4 de junho de 2018

Barba no Mundial: Os Nossos 23 (Inglaterra)

Tantos anos consecutivos a ser desilusão sugere que, desta vez, a selecção dos três leões não iluda o país e o planeta futebol.
    Com menos peso nos ombros do que as gerações anteriores (já não há sobreviventes da geração de ouro de Rooney, Gerrard, Lampard, Scholes ou Beckham), Inglaterra tem actualmente em jogadores de 24, 23 e 22 anos (Kane, Sterling e Alli) as suas principais figuras. Quer isto dizer que o Mundial 2018 será um palco para crescer. Com expectativas baixas, qualquer surpresa a acontecer será pela positiva.
    Sob o comando de Sam Allardyce e depois Gareth Southate (actual seleccionador), a Inglaterra fez uma qualificação irrepreensível - como, de resto, é seu apanágio - conquistando 26 pontos em 30 possíveis, marcando 18 golos (marca pouco impressionante) e sofrendo apenas três. No seu grupo, Eslováquia, Escócia e Eslovénia eram os principais adversários.
    Na Rússia, Harry Kane e companhia terão pela frente Bélgica, Tunísia e Panamá. Um grupo francamente acessível, cujo embate da última jornada com a Bélgica (favorita a vencer o grupo) pode surgir numa fase em que as duas selecções já estejam apuradas, discutindo o 1.º lugar.
    Nos convocados anunciados por Southgate, surpreenderam as ausências de Wilshere (tantas vezes convocado sem merecer, e agora que merecia não é) e Hart (é justo que o anterior nº 1 fique de fora, mas não esperávamos tamanha "coragem" do seleccionador), às quais se juntou naturalmente Oxlade-Chamberlain. O jogador do Liverpool, que falha a competição por lesão, poderia ter um papel importante a cumprir.

    Os 23 de Southgate, uma convocatória cheia de laterais (Walker, Trippier, Alexander-Arnold, Rose, Young e Delph podem fazer a posição), deixam antever um 3-4-1-2. Preparem-se para ver Walker como central pelo lado direito, com Trippier no corredor, numa estrutura que deixará Dele Alli no apoio a Kane e Sterling na frente. Lingard e Rashford serão os wildcards da equipa. Comparativamente com o elenco que vai ao Mundial, nos nossos 23 para Inglaterra surgem 6 diferenças.

    Com muita malta jovem (depois do experiente Cahill, Henderson é o mais internacional e só soma 38 internacionalizações), estes seriam os nossos 23 para Inglaterra:


A Convocatória


  • Guarda-Redes: Jack Butland (Stoke), Nick Pope (Burnley), Jordan Pickford (Everton)
  • Defesas: Kyle Walker (Manchester City), Trent Alexander-Arnold (Liverpool), John Stones (Manchester City), Gary Cahill (Chelsea), Michael Keane (Everton), Harry Maguire (Leicester City), Ryan Bertrand (Southampton), Ryan Sessegnon (Fulham)
  • Médios: Eric Dier (Tottenham), Jordan Henderson (Liverpool), Jack Wilshere (Arsenal), Fabian Delph (Manchester City), Phil Foden (Manchester City), James Maddison (Norwich), Dele Alli (Tottenham)
  • Extremos: Raheem Sterling (Manchester City), Marcus Rashford (Manchester United), Jesse Lingard (Manchester United)
  • Avançados: Harry Kane (Tottenham), Jamie Vardy (Leicester City)
Lista de Contenção: Joe Hart (West Ham), Kieran Trippier (Tottenham), Danny Rose (Tottenham), Chris Smalling (Manchester United), Ruben Loftus-Cheek (Crystal Palace), Adam Lallana (Liverpool), Danny Welbeck (Arsenal)

