10 de junho de 2018

Mundial 2018: Previsão Grupo D

Este é dos que vale a pena. Tirando o grupo de Portugal (por razões óbvias), se só nos deixassem ver os jogos de um grupo neste Mundial, este Grupo D ganharia tangencialmente ao H (muito equilíbrio entre Colômbia, Polónia, Senegal e Japão).
    Com três continentes representados e 4 selecções muitíssimo diferentes na sua identidade, cultura e características, o grupo que emparelha com o da França promete jogos emocionantes e desfechos imprevisíveis. Com todos os caminhos a ir dar à Argentina. Tudo leva a crer que para a Albiceleste, finalista vencida do último Mundial e das últimas duas edições da Copa América, não haverá meio termo. Lionel Messi e companhia serão ou a desilusão da prova, caindo cedo, ou um dos maiores destaques. A qualificação acidentada, garantida apenas na última jornada com um hat-trick de Messi ao Equador, as decisões de Sampaoli (criminoso ver Garay e Icardi de fora) e as lesões de Romero e Lanzini que obrigaram a corrigir a lista de 23 são apenas alguns exemplos do percurso quase traumático. Para além disso, Messi será indiscutivelmente o jogador mais pressionado para ganhar na Rússia.
    Embora Argentina e Croácia tenham argumentos doutro nível, não será exagerado afirmar que neste Grupo qualquer selecção pode terminar em qualquer lugar. Depois do primeiro Europeu, a Islândia estreia-se em mundiais, e promete voltar a agradecer aos seus adeptos naquela salva de palmas ritmada e épica. Convém recordar que, na fase de apuramento, a Islândia terminou em 1.º lugar um grupo onde estava... a Croácia. E além destas duas, também Ucrânia e Turquia.
    Os croatas chegam a este Mundial com uma geração madura e depois de no Euro-2016 terem ganho o grupo onde estava a Espanha, caindo apenas nos oitavos contra Portugal no prolongamento. Com o seu axadrezado vermelho e branco, a equipa pode ser uma das sensações da prova se ficar em 1.º neste grupo, tendo caminho mais difícil caso termine em segundo.
    Por fim, a Nigéria apresenta uma geração jovem (Iheanacho 21 anos, Iwobi 22, Ndidi 21 e Etebo 22 são disso exemplo) que pode utilizar esta competição para crescer, podendo no entanto supreender. Surpreender quase tanto como o seu novo equipamento, autêntico fenómeno de receitas para a Nike desde que iniciou a sua comercialização. Infelizmente, achamos possível e lamentável que venham a verificar-se momentos de racismo por parte dos adeptos russos neste Mundial - se assim for, veremos como isso afectará a prestação de equipas como a Nigéria e o Senegal.

    Abaixo a análise detalhada, e antevisão deste Grupo D:

1. CROÁCIA  
(Previsão: Quartos-de-Final)

  • Guarda-Redes: Daniel Subasic (Mónaco), Lovre Kalinic (Gent), Dominik Livakovic (Dínamo Zagreb)
  • Defesas: Sime Vrsaljko (Atlético Madrid), Tin Jedvaj (Bayer Leverkusen), Dejan Lovren (Liverpool), Domagoj Vida (Besiktas), Vedran Corluka (Lokomotiv Moscovo), Duje Caleta-Car (RB Salzburgo), Ivan Strinic (Sampdoria), Josip Pivaric (Dínamo Kiev)
  • Médios: Filip Bradaric (Rijeka), Milan Badelj (Fiorentina), Luka Modric (Real Madrid), Ivan Rakitic (Barcelona), Mateo Kovacic (Real Madrid), Marcelo Brozovic (Inter Milan)
  • Extremos: Ivan Perisic (Inter), Marko Pjaca (Juventus), Ante Rebic (Eintracht Frankfurt)
  • Avançados: Nikola Kalinic (AC Milan), Andrej Kramaric (Hoffenheim), Mario Mandzukic (Juventus)
Seleccionador: Zlatko Dalic;

