7 de setembro de 2015

Crítica: Love & Mercy

Realizador: Bill Pohlad
Argumento: Oren Moverman, Michael A. Lerner
Elenco: John Cusack, Paul Dano, Elizabeth Banks, Paul Giamatti
Classificação IMDb: 7.4 | Metascore: 80 | RottenTomatoes: 91%
Classificação Barba Por Fazer: 74

    O génio musical incompreendido Brian Wilson. 'Love & Mercy', drama biográfico sobre o co-fundador dos Beach Boys, exalta a criatividade de um músico à frente do seu tempo, focando-se em duas fases bem distintas da vida de Wilson: nos anos 60, inspirado e capaz de criar o 2.º melhor álbum de sempre segundo a Rolling Stone, e vinte anos mais tarde, perdido, sem rumo e mal acompanhado clinicamente.
    Muita gente diz que olhando para Brian Wilson nos anos 60 e 80, não se conseguiria ver a mesma pessoa. Um dos objectivos de 'Love & Mercy' passa por demonstrar essa diferença, comportamental e física, conjugando momentos geniais de um dos principais compositores do século XX com a sua desorientação e prisão asfixiante 20 anos mais tarde. Para mostrar estes dois lados bem diferentes, Bill Pohlad contou com dois actores com 18 anos a separá-los: Paul Dano e John Cusack.
    O filme, depois de uns shots acompanhados por trechos da discografia dos Beach Boys, até começa nos anos 80. E a abordagem alternada, recuando e regressando a essa fase, torna o filme mais interessante e menos depressivo do que se víssemos de modo linear o declínio gradual de Brian. Na versão Brian Wilson de John Cusack, vemo-lo a conhecer Melinda (Elizabeth Banks), enquanto vive totalmente controlado e vigiado 24h por dia, condicionado pelos métodos doentios do terapeuta Eugene Landy (Paul Giamatti). No passado, o Brian de Paul Dano é a força criativa dos Beach Boys. Perturbado mentalmente, mas capaz de prometer aos restantes membros que na sua reclusão seria capaz de criar o melhor álbum de sempre da banda. E esse é o lado mais fascinante de Brian Wilson em 'Love & Mercy', a inovar na produção musical encontrando a inspiração e a sonoridade certa das formas mais improváveis, e lutando crente no valor de Pet Sounds, inicialmente rejeitado pelos restantes Beach Boys, mas que veio a ser um álbum aclamado, com músicas como "Wouldn't It Be Nice" ou "God Only Knows".
    O melhor que há neste tributo a Brian Wilson, hoje com 73 anos e com um passado de genialidade, esgotamentos nervosos e vícios, é o contraste Dano/ Cusack. Partilhando uma mente atormentada, mas mostrando que uma mente especial tem que ser livre - nos anos 60 a Música saiu a ganhar, com a versão de Dano a extravasar entusiasmo, enquanto que volvidos 20 anos a versão de Cusack é praticamente um vazio, desligado do mundo e distante da realidade.
    Elizabeth Banks está bem, Giamatti - embora seja um grande actor - fica aquém do exigido, este é capaz de ser o melhor papel da carreira de Cusack (um actor do qual nem somos particularmente fãs), mas mesmo assim Paul Dano é o destaque. O jovem actor de 'There Will Be Blood', 'Little Miss Sunshine', 'Ruby Sparks' e com contribuições também em 'Prisoners' e '12 Years a Slave' já merecia que começassem a olhar para ele de outra forma, desejando-o para papéis de maior destaque e responsabilidade. Dano nunca desilude, muito pelo contrário, e embora até possa nem ser nomeado para Melhor Actor Secundário (nem é claro, entre ele e Cusack, quem reclamaria esse estatuto), certamente que estará incluído na discussão e isso parece-nos suficiente para nos próximos anos ser feita justiça em relação ao talento de Dano.
    Não deverá fazer parte dos Óscares 2016 (pode guardar uma réstia de esperança em relação a Dano ou Elizabeth Banks como secundários), mas a cultura da mente nunca faz mal a ninguém, e Brian Wilson tem uma história de vida especial. O melhor momento está aqui ilustrado, com Paul Dano (bom trabalho da equipa de edição de som a fazer a transição da voz de Dano para os originais de Wilson) sentado ao piano numa versão pura de "God Only Knows".

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