6 de junho de 2024

Balanço Final - Liga Portugal Betclic 23/ 24

 Liga Portugal Betclic - A temporada que findou em Portugal coroou o Sporting como novo campeão nacional. Os pupilos de Rúben Amorim (melhor treinador português da atualidade) voltaram a deixar o Marquês de Pombal inundado num mar verde e branco, celebrando sem restrições e contenção, ao contrário de 2021, e novamente com todo o mérito.
    Os novos campeões nacionais reergueram-se depois de ficar em 4º lugar, e dizimaram a concorrência num percurso quase irrepreensível, com registos a sublinhar a justiça do triunfo: a turma de Alvalade somou 90 pontos, venceu todos os jogos em casa, marcou em todos os jogos do campeonato, ficou a 4 tentos da centena de golos marcados, conhecendo somente o sabor da derrota na Luz e em Guimarães. Antes do drop the mic de Amorim a lançar o desejo de ser bicampeão, esta aventura foi caraterizada pela coesão do balneário (todos os jogadores se sentiram importantes, e quase todos tiveram o seu momento e um papel a cumprir), com vários atletas em significativo crescendo, alicerçados na mais-valia que 2 reforços-chave trouxeram: Morten Hjulmand mostrou que depois de Palhinha e Ugarte, o Sporting é a nova casa de sucesso dos grandes médios defensivos em Portugal, e Viktor Gyökeres chegou do escalão secundário inglês para ser MVP e deixar todos os adeptos babados e os adversários KO.

    O Benfica perdeu o trono e despediu-se com Roger Schmidt a enfrentar semanalmente uma fatia dos adeptos num ringue tenso, com troca de provocações e jogadores como escudo anti-cuspo. Lamentáveis figuras. O alemão bem pode agradecer ao prodigioso João Neves, um miúdo diferenciado que ajudou a mascarar a incapacidade do clube em substituir Grimaldo e Gonçalo Ramos, num esquema onde Aursnes foi constante tapa-buracos e Kökçü demorou a ser ouvido e compreendido.
    Pior esteve o FC Porto que, exceção feita à gloriosa noite em o clube passou a estar novamente livre (impressionantes 80,25% dos votos em AVB), viveu um absoluto desastre interno. A toxicidade e a lamúria foram titulares indiscutíveis no discurso do derrotado Sérgio Conceição, que chegou a encostar os jogadores que ousaram sorrir, e que - mesmo sendo o Porto o clube grande mais beneficiado pela arbitragem, uma ideia rejeitada em mirabolantes fantasias de quem está habituado a que tudo lhe seja permitido - simplesmente produziu um futebol insuficiente.

    No Minho, Braga e Vitória terminaram separados por 5 pontos, e ambos já garantiram para a próxima época Daniel Sousa (Arouca) e Rui Borges (Moreirense), treinadores das equipas sensação desta edição. Apenas 7 das 18 equipas fecharam as contas com uma diferença de golos positiva, algo que ilustra o acentuar de um futebol menos capaz na globalidade das equipas sobretudo do 18.º ao 12.º lugar.
    O FC Porto venceu a Taça de Portugal, o Braga foi "campeão de Inverno" numa final inesperada diante do Estoril, dizendo adeus Chaves, Vizela e Portimonense (via Play-off), que serão substituídos por Santa Clara, Nacional e AVS. 

    Guardaremos desta edição as arrancadas do potente Gyökeres contra o mundo, a omnipresença de João Neves, com a camisola enfiada por dentro dos calções, o equilíbrio tático de Hjulmand, Alan Varela, Gonçalo Franco e Mateus Fernandes, e os desequilíbrios, uns mais pela velocidade outros mais pelo drible, de craques como Di María, Chico Conceição, Trincão, Galeno, Guitane ou Jota Silva. Foi a época em que Ricardo Velho foi melhor que Trubin e Diogo Costa, e em que Coates (sempre bem acompanhado por Inácio, Diomande ou Quaresma) provou ser merecedor de um lugar muito especial na História do Sporting.

