29 de março de 2016

Revisão: 'Daredevil' (2.ª Temporada)

Criado por
Drew Goddard

Elenco
Charlie Cox, Deborah Ann Woll, Elden Henson, Jon Bernthal, Elodie Yung, Scott Glenn, Rosario Dawson, Vincent D'Onofrio

Canal: Netflix

Classificação IMDb: 8.8 | Metascore: 68 | RottenTomatoes: 76%
Classificação Barba Por Fazer: 80


- Abaixo podem encontrar Spoilers - 

A História: 

    "Afinal havia outra". Citar Mónica Sintra para iniciar uma análise à segunda temporada de 'Daredevil' pareceu-nos o mais lógico: depois de uma temporada de estreia que estabeleceu o produto Marvel-Netflix instantaneamente como a melhor série de super-hérois actualmente na TV, as 13 novas aventuras de Matt Murdock souberam manter o nível (no cômputo geral é efectivamente inferior à primeira, uma acepção que decorre de a) a primeira não ter tido termo de comparação, b) o facto desta 2.ª temporada arrancar num nível inesperadamente acima da primeira temporada, sem revelar depois a capacidade de manter esse fulgor e c) excesso de ninjas na segunda metade, o que a torna anti-climática).
    Para os mais esquecidos, o binge-watch que a Netflix nos permitiu em 2015 terminou com Matt Murdock (Charlie Cox) a assumir o seu fato, e com o brutal antagonista Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio) condenado, na prisão. Menos de um ano depois, e 4 meses depois de Jessica Jones dar os seus primeiros passos no streaming televisivo, novas pranchas e vinhetas de 'Daredevil' para devorar - a série foi disponibilizada na íntegra a 18 de Março.
    Não há melhor maneira de transmitir o ambiente de 'Daredevil' do que o pitch ambicioso que foi feito para que a série fosse para a frente: queremos ser mais 'The Wire' e menos 'Smallville'. E o que é certo é que a fasquia que Christopher Nolan conseguiu colocar no Cinema de Super-Heróis com a trilogia 'The Dark Knight', Drew Goddard tem-no feito com 'Daredevil' (embora 'Jessica Jones' tenha seguido o exemplo e, em parte, o tom).

    Depois de Kingpin na primeira season, as duas grandes novidades em Hell's Kitchen desta vez são Frank Castle (Jon Bernthal) aka Punisher e Elektra (Elodie Yung). Nomes de peso.
    Tal como a própria promoção que fora feita à série - primeiro com um vídeo com Daredevil e Frank Castle, e depois com outro mais focado em Elektra - as atenções são totalmente voltadas para o choque Daredevil/ Punisher numa primeira fase e depois, embora felizmente o subplot de Frank Castle nunca desapareça mas vá perdendo destaque, Elektra traz consigo lembranças do passado, ninjas, muitos ninjas que escalam paredes e o regressado Stick.
    Um dos temas mais abordados nesta temporada, um clássico em histórias de super-heróis que se torna indirectamente em voga na realidade graças ao terrorismo, é a definição de limites na procura de justiça. Frank Castle, tal como Daredevil, é um vigilante, mas com uma diferença - mata (You're one bad day away from being me; You hit them and they get back up. I hit 'em and they stay down!). Assim se passam os primeiros episódios, com Punisher a dizimar os gangues locais, e Daredevil a travá-lo, convicto de que ambos têm os mesmos objectivos mas diferentes abordagens e regras. Embora Elektra traga consigo alguns bons momentos/ episódios, é indiscutível a marca de Frank Castle nesta temporada - os 4 primeiros episódios introduzem-no de forma incrível, e quando passa para segundo plano volta a roubar atenções, quer na forma como sai da prisão, quer depois cá fora.
    Quando Daredevil vira atenções para Elektra (descurando inclusive o julgamento de Frank Castle) a acção propriamente dita segue-os, envolvendo depois a já conhecida Yakuza, a nova The Hand (que recupera um dos vilões secundários da primeira temporada) e o ancião Stick.
    
