9 de junho de 2018

Mundial 2018: Previsão Grupo C


Na antevisão ao Mundial 2018, saltamos o nosso Grupo B, deixando-o para o fim, e passamos para aquele que conta com o finalista vencido do Euro-2016, o país que jamais esquecerá o nome Éder.
    Falar do grupo C é falar, em primeira instância, de Paolo Guerrero. O capitão do Peru, máxima figura da sua selecção, foi punido pela FIFA com 14 meses de suspensão depois de ter chumbado num controlo anti-doping graças a um chá de cocaína. No entanto, num dos gestos que marca o prólogo desta prova, os capitães Lloris (França), Jedinak (Austrália) e Kjaer (Dinamarca) escreveram uma carta a pedir que Guerrero pudesse jogar o Mundial, iniciando-se a suspensão depois. Resultado: Guerrero jogará na Rússia, com este desfecho a significar a não-convocatória do seu sobrinho Sergio Peña. Inspiração para uma novela.
    Prevendo o que se passará em campo, a França parte como clara favorita, reunindo uma geração que encanta qualquer adepto. A conjugação de nomes como Griezmann, Mbappé, Dembélé, Pogba, Kanté, Fékir, Lemar ou Thauvin como opções do meio-campo para a frente colocam a equipa de Didier Deschamps no lote de favoritos à conquista da prova, se o mesmo for alargado a 5 equipas. Mantendo Benzema riscado, os gauleses deslizaram sem derrapar na qualificação, acabando por sair em 1.º lugar de um grupo com Suécia e Holanda. As principais dúvidas nesta França dizem respeito ao encontro do melhor 11 possível (Deschamps pode fazer asneiras), e ao modo como craques em tenra idade (Mbappé tem 19 anos e Ousmane Dembélé tem 21) irão lidar com o peso por vezes asfixiante de um Mundial. Afinal, no futebol, não há nada acima disto.
     Com o veterano Tim Cahill (38 anos) a tentar alcançar o feito de marcar em 4 mundiais consecutivos, igualando Pelé e os alemães Klose e Seeler, a Austrália é a selecção menos cotada do grupo. Espera-se, no entanto, uma equipa muito competitiva, que irá fazer suar os adversários.
    Assumindo que a maior qualidade dos seus jogadores chega para que a França vença o grupo, o mais interessante será acompanhar o duelo Dinamarca vs Peru. Os sul-americanos foram a última equipa a garantir bilhete para a Rússia e não sentiam o sabor do Mundial desde 1982. Uma curiosidade: na qualificação para o México'86, foi um certo argentino chamado Ricardo Gareca que com um golo seu impediu os peruanos de ir ao Mundial. Hoje, Gareca é o seleccionador do Peru, tendo já dado ao país o 3.º lugar na Copa América 2015. A Dinamarca, igualmente qualificada via play-off graças a uma monumental exibição da sua estrela Christian Eriksen (fez um hat-trick na vitória por 5-1 na Irlanda), saiu viva, atrás da Polónia, de um grupo equilibrado que contava por exemplo com Montenegro e Roménia. Acreditem, tal como no apuramento, esta Dinamarca será Eriksen+10.

    Fiquem então com a análise do Grupo C:

1. FRANÇA  
(Previsão: Oitavos-de-Final)

  • Guarda-Redes: Hugo Lloris (Tottenham), Steve Mandanda (Marselha), Alphonse Aréola (PSG)
  • Defesas: Djibril Sidibé (Mónaco), Benjamin Pavard (Estugarda), Raphaël Varane (Real Madrid), Presnel Kimpembe (PSG), Samuel Umtiti (Barcelona), Adil Rami (Marselha), Benjamin Mendy (Manchester City), Lucas Hernández (Atlético Madrid)
  • Médios: N'Golo Kanté (Chelsea), Steven N'Zonzi (Sevilha), Blaise Matuidi (Juventus), Paul Pogba (Manchester United), Corentin Tolisso (Bayern)
  • Extremos: Ousmane Dembélé (Barcelona), Thomas Lemar (Mónaco), Florian Thauvin (Marselha), Nabil Fékir (Lyon)
  • Avançados: Antoine Griezmann (Atlético Madrid), Olivier Giroud (Chelsea), Kylian Mbappé (PSG)
Seleccionador: Didier Deschamps;
Baixas: Dimitri Payet, Laurent Koscielny; Ausências: Karim Benzema, Adrien Rabiot, Aymeric Laporte, Anthony Martial