    Acompanhem-nos então neste balanço final, que analisa em detalhe as 18 equipas da Liga portuguesa, procurando determinar o que correu bem, o que correu mal, quem se destacou e quem desiludiu:


 SPORTING (1)

    Campeão indiscutível. Numa temporada em que o Benfica acumulou erros e o Porto ficou reduzido à luta pelo 3º lugar, o Sporting impôs um ritmo só seu e, goleador, coeso e saudável, não deu quaisquer hipóteses à concorrência. Campeões no sofá a duas jornadas do fim, os leões totalizaram 90 pontos (recorde do clube, e a apenas 1 ponto do recorde da Liga, que pertence ao FC Porto), venceram 100% dos jogos em Alvalade e marcaram uns esclarecedores 96 golos.
    Rúben Amorim ainda foi a Londres espairecer, porventura como forma de pressionar o Liverpool, mas o avião apenas serviu para o fidelizar aos verde e brancos, tentando o bis em 2024/ 25.
    Luz (aquele final de jogo com reviravolta encarnada aos 90+3 e 90+6) e Guimarães foram os únicos palcos em que o leão não foi rei, ficando apenas a faltar a dobradinha, muito difícil a partir do momento em que St. Juste foi expulso.
    Sempre em 3-4-3, no Sporting todos os jogadores se sentiram sempre parte da equipa, aproveitando cada minuto para dificultar a vida a Rúben Amorim. Sem um guarda-redes de topo (Kovacevic tentará ser o que nem Adán nem Israel foram), os leões viram peças como Geny Catamo (o seu bis no dérbi jamais será esquecido), Eduardo Quaresma ou Daniel Bragança dispararem de rendimento, com Coates, Inácio e Diomande a brilharem cada qual no seu período. O refilão Nuno Santos chegou às 10 assistências, Paulinho saltou do banco em 20 jogos e totalizou 15 golos, e o sempre subvalorizado Pedro Gonçalves (somou 11 golos e 12 assistências) foi novamente um dos craques de serviço. Trincão conseguiu por fim apresentar com regularidade o que era pedido a ele e/ ou a Edwards, mas justiça seja feita aos nórdicos, Morten Hjulmand e o MVP desta Liga, Viktor Gyökeres. O médio dinamarquês comprovou ser um mais do que digno sucessor de Ugarte e João Palhinha, enquanto que o avançado sueco decidiu o campeonato (praticamente) sozinho: com uma potência e uma resistência doutra dimensão, Gyökeres fez acreditar todos os colegas e todos os adeptos, marcou 29 golos (43 em todas as competições), fez 10 assistências (15 em todas as competições) e deixou os rivais KO, no chão e... rebentados.

Destaques: Viktor Gyökeres, Pedro Gonçalves, Morten Hjulmand, Sebastián Coates, Francisco Trincão

 BENFICA (2)

