21 de setembro de 2015

Crítica: Me and Earl and the Dying Girl

Realizador: Alfonso Gomez-Rejon
Argumento: Jesse Andrews
Elenco: Thomas Mann, Olivia Cooke, RJ Cyler, Nick Offerman, Molly Shannon, Connie Britton, Jon Bernthal
Classificação IMDb: 7.8 | Metascore: 74 | RottenTomatoes: 82%
Classificação Barba Por Fazer: 80

Imaginem um caldeirão. Aquele objecto que todos temos em casa. Ou não. Nesse caldeirão querem cozinhar um filme. Aquilo que todos cozinhamos diariamente. Ou não. Como ingredientes um pouco de 'The Fault in Our Stars' e de 'The Spectacular Now', e muita da energia própria e especial de 'Juno' e '500 Days of Summer'. O resultado é este: Me and Earl and the Dying Girl.
    O filme estreou e foi o grande vencedor do festival Sundance 2015, sucedendo a 'Whiplash', tendo sido aplaudido de pé por toda a audiência, muito disputado e comprado pela FOX por um valor recorde em Sundance.
    No centro de um filme puro, simples e original está Greg (Thomas Mann), um rapaz a enfrentar o último ano de liceu tentando passar despercebido, e que tem o hobbie de fazer remakes de clássicos do cinema com o seu amigo de infância, Earl (RJ Cyler), curtas-metragens nas quais mudam os títulos dos filmes tornando-os cómicos. Quando a mãe de Greg descobre que uma amiga de infância dele chamada Rachel (Olivia Cooke) foi diagnosticada com leucemia, obriga-o a passar tempo com ela. O que de início é uma amizade forçada e desconfortável para ambos torna-se um hábito diário, com as curtas de Greg e Earl a servirem de distracção para Rachel, acabando a dupla por fazer um filme sobre ela. Tudo o resto é criatividade e sensibilidade de Jesse Andrews, autor do livro e responsável pela adaptação para argumento, e Alfonso Gomez-Rejon a revelar-se um realizador cheio de potencial.
    'Me and Earl and the Dying Girl' é aquele tipo de filme capaz de nos derreter. Envolvente do princípio ao fim, mérito claro de Gomez-Rejon. O realizador mexicano, colaborador de Ryan Murphy na realização de episódios para as séries 'American Horror Story' e 'Glee', realizador do episódio-piloto de 'Red Band Society' e aprendiz in loco de senhores de créditos firmados como Martin Scorsese e Alejandro González-Iñárritu, sabe pegar na câmara de forma inovadora e enérgica como Iñárritu, respeitar o passado como Scorsese e, no fim, ter uma assinatura própria.
    Quando um filme é bom vale a pena desconstruí-lo nas suas várias vertentes. Como 'Juno' ou '500 Days of Summer', outros projectos que os estúdios FOX patrocinaram, há uma boa banda sonora, mas para além do trabalho de Andrews e Gomez-Rejon, há um elenco que soube transmitir a alma genuína. Thomas Mann e o estreante RJ Cyler formam uma dupla engraçada e improvável, e Olivia Cooke (que rapou o cabelo para o papel) é uma das boas actrizes da sua geração, ela que na série 'Bates Motel' também tem um problema de saúde. Aparte do trio, há ainda vários actores mais experientes com pequenas contribuições, destacando-se Nick Offerman como pai de Greg, e Jon Bernthal (uma das principais ideias do filme é dita por ele) no papel do tatuado e carismático professor de História que deixa Greg e Earl almoçarem no seu escritório.
    Para já não parece estar nas cogitações da Academia, embora alguns dos últimos sucessos de Sundance como 'Whiplash' e 'Beasts of Southern Wild' tenham sido posteriormente nomeados, mas nunca se sabe. 'Me and Earl and the Dying Girl' é, até ver, um dos bons filmes desta temporada, muito equilibrado (é cómico, dinâmico, cativante, tocante), com Gomez-Rejon a contar uma história que respeita anos de cinema e a natureza humana, usando bem as perspectivas e planos, a distância entre Greg e Rachel que no início parece infinita, mas que progressivamente se desvanece, cabendo no mesmo enquadramento.
    Este é dos que vale mesmo a pena ver. Destacando-se como um todo, mas em especial na cena em que Rachel vê o filme de Greg, e no quarto dela quando, ao som dos Explosions in the Sky, Greg percebe o que o seu professor de História lhe disse. Talvez o vejamos nos Óscares, seja nos verdadeiros, seja nas humildes e sinceras opções aqui do BPF.

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