24 de maio de 2016

Balanço Final - Liga NOS 15/ 16

 Liga NOS - A temporada de 2015/ 16 não fica para a História como um campeonato no seu todo competitivo, renhido, equilibrado e nivelado por cima. Mas será sempre recordado por uma luta a dois incrível, suada e escaldante (em campo e, infelizmente, fora dele). O Sporting reergueu-se e foi o clube mais dominador, mas não o mais eficaz, com uma ideia de jogo sólida e muito trabalho de casa do mister Jorge Jesus. Mas como já acontecera no rival, Jesus, agora de verde e branco, deixou escapar uma vantagem significativa, vendo o seu bom futebol ultrapassado por uma equipa que primou pela humildade, pela alma e pela estabilidade emocional. O Benfica, tricampeão - o que não acontecia desde 1976/ 77 - por vezes não conseguiu apresentar um futebol deslumbrante, sobretudo fora da Luz, mas soube reagir a um início de época trágico. Alicerçados na raça, no crer e na ambição os encarnados escalaram uma montanha sem olhar para trás e sem se preocuparem com a distância a que estavam dos rivais. O resultado foi um recorde de pontos (88) e um tricampeonato impróprio para cardíacos. Com Lisboa em chamas, a grande desilusão acabou por ser o Porto (desde 2013 nada ganha), incapaz de aproveitar o clima hostil entre águias e leões. Quer com Lopetegui, quer com Peseiro, o Porto esteve quase sempre irreconhecível, com os jogadores pouco motivados e muito inseguros. Ainda assim, a marca de 73 pts conseguida por um Porto tão frágil traduz bem o nível qualitativo do campeonato. Num ano em que a histórica Académica e o recém-promovido União da Madeira descem, o Braga (vencedor da Taça de Portugal 50 anos depois) espalhou bom futebol por Portugal e pela Europa, e o Arouca de Lito Vidigal foi a equipa que mais superou as nossas expectativas.
    Com algumas surpresas, mas infelizmente na maioria desilusões, apresentamos o nosso Balanço da Liga NOS 2015/16:


 BENFICA (1)

   Na nossa Antevisão até fomos simpáticos ao apontar o Benfica ao 2.º lugar na época que agora findou. Afinal, no começo de época dos encarnados via-se uma equipa ferida, apática e com os sectores completamente desligados entre si. Luís Filipe Vieira confiou no seu feeling Rui Vitória, e teve o mérito de segurar o treinador quando tudo estava contra o técnico natural de Vila Franca de Xira. No entanto, os louros da boa época, que a comunicação social parece querer dar ao presidente, devem ser dados ao líder que foi Rui Vitória e aos seus jogadores. As "estruturas" não ganham campeonatos, quem os ganha são os jogadores e as equipas técnicas que, unidos, conseguiram superar as diversas adversidades - uma pré-época assassina, com apenas 5 jogos do outro lado do Atlântico e temperaturas absurdas para o físico dos jogadores; fraco investimento no plantel, remendado perto do fim do mercado com a chegada dos avançados Mitroglou e Jiménez. A juntar a tudo isto, Salvio lesionado, e ao longo da época problemas físicos intermitentes de Nico Gaitán e Fejsa, e as lesões de Luisão e Júlio César, figuras de primeira linha.
    Impossível não recordar a derrota na Supertaça, um forte revés seguido pelas derrotas na Liga com os rivais directos (1-0 no Dragão, e o traumático 3-0 com o Sporting, na Luz). Ainda assim, Rui Vitória conseguiu unir a equipa e teve a capacidade de colmatar algumas lesões com jogadores jovens que viriam a ser fundamentais como Renato Sanches e Lindelöf. O clube da Luz chegou a apresentar-se no campeonato com 4 vitórias, 1 empate e 3 derrotas. Daí então, o Benfica apenas somou mais uma derrota - contra o Porto, na Luz. A recuperação anímica foi incrível e o 12º jogador foi fundamental, com os adeptos a carregarem a equipa às costas, puxando pelos craques. Jonas (32 golos) e Mitroglou (20 golos) foram os goleadores de serviço, Raúl a arma secreta e decisiva, e Renato Sanches a cara da revolução, a alma e a peça do puzzle que faltava ao modelo de jogo. No início do campeonato foi o mágico Nico Gaitán a fazer a diferença com a sua capacidade de desequilibrar, e na recta final foi Fejsa (um autêntico tractor a cobrir todo o campo e a asfixiar os adversários) a equilibrar a equipa jogo após jogo. Na defesa, Jardel e Lindelöf tornaram-se uma barreira intransponível, e os laterais André Almeida e Eliseu foram imagem da competência na segunda metade da época. Por fim, Ederson... o ex-Rio Ave acabou por ser uma revelação de todo o tamanho (quase fazendo lembrar Jan Oblak), sempre destemido nas saídas e sendo claramente um guarda-redes que valeu pontos e consequentemente, mais um elemento fulcral na conquista do título.
    Com todos os factores negativos iniciais, era mais do que normal que o Benfica acabasse no terceiro lugar. Porém, isso não aconteceu neste ano tão atípico. O Benfica acabou o campeonato com um recorde de 88 pontos, recuperou 7 ao rival Sporting e passou para a frente do campeonato exactamente em casa do rival. Há vários momentos chave que podem ser dados como o ponto de viragem. Desde o emblemático minuto 70 onde - a perder por 3-0 em casa com o rival Sporting e a serem enxovalhados pela claque visitante - os adeptos benfiquistas gritaram a plenos pulmões todo o amor que sentiam pelo clube e transmitiram à equipa que, acontecesse o que acontecesse, eles estariam com a equipa até ao fim. E assim foi até ao fim, com a onda vermelha a percorrer o país de Norte a Sul, chegando às ilhas. Aquele que pode ser considerado "o jogo do título" (0-1 em Alvalade, golo de Mitroglou) foi outro momento marcante e factualmente o mais importante - foi lá que o 1.º lugar foi tomado, tendo os pupilos de Rui Vitória não arredado mais o pé (águias e leões ganharam todos os jogos até ao fim depois dessa jornada 25).
    Este não foi o Benfica, pese o número de pontos e golos, que melhor futebol apresentou; mas foi o Benfica que mais alma mostrou ao longo de muitos anos. Uma ideia que é não só a nossa opinião, como a de muitos benfiquistas com mais anos de futebol do que nós de vida.