    Há um ano atrás venerado, hoje em dia cuspido e protegido da ira dos adeptos pelas forças de segurança ou pelos seus jogadores... como tudo mudou para Roger Schmidt.
    O ano 2 do alemão em Portugal foi um falhanço. O Benfica falhou redondamente na substituição de jogadores-chave (tenebroso passar de Grimaldo para Jurásek), o treinador elevou a intocáveis jogadores que não o deveriam ser, relegou para o banco quem vinha em crescendo e num ganho de confiança, e demorou a compreender as características e a "praia tática" de alguns elementos, ficando aliás a ideia que em alguns casos (Kökçü) a compreensão ainda não foi 100% alcançada.
    Os encarnados estiveram terríveis na Champions e insuficientes na Liga Europa, deixando marcas as derrotas consecutivas contra Sporting (2-1, na Taça de Portugal) e Porto (5-0 no Dragão).
    Invicto na Luz a nível interno, o Benfica de Rui Costa e Roger Schmidt viu o rival Sporting fazer com distinção as três coisas em que as águias mais falharam: o Sporting acertou em cheio quando comprou pouco mas muito bem, Rúben Amorim soube gerir o seu grupo com equilíbrio, e o melhor 11 não demorou a ser encontrado, apenas corrigido depois de acordo com momentos de forma.
    O Benfica 2-2 Sporting (Taça de Portugal) terá sido a melhor prestação coletiva numa temporada que ficou marcada por teimosias inexplicáveis (colocar Morato a DE só seria aceitável se nunca lhe fosse pedida largura, que teria que ser dada em permanência por um extremo puro e não por alguém como João Mário) e por cenas lamentáveis por parte de alguns adeptos que, mesmo com razão, perderam-na na forma de se dirigir ao treinador. Achamos que a relação entre o alemão e a massa associativa atingiu um ponto sem retorno, sendo um erro a continuidade, mas podemos estar enganados.
    Como nem tudo foram coisas más, falemos de João Neves. O 87 das águias foi o melhor jovem do campeonato, um concentrado de benfiquismo, personalidade, profissionalismo e talento. O adeus de Rafa (14 golos e 12 assistências) teve, por culpa de Schmidt, Di María a mais e David Neres a menos; Kökçü andou à deriva (torcemos para que o clube não desista dele), Aursnes andou a tapar buracos e Trubin mostrou atributos para ser um dos melhores guarda-redes do mundo mas também comprometeu; o trio Arthur Cabral, Tengstedt (uma pena que o avançado mais inteligente, com e sem bola, seja o menos válido tecnicamente) e Marcos Leonardo valeram juntos 17 golos depois de custarem 45 milhões.

Destaques: João Neves, Ángel Di María, Fredrik Aursnes, Anatoliy Trubin, Florentino

 PORTO (3)

    Muito fraco. Aquela que se veio a confirmar como a despedida de Sérgio Conceição, Pinto da Costa e quiçá Pepe, foi a temporada azul e branca com menos pontos e menos golos marcados dos últimos 10 anos. Sempre à procura de alimentar o conflito, a toxicidade e uma embaraçosa narrativa carregada de mentiras, o FC Porto esteve irreconhecível, perdendo 6 jogos e deixando escapar 10 pontos em sua casa (para comparação, o Sporting perdeu zero pontos em casa e o Benfica 4).
    A respeitável Liga dos Campeões e aquele 5-0 contra o Benfica foram instantes de orgulho e regozijo numa jornada que culminou com a conquista da Taça de Portugal e que teve no dia 27 de Abril a sua página mais impressionante: 80,28% dos sócios elegeram André Villas-Boas como novo presidente do clube, libertando o dragão e colocando um ponto final a 42 anos de Pinto da Costa.
    Entre cartolinas vermelhas para Pepe e Sérgio Conceição (25 vezes expulso na carreira, 10 como treinador dos dragões), o Porto não conseguiu rentabilizar o último ano de contrato de Taremi, teve nos internacionais brasileiros Galeno, Evanilson e Pepê ótimos intérpretes, e Alan Varela mostrou ser um craque em potência, quiçá o mais valioso elemento do atual plantel. Custou-nos ver o talento de Iván Jaime marginalizado e, entre impropérios e descontrolo emocional, foi futebolisticamente fantástico assistir ao progressivo crescimento do "espalha brasas" Francisco Conceição, o mais impactante jogador dos azuis e brancos no último terço do campeonato.
    O futuro reserva muitos pontos de interrogação e auditorias. Segue-se Vítor Bruno, e Sérgio Conceição saiu por uma porta proporcional à sua educação, ao seu carácter e à sua (alegada) frontalidade: muito pequenina.

Destaques: Francisco Conceição, Alan Varela, Galeno, Pepê, Evanilson

 BRAGA (4)

