24 de junho de 2011

Vermelho por Palavras


Iniciamos hoje uma nova rubrica no nosso blogue, inteiramente dedicada à realidade futebolística – um tema que motiva tantas conversas de café, tanta mobilização, sofrimento, paixão e dinheiro. Um tema sobre o qual nunca irão faltar coisas para falar. Como fervorosos benfiquistas tentaremos não ser facciosos, mas a cor do nosso sangue poderá vir à tona uma ou outra vez. A rubrica ficará a cargo da nossa vasta equipa de colaboradores (somos dois) – MP às sextas-feiras com  “Vermelho por Palavras” e TM às terças-feiras com “Remate à Benfica”.

“Estou na minha cadeira de sonho. Não abdico dela por nada”
André Villas-Boas, 21 de Novembro de 2010

“E eu estou convencido que se o André Villas-Boas não tivesse a mesma paixão que eu tenho pelo Futebol Clube do Porto, eu estou convencido que o André Villas-Boas era capaz de sair porque tem uma cláusula de rescisão de 15 milhões que para determinados clubes não é significativa. Agora o que eu tenho a certeza é que se vierem cá com essa cláusula, o André Villas-Boas não quer sair” 
Pinto da Costa, 23 de Maio de 2011 na “Grande Entrevista” 

Quando a época começou não tinha uma opinião formada sobre o Luís André de Pina Cabral e Villas-Boas (André Villas-Boas, de nome artístico), bisneto do visconde de Guilhomil. Afinal de contas, era um jovem treinador ruivo que tinha perdido por 4-0 na Luz (que chapéu do Saviola!) levando um banho de bola (como muitos levaram) e tinha, com a sua Académica, ganho 1-0 em Alvalade ao Sporting (como muitos conseguiram). Assim sendo, não sabia o que vinha dali. O campeonato começou e o Porto lá foi ganhando com umas ajudinhas no início, Villas-Boas lá se passou quando empatou com o Guimarães mas o Porto foi-se solidificando como uma equipa com uma dinâmica de meio-campo forte e um modelo de jogo definido, com um plantel em que todos jogavam e uma motivação e vontade de ganhar enormes. Até Dezembro, não tinha grande respeito por Villas-Boas. No final de Maio, posso dizer que já lhe reconhecia enorme mérito nas conquistas do Porto e o considerava um treinador a sério e não apenas “O antigo adjunto de Mourinho” (apesar de ainda ter que provar com mais uns anos de carreira). No entanto, o melhor estava para vir. Menos dum mês depois de Pinto da Costa dizer que estava seguro que Villas-Boas não quereria sair, a minha admiração e respeito pelo rotulado por Ricardo Araújo Pereira “Mourinho de Pechisbeque” atingia o expoente máximo. André Villas-Boas deixou o Porto com as calças na mão porque preferiu ficar com os bolsos das suas calças bem cheios. Pode-se contestar? Pode. Mas estamos em crise. Isto está difícil para todos e eu acho que no Porto, mesmo sendo ele portista, não deve dar aquela “pica”. Ora, vamos imaginar que eu era o melhor a comer maçãs, mas o clube de maçãs que eu representava fazia com que eu tivesse que comer maçãs já bastante comidas enquanto os outros tinham que comer as maçãs por inteiro. Não me dava o mesmo gozo. Estou a falar de batota? É isso mesmo. Porque é que na minha analogia usei fruta? Parece-me óbvio. Villas-Boas ficou agora como o “judas” para muitos portistas. E talvez agora leve consigo o “judas” para muitos sportinguistas. Faço uma vénia a Villas-Boas, uma vez que conseguiu realizar um dos meus 100 objectivos de vida: estragar o dia de todos os portistas ao mesmo tempo.