Equipa-Base (4-3-3): Subasic; Vrsaljko, Lovren, Vida, Strinic; Rakitic, Modric, Brozovic; Kramaric (Rebic), Mandzukic (Kalinic), Perisic
    Geração em ponto de rebuçado. Na primeira grande competição que não conta com Srna em muito tempo, a Croácia - impossível os adeptos não sentirem uma pequena atracção pelo xadrez vermelho e branco - perfila-se como uma das principais candidatas a equipa-sensação (Colômbia, Dinamarca, Senegal, Polónia ou Peru também podem vir a reclamar esse estatuto). O elenco merecia melhor comandante do que Dalic, que terá ao seu dispor um 11 que oferece poucas dúvidas. Na defesa cabe a Vrsaljko ser o herdeiro do já referido Srna, podendo Vida passar para lateral-esquerdo, como foi testado nos jogos de preparação, abrindo espaço para Corluka ao lado de Lovren. O trio de meio-campo (Rakitic, Modric e Brozovic) é fortíssimo, Perisic raramente desilude, faltando saber se será Kramaric ou Rebic o titular no flanco direito. Finalmente, Mandzukic parece levar vantagem sobre Kalinic.
    Embora haja pouco a mexer, pessoalmente gostávamos de ver Kovacic junto a Rakitic e Modric, com Brozovic aberto no lado direito.

Destaques Individuais (Previsão):
    São poucos os médios na actualidade que conseguem, quase sozinhos, controlar o ritmo de uma partida. O Real Madrid tem dois assim, e um deles é croata. Luka Modric é o melhor jogador de uma equipa que sonha com um Mundial como o de 98 (a Croácia terminou em 3.º lugar, com Davor Suker em claro destaque). Acreditamos que Modric seja nesta competição tudo aquilo que os mais optimistas esperam dele.
    Os golos do vertical Ivan Perisic a partir do corredor esquerdo, o pau-para-toda-a-obra Marcelo Brozovic (quer jogue como 3.º médio, quer num flanco, será destaque) e um dianteiro que se torna mais versátil a cada ano que trabalha com Allegri, Mario Mandzukic, serão tudo peças determinantes no potencial sucesso desta Croácia. Significativo peso nos ombros de Sime Vrsaljko, herdeiro do capitão Srna, numa selecção que conta ainda com nomes como Kovacic, Kalinic, Rebic ou Kramaric. 


2. ARGENTINA  
(Previsão: Meias-Finais)

  • Guarda-Redes: Willy Caballero (Chelsea), Franco Armani (River Plate), Nahuel Guzmán (Tigres)
  • Defesas: Gabriel Mercado (Sevilha), Eduardo Salvio (Benfica), Federico Fazio (Roma), Nicolás Otamendi (Manchester City), Marcos Rojo (Manchester United), Cristian Ansaldi (Torino), Nicolás Tagliafico (Ajax), Marcos Acuña (Sporting)
  • Médios: Javier Mascherano (Hebei C. Fortune), Lucas Biglia (AC Milan), Éver Banega (Sevilha), Giovani Lo Celso (PSG), Enzo Pérez (River Plate)
  • Extremos: Lionel Messi (Barcelona), Ángel Di María (PSG), Maximiliano Meza (Independiente), Cristian Pavón (Boca Juniors)
  • Avançados: Kun Agüero (Manchester City), Gonzalo Higuaín (Juventus), Paulo Dybala (Juventus)
Seleccionador: Jorge Sampaoli;
Baixas: Sergio Romero, Manuel Lanzini; Ausências: Mauro Icardi, Ezequiel Garay, Alejandro Gómez

Equipa-Base (4-3-3): Caballero (Armani); Mercado, Fazio, Otamendi, Rojo; Mascherano, Biglia (Meza), Lo Celso; Messi, Di María, Higuaín (Agüero)
    A Argentina é a verdadeira incógnita deste Mundial e a carta que pode baralhar tudo. Enquanto que se tudo correr de acordo com o esperado, Alemanha e Brasil têm passadeira estendida até às meias-finais, o posicionamento da Argentina no quadro da fase a eliminar deixa antever queda com estrondo ou jornada épica (jogos contra selecções como Espanha, França ou Portugal na calha).
    Sampaoli apaixonou os adeptos com o seu Chile, e é um dos técnicos mais respeitados dos 32. No entanto, tarda em convencer, e parece até ter dificultado a vida a si mesmo: Garay é melhor do que Fazio, e Icardi é nesta fase o melhor avançado argentino. Ao contrário da esmagadora maioria das selecções, desconhecemos como irá jogar a Argentina, quer a nível de organização das peças, quer a nível de elementos. Com Romero lesionado, Caballero deve ser o escolhido, mas meio país reclama a titularidade de Armani. Na defesa, a dupla Fazio-Otamendi é uma garantia, faltando conhecer os laterais (um dos calcanhares de Aquiles desta selecção desequilibrada). Depois, resta saber como está Mascherano e se o trinco é capaz de aos 34 anos ser tão importante como no passado; Biglia e Banega são jogadores experimentados, mas numa equipa em que tudo tem seguido uma trajectória improvável, acreditamos estar reservado um papel de relevo para Lo Celso e Meza/ Pavón.
    Messi (preparem-se para o ver num nível acima de estratosférico) e Di María são indiscutíveis na frente, com Higuaín e Agüero a discutirem entre si a posição 9. Infelizmente, Dybala não parece vir a ter o papel que merecia nesta equipa.