     Terceiro na edição anterior, o Sporting de Braga desperdiçou a oportunidade de somar dois pódios consecutivos, algo inédito na História do clube. No seu lugar habitual (7 vezes quarto classificado nos últimos 10 anos), o Braga teve demasiados altos e baixos, com a conquista da Allianz Cup a ser o momento mais dourado desta época.
    Os números confirmam como o Braga foi uma equipa com dificuldades em gerir, sorrindo quando conseguiu embalar, principalmente contra as equipas mais pequenas, mas fartando-se de sofrer golos. 71 golos marcados e 50 golos sofridos foram o balanço definitivo de uma equipa que marcou 3 ou mais golos em 14 ocasiões diferentes, mas também sofreu pelo menos 3 golos em seis jogos.
    Artur Jorge foi perdendo força até acabar por atravessar o Atlântico para treinar o Botafogo. António Salvador promoveu Rui Duarte, então técnico dos Sub-23, para os últimos encontros, entusiasmando a escolha de Daniel Sousa para próximo treinador dos arsenalistas.
    Poucos jogadores se destacaram no plano defensivo, mas no ataque tivemos os primeiros passos de Zalazar (excelente reforço) no futebol português, Ricardo Horta esteve bem sem estar incrível, Bruma oscilou entre o imparável e os eclipses e Álvaro Djaló fez o suficiente para convencer o Athletic Bilbao a contratá-lo. João Moutinho foi um dos mais esclarecidos com 37 anos, o turco Saatçi mostrou que pode ser uma grande mais-valia com outro treinador e o miúdo Roger (7 assistências em apenas 674 minutos) é um diamante, saibam o Braga e o seu agente resolver os seus diferendos. Ainda assim, a grande figura foi mesmo o congolês Simon Banza - o avançado ex-Famalicão, atualmente com bastantes pretendentes, apontou 21 golos, uma marca bem interessante para quem perdeu uma fatia da temporada quando esteve na CAN.

Destaques: Simon Banza, Rodrigo Zalazar, Ricardo Horta, Álvaro Djaló, Roger

 VIT. GUIMARÃES (5)

    O recordista Vitória fixou um novo máximo de pontos - 63. Numa posição em que já não terminava uma temporada desde 2019, a equipa do Minho apresentou-se num nível excelente, jamais acusando as várias mudanças de treinador. É no mínimo invulgar, mas o Vit. Guimarães foi realmente a equipa desta Liga Portugal que mais treinadores teve ao longo de 2023/ 24: Moreno iniciou os trabalhos mas demitiu-se após falhar o acesso à Liga Conferência; João Aroso aguentou a casa até Paulo Turra assinar; o técnico brasileiro durou cinco jornadas e deu lugar a Álvaro Pacheco, o treinador que fica verdadeiramente associado a esta boa época, mas que acabou por sair, em litígio com o presidente, levando a sua boina para o Brasileirão, para orientar o Vasco da Gama. Rui Cunha fechou a época como interino, e será outro Rui, Borges, o técnico do Moreirense, o próximo homem a assumir as rédeas.
    Fiéis ao seu esquema de três centrais (3-4-3 ou 3-5-2), os vitorianos foram mesmo Top-4 quando contemplado apenas o fator casa. Foi aliás no D. Afonso Henriques que o campeão Sporting experienciou uma das suas duas derrotas desta Liga.
    Com reais esperanças de fazer pódio até bem perto do fim - recordamos que com 28 jornadas o Vitória estava igual ao Braga e a apenas 2 pontos do Porto - foi também notável o percurso do clube na Taça, caindo nas meias-finais.
    No clube dos Silvas, o Silva que valorizou mais a sua cotação foi Jota. O Grealish português acabou mesmo por ser convocado por Roberto Martínez para um duplo compromisso da seleção, está à beira de mudar de ares, isto depois de mais do que melhorar a sua finalização, conciliada com uma tremenda capacidade de sacrifício e de não deixar pensar ou respirar os defesas. João Mendes (que golaço no dérbi!), Tiago Silva, Bruno Gaspar e Manu Silva foram outros dos destaques, ficando a ideia que o Vitória poderia ter feito um bocadinho mais de História caso André Silva não tivesse rumado ao São Paulo em finais de Fevereiro. 

