5 de outubro de 2015

Crítica: Everest

Realizador: Baltasar Kormákur
Argumento: William Nicholson, Simon Beaufoy
Elenco: Jason Clarke, Josh Brolin, John Hawkes, Jake Gyllenhaal, Emily Watson, Michael Kelly, Keira Knightley, Robin Wright
Classificação IMDb: 7.1 | Metascore: 64 | RottenTomatoes: 73%
Classificação Barba Por Fazer: 73

Em 2007, o alpinista português João Garcia publicou "A Mais Alta Solidão". 'Everest' confere ao título desse livro, com prefácio de Miguel Sousa Tavares, uma dimensão e significado especiais.
    Actualmente nas salas de cinema portuguesas, o filme do realizador islandês Baltasar Kormákur baseia-se em factos verídicos. Em 1996 duas expedições, uma liderada por Rob Hall (Jason Clarke), guia da Adventure Consultants, e a outra por Scott Fischer (Jake Gyllenhaal), da Mountain Madness, procuraram levar os seus clientes ao topo do Evereste, a montanha mais alta da Terra. A "maior tragédia do alpinismo mundial" teve na sua base uma forte tempestade, mas também um conjunto de más decisões que custaram várias vidas.
    Filmado em Itália, na Islândia e, logicamente, no Nepal, 'Everest' é uma boa surpresa. Kormákur e o seu elenco tornam o filme numa experiência contagiante, agarrando por completo o espectador, especialmente quem desconhecia a história até aqui. De forma a compreendermos o que fez e faz várias pessoas arriscarem a sua vida em busca de um momento de êxtase e realização pessoal, o argumento foi construído dando-nos a conhecer vários dos membros da expedição de Rob Hall: entre outros, Beck Weathers (Josh Brolin), um alpinista experiente, Doug Hansen (John Hawkes), um carteiro que se multiplica em empregos para poder pagar a expedição e que nos dá uma boa explicação sobre a motivação de escalar o Evereste, e Jon Krakauer (Michael Kelly), um fotojornalista que mais tarde veio a publicar um livro sobre o desastre e com o qual poderão estar familiarizados já que recriou também os passos de Christopher McCandless escrevendo 'Into the Wild'.
    Baltasar Kormákur, um realizador para ficarmos atentos, torna-nos parte da expedição, num verdadeiro teste à condição humana, desafiando probabilidades e possibilidades. Algumas pessoas não têm noção, mas o "código" alpinista diz que só se pode afirmar que alguém escalou uma montanha não apenas quando atinge o cume, mas quando regressa são e salvo cá abaixo.
    'Everest' explora bem vários subplots: o modo como, a 8.000m de altitude a ambição de chegar primeiro e de sobreviver pode cegar e tornar alguns incrivelmente calculistas e outros pouco racionais; a pressão involuntária que Krakauer acabou por ter ao fazer parte da expedição, porque os guias não queriam falhar a levar as pessoas ao cume, quando teriam depois uma reportagem a cobrir a experiência e a poder funcionar como publicidade; as várias falhas que, conjugadas com a forte tempestade que se abateu na montanha, foram fatais, como o não afixar de certas cordas ou o desrespeito pela hora limite (14 horas) de fazer os clientes chegarem ao pico. Clientes esses que, em alguns casos, não eram alpinistas verdadeiramente experimentados, e para os quais o oxigénio artificial acabou por "mascarar" isso, não chegando o período de aclimatação e as viagens de adaptação pelos sucessivos acampamentos.
    Não é um filme de actor, embora o elenco seja coeso e apelativo, valendo realmente pelo todo e pela progressivamente intensidade e adrenalina à medida que a altitude aumenta. 'Everest' é sim uma lição sobre a montanha nomeada em homenagem a George Everest, primeiramente escalada por Edmund Hillary e Tenzing Norgay, é uma lição sobre alpinismo e é, em última instância, uma lição sobre o Homem.

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