Destaques: Jonas, Renato Sanches, Kostas Mitroglou, Ljubomir Fejsa, Nico Gaitán

 SPORTING (2)

    O Sporting voltou. Jorge Jesus chegou a Alvalade e logo no 1.º ano de trabalho conseguiu colocar o Sporting na luta pelo título até à última jornada, com um total de 86 pontos. Num campeonato nivelado por baixo em termos de qualidade global, mas com uma luta a dois extraordinária e emocionante, acabou por ser o rival Benfica (clube no qual JJ trabalhara durante 6 temporadas) a sorrir no fim, depois dos encarnados revelarem mais "estofo" mental, aproveitando para queimar uma vantagem que os leões perderam de forma proibida. Uma mentira dita muitas vezes não se torna por isso uma verdade, pelo que se por um lado é indiscutível a supremacia do Sporting nos jogos grandes, a décalage do futebol apresentado entre Sporting e Benfica foi pouco significativa: as vitórias pela margem mínima do Benfica na recta final valem tanto como as vitórias pela margem dos leões a meio da temporada, e o mesmo se pode dizer aos diferentes períodos em que águias e leões golearam. Mas é habitual o adepto-comum dar maior peso às imagens mentais mais recentes.
    É indiscutível o equilíbrio entre Sporting e Benfica, e assim como é justa a vitória do tricampeão, também seria justo o Sporting ver coroado o seu trajecto com o troféu de campeão. Mas só podia ganhar um. O que mais impressiona neste Sporting 2015/ 16 é o crescimento brutal, num curto espaço de tempo, consequência do trabalho e competitividade incutidos por Jorge Jesus (vê-se muito Jesus neste Sporting, com processos instaurados e rotinas criadas). Mesmo sem Carrillo, Jesus fez evoluir elementos como João Mário (o MVP dos jogos grandes), Adrien ou Slimani (ambos símbolos da crença e atitude sportinguista), estes 3 os melhores deste Sporting, e terminou com a melhor defesa (21 golos sofridos) e o 2.º melhor ataque (79 golos, menos 9 que o 1.º classificado). Curioso acompanhar o percurso da defesa leonina, que parecia ter estabilizado em João Pereira - Paulo Oliveira - Naldo - Jefferson, mas que acabou por terminar numa versão 100% renovada, com Schelotto - Coates - Rúben Semedo - Zeegelaar/ Bruno César, muito mais de acordo com a filosofia de jogo de Jesus, com maior qualidade na saída de bola e muito melhor projecção dos laterais nos corredores.
    Na perspectiva leonina, este poderia ser recordado como o campeonato em que Bryan Ruiz (jogador incrível, não obstante) não foi capaz de finalizar contra o Benfica e em Guimarães, tendo os leões perdido apenas 1 dos clássicos, precisamente aquele que era proibido perder (depois desse jogo, tanto águias como leões só ganharam, portanto o Sporting 0-1 Benfica acabou por ser a última vez que um dos dois rivais perdeu pontos). Esta época deve ser, no entanto, encarada como uma renovação da identidade e uma (re)afirmação da posição do Sporting no contexto do futebol nacional, dando sequência ao bom trabalho de Jesus e dos jogadores (exemplares a todos os níveis) dentro do campo, e aprendendo a estar fora dele (o comportamento e as afirmações de Bruno de Carvalho e Jorge Jesus ao longo da época só serviram para "alimentar" e unir o rival, criando um clima de hostilidade que acabou por se virar contra o feiticeiro).
    
