25 de maio de 2014

Real Madrid conquista a 10.ª Champions em final épica na Luz


 Real Madrid 4 - 1 Atlético Madrid  (Sergio Ramos 90+3', Bale 110', Marcelo 118', Cristiano Ronaldo (g.p.) 120'; Godín 36')

    Foi a melhor forma possível de fechar a temporada desportiva de clubes na Europa. Os adeptos dos rivais de Madrid encheram a capital espanhola e os seus jogadores escreveram uma das mais bonitas e emocionantes finais europeias dos últimos anos. No Estádio da Luz (moldura perfeita para tão grandiosa final) o jogo teve de tudo mas no final sorriu o vencedor mais justo.
    Após longos noticiários com os avanços e recuos das lesões de vários craques, Ronaldo, Benzema e Diego Costa foram a jogo, enquanto que Pepe e Arda Turan viram-se obrigados a ver de fora. Ancelotti arriscou no pouco rotinado Khedira para jogar ao lado de Modric, enquanto que Simeone lançou o 4-4-2 que se esperava. O jogo começou mau, com equipas nervosas, muitas faltas e pouco que se aproveitasse. E foram 9 os minutos que Diego Costa durou em campo. O avançado do Atlético não estava mesmo em condições de jogar e não aguentou, sendo substituído por Adrián. Ou alguém não avaliou bem Diego Costa ou então foi apenas estupidez porque qualquer jogador merengue terá ficado mais confiante ao ver o craque do Atlético abandonar o jogo aos 9'. Pé ante pé o Real foi crescendo, mas sempre com Di María endiabrado a driblar meio mundo. O argentino arrancou uma falta de Gabi - na qual o árbitro deveria ter dado a lei da vantagem porque Coentrão ficava em excelente posição de cruzar - e minutos depois foi "ceifado" por Raúl García num amarelo a aproximar-se do vermelho. Nesse lance, em transição, Di María estava em vias de colocar um dos seus colegas na cara do golo. O ascendente do Real Madrid manteve-se e aos 32' Gareth Bale, após oferta infantil de Tiago, desperdiçou um golo feito. A rapidez e inteligência táctica de Ronaldo criou uma auto-estrada para Bale mas o galês com a baliza à sua mercê rematou ao lado. Quando o relógio marcava 36 minutos aconteceu então o primeiro golo do jogo. Na recarga de um canto de Gabi, Iker Casillas teve uma "travadinha" e decidiu sair-se de forma disparatada. Conclusão: golo de Diego Godín para gáudio dos adeptos do Atleti e um frango de Casillas para a memória de muita gente. O intervalo chegava minutos depois com um sabor agridoce para um adepto de futebol. A alma do Atlético estava hoje a atravessar alguns momentos de agressividade superior ao recomendável e o Real Madrid via-se a perder mediante um erro absurdo do seu guarda-redes e capitão.

    O Real entrou bem na segunda parte e para isso contribuiu, como não podia deixar de ser, Di María. A jogar no estádio que o fez jogador, o argentino voltou a desenhar um lance de génio num slalom entre os defesas adversários, parado apenas de forma ilegal por Miranda. No livre, Ronaldo rematou bem mas o gigante e elástico Courtois defendeu. O pressing do Real foi-se intensificando gradualmente e Ancelotti arriscou (e bem) ao fazer uma dupla substituição: saíram Khedira e Coentrão, entraram Isco e Marcelo. Até ao minuto 70 o Atlético conseguiu controlar as acções do Real, mesmo tendo menos bola, obrigando o Real a abusar de um jogo muito directo e a tentar servir a nulidade Benzema (bem anulado pelos incríveis centrais do Atlético). A cada minuto que passava via-se um Real Madrid a demonstrar uma alma enorme, a querer ganhar o jogo de uma forma nunca antes vista no seu passado recente, e Gareth Bale voltou a ter mais do que uma oportunidade para empatar. Primeiro rematou ao lado num lance trabalhado pelo colectivo à entrada da área e depois, num lance tipicamente seu, recebeu de CR7 e desatou a correr pelo flanco direito, finalizando mal. Nos minutos finais o Real Madrid foi encostando o desgastado Atlético e no tempo de compensação a justiça chegou - Modric cruzou com perfeição um canto e Sergio Ramos subiu às alturas para cabecear com garra, batendo finalmente Courtois, e atirando o jogo para um mais do que justo prolongamento. A final estava épica no Estádio da Luz, e todos os adeptos espalhados pelo mundo mereciam mais 30 minutos de futebol. E mais do que todos nós, os jogadores do Real Madrid.