Destaques Individuais (Previsão):
    Contra todas as probabilidades, basicamente só um pequeno milagre pode fazer esta Argentina ser campeã mundial. Espanha, Alemanha e Brasil são claramente mais favoritas, a França tem uma geração com maior nº de soluções de qualidade e mesmo Portugal tem aquilo que pode faltar a esta Argentina - atitude competitiva, capacidade para sofrer e para saber lidar com o momento sem bola. No entanto, a Argentina conta com o maior dos milagres que o futebol já viu nascer, Lionel Messi.
    Recomposto depois de perder 3 finais consecutivas, o 10 argentino é o jogador dos 736 presentes neste Mundial com maior peso nos ombros. Esperem dele golos, assistências, livres directos, dribles do outro mundo e recitais de bom futebol. Ou sai pela porta pequena, ou pela maior das portas.
    Com muitas dúvidas relativamente ao onze, Ángel Di María parece ser uma das apostas de menor risco. Com os mesmos 30 anos de Messi (embora o capitão argentino faça anos durante a competição), Di María nunca desilude e facilita a vida a todos à sua volta. Num papel de ligação de sectores, Giovani Lo Celso pode ser uma das surpresas desta Argentina, equipa defensivamente dependente de um grande Mundial de Nicolás Otamendi e Javier Mascherano (deve despedir-se da selecção depois deste Mundial). Entre Agüero e Higuaín, não apostamos em nenhum, gostávamos que Sampaoli soubesse utilizar Dybala, embora pareça que mais facilmente este Mundial servirá para a afirmação internacional de Maximiliano Meza ou Cristian Pavón.    


3. ISLÂNDIA  

  • Guarda-Redes: Hannes Halldórsson (Randers), Rúnar Rúnarsson (Nordsjaelland), Frederik Schram (Roskilde)
  • Defesas: Birkir Saeaversson (Valur), Hólmar Örn Eyjolfsson (Levski Sófia), Sverrir Ingi Ingason (Rostov), Ragnar Sigurdsson (Rostov), Kári Árnason (Aberdeen), Hordur Magnússon (Bristol City), Ari Skúlason (Lokeren)
  • Médios: Samúel Fridjónsson (Valerenga), Aron Gunnarsson (Cardiff), Ólafur Skúlason (Karabüskspor), Emil Hallfredsson (Udinese), Gylfi Sigurdsson (Everton), Birkir Bjarnason (Aston Villa)
  • Extremos: Jóhann Gudmundsson (Burnley), Arnór Traustason (Malmö), Albert Gudmundsson (PSV), Rúrik Gíslason (Sandhausen)
  • Avançados: Jón Bodvarsson (Reading), Bjorn B. Sigurdarson (Rostov), Alfred Finnbogason (Augsburgo)
Seleccionador: Heimir Hallgrímsson;
Baixa: Kolbeinn Sigthórsson

Equipa-Base (4-4-2): Halldórsson; Saevarsson, R. Sigurdsson, Árnason, Magnússon; Gudmundsson, Gunnarsson, G. Sigurdsson, Bjarnason; Finnbogason, Bodvarsson
    Em equipa que ganha, não se mexe. A Islândia que veremos na Rússia será em muito idêntica àquela que surpreendeu a Europa ao eliminar a Inglaterra no Euro-2016. No entanto, a estratégia terá que ser diferente ao não contar com Sigthórsson na frente, o homem que por jogo ganhava mais de 10 bolas de cabeça. Equipa solidária e pronta para ir ao choque, acabará por variar entre um 4-4-2 com Bodvarsson perto de Finnbogason, ou um 4-5-1 com Hallfredsson no meio-campo a soltar mais Gylfi Sigurdsson.