    
A Personagem: Frank Castle (Jon Bernthal).
    One batch, two batch, Penny and dime.     
  A personagem, por si só, ajudaria qualquer actor, mas Bernthal é o veículo perfeito para a frieza clínica, brutalidade, sede de vingança e conflito interno de Frank Castle.
    Quando no primeiro episódio se limita a dizer uma palavra (Bang), embora seja indirectamente apresentado através dos estragos avassaladores que provoca, torna-se evidente que o caminho da personagem está bem planeado. Durante os 4 primeiros episódios - juntos fariam um grande filme - a presença de Jon Bernthal como The Punisher catapulta a série para um nível acima do que já tínhamos visto, e vários diálogos com Daredevil são para ver e rever. A reflexão sobre o pouco que os distingue com Daredevil acorrentado no terraço e, finalmente, aquele monólogo no cemitério (porventura longo demais, mas quem é que se importa?!) em que desabafa sobre a família e os seus motivos, e explica a frase que usa para se acalmar em clima de guerra. Uma cena que terá servido para os mais desatentos porem finalmente os olhos em Jon Bernthal, e que sozinha justificava umas quantas nomeações para o actor de 'The Walking Dead', 'Fury' e 'The Wolf of Wall Street'.
    Se juntarmos a tudo isto o facto de chamar Red a Daredevil, de partilhar algumas cenas com Wilson Fisk, as conversas com Karen, o momento em que aguenta toda e qualquer tortura até ameaçarem a vida do seu cão e, por fim, a longa sequência em que sobrevive a um ataque encomendado na prisão... aqui têm uma das novas melhores personagens de 2016.


O Episódio: 03 'New York's Finest' e 04 'Penny and Dime'.
    Em linha do que já aqui foi dito, o melhor de Punisher vs Daredevil teria que ser o melhor desta temporada. Como referimos, os primeiros quatro episódios podiam funcionar isoladamente como um filme, mas se há dois que não podem mesmo ser separados são 'New York's Finest' e 'Penny and Dime', 3 e 4 respectivamente.
    Juntos compõem uma montanha russa de emoções, e uma experiência televisiva completa. Frank consegue ter Daredevil acorrentado, ambos discutem sobre o seu papel e os seus diferentes métodos no controlo do crime, e o terceiro episódio termina com uma sequência de luta filmada em plano-sequência (comparativamente com a sequência brutal no episódio 2 da 1.ª temporada, desta vez é mais fácil detectar os cortes) Em termos de stunts é uma das melhores sequências de combate da temporada envolvendo Daredevil, e só o ataque a Frank na prisão se aproxima, embora com um estilo muito diferente. Depois, 'Penny and Dime' acaba por ser o episódio mais emocional da temporada, com Frank, o anti-herói com que segue um código, a explicar, desfeito, os seus motivos; e quando tudo parece sereno, é-nos mostrada Elektra pela primeira vez.


O Futuro: 
    É sabido que a série 'The Defenders' (que juntará Daredevil, Jessica Jones, Luke Cage e Iron Fist) está projectada para breve, mas o mais provável é ir para o ar só em 2017. Daredevil chegará a esse team-up já com 2 temporadas, Jessica Jones já foi apresentada, e Luke Cage terá o seu lugar ao Sol em Setembro. Em relação a Iron Fist (que será interpretado pelo actor de Game of Thrones, Finn Jones) a série ainda está bastante atrasada em termos de produção portanto das duas uma: ou 'The Defenders' chega mais tarde ou então Iron Fist será aí introduzido, tendo só depois a sua série individual.
    Relativamente a 'Daredevil', ainda há pano para mangas. Depois de Kingpin, Punisher e Elektra, ainda há por exemplo Bullseye para complicar a vida de Matt Murdock; embora as histórias de Elektra e Kingpin (D'Onofrio é incrível) estejam longe de estar concluídas. Já em relação a Frank Castle, Jon Bernthal provou ser capaz de segurar sozinho um franchise e seria interessante ver The Punisher a ter a sua própria série. Importa não esquecer Melvin, o "alfaiate" de Daredevil, que nas BD's torna-se ele próprio um herói.
    Dêem-me um bom antagonista, e terão uma boa série. O mote tem sido este para as séries da Marvel na Netflix, com Kingpin, Kilgrave e agora Punisher (o último com um arco diferente, naturalmente), mas no meio de tudo isto a ligação que o espectador constrói com Matt Murdock é curta, e o seu amigo Foggy passou de comic relief para personagem quase dispensável nesta temporada.
    Concluindo, a temporada foi de um só homem...


    

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