Destaques: Jota Silva, João Mendes, Tiago Silva, André Silva, Bruno Gaspar

 MOREIRENSE (6)

    Convém recordar os mais distraídos que o Moreirense estava há um ano atrás a comemorar a subida de divisão...
    Em Moreira de Cónegos viu-se uma das duas principais candidatas a equipa sensação da prova (o Arouca impressionou ofensivamente, o Moreirense convenceu na arte de saber defender), com um plantel "espremido" ao limite e um técnico, Rui Borges, a motivar um convite por parte do Vit. Guimarães.
    Fortes no fecho da temporada e num período entre Setembro e Dezembro em que chegaram a acumular 10 jogos seguidos sem conhecer o sabor da derrota, os cónegos mostraram personalidade e capacidade de adaptação ao lidar com a saída de André Luís, ponta de lança que era uma peça fulcral no plano de jogo da equipa.
    Apenas batidos pelos 3 grandes em termos de golos sofridos, o Moreirense teve no incansável Gonçalo Franco o seu jogador mais interessante, e Alanzinho soube tricotar oportunidades. Toda a defesa merecia ser destaque como um bloco unificado, mas há a enaltecer em particular Kewin (13 clean sheets), Maracás e Marcelo.
    Conseguirá o novo treinador, César Peixoto, estar à altura do desafio?

Destaques: Gonçalo Franco, André Luís, Marcelo, Alanzinho, Maracás

 AROUCA (7)
    Ofensivamente, este Arouca foi Top-5 da Liga. Entre as várias mudanças de treinador que aconteceram nesta edição da Liga Portugal, é provável que a mais relevante tenha ocorrido quando, volvidas 11 jornadas, o Arouca decidiu rescindir com Daniel Ramos, apostando em Daniel Sousa.
    O ex-treinador do Gil Vicente e já oficializado como próximo treinador do Braga foi uma lufada de ar fresco, exímio ao dotar os arouquenses de confiança para jogar espaçados, em todo o campo e ao primeiro toque. A dinâmica da equipa foi sempre coroada pela magnífica simbiose hispânica no ataque - Jason, Cristo e Mújica foram um sarilho para qualquer adversário.
    Nas 23 jornadas em que Daniel Sousa assumiu a equipa, o Arouca somou 40 pontos (menos 7 do que o Porto, menos 5 do que o Braga) e marcou 45 golos (menos 3 do que o Porto, mais 4 do que o Braga).
    Para a posteridade fica principalmente um 3-2 contra o Porto, com o golo inaugural a nascer em menos de 1 minuto no primeiro desenho coletivo e com elevada nota artística, merecendo todos os elogios a sociedade formada por Rafa Mújica (20 golos, sem apontar qualquer grande penalidade) e Cristo González (15 golos e 9 assistências).
    Próximo treinador? O uruguaio Gonzalo García.

Destaques: Rafa Mújica, Cristo González, Jason, Morlaye Sylla, Tiago Esgaio

 FAMALICÃO (8)

    Pela terceira época consecutiva, o Famalicão acaba em oitavo. A equipa que confirmou matematicamente o título do Sporting, ao derrotar em casa o Benfica (2-0), fez quase tudo em doses iguais: venceu 10 jogos, empatou 12 e perdeu outros 12.
    Destaque negativo em termos disciplinares, com 99 cartões amarelos e 9 cartões vermelhos, o Famalicão só não conseguiu tirar pontos ao novo campeão nacional, entre os 4 primeiros classificados, voltando de resto a impressionar a nova fornada de talentos na calha para dar o salto.
    Luiz Júnior, guarda-redes de equipa grande, só foi inferior a Ricardo Velho; Francisco Moura foi o melhor lateral esquerdo na primeira volta do campeonato; Gustavo Sá mostrou o suficiente para fazer as malas para um grande ou mesmo para um campeonato como o espanhol ou o inglês; e além do polvo Zaydou, os dribladores natos Chiquinho e Puma, e a grande subida de rendimento de Jhonder Cádiz, a única nota negativa foi mesmo o sub-rendimento de Henrique Araújo, que em teoria teria em Famalicão o espaço indicado para se afirmar.
    Armando Evangelista "encaixa" no projeto, mas já se sabe que o 11 inicial em 2024/ 25 será muitíssimo diferente. 

