19 de outubro de 2015

Portugal: Quem levar ao Euro 2016 e aos Jogos Olímpicos?

Há muito tempo que as Selecções de Portugal não viviam um período tão bom. A pragmática e tranquila qualificação para o Europeu de França, com Fernando Santos no comando das operações, traduz o estado actual do nosso futebol - finalmente pensado a médio, longo-prazo, com sangue novo e um futuro prometedor.
    Se puxarmos a cassete atrás, em 2000 tivemos uma Geração de Ouro, em 2004 um cruzamento de gerações que - conjugado com a espinha dorsal dum Porto campeão europeu - nos deixou pertíssimo da conquista de uma grande competição internacional, mas nunca como agora se viu os vários escalões da Selecção pensados de forma sustentada e sustentável.
    Neste Verão, os nossos Sub-21 perderam uma final nas grandes penalidades, e os Sub-20 (com obrigação e potencial para fazer mais) fizeram boa figura na Nova Zelândia. Fernando Santos, castigado, pegou na nossa Selecção a 24 de Setembro de 2014 e, daí para cá, é o que se sabe - 7 vitórias consecutivas em jogos oficiais e um bilhete garantido com sete pontos de avanço sobre o 2.º classificado, podendo agora assistir ao play-off na televisão. Contrariamente ao seu antecessor, Fernando Santos teve a capacidade de não excluir ninguém à partida (recuperou Tiago ou Ricardo Carvalho, por exemplo) e passou a convocar premiando o rendimento nos clubes, rejuvenescendo a Selecção (estreou Bernardo Silva, Raphael Guerreiro, André André, João Mário, Cédric, Nélson Semedo, Adrien, entre outros), conciliando essa meritocracia com a edificação de uma estrutura-base. O melhor exemplo para se perceber as diferenças entre Bento e Santos é olhar para a zona nuclear do campo - se com Paulo Bento o trio era impreterivelmente constituído por Veloso, Meireles e Moutinho, com Fernando Santos opções não faltam - Tiago, William Carvalho, Danilo Pereira, Moutinho, João Mário, André Gomes, André André, Adrien, e podíamos continuar..

    Posto isto, Portugal começa em Junho a sua prestação no Euro-2016, competição alargada, resultando daí mais uma eliminatória (oitavos-de-final), num país com elevada representação de emigrantes. Dois meses depois, começam os Jogos Olímpicos num país irmão de Portugal, o Brasil, e os nossos Sub-23 terão uma palavra a dizer na luta pelas medalhas de ouro.
    O calendário competitivo de Euro e JO é compatível, o que pode levar a que alguns jogadores até participem em ambas as provas. No entanto, e para reforçar as difíceis escolhas que Fernando Santos e Rui Jorge têm pela frente, o exercício que abaixo propomos é: reflectir sobre os 23 convocados para cada competição, sem repetir elementos. 

Euro 2016

Tendo em conta as convocatórias de Fernando Santos, os 23 que nos irão representar em França não andarão muito longe da solução apresentada abaixo.


    Na baliza, Rui Patrício é absolutamente indiscutível. Embora Beto pareça ser o nosso nº 2, a verdade é que Anthony Lopes até tem a presença na convocatória final mais segura porque fará toda a época a titular no Lyon, enquanto que Beto terá que roubar a baliza a Rico no Sevilha. O antigo guarda-redes do Porto e do Leixões é um elemento importante no balneário, mas caso esteja lesionado ou com pouca rotação, poderá acontecer o seleccionador optar por alguém entre Eduardo, Ventura ou Marafona.