Destaques: João Mário, Adrien Silva, Islam Slimani, Rui Patrício, Bryan Ruiz

 PORTO (3)

    A desilusão da época. Entregámos aos anteriores vice-campeões o 1.º lugar na nossa antevisão, em Agosto passado, face ao novo investimento no plantel (em teoria, parecia ser o melhor do campeonato) com Casillas, Maxi Pereira, Layún, Danilo, André André e Imbula a reforçarem uma equipa que parecia poder beneficiar do fogo cruzado em Lisboa, e na qual mesmo tendo perdido Jackson Martínez e Óliver, o camaronês Aboubakar parecia dar sinais de ser um digno sucessor do colombiano. O mau planeamento da época portista vê-se por exemplo no mercado de Inverno quando Marega e Suk foram contratados, ignorando o talento de André Silva, cujo brilho na equipa B mostrava que ou merecia ser aposta ou tinha que ser emprestado.

    Tudo começou com Lopetegui, mantendo a equipa um constante fraco desempenho, desiludindo quer pelo colectivo (Lopetegui nunca abdicou da sua filosofia de posse extrema, com transições rápidas a serem quase um oásis no Dragão) quer individualmente (Brahimi foi uma enorme desilusão, bem como Imbula, vendido em Janeiro ao Stoke). Ainda assim, com o espanhol no comando o clube da Invicta chegou mesmo ao primeiro lugar. Algo que não durou muito, à imagem da continuidade de Lopetegui, que foi coçando a cabeça jogo após jogo até ser demitido. José Peseiro foi o escolhido por Jorge Nuno Pinto da Costa e o futebol até parecia ver melhorias. Mera ilusão, já que o centro da defesa foi sempre um verdadeiro tendão de Aquiles. Ainda assim, mesmo perdendo pontos de forma surpreendente em vários jogos, os azuis e brancos chegaram ao Estádio da Luz e roubaram 3 pontos ao eterno rival conseguindo um balão de oxigénio para o que restava da época, e parecendo tornar o campeonato uma luta a 3. Novamente uma ilusão já que a equipa de Peseiro voltaria a perder o comboio, primeiro ao levar um festival de futebol em Braga, culminando no jogo que "acordou" o Tondela e que levou ao desabafo do presidente - "Batemos no fundo".
    Os laterais Maxi e Layún foram dos melhores do plantel, com Danilo Pereira a evitar males maiores à frente de uma defesa invulgarmente vulnerável. André André (o destaque maior deste Porto no início de época) foi traído pelas lesões, e o mexicano Héctor Herrera, quase sozinho, não conseguiu dar conta do recado. O final da época serviu de raio-x/ pré-época para 2016/ 17, com o miúdo André Silva a mostrar o seu talento, numa temporada marcada pela falta de liderança e estabilidade no Dragão.
    Pinto da Costa ganhou de novo as eleições e promete que para o ano vai investir bastante no plantel com vista a relançar o Porto para os palcos a que está acostumado. Está à vista que, mais do que contratar individualidades, importa sim escolher o homem certo para o cargo de treinador. Muitos são os nomes falados, com Paulo Sousa a parecer ser o alvo mais apetecido. Uma coisa é certa: José Peseiro não é. Como deu para ver na final da Taça de Portugal no frente-a-frente entre Peseiro e Pinto da Costa.

