13 de junho de 2024

Euro 2024: Previsão Grupo E

Em contagem decrescente para o Euro 2024, aproximamo-nos do fim da sequência de 6 artigos de análise detalhada a cada um dos grupos da competição. Neles, pretendemos realizar uma sumária retrospetiva do apuramento de cada seleção, identificando forças e fraquezas, esquematizando como deve jogar cada equipa, até que fase imaginamos que chegue e que jogadores devem ser tidos em conta.

    Será unânime considerar o Grupo E o mais fraco deste Euro 2024. À Bélgica (#3 no Ranking FIFA) juntam-se Ucrânia (21), Roménia (46) e Eslováquia (48), uma perspetiva que reforça o caráter ultra-favorito dos Diabos Vermelhos.
    Esta já não é, como bem sabemos, a Bélgica de Roberto Martínez. Domenico Tedesco, alemão de 37 anos, aceitou o desafio de coordenar uma fase de transição: já não há Hazard, já não há Alderweireld, já não há Mertens e já não há... Courtois, por opção. O beef entre o guarda-redes do Real Madrid e o selecionador esteve na origem de uma das decisões mais polémicas e corajosas deste Euro: uma Bélgica menos possante do que noutros tempos deu-se ao luxo de abdicar de um dos seus melhores jogadores, o melhor guarda-redes do mundo. O motivo: uma birra de Courtois quando Tedesco nomeou Lukaku como capitão na ausência de Kevin De Bruyne.
    Ignorando o dossier Courtois, a Bélgica tem-se apresentado forte no pós-Mundial do Qatar. Romelu Lukaku foi o melhor marcador da qualificação, com 14 golos em 8 jogos, e o registo invicto num grupo com Áustria e Suécia é de elogiar.

    Com o país em guerra, a Ucrânia volta a ter na Alemanha uma oportunidade de deixar uma mensagem política e vincar o orgulho ucraniano com o melhor futebol possível nas quatro linhas. Acreditamos nesta Ucrânia, que chega ao Euro depois de bater no Play-Off Bósnia e Islândia, isto depois de terminar com os mesmos pontos que a Itália num grupo ganho pela Inglaterra. Atenção ainda ao registo recente da Ucrânia contra grandes seleções: em 2023 e 2024, empatou com a Inglaterra, empatou com a Itália e empatou duas vezes com a Alemanha. 
    A Eslováquia ficou em segundo no grupo de Portugal, tendo conhecido o sabor da derrota apenas diante da nossa seleção. Um interessante 3-2 no Estádio do Dragão foi uma demonstração de como esta Eslováquia não é uma equipa fraca, orientada pelo treinador em part-time do Nápoles, prometendo emoções fortes o Eslováquia-Ucrânia da segunda jornada deste Grupo E.
    Em relação à Roménia, há que ter em conta o registo invicto e a liderança num grupo que tinha a Suíça. Mas isso pode dizer-nos mais da Suíça do que da Roménia. Edward Iordanescu tem ao seu serviço o conjunto menos forte dos 4 presentes neste grupo.

    Mesmo sem Courtois e com uma defesa em processo de renovação, a Bélgica merece ser vista como candidata nº 1 à vitória deste Grupo E. No entanto, vemos perfeitamente a Ucrânia ou a Eslováquia a roubarem pontos a De Bruyne e companhia, o que pode significar que este será um grupo com um primeiro classificado com pontuação mais baixa e quiçá com luta renhida a dois na frente.

    Fiquem então com a análise mais aprofundada do Grupo E:

1. UCRÂNIA  
(Previsão: Quartos-de-final, eliminada pelos França)

  • Guarda-Redes: Andriy Lunin (Real Madrid), Anatoliy Trubin (Benfica), Georgiy Bushchan (Dínamo Kiev)
  • Defesas: Oleksandr Tymchyk (Dínamo Kiev), Yukhym Konopolia (Shakhtar), Illia Zabarnyi (Bournemouth), Maksym Talovierov (LASK Linz), Oleksandr Svatok (Dnipro-1), Valeriy Bondar (Shakhtar), Mykola Matviyenko (Shakhtar), Bogdan Mykhaylychenko (Polissya), Vitaliy Mykolenko (Everton)
  • Médios: Oleksandr Zinchenko (Arsenal), Serhiy Sydorchuk (Westerlo), Taras Stepanenko (Shakhtar), Volodymyr Brazhko (Dínamo Kiev), Mykola Shaparenko (Dínamo Kiev), Ruslan Malinovskyi (Génova), Georgiy Sudakov (Shakhtar)
  • Extremos/ Avançados: Viktor Tsygankov (Girona), Mykhailo Mudryk (Chelsea), Oleksandr Zubkov (Shakhtar), Andriy Yarmolenko (Dínamo Kiev), Vladyslav Vanat (Dínamo Kiev), Artem Dovbyk (Girona), Roman Yaremchuk (Valência)
Seleccionador: Sergiy Rebrov.