Equipa-Base (4-3-3): Lloris; Sidibé, Varane, Umtiti, Mendy (Lucas); Kanté, Pogba, Matuidi (Tolisso); Mbappé, Griezmann, O. Dembélé (Lemar)
    Irresistível. Mesmo com Payet e Koscielny lesionados, e Benzema, Rabiot, Laporte e Martial fora da lista final de 23, a França apresenta um dos elencos mais fantásticos nesta edição. O tempo dirá se Deschamps monta a equipa num 4-3-3/ 4-2-3-1 ou num 4-4-2, sendo garantido que o capitão Lloris terá à sua frente a dupla Varane-Umtiti (é sempre bom sinal quando se tem um central do Real Madrid e outro do Barcelona, ambos titulares nesses colossos, no coração da defesa), partindo Sidibé e Mendy em vantagem para as faixas laterais. Uma eventual quebra física - recordamos que Mendy esteve muito tempo lesionado, jogando apenas 7 jogos na Premier League - ditará a promoção de Lucas Hernández, mais defensivo, ao quarteto.
    Embora o omnipresente Kanté saia beneficiado quando tem um maior raio de acção a cobrir, rendendo por isso mais num meio-campo a dois, é improvável que Deschamps abdique de adicionar Matuidi ou Tolisso a Kanté e Pogba (o jóker desta equipa). Na frente, o melhor jogador e melhor marcador do Euro-2016, Antoine Griezmann, tem lugar cativo. Entusiasma-nos pensar numa frente móvel com os miúdos Mbappé e Dembélé. Giroud, mais referencial, é sempre opção e oferece um plano B, sendo promissor o que teóricos suplentes utilizados como Fékir e Lemar irão acrescentar. 

Destaques Individuais (Previsão):
    Ficando em 1º lugar do Grupo, a teoria diz que a a França evitaria a Alemanha e a Espanha até à final, podendo ter como obstáculos mais custosos Portugal e Brasil. No entanto, um deslize argentino no Grupo D - Argentina, Croácia, Nigéria e Islândia compõem o grupo com o qual a França emparelha -, ficando por hipótese a selecção de Messi no 2.º lugar, pode marcar um França-Argentina nos oitavos, garantindo-se automaticamente que uma dessas equipas seria a desilusão da prova ao cair tão cedo.
    Quando pensamos neste Mundial e na França, Kylian Mbappé é a primeira imagem que nos surge. Aos 19 anos, o avançado é juntamente com Dembélé, Asensio, Werner e Gabriel Jesus um dos principais candidatos ao prémio de melhor jogador jovem da competição, e deve confirmar neste torneio o verdadeiro fenómeno que é.
    Melhor marcador e melhor jogador do Euro-2016, Antoine Griezmann quererá fazer e muito o que não foi capaz no Mundial-2014 (marcar), podendo voltar a revelar-se muito difícil para as defesas contrárias anular o seu impacto face às suas movimentações (no Euro, Griezmann beneficiava ao jogar com Giroud na frente). Depois, Ousmane Dembélé é um dos jogadores que mais pode deixar os adeptos babados com a sua velocidade e propensão para humilhar quem surja à sua frente, podendo estes 3 craques respirar fundo ao ter Samuel Umtiti (talvez o melhor defesa central do futebol europeu em 2017-18) na defesa e N'Golo Kanté no meio-campo. Perante tudo isto, Paul Pogba surge como uma das principais incógnitas: um poço de talento que continua a adiar o momento de explosão. Com ele, raramente há meio termo, podendo chegar a perder a titularidade ou afirmando-se de vez como um dos melhores médios do mundo.


2. DINAMARCA  
(Previsão: Oitavos-de-Final)

  • Guarda-Redes: Kasper Schmeichel (Leicester City), Jonas Lössl (Huddersfield), Frederik Ronnow (Brondby)
  • Defesas: Henrik Dalsgaard (Brentford), Jens Stryger Larsen (Udinese), Andreas Christensen (Chelsea), Jannik Vestergaard (Gladbach), Mathias Jorgensen (Huddersfield), Simon Kjaer (Sevilha), Jonas Knudsen (Ipswich)
  • Médios: William Kvist (Copenhaga), Thomas Delaney (Werder Bremen), Lukas Lerager (Bordéus), Michael Krohn-Dehli (Deportivo), Lasse Schöne (Ajax), Christian Eriksen (Tottenham)
  • Extremos: Martin Braithwaite (Bordéus), Viktor Fischer (Copenhaga), Pione Sisto (Celta Vigo)
  • Avançados: Andreas Cornelius (Atalanta), Nicolai Jorgensen (Feyenoord), Kasper Dolberg (Ajax), Yussuf Poulsen (RB Leipzig)
Seleccionador: Age Hareide;
Ausências: Daniel Wass, Nicklas Bendtner, Pierre Hojbjerg, Riza Durmisi