    Quando debatemos que 3 guarda-redes levaríamos ao Mundial, chegámos facilmente ao trio escolhido. No entanto, nunca pensámos que na realidade Southgate faria o mesmo, deixando Joe Hart (jogou 9 dos 10 jogos da fase de qualificação) de fora. Para nós, Jack Butland seria o titular indiscutível sendo com alguma margem o melhor inglês da actualidade na sua posição. Temos dúvidas sobre qual será o eleito pelo seleccionador, num duelo entre o guardião do Stoke (neste Verão deverão ser muitos os clubes da Premier League dispostos a ir a leilão por ele) e Jordan Pickford.
    Premiar a excelente época de Nick Pope no sensacional Burnley faz todo o sentido. Sem acusar o peso de substituir Heaton, analisando o rendimento dos guarda-redes ao longo da época na Premier League, Pope foi apenas inferior a De Gea e Ederson.
    Southgate assumiu uma posição extrema, preferindo ter na lista de reserva Heaton (quase toda a temporada lesionado) do que levar Hart. Nós, a esse ponto também não chegamos.

    Na defesa, os nossos convocados têm por base uma disposição táctica numa linha de 4 atrás. Southgate tem naturalmente essa hipótese, mas o mais provável será privilegiar um sistema com três centrais. À direita, e com alguma pena de Trippier (Tottenham), Kyle Walker e Trent Alexander-Arnold são os nossos escolhidos. O lateral do Manchester City evoluiu bastante com Guardiola, amadurecendo e percebendo hoje melhor o jogo, enquanto que Alexander-Arnold (há muito tempo não se via um teenager a alinhar a titular numa defesa numa final da Champions) foi uma revelação esta época.
    Do lado contrário, Inglaterra tem várias opções - Baines, Bertrand, Danny Rose, Ashley Young e Cresswell, por exemplo. Com base num sistema de meritocracia, sentimo-nos obrigados a deixar Rose (perdeu o lugar para Ben Davies) de fora, optando por Ryan Bertrand. O lateral do Southampton não é tão exuberante como Rose quando se lança pelo corredor, mas é mais competente defensivamente. Depois, fé no miúdo: Ryan Sessegnon, nascido em 2000 e com 18 anos, merecia ir à Rússia. O jogador do recém-promovido Fulham, eleito Jogador do Ano no Championship, jogou a maior parte da época a extremo (assim se explicam os 15 golos no campeonato), mas começou a lateral. Se Ashley Young foi chamado pela polivalência, Sessegnon preenchia esse requisito e muitos mais.
    Finalmente, no centro da defesa partilhamos da opinião de Southate em 75%. Numa lógica de chamar dois centrais confortáveis na saída de bola e dois mais posicionais e fortes no jogo aéreo, permitindo construir uma dupla equilibrada, defendemos John Stones, Harry Maguire, Gary Cahill e Michael Keane como as melhores opções. Southgate leva Phil Jones em vez de Keane; e, se Tarkowski não se tivesse lesionado nos últimos dias, seria o central do Burnley que levávamos em vez do jogador do Everton.

    Chegando ao meio-campo, Eric Dier é titularíssimo. O antigo jogador do Sporting pode fazer várias posições, e caso combine bem com Jordan Henderson, aumentarão as hipóteses da Inglaterra neste Mundial. É uma pena Milner já se ter retirado da Selecção, uma vez que teria perfeitamente espaço nesta convocatória. À Rússia irão Loftus-Cheek e Fabian Delph; concordamos com a chamada do médio do Manchester City, até porque a forma de jogar do City o fez ocupar o terreno como uma espécie de interior (sua posição de origem), mesmo jogando a lateral-esquerdo, em vários momentos dos jogos. A três jogadores mais certinhos, acrescentamos depois três talentos, jogadores ingleses com ADN brasileiro dos quais Southgate só leva o mais cotado. Dele Alli é um indiscutível, e um craque que temos bastante curiosidade de ver num palco como um Mundial; depois, Phil Foden (sabemos que é uma pequena loucura defendermos a inclusão de um rapaz com 18 anos acabadinhos de fazer, mas estamos perante um talento muito especial) e James Maddison (com Lallana sem qualquer ritmo, o criativo do Norwich cumpriria bem o papel de acrescentar irreverência, aceleração e capacidade de progredir com bola no corredor central).

