8 de junho de 2011

“Não, por favor, não tornem isto mais difícil”


E os portugueses não tornaram.

Foram estas as palavras (as do título) de José Sócrates aquando da sua emocionante (?) despedida do cargo de secretário-geral do Partido Socialista. Sócrates, olhando de forma salteada para os seus 2 telepontos, como que acompanhando um jogo de ténis, afirmou querer “dar espaço ao partido para discutir livremente o seu futuro”. Na 1ª frase deste parágrafo disse despedida e não demissão porque Sócrates, mantendo o ar da sua graça (arrogância habitual) nunca usou essa palavra, fazendo um balanço do tempo enquanto líder do partido, enquanto primeiro-ministro e de forma mais global, enquanto político, positivo. São opiniões, poder-se-ia dizer. Mas não, neste caso eu poderia apoiar-me em factos e dizer que não foi assim tão bom. Eufemismo. As palavras usadas por Sócrates pareciam as dum namorado a terminar uma relação com a sua namorada. Fez-me rir o José, mais uma vez. Infelizmente, durante este tempo todo deu-me muitas mais razões para chorar. Mas como estava a constatar que ia deixar de ver aquele vasto nariz durante algum tempo, admito que estava feliz.

O que me surpreendeu, no crónico Hotel ALTIS, foi a forma emocionada como alguns militantes acompanharam o Adeus socrático. Sinceramente, não compreendi tamanho afecto e devoção ao pior político desde que Portugal é uma República. Estabelecendo uma comparação infeliz, há mulheres que continuam com os seus homens mesmo depois de eles lhes baterem. O problema é que Sócrates não bateu só nos militantes do seu partido, bateu em Portugal inteiro. Mas felizmente, a maioria disse “Basta!” (alusão ao filme com Jennifer Lopez).
Um outro momento que me fez rir foi a pergunta da corajosa jornalista da Rádio Renascença. A jovem senhora, perspicaz, percebeu que a censura socrática já não estava em vigor e questionou o ex-primeiro-ministro sobre a possível celeridade da reabertura de casos como o processo Face Oculta ou o Freeport. Uma pergunta que tinha toda a lógica, mas que caiu mal no goto dos fiéis a Sócrates, que vaiaram instantaneamente a jornalista. Já Sócrates, por sua vez, afirmou não compreender a pergunta. Realmente eu nunca lhe atribuí muita inteligência, tendo em conta o estado em que nos deixou e os pergaminhos académicos que supostamente não possuirá.
Numa última referência a José Sócrates, pudemos vê-lo a dizer que se vai dedicar finalmente à sua vida pessoal. Obviamente nas redes sociais se começaram a fazer algumas piadas – Sócrates vai finalmente acabar o curso, Sócrates vai inscrever-se num curso das Novas Oportunidades, etc. Eu, pessoalmente, não me sinto particularmente inspirado para fazer uma piada sobre o futuro de Sócrates. Prefiro encarar a realidade socrática como um passado. Era bom, isso sim, que Portugal tivesse uma Nova Oportunidade para se reerguer e que tudo ficasse, pelo menos, como estava quando Sócrates pegou no leme do barco.

Numas eleições há derrotados e vencedores.

Antes de passar aos 4 partidos que me faltam analisar, considerando que o PS já está nesta espécie de despedida a José Sócrates (no dia 10 de Maio publicámos o texto “Hoje, José, nos te deitamos abaixo” e a 5 de Junho os portugueses deitaram mesmo), deixo uma palavra ao PCTP/MRPP de Garcia Pereira e ao PAN. Garcia Pereira gastou 80.000€ em campanha eleitoral para alcançar 1.1% dos votos. O PAN gastou 9.000€ e alcançou 1.0%. É só uma crítica a Garcia Pereira, até porque os 9.000€ gastos pelo PAN deduzo que tenham sido para comida para os animais. Não, não estou a chamar animais aos militantes do PAN. Esclareço isto porque lido de relance pode parecer uma afirmação ofensiva que faria de mim um animal.