Equipa-Base (4-3-3): Schmeichel; Dalsgaard, Kjaer, Christensen, Knudsen (Larsen); Kvist, Delaney, Eriksen; Poulsen, Jorgensen, Sisto
    Com bastante qualidade no centro da defesa, não se deve excluir a possibilidade de Hareide fazer alinhar uma defesa a três com Kjaer, Christensen e Vestergaard. Ainda assim, o mais provável será vermos esta Dinamarca num 4-3-3 suportado pela dupla Kvist-Delaney. Frágil nas laterais, a Dinamarca entrega-se por completo ao seu melhor jogador, Eriksen (o médio ofensivo marcou 11 golos em 12 jogos na fase de qualificação), vivendo dependente de tudo aquilo que o craque do Tottenham pensa e produz.
    Na frente e com 1,90m, Nicolai Jorgensen deve ser o jogador mais adiantado, levando vantagem sobre Cornelius e Dolberg (curiosos para ver o que faz quando tiver minutos). Yussuf Poulsen, um híbrido entre extremo e avançado, e o talentoso Pione Sisto, a principal ajuda de Eriksen na hora de desmontar defesas, devem completar o trio de ataque.  

Destaques Individuais (Previsão):
    Acabadinho de ser pai, acreditamos que Christian Eriksen irá ser uma das figuras deste Grupo C. O craque do Tottenham, camisola 10 na selecção, nunca foge às responsabilidades, assumindo e carregando sempre os nórdicos. A espectacular meia distância, as suas bolas paradas e a incrível qualidade de passe são os principais argumentos de um jogador que, acreditamos, irá mostrar na Rússia o porquê de merecer já estar num Barcelona e não "só" no Tottenham.
    No ataque, Pione Sisto será certamente o melhor amigo de Eriksen. O extremo-esquerdo, mestre em castigar laterais e sem medo de partir para cima dos defesas uma e outra vez, cumpriu a sua melhor época na La Liga, ficando a apenas 3 assistências de Messi (9 contra 12). Com 23 anos, é bem capaz de aumentar a sua cotação.
    Se Eriksen e Sisto serão fundamentais a desequilibrar os adversários, o soldado Thomas Delaney (recentemente anunciado como reforço do Borussia Dortmund) terá em conjunto com Kvist a missão de ganhar o meio-campo em cada jogo. E a decisão do 2.º lugar pode muito bem passar por quem se destacar mais entre Gallese e Kasper Schmeichel.


3. PERU  

  • Guarda-Redes: Pedro Gallese (Veracruz), Carlos Cáceda (Deportivo Municipal), José Carvallo (Univ. Técnica)
  • Defesas: Luis Advíncula (Lobos BUAP), Aldo Corzo (Universitario), Miguel Araujo (Alianza Lima), Christian Ramos (Veracruz), Alberto Rodríguez (J. Barranquilla), Nilson Loyola (FBC Melgar), Miguel Trauco (Flamengo)
  • Médios: Anderson Santamaría (Puebla), Wilder Cartagena (Veracruz), Pedro Aquino (Lobos BUAP), Paolo Hurtado (Vit. Guimarães), Renato Tapia (Feyenoord), Yoshimar Yotún (Orlando City)
  • Extremos: André Carrillo (Watford), Andy Polo (P. Timbers), Christian Cueva (São Paulo), Édison Flores (Aalborg), Jefferson Farfán
  • Avançados: Paolo Guerrero (Flamengo), Raúl Ruidíaz (Morelia)
Seleccionador: Ricardo Gareca;

Equipa-Base (4-2-3-1): Gallese; Advíncula, Ramos, A. Rodríguez, Trauco; Yotún, Tapia; Carrillo, Cueva, Flores (Farfán); Guerrero  
    Com um onze porventura mais equilibrado do que a Dinamarca, embora sem um super-jogador como Eriksen, o Peru tem em Ricardo Gareca um profundo conhecedor do jogo (atravemo-nos a dizer que é o melhor dos 4 seleccionadores neste grupo), e promete colocar em campo a mesma paixão de sempre.
    Gallese e Advíncula mostraram a sua valia em edições recentes da Copa América, e o habitual 4-2-3-1 volta a fazer sentido graças à presença de Paolo Guerrero, aos 34 anos líder deste conjunto e uma inspiração para os colegas, que com ele presente acreditarão que tudo é possível. Não temos dúvidas que Guerrero irá fazer a vida negra a muitos defesas, faltando saber se Carrillo, Cueva e Flores (ou Farfán) estarão com o chip certo. Se estiverem, pode dar-se uma troca entre os nossos previstos segundo e terceiro lugares.

