24 de outubro de 2015

Crítica: The End of the Tour

Realizador: James Ponsoldt
Argumento: Donald Margulies, David Lipsky
Elenco: Jason Segel, Jesse Eisenberg, Anna Chlumsky, Joan Cusack, Mamie Gummer
Classificação IMDb: 7.3 | Metascore: 82 | RottenTomatoes: 91%
Classificação Barba Por Fazer: 81

    Se pensarmos em Jason Segel e Jesse Eisenberg juntos, a tendência seria imaginar que o motivo da união seria uma comédia. Mas não. Tal como James Franco e Jonah Hill fizeram há alguns meses com 'True Story', o actor de Freaks and Geeks How I Met Your Mother juntou-se ao Mark Zuckerberg do grande ecrã para um drama, uma viagem à mente de um dos escritores norte-americanos mais marcantes nos anos 90 - David Foster Wallace.
    Em 1996, Foster Wallace publicou a sua instantaneamente aclamada obra-prima Infinite Jest. Na altura, o escritor/ jornalista da Rolling Stone, David Lipsky, teve a oportunidade de o entrevistar durante 5 dias. Esse é o conteúdo de 'The End of the Tour'.
    Ponto prévio: 'The End of the Tour' não é para toda a gente. Não é para todos os feitios, nem para todos os momentos, nem é para aqueles que exigem que o filme os conquiste. Tem um ritmo lento, mais tenso na segunda metade, mas o foco é sempre um só - o diálogo. É quase filosofia, opondo duas mentes interessantes, esclarecidas, ambiciosas, capazes de se ligar rapidamente graças a várias semelhanças e interesses partilhados, e de desconstruir o Homem e a sociedade. Steve Golin e a sua produtora Anonymous Content participaram na produção do filme - um selo de qualidade considerando a restrita gama de filmes/ séries a que a Anonymous se associa, entre os quais constam 'Mr. Robot', 'True Detective', 'Eternal Sunshine of the Spotless Mind', e dois dos favoritos a nomeações este ano, 'The Revenant' e 'Spotlight'.

    Jesse Eisenberg é David Lipsky, Jason Segel é David Foster Wallace. Quando passamos os olhos sobre todos os trabalhos do popularmente reconhecido como Marshall Eriksen, vemos um actor afável, geralmente cómico, mas parecendo vestir em várias ocasiões a mesma personagem. Talvez 'Jeff, Who Lives at Home' tenha sido uma excepção, mas o tom sério (algo que não significa um papel melhor, embora neste caso seja, ou mais exigente) e o peso da personalidade "transformam" verdadeiramente Jason Segel. O lenço estilo Axl Rose, os óculos e o cabelo comprido ajudam a demarcar Segel de Foster Wallace, com o actor - que carrega o filme, até porque tudo gira à sua volta - a surpreender.
    Há várias conclusões que se retiram de 'The End of the Tour'. Primeiro sobre o realizador James Ponsoldt. Ainda a dar os primeiros passos, e depois de ter sido bastante elogiado por 'The Spectacular Now', começa a ser evidente aquilo que o guia - as relações humanas, o que nos preocupa e provoca dúvidas. Existenciais ou não. Podemos considerá-lo de certa forma um Richard Linklater mais jovem, igualmente despreocupado com questões comerciais, mergulhando fundo nos diálogos (a boa e fundamental química de Segel e Eisenberg é mesmo assim um embrião ao lado do que Ethan Hawke e Julie Delpy têm a capacidade de fazer juntos nos filmes de Linklater), mas diferenciando-se pelo facto de Ponsoldt não escrever aquilo que realiza. Outra conclusão é a de que 'The End of the Tour' não é obrigatoriamente um retrato fiel de David Foster Wallace. Mas também não pretende sê-lo. O filme originou alguma polémica por pessoas próximas do falecido escritor entenderem que o filme passa uma ideia totalmente errada do que ele era. No entanto, há duas possíveis defesas: o filme baseia-se no livro que Lipsky escreveu sobre a entrevista que fez a DFW e, como tal, tem uma percepção enviesada no momento em que mostra a visão de alguém que privou apenas 5 dias com ele. O que não significa que Lipsky tenha "lido" mal o escritor de Infinite Jest. Um dos pontos-chave levantados pelo filme é precisamente na dinâmica entrevistador-entrevistado a capacidade que ambos têm de pintar o quadro ao seu gosto, podendo Foster Wallace oferecer uma persona e não o seu verdadeiro eu.

     'The End of the Tour' é, com maior ou menor fiabilidade, uma homenagem a um homem de mente complexa e criativa, falecido em 2008 ao suicidar-se, tendo o seu pai dito que David Foster Wallace sofrera de várias crises de depressão durante mais de 20 anos. Jesse Eisenberg e Jason Segel, lado a lado e frente a frente, equilibram-se e servem ambos o mesmo propósito: explorar camada a camada David Foster Wallace, capaz de apresentar a maior das vulnerabilidades e modéstia, e logo depois um carisma e eloquência de nos levar a ler um livro com mais de mil páginas.
    No fim, ficamos sem saber verdadeiramente a natureza da pessoa, mas passamos a conhecer um pouco da cabeça do escritor. Jason Segel estará na corrida para ser nomeado para Melhor Actor Secundário, embora esteja longe de ser certo que consiga aparecer nos 5 porque nestes Óscares 2016 as categorias secundárias de interpretação parecem mais lotadas que nunca.

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