Destaques: Miguel Layún, Danilo Pereira, Maxi Pereira, André André, Héctor Herrera

 BRAGA (4)

    Finalmente a jogar à grande. O Braga de Paulo Fonseca (parece estar de malas feitas para o Shakhtar) foi uma das equipas que melhor futebol praticou nesta época, sem nunca arredar pé de nenhuma competição em que estava inserido. Os números reforçam-no: a equipa minhota foi a equipa portuguesa com mais jogos oficiais disputados esta temporada (57), acima de qualquer um dos 3 grandes (Benfica e Porto somaram ambos 52, e o Sporting 51).
    Conjugado com a noção de "jogar à grande", no fundo representando o clube da melhor forma, Paulo Fonseca teve ainda o condão de gerir o plantel com mestria - confiou em todos os elementos e aplicou uma rotação inteligente, conseguindo ter um 11 sempre motivado, fresco e intenso. Claro está que tudo isto só foi possível graças à esquematização pensada do plantel, com 2 opções válidas e equilibradas por posição, permitindo descansar jogadores sem perder qualidade.
    Embora tenha tido alguns precalços pelo meio, ficou sempre a ideia que este Braga tinha valor suficiente para roubar o 3.º lugar ao Porto (porventura, com foco exclusivo, algo que não patrocinamos, na Liga NOS a distância seria menor do que 15 pts). Rafa foi a estrela da equipa, e é muito improvável que continue no Minho, com Benfica e Porto a perfilarem-se como os destinos mais prováveis para o jovem internacional português. Luiz Carlos deu segurança ao meio-campo, estando Mauro ou Vukcević ao seu lado; Ricardo Ferreira e Boly foram exímios no centro da defesa (bastante melhores do que o 3.º central mais utilizado, André Pinto), a baliza esteve sempre bem entregue, primeiro a Kriticuk e depois a Marafona (Matheus foi o guardião na Europa e quase sempre nas taças) e Pedro Santos, sempre que chamado, agitou com o jogo. A rotatividade (inteligente, e não gratuita) de Paulo Fonseca fica demonstrada pelos avançados, que foram todos eles um destaque só - Fonseca soube utilizar Hassan, Stojiljković, Rui Fonte, e até mesmo Wilson Eduardo, de forma sábia e os golos foram-se distribuindo pelos 4.

Destaques: Rafa, Luiz Carlos, Pedro Santos, Ricardo Ferreira, Willy Boly

 AROUCA (5)

    A verdadeira equipa-sensação do futebol português em 2015/ 16. Depois dos brilhantes trabalhos no Belenenses e agora no Arouca, já poucos terão dúvidas da qualidade de Lito Vidigal, o "engraçadinho" da turma dos treinadores. Lito teve o condão de tornar o Arouca uma equipa incrivelmente coesa, em que a força do colectivo se sobrepôs sempre a qualquer individualidade (poucos foram os destaques ofensivos).
    O Arouca fez da sua defesa a sua principal arma, com Bracali sensacional, bem como Hugo Basto (conseguirá o Arouca segurar um central assim?) e Lucas Lima (o mestre das bolas paradas). Nuno Coelho e Nuno Valente, durante toda a época com a faca nos dentes e a corda toda, representam bem a filosofia que Lito imprimiu na equipa, de longe aquela que conseguiu terminar mais acima relativamente àquilo que projectávamos. É verdade que o futebol do Arouca foi muitas vezes pouco cativante, mas a equipa respeitou sempre o plano para cada jogo e a estratégia de Lito - juntou a isso vitórias diante de Benfica (1-0) e Porto (2-1, no Dragão). Analisando estatisticamente e de forma crua o 5.º lugar fica justificado, os arouquenses foram o 5.º melhor ataque do campeonato, e a 5.ª melhor defesa.