Francisco Louçã, desta vez, perdeu. É certo que nunca ganha. Mas parecia que o Bloco vinha crescendo. Talvez o facto de terem provocado a queda do governo com a moção de censura (levando à entrada do FMI em Portugal) e depois não terem assinado o acordo com a troika (do russo “trenó puxado por 3 cavalos”) pode ter feito confusão a alguns eleitores.

Jerónimo de Sousa conseguiu aproximadamente 8% dos votos. É curioso que já em 2009 e 2005 tinha tido resultado muito semelhante. Conclusão: há 8% de comunistas em Portugal. É esperar uns 30 anos e cheira-me que a percentagem desce consideravelmente. Não se pode dizer que Jerónimo ganha ou perde. Jerónimo empata sempre consigo próprio. Pensemos nas eleições como os Ídolos. Todos os candidatos têm sempre o voto da família. Mas é sempre preciso conquistar votos de pessoas que não nos são nada. Jerónimo só consegue sempre os votos da “família”, os camaradas eternos.

Paulo Portas pode ser considerado um vencedor. O Homem-Submarino já dura há algum tempo no panorama político nacional. Acho que com o devido valor e trabalho. Paulo Portas é o Shaquille O’Neal da nossa política. Shaq, que se retirou recentemente da NBA, sempre foi um jogador a quem deram crédito. Porém nunca foi propriamente a estrela da equipa. Foi campeão pelos Lakers de Kobe Bryant e pelos Miami Heat de Dwayne Wade. Paulo Portas é assim. Integrou, como ministro da Defesa o governo de Durão. E agora, em funções que ainda não se conhecem, integrará o governo de Pedro Passos Coelho.
Fonte: Henricartoon - SAPO

Recentemente ouvi algo que aumentou a minha consideração por Pedro Passos Coelho. Ouvi dizer que apenas ensaiou o seu 1º discurso político; desde aí, tem sido sempre de (relativo) improviso. Se assim for, parece que o nosso novo primeiro-ministro tem algo de Martin Luther King Jr.. Também achei de bom tom a escolha do Hotel Sana por parte do PSD. Esta escolha, para além de representar algo novo, juntou na minha mente as palavras “festejos” e “Marquês”, o que me trouxe um sorriso pelas memórias de Maio de 2010.
Agora é tempo de reuniões com Paulo Portas, rápidas decisões e uma construção de um governo forte e capaz. Bagão Félix, por exemplo, era um nome que me parece que iria gerar consensos. Um dos cromos da caderneta social-democrata, mas talvez um dos mais difíceis de sair.
O dia 5 de Junho de 2010 tornou real, ainda, o sonho de Francisco Sá Carneiro: uma maioria, um governo e um presidente.

É normal e humano que diferentes pessoas tenham diferentes ideologias. Formas de estar na vida, e formas de encarar a Economia, a Saúde, a Cultura, etc. No fundo, os nossos princípios e valores que temos para nós e a forma como nos autogovernamos diz muito sobre cada um. No entanto, numa eleição num momento delicado como este, não me parece correcto que cada um encare o seu partido como um clube de futebol. E é isso que mais parece às vezes. No futebol, cada um tem o seu clube. É lógico que eu quererei sempre que o Benfica vença o Porto e o Sporting. No entanto, na política, por muito que vença um partido que não é aquele com o qual mais nos identificamos, devemos respeitar a democracia existente e a decisão da maioria dos nossos compatriotas e acreditarmos no nosso país. Todos nós somos um país, um hino, uma bandeira e neste momento impõe-se que se “levantai hoje de novo, o esplendor de Portugal”
É importante, no entanto, ressalvar uma coisa. Não nos podemos nunca esquecer de quem nos pôs na situação em que estamos. Portugal, um país tradicionalmente de esquerda, optou na sua maioria por um governo de Direita num dos momentos mais importantes da nossa História. Os tempos que se avizinham não serão fáceis, mas exigirão trabalho e esforço de todos. Há que ter confiança no novo governo eleito. Longe vão os tempos do tratado de Tordesilhas, em que meio mundo era nosso… MP

Cito Paulo Portas: “Não quero nenhuma euforia e amanhã é dia de trabalho”.

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