Destaques: Luiz Júnior, Gustavo Sá, Francisco Moura, Jhonder Cádiz, Zaydou Youssouf

 CASA PIA (9)
    Em certa medida, o nono lugar do Casa Pia é a prova do nível reduzido que este campeonato teve. Equipa menos entusiasmante do que Estoril e Farense e, dependendo do dia, Rio Ave e Gil Vicente, os gansos tiveram 3 treinadores (Filipe Martins, Pedro Moreira e Gonçalo Santos) e já sabem que terão que identificar novo homem do leme uma vez que o outrora médio do Estoril decidiu juntar-se à equipa técnica de Marco Silva no Fulham, na qualidade de adjunto. Sairá dessa experiência mais treinador.
    Os casapianos fizeram um pouco de tudo nesta Liga: levaram 8 do Sporting, pontuaram na Luz num jogo em que Trubin ainda teve que defender uma grande penalidade, discutiram um jogo frenético em Braga (4-3) e aplicaram "chapa 4" no sempre difícil reduto do rigoroso Moreirense.
    Boa fotografia da inconsistência coletiva acaba por ser a falta de elementos com sólidas exibições da jornada 1 à 34. Felippe Cardoso e Clayton dividiram a fatura de golos, Larrazabal deixou tudo para trás quando ligou o turbo, e Pablo Roberto, hábil no transporte e com discernimento na grande área contrária, terá sido talvez a melhor novidade, ficando a ideia que a equipa teria beneficiado em utilizá-lo mais vezes como jogador mais adiantado do esquema.

Destaques: Pablo Roberto, Felippe Cardoso, Gaizka Larrazabal, Clayton

 FARENSE (10)

    Falhámos redondamente. Quando em Agosto do ano passado fizemos a nossa Antevisão deste campeonato, o Farense foi apontado como potencial último classificado. Ora, 8 posições acima, e sempre com José Mota inabalável no cargo, a equipa de Faro surpreendeu-nos, a começar pela baliza. Não conhecíamos Ricardo Velho (25 anos) e ficámos rendidos às exibições do guardião português, que pode valer um pequeno Euromilhões ao clube do Algarve. Líder destacado entre os guarda-redes desta Liga em várias métricas, Velho catapultou os colegas para uma temporada com confiança.
    Equipa forte no jogo aéreo, o Farense viveu também do futebol perfumado do esquerdino Belloumi, dos golos de Bruno Duarte e dos operários Cláudio Falcão e Fabrício Isidoro.
    Um empate na Luz (13 defesas de Velho nessa partida) e um jogo taco-a-taco na receção ao Sporting foram alguns dos pontos altos da época do clube que, confirmada a descida do Portimonense, passa agora a ser o único representante do Sul.

Destaques: Ricardo Velho, Mohamed Belloumi, Bruno Duarte, Cláudio Falcão

 RIO AVE (11)
    Rúben Amorim, Daniel Sousa, Álvaro Pacheco, Rui Borges e José Mota foram os 5 melhores treinadores desta Liga Portugal Betclic, mas é obrigatório elogiar também Luís Freire. Com um desafio extra (embargo de transferências), os vilacondenses resistiram com brio no meio da tabela, conseguindo Alexandrina Cruz segurar vários jogadores após perder Guga para o futebol chinês em Janeiro.
    Recordista de empates (19, ou seja, 55% dos jogos), o Rio Ave manteve o seu já caraterístico 3-5-2, despediu-se com pompa e circunstância de Ukra, soube encontrar soluções entre empréstimos e o custo zero, conseguindo uma espécie de proeza: garantir a manutenção, com relativa tranquilidade, vencendo apenas 6 jogos.
    Costinha (lateral direito do ano) impressionou com regularidade no corredor, Jhonatan e Aderllan comandaram o setor recuado, Joca apontou golos de belo efeito e, na frente, Boateng e Yakubu Aziz tiveram os seus momentos.
    O sempre subvalorizado Luís Freire (3 épocas em Vila do Conde) merece que lhe seja dado em 24/ 25 um plantel ao nível das suas capacidades.