Destaques: Lucas Lima, Hugo Basto, Rafael Bracali, Nuno Coelho, Nuno Valente

 RIO AVE (6)

    Uma época de altos e baixos, mas que não deixou de estar ao nível recente e condizente com o crescimento sustentado da equipa de Vila do Conde (o Rio Ave repetiu o 6.º lugar de 2012/ 13, e voltou à Liga Europa, onde estivera na época passada, conseguindo desta vez a qualfiicação por intermédio do campeonato). Pedro Martins voltou a fazer um trabalho exemplar e preferiu jogar sempre de forma incisiva no ataque, como poucas equipas ousam fazer no nosso campeonato.
    Contudo, foi na defesa que esteve a maior virtude deste Rio Ave, equipa que marcou tantos golos como sofreu (44), apresentando uma diferença de golos nula. Marcelo voltou ao nível de outrora, e os laterais Edimar e Lionn estiveram num nível elevado ao longo da época. O pouco-falado mas altamente determinante Wakaso foi o pêndulo complementar, actuando na posição mais recuada dum meio-campo no qual Tarantini voltou a mostrar ser um líder nato. Cássio continuou a exibições que tanto nos tem habituado, Renan Bressan brilhou em alguns jogos caseiros e os golos ficaram maioritariamente a cargo de Guedes e, numa fase posterior, Hélder Postiga.
    Os vilacondenses fizeram o chamado "campeonato certinho", e mesmo que o objectivo definido internamente até fosse o 5.º lugar, a sexta posição será certamente satisfatória, carimbando o acesso à Europa ao contrário de Paços, Estoril, Belenenses e Vitória de Guimarães.

Destaques: Marcelo, Wakaso, Tarantini, Cássio, Edimar

 PAÇOS FERREIRA (7)

    Depois do 8.º lugar sob a liderança de Paulo Fonseca em 2014/ 15, o Paços de Jorge Simão acabou um lugar acima da época passada. A equipa da Capital do Móvel ficou a 1 ponto do apuramento para a Liga Europa, com um plantel jovem, formado sobretudo por jogadores portugueses, e com Diogo Jota (19 anos) como grande figura. O extremo esquerdo/ segundo avançado, a cumprir o primeiro ano completo como profissional, marcou 12 golos e carregou completamente a equipa às costas (curioso o Paços revelar-se incapaz de garantir a Liga Europa quando já não contou com Jota, lesionado), acabando vendido ao Atlético Madrid, num negociado intermediado por Jorge Mendes.
    Diogo Jota, Hélder Lopes (sempre em alta rotação e um alvo interessante em final de contrato), Pelé e o goleador Bruno Moreira acabaram por ser os jogadores mais constantes, com Jorge Simão a promover várias trocas: Defendi ganhou a baliza com a venda de Marafona, a dupla de centrais "rodou" entre o trio Fábio Cardoso, Ricardo e Marco Baixinho, João Góis e Bruno Santos realizaram cada qual meia época na lateral-direita, e assim sucessivamente.

Destaques: Diogo Jota, Bruno Moreira, Hélder Lopes, Fábio Cardoso, Pelé

 ESTORIL (8)

    Se o Vit. Setúbal foi uma das equipas-sensação da primeira volta, os canarinhos foram o espelho e quase o inverso dos sadinos, com uma segunda volta respeitável. Os pupilos de Fabiano Soares (renovou até 2020, recebendo um voto de confiança na procura de estabilidade) começaram por fazer um campeonato pouco interessante, a meio-gás, embora nunca tendo a vida na Liga NOS em risco. Certo é que, inspirados pelo matador Léo Bonatini e pelo criativo Mattheus, os estorilistas cresceram muito como equipa, revelando maior entrosamento e bom futebol em vários jogos.
     Bonatini (impossível permanecer na Linha em 2016/ 17) foi o 4.º melhor marcador do campeonato, bem apoiado também pelo imprevisível Gerso, e por Anderson Luís, lateral que deu muita profundidade e fez parte de uma defesa na qual Diego Carlos esteve igualmente em bom plano.