Destaques Individuais (Previsão):
    Como sempre, Gylfi Sigurdsson é o jogador em que os islandeses (significativa percentagem do país marcará presença no Mundial, já sabemos) mais confiam. O médio que em 2018-19 será treinado por Marco Silva bate livres e cantos como poucos, e não hesitará na hora de colocar à prova os guarda-redes rivais com remates do meio da rua.
    Acreditando que a força desta Islândia está no seu meio-campo - mas atenção, Ragnar Sigurdsson foi uma agradável surpresa no Euro-2016 - Birkir Bjarnason e Jóhann Gudmundsson acabarão por ter mais responsabilidades e mais bola na construção uma vez que a Islândia não conta com o seu farol Sigthórsson.  


4. NIGÉRIA  

  • Guarda-Redes: Francis Uzoho (Deportivo), Ike Ezenwa (Enyimba), Daniel Akpeyi (Chippa United)
  • Defesas: Tyronne Ebuehi (Benfica), Abdullahi Shehu (Bursaspor), Leon Balogun (Mainz), Chidozie Awaziem (Nantes), Troost-Ekong (Bursaspor), Kenneth Omeruo (Kasimpasa), Brian Idowu (Amkar), Elderson Echiéjilé (Cercle Brugge)
  • Médios: John Ogu (Hapoel Be'er Sheva), Wilfred Ndidi (Leicester City), Ogenyi Onazi (Trabzonspor), Joel Obi (Torino), John Obi Mikel (Tianjin Teda), Peter Etebo (Las Palmas)
  • Extremos: Victor Moses (Chelsea), Alex Iwobi (Arsenal), Ahmed Musa (CSKA)
  • Avançados: Kelechi Iheanacho (Leicester City), Simy Nwankwo (Crotone), Odion Ighalo (Changchun Yatai)
Seleccionador: Gernot Rohr;

Equipa-Base (4-3-3): Uzoho; Shehu, Troost-Ekong, Balogun, Idowu; Ndidi, Obi Mikel, Etebo (Onazi); Moses, Iheanacho, Iwobi
    O facto da Nigéria ter garantido o 1.º lugar na fase de qualificação num grupo com Camarões e Argélia é sintoma suficiente da qualidade deste conjunto. Aquilo que a Nigéria tem em velocidade, juventude e irreverência não tem depois, por consequência, em maturidade, capacidade de gerir momentos e resiliência para saber sofrer.
    John Obi Mikel procurará liderar uma equipa cuja defesa pode custar pontos. No meio-campo, a Mikel e a Ndidi deverá juntar-se Etebo (há alguns meses jogava no Feirense) ou Onazi, faltando perceber também se Gernot Rohr escolhe Ighalo ou Iheanacho para completar um trio temível juntamente com Moses e Iwobi.

Destaques Individuais (Previsão):
    Tendo alguma curiosidade para ver o desempenho do jovem guarda-redes Francis Uzoho (19 anos), o sucessor de Enyeama, estamos convictos que Alex Iwobi pode ser a principal figura desta Nigéria. O esguio extremo do Arsenal costuma crescer sobremaneira ao serviço do país e parece-nos ser o elemento mais fiável do trio de ataque das super águias. À semelhança de Iwobi, também outros dois jogadores que estão longe de ser cabeças-de-cartaz nos seus clubes da Premier League podem brilhar na Rússia: Kelechi Iheanacho e Victor Moses. O jovem avançado do Leicester, tradicionalmente bastante eficaz na Hora H não precisando de muitas oportunidades, é o tipo de jogador que diz presente neste tipo de competições; e Moses jogará de sorriso no rosto, com mais responsabilidades do que aquelas que tem no clube e jogando bem mais adiantado. Embora Ahmed Musa já saiba o que é jogar bem na Rússia, destacamos finalmente John Obi Mikel. O ex-Chelsea, hoje no futebol chinês, é o patrão da equipa e o médio mais completo.



Posters ESPN - MUNDIAL 2018 - Grupo D
por Paul Lacolley

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