Forças: Motivação extra por querer enviar, em campo, toda a força possível para a linha da frente; Ótima dor de cabeça entre os postes (muitas seleções não têm sequer 1 guarda-redes do nível de Lunin e Trubin); Boa mescla de jogadores em forma (dupla do Girona, Dovbyk e Tsygankov) com jogadores em busca de redenção (Mudryk) e outros à procura de serem revelação (Sudakov);
Fraquezas: Risco de cair na armadilha de deixar a defesa desprotegida, com um onze muito balanceado para a frente; Yarmolenko é o capitão e um jogador histórico, mas Rebrov deveria usá-lo apenas como suplente útil, deixando a titularidade para Tsygankov e Mudryk.

Equipa-Base (4-3-3): Lunin; Konoplia, Zabarnyi, Matviyenko, Mykolenko (Svatok); Stepanenko, Zinchenko, Sudakov; Tsygankov, Mudryk, Dovbyk

    Equipa muito dotada tecnicamente, que apenas poderá ter contra si a eventual frustração de quando não estiver por cima na posse de bola, a Ucrânia tem um bom onze e algumas boas opções no banco.
    Rebrov dá-se ao luxo de ter que escolher entre Lunin e Trubin para a baliza, com Zabarnyi a comandar a defesa.
    Zinchenko é 100% médio na Ucrânia, num meio-campo que pode mudar a vida de Sudakov e no ataque, além da dupla em forma do Girona (Dovbyk e Tsygankov), há um melão futebolístico por abrir chamado Mudryk.

Destaques Individuais (Previsão):


    Sagrou-se melhor marcador da La Liga com 24 golos e quer manter a veia goleadora na Alemanha. Artem Dovbyk, cobiçado por Atlético, AC Milan e Nápoles, está com a confiança em altas e, considerando a menor qualidade da Roménia, a defesa vulnerável da Bélgica e o provável confronto olhos nos olhos com a Eslováquia, podem esperar golos dele.
    Mykhailo Mudryk tem desiludido no Chelsea mas pela Ucrânia a conversa é outra, e vem também do Shakhtar um colega de muitos anos de Mudryk que pode fazer uma vénia e dar-se a conhecer ao mundo nesta competição. Georgiy Sudakov, o 14 dos ucranianos, enche a vista com o seu futebol.
    Também achamos que Tsygankov vai brilhar, mas uma caminhada longa exigirá performances ao mais alto nível também de Andriy Lunin (Trubin brilhou recentemente num amigável contra a Alemanha, mas Lunin vem de uma excelente época no Real Madrid e foi o titular da Ucrânia no Play-off) e do central Illia Zabarnyi.

2. BÉLGICA  
(Previsão: Oitavos-de-final, eliminada pelos Países Baixos)

  • Guarda-Redes: Koen Casteels (Wolfsburgo), Thomas Kaminski (Luton Town), Matz Sels (Nottingham Forest)
  • Defesas: Thomas Meunier (Trabzonspor), Timothy Castagne (Fulham), Zeno Debast (Anderlecht), Wout Faes (Leicester City), Arthur Theate (Rennes), Jan Vertonghen (Anderlecht), Axel Witsel (Atlético Madrid), Maxim De Cuyper (Club Brugge)
  • Médios: Amadou Onana (Everton), Orel Mangala (Lyon), Aster Vranckx (Wolfsburgo), Youri Tielemans (Aston Villa), Arthur Vermeeren (Atlético Madrid), Kevin De Bruyne (Manchester City)
  • Extremos/ Avançados: Charles De Ketelaere (Atalanta), Yannick Ferreira-Carrasco (Al Shabab), Thorgan Hazard (Borussia Dortmund), Leandro Trossard (Arsenal), Jérémy Doku (Manchester City), Johan Bakayoko (PSV), Dodi Ludebakio (Sevilha), Luis Openda (RB Leipzig), Romelu Lukaku (Roma)
Seleccionador: Domenico Tedesco;
Ausência: Thibaut Courtois.