Destaques: Léo Bonatini, Mattheus, Anderson Luís, Gerso, Diego Carlos

 BELENENSES (9)

    Puxando a cassete atrás, torna-se cada vez mais evidente o erro que foi despedir Lito Vidigal no decorrer de 2014/ 15. Como se não bastasse, o conflito interno que houve no clube foi outra contrariedade - a desestabilização na estrutura do clube acabou por se reflectir em campo já que, tendo em conta os jogadores de qualidade que Sá Pinto e Velázquez tiveram ao seu dispor, o Belenenses poderia muito bem ter terminado mais acima na tabela.
    A equipa do Restelo foi a pior defesa do campeonato (66 golos sofridos), com a 3.ª pior diferença de golos da prova (pior só mesmo os relegados Académica e União). Para isso muito contribuíram as goleadas impostas por Benfica (6-0 fora, 5-0 em casa), Sporting (5-2 no Restelo) e fora com Porto e Braga, ambas por 4-0.  
    O melhor momento da equipa terá sido inclusive na Europa, primeiro na garantia do acesso à fase de grupos e depois na vitória conseguida em Basileia. Numa época transversalmente marcada pela irregularidade, Carlos Martins e Sturgeon acabaram por ser quem mais procurou minimizar as más prestações. A chegada de Julio Velázquez ao comando técnico do clube, endireitando o trabalho até então pobre de Ricardo Sá Pinto, trouxe uma ideia de jogo mais ambiciosa (por vezes demasiado inocente, como ficou claro quando Sporting e Benfica visitaram o Restelo). O "dedo" de Velázquez fica representado também pela boa abordagem no defeso de Janeiro - a meio do campeonato o Belenenses estava em 12.º embora a apenas 2 pontos do 16.º lugar - com as contratações de Juanto e Bakic a contribuírem para a melhoria do futebol apresentado. Miguel Rosa, apesar de não ter sido o jogador decisivo doutras temporadas, não deixou de ser um dos destaques de uma equipa na qual esperávamos muito mais de Kuca ou Dálcio, que só duraram meia época no clube.
    Para o ano é imperial continuar o trabalho deste fim de época e melhorá-lo de forma a colocar o clube lisboeta mais acima na tabela.

Destaques: Carlos Martins, Sturgeon, Miguel Rosa, Juanto

 VIT. GUIMARÃES (10)
    
    Não fosse o Porto e o Vitória de Guimarães seria forçosamente a desilusão da época, atendendo às expectativas criadas mediante a qualidade do plantel. A época iniciou-se com Armando Evangelista, em relação ao qual as nossas dúvidas se revelaram pertinentes, mas mesmo Sérgio Conceição (poucos meses depois de treinar o rival Braga) foi uma escolha algo infeliz do presidente do clube. Apesar de sério, Conceição não conseguiu mais do que apelar ao coração e à raça da equipa em jogos grandes, acrescentando pouco ao futebol apresentado em campo, quase sempre muitíssimo dependente do génio do pequeno e criativo Otávio.
    Cafú cresceu sobremaneira, revelando-se o jogador mais regular e influente da equipa a seguir a Otávio, destacando-se ainda Miguel Silva, um jovem guarda-redes com várias lacunas mas que se agigantou nos jogos grandes. Henrique Dourado marcou alguns golos, mas o ataque deixou muito a desejar, tendo em conta os ingredientes à disposição de Sérgio Conceição - nomes como Hurtado, Victor Andrade, Tozé, Ricardo Valente, João Teixeira e Alex.
    A equipa somou vários erros infantis, e Conceição virou-se quase sempre para as arbitragens com a impetuosidade que o caracteriza, incapaz de reconhecer que a equipa ficou muito áquem do exigível. Acabou num lugar justo para o que apresentou a nível futebolístico ao longo da época.

Destaques: Otávio, Cafú, Miguel Silva, Henrique Dourado

 NACIONAL (11)

    Havia matéria-prima para Manuel Machado fazer melhor. Depois do 7.º lugar em 14/ 15, o Nacional perdeu Marco Matias, Lucas João, Tiago Rodrigues, Marçal e Christian, juntando-se a estes a saída de Zainadine a meio da época, e não foi capaz de os substituir devidamente.
    Com um futebol pouco entusiasmante (diferença de golos de -16), o rapidíssimo Salvador Agra foi o melhor dos alvinegros, com igual número de golos e assistências (9). O portentoso avançado Soares ficou abaixo do expectável, mas deixou ainda assim boas indicações para ter uma palavra a dizer no nosso campeonato, enquanto que ao contrário dos últimos anos, o "melhor Aurélio" foi o mais adiantado, Luís.
    Pode-se considerar uma época em que foram cumpridos os serviços mínimos, valorizando-se na região provavelmente o facto do Nacional ter sido a melhor equipa da Madeira, num ano bastante fraco - quer no nível apresentado pelas equipas insulares, quer no futebol produzido pela esmagadora maioria das equipas, à excepção de 7 ou 8.

