15 de maio de 2014

Béla Guttmann continua-se a rir; Sevilha conquista a Liga Europa nos penalties

 Sevilha 0 - 0 (4-2 g.p.)  Benfica

    Ontem, numa noite carregada de desilusão (ficou uma sensação semelhante à do pós Portugal-Grécia de 2004 entre os benfiquistas), o Benfica foi derrotado pelo Sevilha na final da Liga Europa. Os espanhóis alcançaram a vitória nas grandes penalidades depois do nulo durante os 120 minutos, erguendo o troféu que lhes escapava desde 2006/ 2007 ainda no formato Taça UEFA quando derrotaram o Espanyol, também nas grandes penalidades.
    Ponto assente: o Benfica era favorito. É certo que as águias não contaram com o jogador mais influente da equipa - Enzo Pérez -, Salvio e Markovic, mas ainda assim o 11 inicial e todo o seu percurso nesta temporada colocava o Benfica com a obrigação de conquistar o troféu europeu. Jesus lançou o onze esperado (Amorim e André Gomes no miolo, Sulejmani no flanco) e Emery contou com a sua equipa base. O começo do jogo teve 2 notas de destaque: o Benfica entrou nervoso, com o seu meio-campo desorientado, e o Sevilha começou o jogo com uma agressividade maior do que seria aconselhável. O desnorte inicial originou ainda uma sequência de sustos, salvos por Siqueira, e cedo se percebeu que o croata Ivan Rakitic (o jogador de quem mais se esperava no Sevilha) estava em dia sim. Sem Markovic e Salvio (que jeito teria dado contar pelo menos com 1!), eram poucos os extremos que restavam ao Benfica e pior ficou o cenário quando Sulejmani foi mal tratado - o sérvio "sacou" 2 cartões amarelos, a Fazio e Alberto Moreno, tendo magoado o seu ombro no lance com o lateral esquerdo. O Benfica deu um ar da sua graça na conversão de um livre, com Beto e Pareja a evitarem o golo, e Garay a ficar perto de marcar. Aos 24 minutos Sulejmani teve mesmo que sair, não suportando as dores e Jesus colocou André Almeida, jogando o jovem a lateral e subindo Maxi para extremo (embora se posicionasse mais a interior direito). Pessoalmente teríamos arriscado naquele momento em Ivan Cavaleiro, confiando no talento do miúdo, capaz de castigar o amarelado lado esquerdo da defesa, mas Jesus escolheu a opção mais segura. Os minutos passaram, o jogo foi ficando inexplicavelmente partido, e se de um lado Rakitic ia espalhando classe, velocidade e fazendo passes do outro mundo, o Benfica começou a crescer pelo colectivo. A 1.ª parte terminou com um Benfica perigoso e perto do golo, com Maxi Pereira quase a marcar num lance em que ele próprio não acreditou e depois Rodrigo a tentar marcar, tendo Beto defendido das 2 vezes. No derradeiro lance da 1.ª parte Fazio carregou Gaitán na grande área, possível penalty e expulsão mas Felix Brych nada assinalou. Em suma, uma primeira parte pouco conseguida do Benfica, com um nervosismo inicial disparatado e com André Gomes a oscilar entre momentos muito bons e perdas de bola inexplicáveis. A subida de rendimento do Benfica - já muitas vezes elogiámos o equilíbrio táctico deste Benfica e a forma como o jogo se partiu nos primeiros 45 foi absurda - acabou por acontecer à medida que Ruben Amorim começou a mapear melhor o meio-campo.