Forças: Kevin De Bruyne é um craque de todo o tamanho, e Tedesco fará dele o playmaker, com todo o jogo e todas as decisões a passarem pelo astro do Manchester City; Romelu Lukaku realizou uma época inconsistente mas tem sido uma máquina de golos na seleção; Trossard é um jóker e a dupla Doku e Bakayoko é um tormento nos corredores;
Fraquezas: Casteels é manifestamente inferior a Courtois; Defesa está muito longe do nível do ataque.

Equipa-Base (4-3-3): Casteels; Meunier, Faes, Witsel (Debast), Castagne; Onana, Tielemans (Mangala), De Bruyne; Trossard (Bakayoko), Doku, Lukaku 

    Não sendo de excluir o recurso aos 3 centrais de outrora, tudo aponta para que o jovem Tedesco (invicto desde que assumiu a Bélgica, com 10 vitórias e 4 empates em 14 jogos) prefira colocar esta Bélgica em 4-3-3, esquematização que domina este Grupo E.
    Uma vez que não há (por opção) Courtois, Casteels calçará as luvas. Na defesa, claramente o setor mais fraco desta Bélgica, as dúvidas são muitas. Meunier, Faes, Witsel e Castagne podem formar a linha de 4, mas não se deve excluir o próximo reforço do Sporting, Debast (excelente a sair a jogar), a veterania de Vertonghen ou mesmo uma aposta à esquerda em Theate ou De Cuyper.
    Do meio-campo para a frente é mais fácil. Onana e Tielemans (ou Mangala) protegerão o craque Kevin De Bruyne. Lukaku foi pior que Openda esta temporada, mas pela seleção ganha um fogo diferente no estômago. Trossard e Doku são teóricos titulares, mas ainda há Bakayoko e De Ketelaere.

Destaques Individuais (Previsão):


    É difícil imaginar a Bélgica a ir mais longe do que os oitavos ou, no máximo, quartos, mas tudo dependerá da capacidade da defesa (e Casteels) estar ao nível do que o ataque pode produzir.
    Sem a pressão de outros tempos, quando se exigiam mundos e fundos à geração de Hazard, Dembélé e Kompany, a ligação entre o criador Kevin De Bruyne e o finalizador Romelu Lukaku será um dos elementos mais importantes na caminhada dos Diabos Vermelhos. Lukaku marcou 14 golos em 8 jogos na qualificação e pode atingir bons números na fase de grupos.
    Uma vez que deve ser através do ataque que a Bélgica acabe por resolver os seus (vários) problemas, é por isso que apostamos forte no driblador puro Jérémy Doku e no versátil Leandro Trossard. Do banco para mudar as coisas sairão em muito momentos Johan Bakayoko (não deve continuar no PSV depois deste Verão) e o elegante e requintado Charles De Ketelaere

3. ESLOVÁQUIA  
(Previsão: Oitavos-de-final, eliminada pela Inglaterra)

  • Guarda-Redes: Martin Dubravka (Newcastle), Marek Rodak (Fulham), Henrich Ravas (NE Revolution)
  • Defesas: Peter Pekarik (Hertha), Adam Obert (Cagliari), Milan Skriniar (PSG), David Hancko (Feyenoord), Denis Vavro (Copenhaga), Norbert Gyömbér (Salernitana), Sebastián Kósa (Spartak Trnava), Vernon De Marco (Hatta Club)
  • Médios: Stanislav Lobotka (Nápoles), Juraj Kucka (Slovan Bratislava), Tomás Rigo (Banik Ostrava), Patrik Hrosovsky (Genk), Matus Bero (Bochum), László Bénes (Hamburgo), Tomas Suslov (Hellas Verona), Ondrej Duda (Hellas Verona)
  • Extremos/ Avançados: Leo Sauer (Feyenoord), David Duris (Ascoli), Lukás Haraslín (Sparta Praga), Dávid Strelec (Slovan Bratislava), Lubomir Tupta (Slovan Liberec), Ivan Schranz (Slavia Praga), Róbert Bozenik (Boavista)
Seleccionador: Francesco Calzona;

Forças: Onze relativamente equilibrado, convencendo a defesa, com Skriniar como voz de comando, quer Hancko seja o seu parceiro ou atue como defesa esquerdo; Lobotka é um ótimo escudo para a linha recuada; Jogadores com "pézinhos" como Duda e Suslov podem mexer com o jogo;
Frazquezas: Pode faltar projeção a partir dos corredores, com os laterais a ficarem demasiado resguardados, o que poupará os extremos mas tornará a equipa muito dependente da sua capacidade no 1 contra 1; Bozenik já mostrou em Portugal a sua qualidade, mas é um jogador irregular no seu rendimento.