Destaques: Salvador Agra, Soares, Rui Correia, Luis Aurélio

 MOREIRENSE (12)

    Em Moreira de Cónegos, o campeonato foi q.b. (se por um lado a equipa de Miguel Leal melhorou ofensivamente, também piorou o registo defensivo). O Moreirense manteve-se no primeiro escalão, apresentando alguma irregularidade ao longo dos vários meses de competição, mas sempre com 2 jogadores acima do restante elenco - Iuri Medeiros e Rafael Martins. O segundo, ponta de lança emprestado pelo Levante, marcou 16 golos (melhor marca do que atingira ao serviço do Vit. Setúbal, antes de rumar ao país vizinho) e foi uma constante dor de cabeça para os defesas adversários, não mais do que Iuri, o verdadeiro craque da equipa. O talentoso extremo direito, emprestado pelo Sporting, marcou 8 golos e fez 10 assistências, mostrando estar preparado para outro patamar depois de utilizar de forma positiva as experiências em Arouca e Moreira de Cónegos.
    Veremos o que 2016/ 17 traz ao Moreirense, que provavelmente ambicionará mais do que um 11º ou 12º lugar, com Pepa como sucessor de Miguel Leal.

Destaques: Iuri Medeiros, Rafael Martins, Vítor Gomes, João Palhinha, Igor Stefanović

 MARÍTIMO (13)

    Tal como o Nacional, o Marítimo esteve bastante aquém do futebol que habituou aos seus adeptos (nas temporadas de 2007/ 08, 2009/ 10 e 2011/ 12 o clube ficou em 5.º lugar). Com a 2.ª pior defesa do campeonato, foi no ataque que os insulares afastaram males maiores. Com Dyego Sousa, Fransérgio e Edgar Costa (autor do golo do ano na Liga) a serem os grandes destaques, o clube madeirense acabou por ser, a seguir aos 3 primeiros classificados, a equipa que menos jogos empatou. Uma curiosidade.
    João Diogo foi o único jogador da defesa merecedor de destaque, também por ter actuado a extremo durante parte da época, e o francês Salin, embora tenha sofrido imensos golos, não deve ser crucificado já que teve sempre à sua frente uma defesa demasiado permeável. Contrariamente a outras épocas que fizeram bem em mudar de ares - Belenenses, Boavista e Tondela ficaram a ganhar com a mudança de treinador - ainda não conseguimos compreender o porquê de trocar Ivo Vieira por Nelo Vingada, que já se sabe que não continuará na Madeira.

Destaques: Dyego Sousa, Fransérgio, Edgar Costa, João Diogo

 BOAVISTA (14)

    Podemos afirmar ter visto duas versões do Boavista em 2015/ 16, quase antagónicas. No Bessa, a temporada começou com Petit no comando técnico, mas a vida do homem que operou um milagre na época anterior (e que viria a repetir a dose nesta, mas ao serviço do Tondela) durou apenas até à jornada 11, quando o Boavista somava apenas 9 pontos, com um futebol ultra-defensivo, preso e sem chama. O substituto encontrado foi o bem conhecido Erwin Sánchez, que trouxe novas ideias e uma abordagem totalmente diferente - Rúben Ribeiro (contratado no mercado de Janeiro) e Renato Santos "baptizaram" uma versão bem diferente dos axedrezados, apoiados ainda pelo bom futebol de Zé Manuel, e pela solidez defensiva do triângulo Mika, Paulo Vinícius e Henrique.
    A troca de Petit por Sánchez acabou por funcionar bem para as duas partes - o Tondela que o diga - e com o boliviano como treinador temos alguma curiosidade de acompanhar o mercado de transferências veranil do Boavista

Destaques: Paulo Vinícius, Zé Manuel, Rúben Ribeiro, Renato Santos, Henrique

 VIT. SETÚBAL (15)