    No prolongamento, o Atlético controlou o possível ímpeto inicial do Real Madrid. Os jogadores de Simeone voltaram a ter mais bola nos primeiros instantes e no decorrer dos primeiros 15 minutos Gabi - o jogador do Atlético para o qual hoje valia a pena olhar com e sem bola - viu finalmente um cartão amarelo que já há muito o aguardava. A 2.ª parte do prolongamento viria a ser... diferente. O Real funcionava ao ritmo de Modric mas aos 110 o protagonista do golo da reviravolta foi o mesmo de todo o jogo: Di María. O argentino, numa zona do campo onde brilhou pelo Benfica, desenvencilhou-se de forma incrível de 3 jogadores, rematou para grande defesa de Courtois mas Gareth Bale fez o 2-1 na recarga perante uma baliza deserta.
    Casillas ainda voltou a assustar logo de seguida numa nova saída, possuído por Roberto, mas aos 118' foi colocado um ponto final no jogo. Ronaldo deu a bola a Marcelo e o lateral esquerdo brasileiro foi correndo e aproveitando o espaço concedido pela defesa do Atlético, até que rematou forte para o 3-1. Courtois pareceu ligeiramente mal batido, mas a principal falha foi naturalmente toda a abordagem da defesa que colocou o belga como presa fácil do forte remate de Marcelo. A "Décima" Champions já era do Real mas não terminou sem um golo do melhor jogador do mundo. Cristiano Ronaldo foi derrubado na grande área aos 120 minutos e converteu sem problemas o penalty que ditou o 4-1 final e o seu 17.º golo (que número astronómico!) nesta edição da liga milionária. O futebol é assim, incrível e fértil em emoções. Hoje venceu quem mereceu, num jogo de enorme intensidade, completo a todos os níveis, com falhas, lances de génio, reviravolta e curiosamente com um Real Madrid a superiorizar-se ao Atlético naquilo que é a grande força da equipa de Simeone: a alma.

    Haveria muito a dizer por isso tentaremos ser breves. Nos treinadores, hoje Ancelotti venceu Simeone. Faltou alguma classe ao técnico argentino no prolongamento (o melhor treinador de 2013/ 14 não merecia fechar a época em total desnorte e mau perder) e Ancelotti consegue na sua 1.ª época aquilo que Mourinho nunca conseguiu: dar a tão desejada 10.ª Champions aos adeptos do Real Madrid. Há mérito natural do italiano por ser tradicionalmente um treinador "resultadista" (chega, vê e vence), que contou com um plantel de milhões evidentemente, mas soube montar a equipa e melhorar/mudar jogadores como Di María e Modric. O argentino e o croata foram mesmo 2 dos melhores do Real hoje, como em toda a época. Modric fez tudo o que fez bem, e Di María foi mesmo o melhor em campo ao desequilibrar a balança com vários lances de génio. No Real, Casillas foi o pior, a entrada de Marcelo foi importante e Sergio Ramos voltou a estar incrível. Bisou em Munique e marcou aquele que foi talvez o golo mais festejado da final. O central espanhol, tal como Di María e Modric terminam a época num nível assombroso e são jogadores para acompanhar no Mundial. Na frente, Ronaldo conseguiu 1 golo e 1 assistência e é justo que um jogador da sua dimensão tenha finalmente mais do que apenas uma Champions no palmarés. Agora descansa Ronaldo, porque em breve queremos-te a fazer um Mundial como nunca antes. E esperemos que a 2.ª Bola de Ouro consecutiva esteja a caminho. No Atlético hoje houve alguma agressividade excessiva (Koke, Raúl García e Gabi abusaram nas entradas) e não foi certamente por Miranda e Godín (quase a ser herói outra vez) que os colchoneros perderam. Gabi esteve em todo o lado, com qualidade, e Tiago também esteve bem. Podemos ainda falar de Gareth Bale. O galês foi para Madrid para isto! Na sua 1.ª época foi extraordinário o número de golos e assistências que marcou (bastante superior a Neymar, por exemplo), é um jogador respeitável e que respeita e admira Ronaldo, e que logo na primeira época consegue vencer a Champions. O miúdo Bale sonhou em jogar no Real, e o miúdo Bale veio anos mais tarde a ser decisiva numa das mais importantes finais europeias do clube.
    Destaque final para a boa organização da final em Lisboa. Toda a organização primou pela excelência, desde as infra-estruturas pré-jogo no Terreiro do Paço ao incrível estádio da Luz. Uma palavra para o Benfica que nestes 2 dias ganha, quieto, qualquer coisa como 3,3 Milhões de euros: 2 Milhões pela cedência do estádio, 1 Milhão por Di María ganhar a Champions, acrescentando-se ainda uma modesta quantia fruto do negócio David Luiz. A verdade é que, desde que saíram da Luz, David Luiz, Ramires, Coentrão e Di María já foram campeões europeus portanto... alguma coisa o clube encarnado há-de andar a fazer bem.

    Isto é a Champions League. Isto foi uma noite de futebol. E agora, que venha o Mundial!

Barba Por Fazer do Jogo: Ángel Di María (Real Madrid)
Outros Destaques: Sergio Ramos, Marcelo, Modric, Bale, Ronaldo; Miranda, Godín, Gabi

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