19 de junho de 2011

Adeus Tristeza

Este texto é em honra do dia 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
Um apelo a todos, e um tributo a alguns.

O povo português é caracteristicamente macambúzio e deprimido. Sabemos acolher quem cá chega, mas não nos sabemos acolher a nós próprios. Mantemo-nos invejosos e egoístas, deixando sempre implícito em todos os nossos juízos que os outros não podem ter sucesso. Vivemos todos num globo de neve parado, que quando alguém decide agitar para fazer neve, gera o caos, a desordem, a desconfiança, a desacreditação. Quem tem a possibilidade ou corre o risco de sair desta Caravela, em busca dum futuro melhor e de reconhecimento, torna-se sujeito às maiores críticas, pelo simples facto de ter tentado, de ser melhor, nunca lhe reconhecendo o crédito por ir cravando a bandeira portuguesa em cada montanha ou lua dos 5 continentes deste planeta. Em cada “Velho do Restelo” ainda vive um sonhador. Crescemos achando que poderemos ser tudo, e desde cedo fazem-nos achar que não seremos nada. Português, se tu não gostares de ti, quem gostará?

Às vezes questiono-me: como é que um país que já teve o seu império e elevado poderio económico-demográfico hoje em dia é tido para muita gente no mundo como uma província de Espanha? É verdade também, primeiro que tudo, que há muita gente que nunca pegou num Atlas e o folheou, mas é também sinal de que Portugal não se soube gerir, estimar, e que actualmente continuamos sem acreditar em nós próprios, inibindo o nosso potencial como indivíduos e como colectivo.

“Por mares nunca dantes navegados” alimentámos um sonho e construímos um império. Meio mundo foi nosso. Mantemo-nos um país de homens e mulheres com potencial, com genes vencedores, guerreiros e ambiciosos. Porém, inibidos. O português do séc. XXI não tenta, não arrisca. O português dos séculos XV e XVI, talvez por não ter material que em devida percentagem pode ser corrosivo, como a televisão ou o Facebook (talvez o infante D. Henrique não tivesse tentado convencer homens a arriscarem a sua vida em busca de prestígio, dum sentimento de grupo assimilado como nunca, de uma necessidade de honrar o passado do seu povo e de enriquecer o futuro, se tivesse uma conta do Facebook onde pudesse “bater um papo” com as aias da rainha), arriscava a vida em prol dum sonho conjunto. Menos informado, mais humilde e “naive”, mais puro. Franklin Roosevelt disse um dia “Na vida há algo pior que o fracasso: não ter tentado nada”.

Poucos de nós revelam os seus mais íntimos desejos e sonhos. A sociedade consumista e materialista, o progressivo sedentarismo e inércia levam cada um de nós a acomodar-se, deixando a vida passar. Sugeria a cada pessoa que hoje fizesse um exercício: pensa na tua vida, pensa no que fizeste, pensa que o mundo acabava daqui a um ano, pensa no que te faz feliz, pensa em quem te faz feliz, pensa no que queres fazer. E faz.

A História dum povo faz-se de momentos e de figuras. Muita gente já marcou gerações, incitou progressos científicos, artísticos, desportivos. Muitos portugueses já arriscaram, acreditaram em si: Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Almada Negreiros, Almeida Garrett, Cesário Verde, Eugénio de Andrade, Florbela Espanca, Gil Vicente, José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andersen, Miguel Torga, Bordalo Pinheiro, Aristides de Sousa Mendes, Garcia de Orta, António Egas Moniz, Gago Coutinho, Sacadura Cabral, Afonso de Albuquerque, Fernão de Magalhães, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, António Champalimaud, Amália Rodrigues, Raúl Solnado, António Feio.