    A 2.ª parte começou como a 1.ª terminou. O Benfica em cima do Sevilha, com Lima a ter que marcar mas a desperdiçar, com Beto e muitos defesas a darem o corpo ao manifesto. Contra a corrente do jogo, e sempre com Rakitic a fazer tudo bem e a lançar em profundidade de forma extraordinária, o Sevilha ameaçou o golo, mas o ex-benfiquista Reyes falhou o alvo. Aos 57' Felix Brych voltou a colocar os holofotes sobre si: Lima antecipou-se a Alberto Moreno e foi derrubado por trás pelo espanhol, que certamente não tocou na bola. A grande penalidade mais clara do jogo, e seria o 2.º amarelo para o promissor lateral. Os minutos que se seguiram ditaram um jogo partido, até que o Benfica começou a encostar o Sevilha. Beto garantiu que o Sevilha chegasse ao prolongamento, bem como a defesa organizada à sua frente, a tapar os caminhos para os remates encarnados, por vezes perdulários, por vezes a fazerem cerimónia para "matar" o jogo. Nem o coelho que Lima tirou da cartola, muito longe da baliza, conseguiu bater o intransponível Beto - guarda-redes português que apresentou um nível superior em 13/ 14.
    Dos 90 aos 120 minutos, a bola foi do Benfica, Cardozo e Cavaleiro (entrou tão tarde..) nada acrescentaram, embora menos tenha acrescentado Marin, mas o coração foi do Sevilha. Faltou maior clarividência, melhor capacidade no último passe e no capítulo da construção (onde o Benfica falhou todo o jogo, ao não ter Enzo; Gaitán não estar inspirado; e faltar a criatividade e velocidade de Markovic e/ ou Salvio). Bacca ainda provocou um calafrio depois de um passe incrível de Rakitic, mas rematou ao lado da baliza de Oblak. Com 0-0 durante 120 minutos o jogo chegou aos penalties e aí uma coisa era certa: conhecendo Beto, já se sabia que o guardião lusitano defenderia pelo menos um, portanto cabia aos jogadores do Benfica converter bem e esperar que Oblak conseguisse ser melhor que Beto. Os sevilhanos marcaram exemplarmente: notáveis tanto Bacca como Mbia como Coke como Gameiro; no Benfica Lima converteu, mas Cardozo (péssimo penalty depois de um balanço de 40 quilómetros) e Rodrigo (o penalty mais denunciado de todos) falharam, com Beto a ser herói ao defender essas 2 grandes penalidades. Luisão ainda marcou, mas de nada serviu mediante o facto do luso-francês Kevin Gameiro ter marcado no momento decisivo.

    Foi um Benfica inferior ao que se tem visto esta época. Faltou agarrar meio-campo, faltou ter alguém com maior qualidade de último passe (e Rodrigo pouco veio buscar jogo), faltou maior calma e faltou também que Felix Brych marcasse as grandes penalidades que foram cometidas. Para além das 2 acima mencionadas, houve ainda uma mão de Daniel Carriço. Pelo menos 2 das 3, seguindo as regras, seriam penalty. Evidentemente não chega ao Benfica lamuriar-se por não terem sido marcados os seus penalties, por Béla Guttmann ter amaldiçoado o clube ou por não ter conta com Enzo, Markovic e Salvio, para além de Fejsa. O plantel encarnado é rico e os que se apresentaram tinham mais que qualidade para bater o Sevilha. O Benfica foi superior durante o jogo, mas podia e devia ter feito muito mais. Esteve nervoso, deixou o jogo partir-se, e falhou inúmeras oportunidades de golo. Rakitic (Real Madrid ou Premier League?) foi o homem do jogo, seguindo-se do herói Beto, dos centrais Garay e Pareja, um de cada lado, tendo ainda Oblak estado sereno e Ruben Amorim progredido durante o jogo, com um André Gomes incrivelmente instável ao seu lado, capaz do melhor e do pior.

    Ainda assim, a nação benfiquista não pode desanimar com este resultado. O foco tem que estar na Taça de Portugal porque, convenhamos, vencer o campeonato à 28.ª jornada, conquistar 2 taças internas e perder uma final europeia (outra vez) nas grandes penalidades tem que ser uma época que orgulhe. Os jogadores falharam quando não podiam falhar, acusaram talvez a pressão de serem favoritos, mas o trabalho desenvolvido no clube tem sido incrível e o caminho tem que ser mantido. Relativamente aos falsos adeptos que ontem já pediam a demissão de Jesus e que crucificavam alguns jogadores tão importantes noutros momentos da época, a esses apenas dizemos: por vezes no futebol não há um bode expiatório - embora o tuga típico tenha sempre que tentar identificar um. Jorge Jesus e Luís Filipe Vieira deram esta época uma "chapada de luva branca" a praticamente todos os adeptos encarnados (e contra nós falamos, fazendo um mea culpa).
    PS.: Relativamente aos adeptos de outros clubes que tinham prometido torcer na final pela equipa com mais portugueses, imaginamos que o plano lhes tenha saído furado e que se tenham visto na obrigação de, caso fossem pessoas de palavra, torcer pelo Benfica. Houve mais lusos benfiquistas que sevilhanos. Ofender e gozar com qualquer equipa portuguesa que perde uma final europeia nos penalties depois de ter aniquilado a concorrência a nível interno... é só desperdiçar uma boa oportunidade de estar calado.
    E quanto ao Beto, que respondeu a JJ dizendo que o treinador também sai muitas vezes da sua área de jurisdição, deixamos aqui a resposta com a qual Jorge Jesus podia ter ripostado: Sempre disse que o Beto era um guarda-redes pequeno, é natural que precise de avançar ilegalmente saindo da linha de baliza para conseguir crescer e defender os penalties.

Barba Por Fazer do Jogo: Ivan Rakitic (Sevilha)
Outros Destaques: Beto, Pareja; Oblak, Garay, Ruben Amorim

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