    Ver um jogo do Vitória de Setúbal neste campeonato, na primeira volta e outro na segunda, seria como ver o dia e a noite. Quase. Os sadinos terminaram apenas com 1 ponto a mais do que o União da Madeira, e em igualdade pontual com o Tondela, o que embora bata certo com as expectativas criadas no começo da época, era difícil de adivinhar (à passagem da jornada 15, o Vit. Setúbal era 5.º classificado e a equipa-sensação da Liga). Quim Machado pode-se queixar sobretudo de ter perdido Rúben Semedo e Suk a meio da aventura, o central/ médio defensivo por ter regressado à casa-mãe (Sporting) e o sul-coreano por ter despertado o interesse do Porto. A partir das saídas destes 2 pilares, a equipa nunca mais foi a mesma.
    Nas últimas 15 jornadas, zero vitórias (sim, na segunda volta verificou-se apenas uma vitória, em casa diante da Académica, por 2-1). André Claro acabou por ser o jogador mais consistente dos sadinos, numa temporada que fica marcada pelo futebol (e pelos belos golos) de Suk enquanto esteve no clube. André Horta foi uma revelação, e Arnold (famoso pelo seu falhanço na Luz) um jogador intermitente que só apareceu a espaços, embora fundamental em vários jogos. 

Destaques: André Claro, Suk, André Horta, Arnold

 TONDELA (16)

    Terminada a temporada, Petit e a sua equipa técnica partiram a pé rumo a Fátima. Por aqui se percebe a dimensão do milagre que o antigo trinco operou na 2.ª volta do campeonato. O Tondela arrancou a época com Vítor Paneira (cujo despedimento nos pareceu precipitado), substitui-o erroneamente por Rui Bento, e na transição da jornada 12 para a 13, em último com apenas 5 pontos, Petit foi contratado. O ex-Boavista conseguiu fazer o Tondela acreditar que a manutenção era possível, conquistando 22 pontos na segunda volta (depois de um total de 8 na primeira metade), e alcançando um registo surreal de 5 vitórias nas últimas 7 jornadas, fundamentais para salvar o Tondela, que abandonou a zona de despromoção apenas na última jornada. Nas sete jornadas finais, destaque para a vitória na Mata Real (4-1) e principalmente no Dragão (1-0), que marcou o início de um novo ciclo, marcado ainda pelas vitórias diante dos adversários directos União e Académica.
    Nathan Júnior, o goleador da equipa com 13 golos, manteve o Tondela vivo, contando com a fiabilidade táctica e física de Lucas Souza e Luís Alberto, senhores dos grandes momentos. É impossível não falar do central Pica, que embora tenha contabilizado pouco mais de 800 minutos, fica associado ao milagre da manutenção com 3 golos marcados na recta final.

Destaques: Nathan Júnior, Lucas Souza, Luís Alberto, Pica

 UNIÃO DA MADEIRA (17)

    Apontado na nossa Antevisão como o elo mais fraco da Liga, o União da Madeira teve a manutenção na mão, mas acabou por deitar tudo a perder, servindo de exemplo negativo para equipas que no futuro estejam a lutar pela manutenção. Enquanto que o Tondela lutava com todas as suas forças contra cada adversário, o União pagou caro o facto de poupar jogadores em jogos nos quais seria difícil (em teoria) pontuar. Sabendo qual seria o destino, Norton de Matos desejaria certamente poder voltar atrás no tempo. Nas últimas 6 jornadas, o União perdeu cinco; tendo apenas uma vitória nas últimas 15 jornadas do campeonato.
    A descida acabou assim por ser justa, punindo uma equipa na qual Amilton, uma flecha apontada às balizas adversárias, brilhou constantemente, acompanhado pela classe de Danilo Dias e de alguns elementos defensivos.

Destaques: Amilton, Danilo Dias, Paulo Monteiro, Paulinho

 ACADÉMICA (18)

    O franco investimento por parte dos estudantes - mais ano, menos ano - traria um desfecho trágico para o clube da cidade de Coimbra. A verdade é que foi desta que a Académica acabou por descer, tendo estado, tal como o União, com a manutenção relativamente perto. Viterbo, o bigode que fez a Briosa sobreviver em 2014/ 15, arrancou a época mas nos 5 primeiros jogos somou 5 derrotas, sendo por isso substituído por Filipe Gouveia que, embora com uma postura e um discurso de valor, não conseguiu fazer o suficiente para segurar uma equipa à qual falta há vários anos ter jogadores de qualidade.
    O desfecho acabou por ser mais do que previsível, um pouco à semelhança do Aston Villa em Inglaterra. E até acaba por ser benéfico, já que o clube precisa inevitavelmente de se reinventar para poder voltar em força ao primeiro escalão.

Destaques: Leandro Silva, Hugo Seco, Pedro Nuno

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