia uma personagem a respeitar, compreende-se. Se aqui a tensão sexual parece ser postiça, forçada, ver Spector (Dornan) em 'The Fall' a interagir com as actrizes Aisling Franciosi e Gillian Anderson é precisamente o oposto.
    'Fifty Shades of Grey' foi um fiasco? Foi. Dos grandes. Embora atenuado por à partida já não se esperar muito. Mas tudo indica que 'Darker' e 'Freed' acabarão mesmo assim por acontecer no Cinema, provavelmente sem repetir realizadora e argumentista. O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita, e provavelmente a única coisa boa - para além das músicas que foram concebidas para o filme - que se retira no fim é o facto do mundo poder ter a curiosidade de ir ver 'The Fall' e perceber que Jamie Dornan pelo menos aí acertou na mouche.
    A despedida só podia ser uma: Laters, baby.

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