22 de março de 2013

Sócrates - o reforço do ano da RTP


Numa altura em que se fala da ida de Ricky van Wolfswinkel do Sporting para o Norwich no próximo verão, o grande reforço não é esse. O José voltou. Todos tínhamos saudades do José.

    Falo de Sócrates, ou melhor do Sócrates, porque a personagem em questão motiva em mim o à vontade para isso. Não faz sentido a ninguém tratar por você um ladrão: “Dá-me todo o teu dinheiro!”, “Terei que rejeitar a sua proposta”. 
    Com Sócrates o que se passou foi mais ou menos isso, só que ninguém teve a hipótese de rejeitar fosse o que fosse, e o ladrão não apontou uma arma ou ameaçou, optou antes por fazer um cafunézinho enquanto metia a mão no bolso pela surra. 

    O homem sexy platina para o Correio da Manhã, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, fartou-se da sua Filosofia em Paris. Insatisfeito com o facto de apenas ter um tacho na indústria farmacêutica (enquanto Presidente do Concelho Consultivo da Octapharma para a América Latina), Sócrates quis mais. Imagino assim a conversa entre o ex-primeiro ministro e o director de Informação da RTP, Paulo Ferreira.

José Sócrates - Paulo, estou maçado com a vida que tenho levado este semestre. Não tenho muitos amigos aqui e ainda por cima a morte do meu amigo Chávez afectou-me. E há uma matéria que me atormenta e causa pesadelos, não me entra na cabeça, não a consigo estudar: a ética.
Paulo Ferreira - Estás farto de Descartes, Locke, Hume e afins?
JS - Sim Paulo, mas ganhei um respeito enorme pelos professores. Apetecia-me leccionar pá!
PF - José, o máximo que te posso fazer é dar-te 25 minutos por semana para comentares política, numa espécie de lição semanal.
JS - Porreiro pá.

    Só há uma forma de tudo isto ter algum juízo funcional. Muitas vezes as empresas responsáveis por criar seguros antivírus informáticos contratam os melhores hackerspara colaborarem com elas. A funcionalidade de ter Sócrates pode ser a de conseguir antecipar más decisões, más políticas e jogadas. Afinal de contas, ele é bom a ser péssimo. Pôr Sócrates a comentar política é como pôr o Vale e Azevedo a comentar presidencialismo desportivo ou Zé Cabra como jurado de um programa de talento musical. Claro que se pode inverter cada frase que o José disser, e aí tem-se um bom comentador.

    Uma das coisas que mais confusão me faz é… as negociações para a contratação de Sócrates terem decorrido desde o início deste ano, considerando que Sócrates não será remunerado pela sua presença no canal público. Ora, então se não se negociou em dinheiro, ou se negociou em géneros ou foi algo do género “Vá lá, vem”, “Não”, “Oh, vá lá, por favor”, “Não”, “Fogo, mas eu estou-te a pedir”. Três meses a negociar algo que não envolve um salário é curioso – ou isto é tudo uma grande treta ou então os e-mails entre o Sócrates e o Director de Informação da RTP foram muito espaçadamente respondidos, entre os arraiais académicos de Sócrates.

    É óbvio que Sócrates na RTP exponenciará as audiências – mesmo que não seja no comentário semanal, será certamente na “grande entrevista em que o antigo primeiro-ministro pretende esclarecer alguns temas a propósito dos seus 6 anos de governação”. Mas é assim a nossa sociedade. Em American PyschoPatrick Bateman (Christian Bale) mata tudo e todos e (numa das 2 possíveis interpretações do filme) pelo seu statusa sociedade escamoteia os seus crimes. Neste caso, não só a sociedade estaria a branquear a (má) influência de Sócrates no rumo do país como ainda o colocaria num púlpito para todos o ouvirmos a comentar decisores posteriores a si que têm nas mãos anos e anos de desgraças (em parte também anteriores a Sócrates) nas mãos. 
    O jantar é coelho, mas a cozinheira que foi cozinhar para França deixou o coelho cheio de moscas e a cheirar a podre. No entanto agora, a cozinheira virá refilar os erros da confecção do prato de coelho. É uma metáfora, apenas e só.

    Pena que não haja reformas, pena que não haja coragem nos mais altos cargos – a coragem de querer realmente dirigir um país e defender que quem gere danosamente as contas de uma nação, que tem que pagar de alguma maneira. Seria irracional pedir ao José que pagasse o que fez a dívida avolumar, mas umas grades à volta dele davam uma ligeira noção de justiça a muita gente e serviam de exemplo. Se um aluno tiver más notas, chumba. Se um treinador tiver maus resultados, é despedido. Se um homem bomba não explodir, perde 18 virgens. E o político?

    Das duas uma, ou a RTP está a montar uma cilada e quer apanhar Sócrates, vindo de França, acorrentá-lo a uma cadeira e julgá-lo em praça pública. Ou então, como disse o cronista do Público, Miguel Gaspar, os portugueses terão que estar munidos de um cesto de tomates podres junto à televisão em cada trecho de 25 minutos semanais. MP

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