14 de abril de 2011

Uma forma (não) Nobre de virar a casaca

Fonte: Henricartoon - SAPO
    Acho que toda a gente deve ter uma mentalidade aberta e flexível. Devemos compreender que nem sempre temos uma única posição a manter, que as opiniões veiculadas pelos outros também podem ser correctas, se bem fundamentadas, e que para escolhermos um lado devemos conhecer os dois.
                No entanto, na sua grande maioria, na política nacional portuguesa, cada partido tende a seguir a sua linha ideológico-partidária. Faz-me confusão quem diz algo e passado algum tempo age em sentido inverso, não percebendo que a incoerência das nossas atitudes nos faz perder a credibilidade e identidade que vamos construindo ao longo da vida. Fernando Nobre, (no passado algumas vezes associado ao PS e até ao comunismo, mas nunca de forma directa ou como deputado) candidato independente nas últimas eleições presidenciais, surpreendeu muita gente ao conseguir “agarrar” 600 mil votos dos portugueses, com o seu discurso calmo, por ser uma alternativa diferente, apartidária e “em nome da cidadania”. Nobre, presidente da AMI, defendeu na sua 1ª entrevista pós-eleições, entrevistado por Mário Crespo, que em nada se identificava com o estilo de vida partidário – “Partido político, nem pensar. Nunca. (…) Eu não aceitarei nenhum cargo partidário ou governativo. Está assente, determinado. Não volto atrás”.
                Ora, exactamente 1 mês e 9 dias depois disto, eis Fernando Nobre pegou na sua malinha (na realidade está agora no Sri Lanka) e viajou 180 graus na esfera política nacional, sendo apresentado como candidato do PSD à presidência da Assembleia da República. Cheira a esturro? Cheira sim senhor. Muito já se disse e se dirá: que é um hipócrita, que traiu quem em Janeiro deste ano votou nele pelas razões que votou, que está a precisar de dinheiro e, como tal, dum chamado “tacho”, que é um fenómeno “Mudasti!”, etc.
                Numa análise do foro político, não julgo que Passos Coelho ganhe com a escolha feita. Pedro Passos Coelho, que já veio dizer que Nobre “nunca se assumiu contra os partidos políticos”. Terá então Passos que visitar o nosso blog e ver o vídeo, e acho que talvez não mantenha a mesma opinião. Fernando Nobre conseguiu ser a surpresa nas Presidenciais, precisamente pela sua independência. Para estas legislativas, volta a ser surpresa mas nas pré-eleições e não nos resultados finais, agora pelos piores motivos. Ora, se o objectivo do PSD era roubar votos ao eleitorado do PS, pelo menos os 600 votos que Nobre reuniu há bem pouco tempo, este “golpe” não deverá surtir o efeito desejado. Pelo contrário, Passos pode até perder votos com esta escolha. Primeiro, porque escolhe uma figura que acaba de perder credibilidade pela alternância de discurso/ posição, segundo porque certos sociais-democratas podem não concordar com esta (ausência de) linha de raciocínio e por fim, porque (e longe de mim defender o político a seguir mencionado) o PS para o mesmo cargo escolheu Ferro Rodrigues, que não tendo a meu ver nenhum claro ponto benéfico a seu favor, ao menos sempre o associámos ao partido pelo qual vai a eleições.
                Dirá Fernando Nobre, que tomou a decisão que tomou em nome da sempre tão proferida por ele – cidadania - e por achar, como já disse em comunicado, que pode servir o país e que nesta fase conturbada se devem “encontrar plataformas de entendimento que nos permitam abrir os caminhos do futuro”. Ora, e esta é para o Senhor Nobre, um dos conceitos associados ao termo “cidadania” é o respeito pelos outros. Esta decisão de Nobre não respeita quem o respeitou, e fá-lo perder o respeito até por si próprio.
Numa coisa Fernando Nobre já ganhou. Conseguiu rapidamente ver a sua página do Facebook muito mais vezes comentada do que alguma vez a minha será na vida. Gostou tanto dos comentários que acabou por fechar a sua conta na rede social, um claro acto em nome da cidadania. Ou será (de certa forma) censura a palavra certa!? Às vezes fico um pouco confuso, mas parece que não sou o único, não é Fernando? MP

1 comentários:

  1. É realmente, nestas pessoas que se percebe a grande influência e persuasão que um partido com grupo de interesses pode ter sobre alguém que à partida se diz apartidário. Ora se nem em épocas de eleições ainda nos encontramos, não seria este então (caso ganhasse qualquer tipo de eleições) um representante altamente permeável a grupos de interesses e elites? Poiss é meus amigos, está na hora de abrir os olhos...

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