3 de janeiro de 2016

Crítica: The Danish Girl

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2016
Realizador: Tom Hooper
Argumento: Lucinda Coxon, David Ebershoff
Elenco: Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Matthias Schoenaerts, Amber Heard, Ben Whishaw
Classificação IMDb: 7.0 | Metascore: 66 | RottenTomatoes: 69%
Classificação Barba Por Fazer: 66

     Depois de arrecadar, de forma incontestável parece-nos, o óscar de Melhor Actor há pouco menos de um ano atrás com 'The Theory of Everything', Eddie Redmayne segue bem posicionado para conseguir uma segunda nomeação consecutiva, num papel carregado de contestação, mas que é (mais) um atestado do talento do actor britânico. A Rapariga Dinamarquesa, que estreou em Portugal a 31 de Dezembro, foi realizado por Tom Hooper ('The King's Speech', 'Les Misérables') e inspira-se - embora contenha vários pormenores meramente ficcionais - na relação da artista Gerda Wegener (Alicia Vikander) com o também pintor Einar Wagener (Jessica Chastain Eddie Redmayne), mais tarde Lili Elbe, a primeira pessoa a submeter-se a uma cirurgia de redesignação sexual.
    Tudo começa na Dinamarca dos anos 20, flutuando entre Paris e a Escandinávia durante as quase duas horas de filme. O casal de pintores Wegener, cujos trabalhos de Einar são mais aclamados, enfrenta um turbilhão de mudanças a partir do momento em que Gerda lhe pede que pouse como uma mulher para as suas pinturas, despertando sensações, convicções e uma persona que, progressivamente, se assume como o seu único eu.
    'The Danish Girl' está longe de ser um dos melhores filmes deste ano, mas nunca um filme como este, com interpretações fortes dos seus dois protagonistas, pode ser considerado mau. O problema para Hooper, Redmayne e companhia surgiu logo à partida - o projecto foi condenado à priori, qual 'Zoolander 2' nas últimas semanas, porque a comunidade transsexual "queria" um transsexual no papel de Lili Elbe, e não um actor cisgénero como Redmayne. Mas, honestamente, e embora o tema mereça o máximo respeito, qualquer actor tem direito a ser.. um actor, transformando-se na sua interpretação.
    Os tons pincelados e os enquadramentos de Hooper, que tornam o filme um quadro em movimento, são pontos a favor. No entanto, passa para fora uma ideia que o filme foi concebido demasiadamente de olhos postos nos óscares, e não tanto no valor da história, e se o filme é charme e eloquência em grande dose, falta-lhe profundidade, e até rebeldia.
    Mas passemos ao melhor: Eddie Redmayne e Alicia Vikander. Curiosamente, 'The Danish Girl' encontra paralelismos com 'The Theory of Everything' - em ambos, Redmayne demonstra a sua qualidade e é convincente, em ambos revela um autêntico mestrado na comunicação não-verbal e na sua capacidade de nos conduzir através dos gestos (desta vez, à medida que se compreende e reproduz os movimentos das outras mulheres à sua volta), e em ambos Redmayne tem ao seu lado uma grande actriz para suportar e ser fonte de força na sua jornada de transformação. E se Felicity Jones foi muito boa como Jane Hawking, aceitando ficar na sombra do seu co-protagonista, Alicia Vikander tem o mérito de estar tão bem ou melhor do que Eddie Redmayne, numa personagem a que estiveram associadas actrizes como Charlize Theron, Gwyneth Paltrow, Marion Cotillard e Rachel Weisz.
    Em termos de Óscares 2016, para além de algumas possíveis nomeações técnicas como Design de Produção ou Guarda-Roupa, Eddie Redmayne parece ser um dos 3 nomes indiscutíveis na categoria de Melhor Actor (juntamente com DiCaprio e Fassbender), enquanto que Alicia Vikander não deve ficar atrás, faltando apurar se será considerada Actriz Secundária (uma categoria na qual pode ser tido em conta também o seu desempenho em 'Ex Machina') ou Actriz Principal. Certo é que continuaremos a vê-los nos próximos anos - Redmayne assume-se como o rosto principal do regresso do mundo J. K. Rowling, e Vikander não deve parar depois de explodir este ano - apareceu também em 'Testament of Youth', 'Ex Machina', 'The Man from U.N.C.L.E.' e 'Burnt'. A omnipresença que, por exemplo, Jessica Chastain (sósia de Redmayne em versão Lili Elbe) teve em em 2011, a sueca Vikander teve este ano, parecendo estar em todo o lado. E é uma daquelas actrizes da qual é impossível retirar os olhos quando está no ecrã, verdadeira mestre dos sotaques.
    Em suma, A Rapariga Dinamarquesa não é tão mau como o pintam, e pinta a pastel mais uma etapa das carreiras de dois actores que prometem marcar os próximos anos do Cinema.

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