25 de outubro de 2015

Benfica 0-3 Sporting: A Bola não entra por Acaso

Benfica  0 - 3  Sporting (T. Gutiérrez 9', Slimani 21', Bryan Ruiz 36')

O grande jogo da jornada 8 da Liga NOS teve um desfecho inesperado mas taxativo. O Sporting, beneficiando também do empate entre Porto e Braga, tornou-se líder isolado, e derrotou o grande rival pela 2.ª vez esta época, ganhando num estádio no qual não festejava há 9 anos.
    O derby pôs a nu falhas recorrentes do Benfica 2015/ 16, já enunciadas anteriormente mas mascaradas entretanto em jogos mais acessíveis, reforçou o ego de Jorge Jesus, com o seu Sporting a comportar-se como uma verdadeira equipa, primando pela organização, pelo controlo do meio-campo e pela eficácia.
    Num estádio com 63.054 espectadores, Rui Vitória repetiu o 11 que defrontou o Galatasaray na Champions, com Sílvio a lateral-direito, André Almeida a acompanhar Samaris e Jiménez ao lado de Jonas; já Jorge Jesus escolheu o onze mais adequado e esperado, equilibrando a equipa com João Mário a interior direito. Começou melhor o Benfica, a assumir o jogo e a pressionar, com Jonas a dar o primeiro aviso, pouco antes de Luisão ter sido puxado dentro da grande área leonina. Na resposta, aos 9 minutos de jogo, chegou o golo do Sporting. Luisão complicou, André Almeida perdeu a bola em zona proibida e mortífera, Adrien colocou a bola à mercê de Teo e o colombiano fez o 1-0 com Júlio César a defender contra ele, com o ressalto a encaminhar a bola para o fundo das redes. Depois do banho de água fria para a equipa da casa, Jonas voltou a não acertar na baliza (Rui Patrício pouco teve que fazer hoje) e o Sporting, eficaz, aproveitou para dilatar a vantagem. Jefferson confirmou porque é que é um dos jogadores que melhor cruza em Portugal e, num gesto técnico perfeito, colocou a bola tensa para Slimani desviar de cabeça para o 2-0. Aos 21 minutos tudo corria bem ao Sporting, com 2 golos em duas oportunidades, e o 2.º golo revelou-se um momento decisivo. O Benfica acusou o golo, abalou animicamente e não teve nem arte nem cabeça nem garra para virar o resultado. A 1.ª parte caracterizou-se por uma brutal incapacidade do Benfica em ligar o seu jogo (em finais de Outubro nunca o Benfica teve ainda em campo um 8 a interpretar a posição como o esquema exige), tremendo defensivamente em inúmeras ocasiões. Aos 36' chegou o 3-0 numa pequena demonstração de "como não defender" por parte da defesa do Benfica. Slimani conduziu o contra-ataque num 2 para 2, pôde testar Júlio César (face à incapacidade dos centrais encarnados em assumirem atempadamente cada um o seu jogador), e na recarga Bryan Ruiz (Samaris e, sobretudo, André Almeida ficaram a olhar para o desempenho dos centrais, deixando o costa-riquenho sozinho) colocou o resultado em números impensáveis à partida.
    A 2.ª parte teve muito menos história do que a primeira. O Benfica - com Fejsa a entrar, saindo Eliseu e optando Rui Vitória por colocar André Almeida a lateral-esquerdo - apresentou-se incapaz de mudar o rumo dos acontecimentos, parecendo ter um jogador a menos em vários momentos. O meio-campo foi, sempre, do Sporting, mesmo tendo o Benfica mais bola, e a maior cultura táctica dos verde e brancos verificou-se na constante mobilidade e no desbloqueio constante de linhas de passe, dando por aí a ideia de que os jogadores do Benfica chegavam constantemente atrasados na pressão, só por reacção e não em antecipação. No segundo tempo a melhor oportunidade até terá sido de Jefferson, na cara do guarda-redes, com o Benfica a ameaçar num lance em que o mexicano Jiménez ganhou uma bola a Naldo na linha de fundo, sem saber finalizar da melhor maneira. Nos minutos finais, num lance que traduziu o total desnorte e desacerto do Benfica, o capitão Luisão (em sub-rendimento) quase fez um auto-golo num atraso criminoso salvo in extremis por Júlio César.