    Na defesa, as dúvidas começam a ser maiores. Comecemos por onde há mais certezas - o centro. Pepe e Ricardo Carvalho vão ser a dupla titular de Portugal, acompanhados na convocatória por José Fonte e Bruno Alves. Curiosamente, o central do Southampton até parece ser o 4.º central, embora se apresente actualmente num patamar bem acima de Bruno Alves. Paulo Oliveira ou Daniel Carriço são dois exemplos de centrais que podem criar dúvidas ao seleccionador, que até poderá só levar 3 centrais contando que nomeadamente Danilo Pereira seja capaz de desempenhar a função, ganhando assim mais uma vaga no meio-campo/ ataque.
    Nas laterais a conversa é outra. Fábio Coentrão é o único jogador 100% certo. A lógica diz que para o lado direito serão chamados Cédric e Vieirinha, e para o lado esquerdo Coentrão e Eliseu. Mas pode não ser bem assim. Do lado esquerdo há Raphael Guerreiro, e importa manter um olhar atento em relação às exibições de Ricardo Pereira adaptado ao lugar no Nice. Com Raphael, à imagem do que Vieirinha oferece do lado oposto, Fernando Santos ganharia maior versatilidade táctica, e teria 3 dos 4 laterais capazes de fazer mais do que uma posição. Isto porque Coentrão pode ser extremo, pode ser interior, pode ser quase tudo.
    No lado direito a situação é bastante curiosa. Há pouco tempo atrás, fruto do conservadorismo de Paulo Bento, parecia que só existia a opção João Pereira. Hoje, vemos a posição de lateral-direito muitíssimo disputada: entre Cédric, Vieirinha, Nélson Semedo, Bosingwa e João Cancelo, só 2 irão ao Euro. Neste momento arriscamos que Cédric e Vieirinha seriam os convocados, mas caso Nélson Semedo exiba em 2016 o nível que estava a apresentar até se lesionar, poderá muito bem ser ele um dos escolhidos. Algo que fica reforçado pela necessidade de, no esquema de Fernando Santos, os laterais criarem desequilíbrios.

    O meio-campo é a (boa) dor de cabeça do seleccionador. As opções são muitas, e muito boas. E por isso mesmo imaginamos que será o rendimento apresentado ao longo da época nos clubes a fazer a diferença no dia do anúncio dos 23 eleitos. Uma coisa é certa, João Moutinho e Tiago são aqueles que podem estar mais tranquilos, porque só uma lesão os pode tirar de França. Fernando Santos deve convocar 6 ou 7 médios. Como tal, para além de Moutinho e Tiago, os nomes mais consensuais parecem ser neste momento os de William Carvalho, Danilo Pereira, André André, André Gomes e Bernardo Silva. É improvável que entre William e Danilo, embora tendo algumas semelhanças, algum fique de fora; se André André continuar a carregar o Porto acabará por relegar João Mário para os Sub-23; o facto de Bernardo poder contar como um dos extremos pode abrir vaga para mais um médio (Rúben Neves?). E na Selecção ninguém irá ignorar a qualidade que André Gomes tende a apresentar sempre nos grandes jogos e nos grandes momentos.

    Por fim, o ataque. Cristiano Ronaldo é Cristiano Ronaldo (agora com uma ideia de jogo bem construída à sua volta e que não se desequilibra para o poupar/ fazer render), Nani será sempre chamado, e parece-nos que Ricardo Quaresma acaba por ser nesta fase o 3.º mais indiscutível considerando a importância que teve na qualificação. Com Fernando Santos, Quaresma é um joker para lançar no decorrer dos jogos, e o extremo do Besiktas convive actualmente bem com essa função. Assim, e embora Bernardo Silva possa também ser incluído nas contas como "avançado" e não no lote de médios, as vagas à partida destinadas a Danny e Éder são aquelas que merecerão maior discussão e reflexão. Nenhum aproveitou propriamente as oportunidades concedidas (Danny jogou bem na Sérvia, mas fez muito pouco nas várias chances a titular que teve com FS), o que poderá permitir a elementos mais jovens serem uma cartada imprevisível de Fernando Santos. Cremos que se o Porto emprestar André Silva em Janeiro, o avançado do Porto não teria dificuldades em obrigar Fernando Santos a chamá-lo em vez de Éder, e veremos se Gonçalo Guedes não atira Danny para fora do Euro 2016.

    Basicamente, para além daqueles 23 acima apresentados, que seriam possivelmente as actuais escolhas do seleccionador, mas que não achamos que será o conjunto final, pode haver uma certa injecção de juventude. Chamar Nélson Semedo em vez de um dos laterais, fazer de Rúben Neves o benjamin da Selecção, preferir Raphael Guerreiro a Eliseu, optar pelas características diferenciadoras de João Mário, e arriscar em Guedes e André Silva são algumas opções que não serão de todo descabidas.
    