Fonte: Henricartoon - SAPO
Uma coisa que considero curiosa é o facto do Porto não saber estimar treinadores. Bem sei que o Porto vive numa religião monoteísta, venerando Pinto da Costa, e não podendo atribuir o sucesso a mais ninguém, mas a verdade é que nunca senti nos portistas grande adoração por Mourinho e por Villas-Boas quando os tinham como treinadores. O que é que eles têm em comum? Num mesmo ano conseguiram ganhar uma liga, uma taça e uma competição europeia, e ambos viveram os seus últimos dias no Porto sob escolta policial.

Confesso que pensei que Pinto da Costa iria tentar contratar Jorge Jesus. Mas não. Pinto da Costa contratou Vítor Pereira, o adjunto de Villas-Boas. É verdade que sempre que Villas-Boas tomava uma decisão no banco consultava Vítor Pereira, que parecia saber sempre dar-lhe o melhor conselho. Mas eu acho que o que se passou foi outra coisa. Pinto da Costa perdeu o cabeça e decidiu testar se é mesmo verdade que “qualquer treinador quando chega ao Dragão vence, porque há uma estrutura que o faz vencer” e então pegou num treinador que em 2009-2010, enquanto treinador principal, não conseguiu que o Santa Clara fosse promovido da Liga Orangina. Um treinador que nos 5 anos de experiência que teve como treinador principal, nunca conseguiu promover as suas equipas para escalões superiores. Mas há mais, Vítor Pereira tem agora uma cláusula de 18 milhões de euros. Tem tanta lógica como o Hulk ter uma de 100. O Porto quer agora contratar Bruno Moura, adjunto no Santa Clara, para treinador adjunto do Porto. Eu questiono-me se não valia a pena contratar já o Bruno Moura como treinador ou o adjunto do adjunto do Bruno Moura. Se é para arriscar, arrisca-se à grande. E poupava-se em sucessões e desgostos. Traições, como Villas-Boas admitiu."Eu traí" disse Villas-Boas, como que apanhado no Fiel ou Infiel.
                
                Menos badalado que toda esta polémica em redor de André Villas-Boas foi o início de época do Benfica. O clube encarnado apresentou 4 jovens (já conhecidos há bastante tempo) formados no clube que, supostamente, terão oportunidade esta época de ficar no plantel. David Simão e Nélson Oliveira talvez fiquem. Os outros dois, não acredito. Mas de qualquer forma espero que o Benfica não esteja a fazer com eles a velha táctica da Casa Pia – dá-se uma guloseima aos jovens e depois lixa-se-lhes a vida.
                O Benfica tem, isso sim, que fazer alguns retoques na equipa. Não sei se Jesus vai manter o esquema táctico das duas últimas épocas, mas espero que não. Há que contratar um defesa-central (propunha Mário Fernandes), vendendo Fábio Coentrão ir buscar Ansaldi e tentar arranjar em Angola ou algures dinheiro para se comprar o Pablo Piatti e o Salvio. Depois há uma questão, a do ponta de lança. Está na altura de soltarem o Cardozo e deixarem-no ser feliz no leste da Europa. Todos temos um treinador de bancada dentro de nós. O treinador de bancada dentro de mim… Ok, eu não vou prosseguir com esta frase, porque ela está a tomar contornos estranhos e nojentos. Reformulo: se eu fosse treinador, punha o Benfica a jogar em 4-2-3-1. Assim sendo, o avançado teria que ser um avançado móvel, mas bom finalizador. E é precisamente a noção de “avançado móvel” que talvez Jesus não compreenda. Móvel, nesta expressão, quer indicar mobilidade. Parece-me que Jesus entende um avançado móvel como “um avançado que pareça um móvel” e então mantém lá o Cardozo, a sua estante.
                Não me lembro da última camisola do Benfica que se batia em termos de beleza com a da época 2011-2012. Um misto de classe, simplicidade e tradição, certamente levará o Benfica desta época a voar bem no topo, como a águia, que regressará este ano. MP

1 comentários:

  1. Se fosse ao Pinto da Costa contratava-o, nem que fosse para ouvir uns pequenos (grandes) conselhos. Parabéns por ousar falar claro e dizer aquilo que muitos pensam.

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