25 de abril de 2011

Otelo, Sócrates, Portugal e os Portugueses


Fonte: Henricartoon - SAPO
           Em mais um momento de esquizofrenia política, 37 anos após o 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho veio a público dizer que se arrependera de ter feito a revolução dos cravos e que se pudesse voltar atrás deixaria tudo como estava. Muitos camaradas hão-de ter ficado chocados, e não sei se foi por ter ouvido Marcelo Rebelo de Sousa na TVI dizer que o que Otelo tinha dito não fazia sentido e que o 25 de Abril fez bem ao país, Otelo (talvez por ter acordado bem disposto ou com uma certa nostalgia saudosista da Revolução) veio dizer que estava orgulhoso do seu papel e que “O 25 de Abril foi o mais notável acontecimento mais da história contemporânea. Sou do 25 de Abril um orgulhoso protagonista. Não há em mim o mínimo arrependimento”. Quando questionado sobre o porquê de ter dito antes que estava arrependido de ter em muito ajudado à revolução, disse “Foi num contexto qualquer, que não me recordo já qual foi. Dei tantas entrevistas que não me posso recordar”. Mais um português, que ou está um pouco senil ou não tem grande palavra.
            Sócrates teve também uma atitude louvável (ou não). Num exercício de matemática simples pensou: Portugal está mal de… dinheiro. Quem tratou no meu mandato de dinheiro foi… o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos. Então, vamos fazer do Teixeira o bode expiatório e exclui-lo das listas para o próximo Governo. Porquê? Talvez não só por esse exercício simples, como pelo facto de Teixeira ter reconhecido que Portugal precisava de ajuda externa quando Sócrates ainda o negava. Sócrates atira assim um pirata para fora do navio. Já se percebeu que Sócrates só se interessa por ficar ao leme do navio, mesmo que navegue sozinho.
            Já o ex-presidente da República Mário Soares decidiu elogiar Passos Coelho, provavelmente para o ir conquistando numa eventual hipótese de negociação para um governo central. Defendeu Soares que Passos é um homem flexível, deixando presente sem o referir (ao não o elogiar) uma suposta crítica a Sócrates, que tem pautado nos últimos anos pela sua arrogância.
            As últimas sondagens dão empate técnico entre PS e PSD, o que mostra como infelizmente funciona bem a máquina de campanha do PS. Já Passos, percebendo que nas classes média e baixa não reúne consensos, decidiu invadir as revistas cor-de-rosa mostrando um lado mais pessoal, confessando gostar de cantar e ser bom a fazer farófias, papos de anjo e queijadas. Se isto garante votos, julgo que não. Eu pelo menos não gosto de farófias, até aprecio queijadas e nem sei o que são papos de anjo.
            Os portugueses revelam ser seres estranhos. Na mesma sondagem que dá 36% de intenções de voto ao PS e 35% ao PSD, 86% dos portugueses culpa Sócrates e Cavaco pela actual crise política, sendo mesmo Sócrates apontado por 65% como o principal responsável. É algo do género “Sim, aquele Sócrates é uma vergonha. Pôs-nos na situação em que estamos hoje o patife. Ah, mas eu vou votar nele”. Uma coisa é certa, os portugueses preferem que lhes mintam do que lhes digam a verdade. Preferem que lhes digam que está tudo bem, não estando, do que lhes contem a situação (má) real do país. Devemos encarar algo: Portugal é um país de esquerda. Às vezes, se calhar, calhava bem uma mudança de flanco. MP

PS: Só hoje reparei que o jurado do programa “Portugal tem Talento”, Ricardo Pais, desempenhou o papel de Marcelo Caetano no filme “Capitães de Abril”. É, somente, cómico. Mas realmente são um pouco iguais.

1 comentários:

  1. Gosto do meu país e detesto ouvir os portugueses sempre a queixarem-se a auto-criticarem-se e a desvalorizar o nosso país. Penso sempre que devíamos ser mais patriotas e vestir mais a camisola, porque na realidade para muitos de nós "a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha". Mas hoje só me apetece gritar "Somos o povo mais estúpido que alguma vez vi!", e isto revolta-me. O Sócrates ainda vai ganhar depois de toda a borrada que fez, nem que seja porque é o partido que apesar da crise está a gastar mais com a campanha (da mentira), cerca de 2.2 milhões de euros. Ridículo!
    Quanto ao jurado do Portugal tem Talento - excepcional!

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