Todos estes nomes construíram um caminho que torna possível às gerações actuais ter aspirações, sonhos e referências. Muitos já deram o seu contributo, ainda vivos, como Eusébio da Silva Ferreira. Mas temos muita gente capaz, em actividade, que arriscou, teve sucesso e que não deve motivar pecados capitais em nós, mas sim orgulho: José Mourinho, Cristiano Ronaldo, Rui Costa, Luís Figo, Paulo Futre, Daniela Ruah, Joaquim de Almeida, Horta Osório, Durão Barroso, Mariza, David Fonseca, Nelly Furtado, Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto Mora, António Lobo Antunes, António Damásio, Paula Rego, Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Francis Obikwelu, Naide Gomes, Nélson Évora, Joaquim Videira, Telma Monteiro, João Pina, Carlos Sousa, Pedro Lamy, Tiago Monteiro, Armindo Araújo, Ticha Penicheiro, Miguel Andrade Gomes, Marcelo Rebelo de Sousa, José Rodrigues dos Santos, Joe Berardo, Belmiro de Azevedo, Américo Amorim.
Uso esta linha e as duas abaixo agora apenas para dizer a palavra Benfica. O maior clube português, que tal como Portugal, neste momento precisa de realizar conquistas internas, para depois sim glorificar o seu nome pela Europa e pelo Mundo.

Há quem não "exportemos", mas que contribua internamente para o nosso PIB artístico. Actores como Nuno Lopes, Miguel Guilherme, Ivo Canelas, Manuel Cavaco, Nicolau Breyner, Virgílio Castelo, Margarida Carpinteiro, Ruy de Carvalho, João Ricardo, Diogo Morgado, Filipe Duarte, Vítor Norte, Beatriz Batarda, Albano Jerónimo, Catarina Wallenstein, Gonçalo Waddington, Soraia Chaves, Dalila Carmo, Joana Seixas, Joana Solnado, Sandra Barata Belo ou Afonso Pimentel; humoristas como Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, Herman José, Joaquim Monchique, José Pedro Gomes, Maria Vieira, Maria Rueff, António Raminhos, Aldo Lima, Nuno Markl, Zé Diogo Quintela, César Mourão, Pedro Tochas, Nilton ou Rui Unas; músicos como Rui Veloso, Manel Cruz, Mafalda Veiga, Filipe Pinto, Dulce Pontes, Pedro Abrunhosa, Paulo Gonzo, Camané, Jorge Palma, José Cid, João Pedro Pais, Boss AC, Sara Tavares, Sérgio Godinho, Jorge Cruz e bandas como os Xutos e Pontapés, Da Weasel, Linda Martini, Ornatos Violeta, Klepht, Clã, GNR, Expensive Soul, Foge Foge Bandido, Tara Perdida, doismileoito, Os Golpes, Os Velhos, Amor Electro, Deolinda, A Naifa, Old Jerusalem, Pluto ou Virgem Suta.

            Não peço a ninguém fama, um Nobel ou prémios. Peço trabalho, inspiração, criatividade, esforço, honestidade. Peço a cada um de nós que tente ser feliz. Muita gente já se esqueceu de viver. E há mesmo quem nunca tenha aprendido sequer.

            Um país é um livro que constantemente está a ser escrito. Nem sempre escrevemos com as palavras mais bonitas, nem sempre conseguimos rimar. Mas é o que escrevemos em cada página que nos permite passar para a página seguinte.
            Acho que está na altura de todos mostrarmos a D. Afonso Henriques que a discussão que ele teve com a mãe não foi em vão. MP

“Adeus tristeza, até depois
Chamo-te triste por sentir que entre os dois
Não há mais nada pra fazer ou conversar
Chegou a hora de acabar”

2 comentários:

  1. E eu preocupo-me em FAZER!!!
    Além disso, tendo um apelido que veio de Espanha, todos os dias faço o que está ao meu alcance para que o D. Afonso Henriques continue a ter orgulho do que fez.
    Viva Portugal!
    JP

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  2. Este texto é verdadeiramente inspirador! Obrigada e viva Portugal!

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