1 de abril de 2011

Geração quê?!

   No passado dia 12 (ou devo dizer 11+1? Desde a apresentação do projecto do “Grande Homem” feita pelo Paulo Futre, para o Sporting, que tenho essa dúvida…) de Março de 2011, assistimos à manifestação da “Geração à Rasca”.  

   O início estava marcado para as 15h30 e ao longo do dia, foi-se verificando que a adesão por parte dos portugueses era muita. Eis que, a imprensa, aponta para cerca de 200 mil pessoas em Lisboa (e coloco este parêntesis para fazer referência ao SL Benfica, recorrendo ao facto de a 9 de Maio de 2010 estarem cerca de 300 mil pessoas em Lisboa para celebrar um Benfica Campeão. Que o Benfica é grande, toda a gente sabe, mas fica sempre bem voltar a salientar.) e, inexplicavelmente, a polícia aponta para as 15 mil. Ridículo, não é? Não, não é. A polícia está correctíssima ao apresentar estes números não oficiais. Isto porquê? Porque a manifestação foi mais um encontro social do que um protesto propriamente dito.

   Ia eu na rua e oiço um diálogo entre dois seres vivos tugas, em que um deles estava receptivo quanto à sua ida à manifestação. O outro para tentar convencê-lo, diz mais ou menos isto: “Anda lá meu! Vai ser fixe! Vai estar um dia porreiro e vai bué pessoal… Depois bebemos lá umas “jolas” com eles e tal…” – ora… não era bem isto que eu estava à espera de ouvir (porque é que a criatura que ia argumentar não disse as verdadeiras razões da manifestação?), mas mostra bem a atitude da maioria dos presentes na “manif”. Acho que a polícia acertou na muche quanto aos números.

   Uma coisa que eu gostava de perguntar: Porque é que foram buscar o nome à música dos Deolinda para a caracterização desta geração? “Geração à Rasca”? Agora expliquem-me: como é que aquela malta toda que está “à rasca” encheu o Facebook com fotos publicadas através de BlackBerrys e Iphones? Faz todo o sentido pessoas a queixarem-se de não ter dinheiro para nada, andarem com aparelhómetros que têm um preço “upa upa”, não faz? Pois está claro que não… Estar à rasca é estar com dificuldades. Não me parece que a passar dificuldades se tenha poder de compra para tais coisas completamente desnecessárias. E mais… sabiam que o iPad2, que se pode adquirir entre os 479€ e os 799€, esgotou no primeiro dia? Pois é… “Geração à Rasca”, não é? Estas pessoas têm tanta credibilidade a protestar como o Paulo Futre tem com o seu projecto.

   Com isto, não quero criticar a iniciativa dos portugueses em relação à manifestação. Simplesmente deixem o comodismo e de se queixar de tudo, por tudo e por nada. Mexam-se. Procurem soluções ao invés de esperarem que elas venham ter convosco. Não se queixem apenas porque sim. Queixem-se com razão. Não se deixem levar pela sociedade. Tenham opinião. TM

1 comentários:

  1. Por ter, de facto, uma opinião, aqui a deixo. Concordo que muitos não terão estado presentes nesta manifestação pelos motivos certos, e muitos que até teriam motivos válidos para lá estarem, mantiveram-se à margem. É o meu caso. Nunca fui apoiante de manifestações - raramente surtem qualquer tipo de efeito real - e procuro encontrar as soluções que possam ser melhores para mim.
    Para quem não é da "geração à rasca", ou para quem ainda não trabalha, há alguns pontos a que gostaria de dar ênfase para justificar o desânimo e a desmotivação com que por vezes somos obrigados a viver.
    1 - A maioria dos nossos pais, tendo ou não estudado, tiveram trabalho desde cedo. Puderam ter contratos, ficar nos quadros de empresas, e receber subsídios de férias e de Natal. Quantos de nós, jovens, temos essas "regalias"? Contam-se pelos dedos os amigos que tenho nessas condições. Muitos, licenciados, ou com graus académicos superiores, estão no desemprego ou a trabalhar em caixas de supermercado. Sem desprestígio para quem tem este tipo de trabalho, mas não foi para isso que estudaram anos (alguns deles a pagarem do próprio bolso, ou com recurso a bolsas de estudo). Para além disso, quando os mais velhos eram despedidos (salvo casos de justa causa), recebiam indemnizações. E a nós o que acontece? Vamos de férias numa semana e no último dia de férias ligam-nos a comunicar que não somos mais necessários. E pronto. Feito.
    2 - Vamos para o desemprego, e ficamos na "m". Não há subsídios para os famosos recibos verdes. 3 - Podemos até ganhar 1000 euros por mês. Porém, 21,5% fica retido na fonte (IRS) e 29,6% vai directamente para a Segurança Social. Para quê? Não faço ideia. Não temos real benefício com esta entidade, e eles próprios são os primeiros a duvidar que a reforma chegue para nós. Resumindo, andamos a tirar uma fatia razoável dos nossos ordenados, por vezes miseráveis, para pagar as reformas dos mais velhos. E quem o fará por nós?
    4 - Os nossos pais puderam comprar casa, ter empréstimos para habitação. Por vezes o empréstimo até dava para cobrir obras na casa. E nós? Dizem que não casamos, ou casamos tarde, e temos filhos mais tarde ainda. É verdade. Mas a culpa não é nossa. É deste sistema que nos obriga a arrendar casa e pagar por ela por vezes mais de metade do nosso vencimento, só para estarmos com o nosso companheiro, porque comprar casa não está ao nosso alcance. Ou temos pais ricos que o financiam (deverá ser uma minoria), ou ficamos em casa dos pais, ou nos juntamos e fazemos o sacrifício financeiro de pagar uma renda por uma casa que nunca será nossa, enquanto simultaneamente tentamos juntar para uma Poupança Habitação, grão a grão. A realidade é que, ou no futuro temos fiadores, ou nenhum banco empresta dinheiro a pessoas como nós, a recibos verdes. E o que empresta, em tempos de crise, implica que tenhamos que ter uma entrada brutal, ou ficaremos a pagar juros que dão para pagar 2 ou 3 casas.

    Na realidade teria muitos mais pontos para enumerar, mas o que queria realmente mostrar é que concordo em parte com este artigo, mas há muita gente realmente "à rasca". Julgo que a única forma de o ultrapassarmos é através de um espírito mais empreendedor, porque há ainda muitos projectos por desenvolver em várias áreas. E felizmente, ainda há quem aposte nos mais jovens!

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