Destaques: Costinha, Aderllan, Jhonatan, Joca

 GIL VICENTE (12)

    Bem longe do quinto lugar de 2021/ 22, num conjunto onde se destacavam Samuel Lino e Pedrinho, o Gil apresentou um rendimento idêntico ao da época anterior: somou menos 1 ponto, ficando um lugar acima na tabela.
    Em Barcelos, Vítor Campelos orientou a equipa durante mais de 80% da temporada e com o ex-Chaves e Moreirense a equipa preocupou-se sempre em tratar bem a bola. Os galos atacaram melhor do que defenderam, e tiveram no suíço Maxime Dominguez (descoberto na Polónia) o seu intérprete mais esclarecido, sobretudo numa etapa inicial da prova em que chegou a dar ares de poder ir a tempo de jogar numa equipa do Top-5 do nosso campeonato.
    A casa que não serviu de boa incubadora nem para Martim Neto nem para Afonso Moreira foi, a espaços, um terreno fértil para os rasgos do desequilibrador Félix Correia, dando nas vistas o recuperador Mory Gbane e, no centro da defesa, o elegante e esclarecido central Gabriel Pereira, destinado a outras altitudes futebolísticas.
    Tozé Marreco comandou a equipa nas últimas 5 jornadas, e deve continuar, esperando-se um plantel razoavelmente renovado mas com o mesmo foco e prioridade, a baliza do adversário.

Destaques: Gabriel Pereira, Maxime Dominguez, Félix Correia, Mory Gbane

 ESTORIL (13)

    Ficou no 13º lugar o principal enigma desta Liga Portugal Betclic. Ao contrário das restantes equipas entre o 12º e o 18º lugares, o Estoril apresentou realmente futebol e qualidade, individual e coletiva, para disputar lugares com equipas como o Famalicão ou o Arouca. Não foi o caso.
    Finalistas da Allianz Cup (derrotados pelo Braga na final, nas grandes penalidades, depois de afastar Porto e Benfica), depois de substituírem Álvaro Pacheco por Vasco Seabra disputadas seis jornadas, os canarinhos fizeram do 3-4-3 a sua imagem e do FC Porto um dos seus adversários favoritos, derrotando o dragão em 3 momentos distintos.
    Na Linha, a margem de crescimento mantém-se elevada, uma ideia comprovada pelo sucesso na Liga Revelação (Rodrigo Ramos, à cabeça, como talento que pode ser aposta depois de brilhar nos Sub-23), e é natural que o plantel venha a sofrer revolução. Há um ano atrás estavam valorizados Tiago Santos e Tiago Gouveia; desta vez, o ala Rodrigo Gomes (emprestado pelo Braga) parece estar na rota do Atlético Madrid, depois de associado a clubes ingleses, Mateus Fernandes integrará o plantel do Sporting na próxima época, João Marques já se comprometeu com o Sporting de Braga num negócio de 3 milhões e meio, e o fantasista argelino Rafik Guitane também deverá espalhar magia noutro clube.

Destaques: Rodrigo Gomes, Rafik Guitane, Mateus Fernandes, João Marques

 ESTRELA DA AMADORA (14)

    No regresso ao escalão máximo do futebol português, 14 anos mais tarde, o Estrela não brilhou tanto como o companheiro de subida Moreirense, mas foi suficientemente competente. Sem nunca desistir de Sérgio Vieira, os tricolores acabam por sair beneficiados do nível baixo do último terço do campeonato e muito baixo dos 2 últimos classificados.
    Patrice Evra terá por certo ficado satisfeito com a boa réplica em casa do novo campeão nacional (3-2) e individualmente esta foi a temporada em que Kikas chegou aos 9 golos e em que Kialonda Gaspar, grande defesa central e máxima figura da equipa, mostrou que tem argumentos para dar o salto.