    Explicar este derby não é difícil. O Sporting foi uma equipa (boa resposta em campo às palavras de Rui Vitória na antevisão), teve a sorte do jogo porque a procurou, e foi eficaz a explorar as várias falhas defensivas do rival. A arbitragem de Carlos Xistra foi medíocre, em prejuízo da equipa da casa mas não se podendo explicar por aí o resultado. O árbitro do jogo teve um conjunto de decisões - técnicas e disciplinares - impossíveis de entender (decisões ao contrário, Slimani sem ser expulso), com uma grotesca dualidade de critérios, porventura condicionado pela "campanha" de Bruno de Carvalho.
    O jogo foi ganho pelo trio William, Adrien, João Mário (MVP, que jogo). Os três jogadores formados em Alvalade foram senhores do meio-campo, sabendo ler o jogo, posicionando-se e movimentando-se com inteligência e qualidade. A defesa (grande jogo de Paulo Oliveira) foi incomparável ao nível apresentado do lado oposto do campo, e na frente os avançados foram eficazes. Um conjunto homogéneo, bem preparado, a que tudo correu bem, mas citando o título de um livro de Ferran Soriano, A Bola não entra por acaso.
    Analisando o Benfica, o nível de jogo foi fraco, a defesa medíocre e os Ases (Gaitán e Jonas) não estiveram em dia sim. À 8.ª jornada os encarnados ocupam o oitavo lugar, a 8 pontos do 1.º lugar, embora com 1 jogo a menos (com +3pts o Benfica estaria na última posição do pódio). No entanto, o raio-X que se faz a este Benfica 2015/ 16 mantém-se igual àquele que já fazíamos em Agosto, acrescentando alguns pormenores específicos de hoje:
- Sílvio, Eliseu e André Almeida (a médio) não são jogadores com nível para um Clássico, ou para titulares do Benfica em jogos grandes;
- Gaitán passou a maior parte do tempo deste derby no flanco direito (clara opção e ordem de Rui Vitória), quando tem sido o principal desequilibrador sempre na sua posição de raíz, e tendo o adversário no seu lateral-direito um dos pontos mais permeáveis. Difícil de compreender;
- O 4-4-2 deste Benfica - que ganhou a Atlético Madrid, mas perdeu com Sporting (2x) e Porto - exige um médio capaz de "queimar" linhas (só Renato Sanches tem esse perfil na Luz). O modelo e a ideia de jogo (qual? Bola no Gaitán e logo se vê?) resultavam com Jonas-Lima, mas faz alguma confusão ver o duo Almeida-Samaris a ser dominado por William-Adrien-J.Mário, tendo o Benfica jogadores como Cristante, Renato Sanches, Pizzi (nunca jogou como 3.º médio ou como interior direito, as posições em que de facto rende) e podendo há muito trabalhar alternativas inteligentes para melhor potenciar as características do plantel actual e também de vários elementos que serão lançados a médio-longo prazo;
- Rui Vitória lançou Fejsa, depois Pizzi (tirando Fejsa, diminuído fisicamente) e finalmente Mitroglou. Curioso que com a entrada de Fejsa tenha sido André Almeida o lateral-esquerdo, mantendo-se Sílvio na direita, quando Almeida é o melhor DD depois de Semedo, e Sílvio rende mais na esquerda do que na direita.


Barba Por Fazer do Jogo: 
João Mário (Sporting)
Outros Destaques: 
Paulo Oliveira, William, Adrien, Bryan Ruiz

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