Destaques Individuais (Previsão):
    Deus no céu, Paolo Guerrero na Terra. É um pouco esta a visão que a nação peruana e o balneário têm do craque do Flamengo, um daqueles jogadores que funciona como o vinho. Na Rússia, com motivação extra depois de lhe ter sido levantada a suspensão, o avançado tem tudo para dar continuidade ao seu hábito de se transcender pela selecção, sobretudo quanto maior é a importância dos jogos e o peso dos adversários.
     Selecção algo imprevisível - em dia sim até pode colocar a França em sentido - o Peru terá depois em André Carrillo e Cristian Cueva os dois elementos que mais facilmente podem desbloquear jogos em lances individuais. Pedro Gallese costuma ser um felino entre os postes, e no meio do campo Renato Tapia pode, aos 22 anos, mostrar aquilo de que é feito.


4. AUSTRÁLIA  

  • Guarda-Redes: Matthew Ryan (Brighton), Brad Jones (Feyenoord), Danny Vukovic (Genk)
  • Defesas: Joshua Risdon (WS Wanderers), Trent Sainsbury (Grasshoppers), Matthew Jurman (S. Bluewings), Milos Degenek (Y. Marinos), Mark Milligan (Al Ahly), James Meredith (Millwall), Aziz Eraltay (Bursaspor)
  • Médios: Mile Jedinak (Aston Villa), Jackson Irvine (Hull City), Aaron Mooy (Huddersfield), Massimo Luongo (QPR), Dimitrios Petratos (Newcastle Jets)
  • Extremos: Tom Rogic (Celtic), Matthew Leckie (Hertha Berlim), Andrew Nabbout (Urawa Reds), Robbie Kruse (Bochum), Daniel Arzani (Melbourne City)
  • Avançados: Tomi Juric (Luzern), Tim Cahill (Millwall), Jamie MacLaren (Hibernian)
Seleccionador: Bert van Marwijk;

Equipa-Base (4-3-3): Ryan; Risdon, Sainsbury, Milligan (Degenek), Behich; Luongo, Jedinak, Mooy; Leckie, Juric (Cahill), Rogic (Kruse)
    Os representantes da Oceânia neste Mundial têm apenas jogos particulares sob o comando de van Marwijk, tendo este assumido a selecção depois de Postecoglou abandonar o projecto com os cangurus qualificados. De resto, já é sabido também que a presença do holandês é passageira, estando já confirmado Graham Arnold como seleccionador depois deste Mundial.
    Com muitos atletas que actuam em vários escalões do futebol inglês, espera-se da Austrália uma equipa fisicamente muito disponível e competitiva, à procura de tirar pontos a alguém. A defesa parece-nos ser o sector mais fraco, embora atrás o guarda-redes Matt Ryan tenha feito uma excelente Premier League pelo Brighton, aumentando a qualidade quando chegamos ao bélico Jedinak e ao primoroso e pente zero Aaron Mooy. À procura de igualar Pelé, Tim Cahill terá certamente oportunidades durante a fase de grupos, mas é a jogadores como Leckie, Juric, Rogic ou Kruse que o ex-seleccionador da Holanda e da Arábia Saudita deve entregar a titularidade.

Destaques Individuais (Previsão):
    Embora nos pareça difícil a Austrália pontuar neste Grupo C, acreditamos que irá ser capaz de oferecer uma boa réplica em quase todos os jogos, atrevendo-se por vezes a jogar olhos nos olhos como é sua tendência.
    Acima de todos, Aaron Mooy é o jogador que pode fazer a diferença. O médio cerebral do Huddersfield, com bom toque de bola, será o epicentro do processo ofensivo australiano. Nas Confederações, num grupo onde a Austrália empatou com Chile e Camarões e perdeu 3-2 com a Alemanha, foi um dos elementos que deixou excelente imagem. Para além dele, Matthew Leckie é hoje o jogador mais perigoso no último terço, e Matthew Ryan um guarda-redes habituado a ter muito trabalho durante o jogo, sendo ainda bastante forte na defesa de grandes penalidades.


Posters ESPN - MUNDIAL 2018 - Grupo C
por Paul Lacolley

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