    Perto do Euro 2016 faremos, como fizemos na antevisão do Mundial 2014, um artigo com os nossos convocados de Portugal. Neste momento passariam por: Rui Patrício, Beto, Anthony Lopes; Nélson Semedo, Vieirinha; Pepe, José Fonte, Ricardo Carvalho, Bruno Alves; Fábio Coentrão, Raphael Guerreiro; Tiago, William Carvalho, Danilo Pereira, André André, João Moutinho, Rúben Neves, André Gomes; Bernardo Silva, Nani, Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma, André Silva.


Jogos Olímpicos

Prever os convocados de Rui Jorge para os JO é bastante mais difícil. Primeiro, porque dependerão de certa forma dos convocados para o Euro 2016 - alguns jogadores que fiquem "à porta" da convocatória final, acabarão por ter no Brasil o seu prémio de época. Depois, Rui Jorge enfrentará uma dúvida: privilegiar a estrutura da geração de Sub-21 actual, que trabalhará pontualmente em conjunto até lá, ou premiar a geração de Sub-21 que chegou à final do Europeu e que garantiu o acesso ao certame do Brasil. O resultado final será, provavelmente, uma mistura das duas teses, uma vez que Portugal não trabalhará uma equipa como por exemplo o Brasil até ao começo da competição.


A solução apresentada acima é ainda mais hipotética, e visa apenas demonstrar a capacidade que Portugal terá de - sem repetir elementos - apresentar duas Selecções fortes e com elevadas ambições tanto no Euro 2016 como nos Jogos Olímpicos.
    Embora jogadores como Nélson Semedo, Raphael Guerreiro, João Mário, Rúben Neves e Gonçalo Guedes (principalmente esses) tenham legítimas aspirações de ir a França, os que não forem convocados certamente acabarão sob a asa de Rui Jorge. Nestes 23, vemos 15 jogadores que estiveram presentes na República Checa no Europeu de Sub-21. As oito diferenças prendem-se com André Moreira, Nélson Semedo, Rúben Vezo, Bruno Fernandes, Adrien, Bruma, Gonçalo Guedes e Gelson Martins nos lugares de Daniel Fernandes, João Cancelo, Frederico Venâncio, William Carvalho, Bernardo Silva, Tozé, Iuri Medeiros e Carlos Mané.
    
    Como muitos saberão, Portugal pode levar 3 jogadores acima de 23 anos. Sinceramente, não é assim tão certo que Rui Jorge irá usufruir desse suposto "trunfo". Jogadores como Éder ou, principalmente, Adrien Silva, teriam a capacidade e a mentalidade para integrar de forma profissional e dedicada esta geração, mas muito dependerá dos jogadores que "morrerem" nos pré-convocados de Fernando Santos. Por exemplo: se FS chamar Nélson Semedo e Vieirinha, Cédric será provavelmente um dos +23 nos Jogos Olímpicos, mesmo havendo ainda Esgaio e Cancelo.
    
    Estamos numa fase ainda muito precoce, mas com uma boa dose de futurologia e seguindo o raciocínio daqueles que seriam os nossos 23 convocados para o Euro, e não o cenário aparentemente mais provável neste momento, chamaríamos com os indicadores actuais aos Jogos Olímpicos: José Sá, André Moreira, Bruno Varela; Cédric, Pedro Pereira, Paulo Oliveira, Tiago Ilori, Tobias Figueiredo, Rúben Vezo, João Cancelo, Ricardo Pereira; Sérgio Oliveira, Bruno Fernandes, João Mário, Rony Lopes, Adrien, Rafa; Ricardo Horta, Bruma, Gonçalo Guedes, Gelson Martins, Ivan Cavaleiro, Éder.


Poucas dúvidas restam. Portugal tem tudo para sonhar e marcar tanto o Euro 2016 como os Jogos Olímpicos com uma prestação positiva!

0 comentários:

Enviar um comentário