    Raheem Sterling (aos 23 anos já vai para a sua terceira competição internacional, depois de ter estado presente no Mundial 2014 e Euro 2016) pode finalmente explodir, e Marcus Rashford nasceu para este tipo de competições e jogos, em que a fasquia está bem alta. Neste campo, faz todo o sentido "imitar" a convocatória original, e premiar também Jesse Lingard, um dos jogadores que mais cresceu esta época e que, caso Alli não corresponda, estará logo à espreita de uma oportunidade.
    À frente, Harry Kane (12 golos em 23 jogos não é uma marca má, mas convém lembrar que no Euro 2016 ficou em branco, querendo por certo redimir-se) é a referência da equipa, indo inclusive envergar a braçadeira de capitão, e Jamie Vardy uma arma de luxo para agitar jogos com a sua electricidade. 


O Onze

    Na Rússia deveremos ver a Inglaterra jogar com Butland ou Pickford na baliza, uma defesa com Walker, Stones e Cahill, Trippier e Rose bem abertos, Dier e Henderson a segurarem o meio-campo, e Dele Alli a servir Kane e Sterling na frente. Na teoria, este 3-4-1-2, onde Lingard se pode intrometer, tem potencial, mas se as equipas adversárias forem capazes de anular Sterling e Alli, a selecção dos 3 leões pode ter que se reinventar ao longo do jogo para criar outros problemas aos oponentes.

    Na nossa Inglaterra, como acima dissemos, Butland seria titular de caras. Pickford é um guarda-redes competente, mas ainda não mostrou o que o guardião do Stoke já apresentou na Premier League. À sua frente, e optando nós por uma defesa mais tradicional de 4 elementos, torna-se fácil eleger Kyle Walker para o lado direito, com a dupla Stones/ Cahill a garantir uma parceria equilibrada, que permita ao central do Manchester City contribuir mais na 1.ª fase de construção, salvaguardado pelo experiente defesa do Chelsea. À esquerda, o único jogador que surge no nosso 11 e que Gareth Southgate não leva à Rússia: Ryan Sessegnon. O miúdo realizou uma época fantástica e, uma vez que Walker é hoje um lateral mais conhecedor dos momentos do jogo e que sabe quando deve ou não aventurar-se, o primo de Stéphane Sessegnon poderia dar mais golo à equipa, sempre em "modo locomotiva".

    Neste tabuleiro, Dier e Henderson constituem o duplo pivô. O médio do Tottenham é um dos melhores 6 da Premier League, podendo ocasionalmente baixar para junto dos centrais, enquanto que o capitão do Liverpool está habituado a que o jogo passe muito por ele, sabe lançar jogo (daí também preferirmos extremos abertos e um 4-2-3-1), exibindo sempre elevada intensidade.
    No apoio ao matador Kane, três talentos puros - Sterling à direita, Rashford à esquerda, Dele Alli ao centro. A proposta de Southgate de colocar Sterling mais solto em terrenos centrais pode até correr bem, libertando o jogador que tanto evoluiu esta temporada de tarefas defensivas, mas honestamente preferíamos vê-lo onde jogou toda a temporada. Partindo da direita, extremamente vertical, um verdadeiro diabo à solta.
    Conscientes que este 4-2-3-1 pode à partida parecer mais desequilibrado do que o comportamento que a Inglaterra irá apresentar na Rússia, Rashford merece o risco. No entanto, contra adversários de maior nomeada faria sentido guardar o jovem do Manchester United para castigar defesas cansados nas segundas partes, apostando nós nesse cenário num médio como Wilshere (de fora da convocatória real) a fazer companhia a Dier e Henderson.





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