Equipa-Base (4-3-3): Dubravka; Pekarik, Skriniar, Vavro, Hancko; Lobotka, Duda, Suslov; Schranz, Haraslín, Bozenik

    Com algumas semelhanças no comparativo com a Ucrânia, a Eslováquia tem um central e um médio defensivo mais fortes, mas perde fundamentalmente na baliza e no avançado goleador. E no banco.
    O italiano Calzona, o homem que De Laurentiis escolheu para aguentar o Nápoles até à chegada de Conte, orienta os eslovacos num 4-3-3 que tem Dubravka e Skriniar como esteios do setor recuado, existindo a hipótese de Hancko (central no Feyenoord) ser utilizado como defesa esquerdo.
    Lobotka será a formiga trabalhadora nas costas de Duda e Suslov (grande pé esquerdo) e no ataque, o boavisteiro Bozenik fazer-se-á acompanhar por Schranz e Haraslín.

Destaques Individuais (Previsão):

    Menos utilizado em Paris do que nos seus tempos de Milão, Milan Skriniar será o general desta Eslováquia, coadjuvado por David Hancko. O defesa goleador do Feyenoord, que apontou esta temporada 7 golos, pode ser utilizado como central ou mesmo na esquerda.
    Num conjunto que terá Lobotka como principal alicerce, será o talento de Tomas Suslov e Ondrej Duda, dois jogadores do Hellas Verona, a fazer a diferença no último terço. Também estaremos atentos a Leo Sauer (18 anos), mas duvidamos que tenha muitos minutos. 

4. ROMÉNIA  

  • Guarda-Redes: Florin Nita (Gaziantep), Horatiu Moldovan (Atlético Madrid), Stefan Tarnovanu (Steaua)
  • Defesas: Andrei Ratiu (Rayo Vallecano), Vasile Mogos (Cluj), Adrián Rus (Pafos FC) Radu Dragusin (Tottenham), Andrei Burca (Al Akhdoud), Bogdan Racovitan (RKS Raków), Ionut Nedelcearu (Palermo), Nicusor Bancu (Univ. Craiova)
  • Médios: Adrian Sut (Steaua), Marius Marin (Pisa), Darius Olaru (Steaua), Alexandru Cicaldau (Konyaspor), Nicolae Stanciu (Damac FC), Razvan Marin (Empoli), Ianis Hagi (Alavés)
  • Extremos/ Avançados: Deian Sorescu (Gaziantep), Florin Coman (Steaua), Dennis Man (Parma), Valentin Mihaila (Parma), Denis Dragus (Gaziantep), Daniel Birligea (Cluj), George Puscas (Bari), Denis Alibec (Muaither SC)
Seleccionador: Edward Iordanescu;

Forças: Radu Dragusin (com 22 anos é o jogador mais novo desta Roménia) é uma força da natureza e tentará ao máximo adiar o golo adversário; Stanciu sempre nos pareceu capacitado para voos mais altos, e tem aos 31 anos um palco para nos relembrar o que nos deixou cativados quando alinhava no Steaua há quase 10 anos;
Fraquezas: Possivelmente a seleção das 24 com menos jogadores de topo.

Equipa-Base (4-2-3-1): Moldovan; Ratiu, Burca, Dragusin, Bancu; R. Marin, M. Marin; Hagi, Stanciu, Coman; Puscas

    Pontuar será positivo para esta Roménia, onde a principal figura (Dragusin) é um central que ainda nem conquistou a titularidade no seu clube.
    Iordanescu tem nas mãos uma equipa bastante solidária e toda a linha defensiva mais os dois Marin's deve serenar o selecionador. O problema deste 4-2-3-1 estará na forma como Hagi (filho do mítico Gheorghe Hagi) e Coman podem deixar a equipa constantemente destapada nos corredores. Entre Puscas, Alibec e Man não temos a certeza sobre quem será o escolhido como titular.

Destaques Individuais (Previsão):


    Nicolae Stanciu, o capitão e jogador que liga todo o futebol da Roménia, podia ter tido uma carreira bem diferente. Aos 31 anos, o médio que tem andado pela China e pela Arábia Saudita, é o farol romeno.
    Na linha defensiva e de cabelo apanhado num carrapito, Radu Dragusin é bombeiro para todas as situações. Não foi à toa que Ange Postecoglou pediu que o Tottenham o contratasse ao Génova.

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