Destaques: Kialonda Gaspar, Léo Jabá, Kikas

 BOAVISTA (15)

    Miguel Reisinho. Nos instantes finais do encontro contra o Vizela, na última jornada, o Boavista parecia condenado a disputar o play-off da despromoção. Mas quando a esperança já estava a morrer, foi assinalada uma grande penalidade e aos 90+10, Reisinho segurou o clube do Bessa na primeira divisão.
    A época dos axadrezados foi para esquecer. Quatro treinadores (Petit, Ricardo Paiva, Jorge Couto e Jorge Simão), alguns salários em dívida, transferências vetadas (Bozeník) para desgosto de jogadores e transferências aceleradas (Tiago Morais) por necessidade de tesouraria. 
    E o mais curioso é que o clube da pantera acabou com 32 pontos, mas à jornada 5 já tinha 13, fruto de um arranque a todo o gás com 4 vitórias e 1 empate. Ou seja, depois de Setembro o Boavista venceu apenas 3 jogos da Liga, contra Vizela, Estoril e Moreirense.

Destaques: Róbert Bozeník, Tiago Morais, Miguel Reisinho

 PORTIMONENSE (16)

    Desde 2017 na Primeira Liga, desde 2019 com Paulo Sérgio como treinador. Foi apenas no Play-Off da promoção/ despromoção que o Portimonense confirmou a descida, caindo aos pés do AVS, medalha de bronze na Liga SABSEG.
    Com fama e proveito de terem sido ao longo destes anos uma espécie de Porto B, os alvinegros deixaram o Farense como único representante do Sul, mostrando que de pouco serve ser o décimo melhor ataque quando se tem em simultâneo uma das duas piores defesas (72 golos sofridos!).
    Carlinhos (10 golos e 6 assistências) bem lutou contra o destino malfadado, Hélio Varela apresentou bom rendimento na asa esquerda, e quem tem bons defesas como Filipe Relvas e Alemão, e um guarda-redes elástico como o nipónico Kosuke Nakamura, tem obrigação de não se deixar afundar.

Destaques: Carlinhos, Hélio Varela, Filipe Relvas, Alemão

 VIZELA (17)

    Três pontos acima do Chaves, o Vizela foi um conto de dois espanhóis desconhecidos, que nunca chegaram a conhecer realmente a nossa realidade. Os nuestros hermanos Pablo Villar (não confundir com Pabllo Vittar) e Rubén de la Barrera, ambos na casa dos 30, chumbaram no teste da manutenção, merecendo ainda assim alguns elogios o futebol sempre positivo que de la Barrera sempre procurou implementar. É aliás algo bizarro vermos descer uma equipa que foi 6ª na média de posse de bola.
    Sempre mais preocupados em controlar (quem apresenta um trio de meio-campo com Diogo Nascimento, Bruno Costa e Domingos Quina contra um grande mostra em simultâneo coragem ou um caráter naive, consoante se prefira interpretar), os vizelenses voltaram a ter em Samu o seu jogador mais consistente, e viram o franco-congolês Samuel Essende (15 golos), formado no PSG, entrar no bloco de notas de olheiros de equipas com outras aspirações.

Destaques: Samuel Essende, Samu, Matheus Pereira, Diogo Nascimento

 DESP. CHAVES (18)

    Objetivamente, não é errado considerar o Desportivo de Chaves a grande desilusão de 2023/ 24. Embora a tendência seja sempre penalizar na apreciação global o falhanço dos "grandes" (Benfica e, principalmente, FC Porto), não há como fugir ao facto do Chaves ter caído como ninguém na tabela: os flavienses passaram do 7º lugar da campanha anterior para o último posto da classificação.
    Longe está o bom trabalho de Vítor Campelos, com jogadores como João Mendes, João Teixeira, Bruno Langa ou Paulo Vítor. O clube presidido por Francisco Carvalho não estimou Campelos, confiou o projeto a José Gomes quando toda a gente conseguia ver tratar-se de um erro de casting, e Moreno também não foi a tempo de salvar o barco.
    Com o pior ataque (31 golos apontados) e a pior defesa (72 golos sofridos, tal como o Portimonense), o Chaves cai para a Segunda Liga e, puxando a cassete atrás, não há muito de positivo a que os adeptos, valentes transmontanos, se possam agarrar - Héctor Hernández apontou 14 golos e representou 45% da marca global da equipa, e o muito irregular Hugo Souza jamais se esquecerá do jogo na Luz em que defendeu três grandes penalidades, duas delas legais.

Destaques: Héctor Hernández, Kelechi Nwakali


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