23 de dezembro de 2015

Crítica: Creed

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2016
Realizador: Ryan Coogler
Argumento: Ryan Coogler, Aaron Covington
Elenco: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Tony Bellew
Classificação IMDb: 7.7 | Metascore: 82 | RottenTomatoes: 94%
Classificação Barba Por Fazer: 80

    Perto do fim de 'Creed', Adonis Johnson (Michael B. Jordan) diz I've got to prove that I'm not a mistake. E numa frase tão simples define o filme, a personagem, e justifica o renascimento da saga 'Rocky'. E, aqui entre nós, 'Creed' está muito longe de ser um erro.
    Em Março de 2014, nos nossos Óscares BPF desse ano, rendemo-nos perante 'Fruitvale Station' e perante o desempenho de Michael B. Jordan, nomeando o filme e o actor nas respectivas categorias, algo que a Academia não fez. O filme marcava a estreia de Ryan Coogler, na altura com 28 anos, nas longas-metragens. É essa dupla Coogler-B. Jordan o princípio elementar do sucesso desta passagem de testemunho, das luvas de Rocky Balboa para as luvas do filho de Apollo Creed.
    Há quem lhe chame Rocky VII, mas 'Creed' merece ser chamado pelo próprio nome porque, no limite, é disso que se trata. De um apelido, uma simples palavra.
    Os primeiros minutos de 'Creed' apresentam o herdeiro do legado de Rocky da melhor maneira: Adonis "Donnie" Johnson, um miúdo fruto de um relacionamento extra-conjugal do mítico Apollo Creed - rival no ringue mas amigo eterno de Rocky - é acolhido pela mulher de Apollo. Muitos anos mais tarde, Donnie tem um emprego sólido e uma vida sem qualquer carência material, mas demite-se e renuncia ao caminho mais fácil por só se sentir ele próprio, fiel a quem é, a lutar no ringue. Sem reputação, muda-se para Philadelphia e "chateia" Rocky Balboa (Sylvester Stallone) para que este o treine, admitindo ser filho de quem é, ao mesmo tempo que faz questão de esconder o apelido do mundo, assumindo o apelido da mãe (Johnson), para se afirmar por mérito próprio e de forma legítima.
 
    'Creed' é bom por vários motivos. Mas há qualquer coisa no olhar de Michael B. Jordan que não se explica. A melhor forma de o explicar é dizer que tem a rua dentro dele. Uma expressão de determinação e honestidade, tremida apenas quando duvida de estar à altura do pai, e quando combate com aquele que Rocky lhe diz ser o maior adversário de cada um de nós - nós mesmos. Esta característica de B. Jordan já se via nele em 'The Wire', quando fazia de Wallace, uma série na qual também entrava Wood Harris, que entra fugazmente neste filme.
    Mas a alma do protagonista não valeria metade sem a postura madura e experiente de Stallone. Ninguém diz que Stallone é o melhor actor do mundo, mas cai-se muitas vezes no erro de confundir Rocky e Rambo, quando Balboa marcou o cinema e ofereceu mais do que um filme de qualidade. No entanto, agora em modo treinador e como secundário é possivelmente quando Sylvester Stallone nos dá o seu melhor papel (ponto alto: a referência a Adrian?). Porque se 'Creed' nos toca é graças à capacidade que tem de pôr Adonis Johnson e Rocky a lutarem um pelo outro, numa luta que tem dois lados.
    É justo que Stallone tenha esperanças de ser nomeado para Melhor Actor Secundário, algo que o faria entrar no lote muito restrito de actores que foram duas vezes nomeados ao interpretar a mesma personagem.
    E, por fim, Ryan Coogler. 'Creed' tem clichés, tem muitas referências (vénias, melhor dizendo) ao passado da saga 'Rocky', inclui o Everton (clube de futebol do qual Stallone é fã), bebe muito da empatia e naturalidade criada entre Donnie e Rocky, mas também tem muito de realizador. Uma marca que começa a ver-se quando Adonis Johnson liga um projector com um combate entre Rocky e o seu pai, e fica camuflado na projecção, seguindo os passos e golpes em uníssono; e que se vê mais tarde nos combates propriamente ditos. Porque 'Warrior' (não de boxe, mas de MMA) foi o filme dos últimos anos que melhor soube colocar as emoções à flor da pele no ringue, mas Coogler prova ao 2.º excelente filme que é um caso sério e um realizador que merece que confiem e apostem nele, e que o mundo conheça o seu nome.
    À falta de melhores ideias, muitos estúdios e produtores têm respondido com a moda dos remakes, reboots spin-offs. Mas, sinceramente, temos que estar gratos pelo renascer de 'Star Wars', de 'Mad Max' e de 'Rocky' nestes termos.
    No início de 2016 vão ver 'Creed' ao cinema. Não sairão da sala desapontados. 

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