22 de dezembro de 2015

Crítica: The Hateful Eight

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2016
Realizador: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern, Demian Bichir, Channing Tatum
Classificação IMDb: 7.8 | Metascore: 78 | RottenTomatoes: 75%
Classificação Barba Por Fazer: 77

    São muito poucos os realizadores da actualidade que gozam do estatuto de Quentin Tarantino. O homem responsável por 'Pulp Fiction', 'Reservoir Dogs', 'Inglourious Basterds' ou 'Kill Bill' é ele próprio uma personagem, um criativo com uma assinatura única e diferenciada de tudo o resto, quer seja num Zoom brusco, num espirro de sangue ou num twist que ninguém está à espera. O mestre na construção de personagens e na sua interligação, na criação de uma tensão sem igual até ao momento em que tudo começa aos tiros, um mestre louco.
    Por tudo isto, quando há um novo filme de Tarantino, as expectativas são altas. Muito altas. 'The Hateful Eight' é bom, claramente acima da média dos filmes do ano, mas está longe de ser um dos melhores do realizador nascido no Tennessee.
    Dividido em seis capítulos (sempre tão bom ver a abordagem tarantiniana em capítulos), recupera o espírito de 'Reservoir Dogs' no sentido em que se limita praticamente a um só ambiente cénico, podendo ser reproduzido numa peça de teatro (Tarantino disse, aliás, que depois do seu décimo filme pondera escrever para teatro).
    Os eight são um conjunto de desconhecidos cujos caminhos se cruzam, acabando a partilhar uma cabana, protegidos de uma tempestade dos diabos. John Ruth (Kurt Russell), que leva consigo uma mulher, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), em vias de ser enforcada, Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), um caçador de recompensas, e Chrix Mannix (Walton Goggins), que diz ir ser nomeado xerife da cidade vizinha, cruzam-se e seguem juntos viagem até serem obrigados a procurar abrigo num local onde já estão 4 estranhos: o mexicano Bob (Demian Bichir), o carrasco Oswaldo Mobray (Tim Roth) e ainda Joe Gage (Michael Madsen) e um velho general (Bruce Dern) que combatera na Guerra Civil.

    'The Hateful Eight' tem tudo aquilo que se quer num filme de Tarantino: momentos de tensão, volte-faces, personagens intrigantes e cativantes, sangue em excesso e humor. E o ponto de partida é óptimo - enquanto que muitos filmes têm um antagonista, um vilão, o 8.º filme de QT reúne oito vilões. À priori e pelos trailers promocionais, poder-se-ia esperar um casamento entre 'Reservoir Dogs' e 'Django Unchained', resultando isso num western com a intensidade da cena do pub em 'Inglourious Basterds'. E o produto final não anda muito longe disso mas, dalguma forma, desilude um pouco. Não é incrível, é mais simples de deduzir o final (talvez por já estarmos "educados" pelo realizador), ou pelo menos o processo até esse final não deixa o espectador tão boquiaberto quanto seria expectável/ desejável.
    No meio deste western, que (também) aproveita na banda sonora de Ennio Morricone faixas que o italiano compôs para 'The Thing', de John Carpenter, mas que não foram utilizadas, há dois actores que saem valorizados - Jennifer Jason Leigh e Walton Goggins. A única mulher entre o elenco que divide protagonismo acaba por se destacar - não surpreenderá se for nomeada como Melhor Actriz Secundária, num ano em que também entrou em 'Anomalisa' -, com aquele seu olho negro, e cada vez com mais sangue no rosto. Já Walton Goggins, um actor que parecia feito para entrar num filme de Tarantino, justifica a aposta e mostra estar ao nível de nomes consagrados como L. Jackson, Dern,  Russell, Madsen e Roth.

    No subtexto, e não só, Tarantino satiriza como sempre e explora questões raciais como poucos realizadores têm coragem (QT tem sido sempre, aliás, porta-estandarte anti-racismo, e em defesa das mulheres com as suas personagens femininas sempre fortes). É um bom Argumento - apostamos que será nomeado como Argumento Original tal como na categoria de Melhor Actriz Secundária, e possivelmente Fotografia, Banda Sonora Original -, carece daquele toque de Edição que só Sally Menke era capaz, mesmo estando entregue ao seu aluno Fred Raskin, e entretém como qualquer filme de Tarantino é sempre capaz.
    São 2 horas e 48 minutos (talvez demais) num Quem é Quem? pós-Guerra Civil. Mas, findo o oitavo filme de Tarantino, só nos apraz pedir uma coisa: por favor, não fiques apenas pela dezena.

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