10 de junho de 2016

Barba no Euro: Os Nossos 23 (Itália)

    Perto do fim desta nossa rubrica chega-nos a selecção italiana. Nesta convocatória para a Squadra Azzurra temos mais alterações (9) - comparativamente com os 23 escolhidos pelos seleccionadores na realidade - do que em qualquer outra das selecções que escolhemos abordar. A razão é simples: com tantos bons valores do meio campo para a frente, há jogadores da equipa transalpina que mereciam uma atenção especial, e que ficaram de fora graças à teimosia e conservadorismo de Antonio Conte.
    A Itália foi uma das invictas da qualificação para o Europeu e acabou por sofrer muito poucos golos. Esse é o seu principal segredo: sofrer pouco e aproveitar todas as oportunidades no ataque. Resiliência (com uma defesa de betão protegida por uma lenda-viva do futebol chamada Buffon) e eficácia. Mas para nós, era possível manter o ADN italiano, equilibrado e lúcido na hora de ler o jogo, juntando maior capacidade de desequilibrar na frente, aquilo que poderá faltar à Itália neste Euro-2016.
    Apesar de terem ganho apenas um Europeu (1968), até porque a especialidade da Itália são mesmo os Mundiais (1934, 1938, 1982, 2006), é sempre uma equipa a ter em conta pela matreirice na forma como prepara e encara o jogo. Porém, uma matreirice que poderia dar mais frutos com estes nossos 23:

A Convocatória



  • Guarda-Redes: Gianluigi Buffon (Juventus), Salvatore Sirigu (PSG), Gianluigi Donnarumma (AC Milan)
  • Defesas: Matteo Darmian (Manchester United), Alessandro Florenzi (Roma), Giorgio Chiellini (Juventus), Leonardo Bonucci (Juventus), Andrea Barzagli (Juventus), Mattia De Sciglio (AC Milan)
  • Médios: Jorginho (Nápoles), Daniele De Rossi (Roma), Roberto Soriano (Sampdoria), Giacomo Bonaventura (AC Milan), Riccardo Saponara (Empoli), Franco Vázquez (Palermo)
  • Extremos: Lorenzo Insigne (Nápoles), Antonio Candreva (Lázio), Sebastian Giovinco (Toronto), Stephan El Shaarawy (Roma)
  • Avançados: Graziano Pellè (Southampton), Simone Zaza (Juventus), Leonardo Pavoletti (Génova), Domenico Berardi (Sassuolo)
Lista de Contenção: Andrea Consigli (Sassuolo), Lorenzo Tonelli (Empoli), Francesco Acerbi (Sassuolo), Federico Viviani (Hellas Verona), Federico Bernardeschi (Fiorentina), Gianluca Lapadula (Pescara), Andrea Belotti (Torino)


    Nos guardiões, Gianluigi Buffon é o símbolo desta selecção e continua numa forma incrível mesmo tendo em conta a sua idade. É dono e senhor do seu lugar, seguindo-se Salvatore Sirigu - que não teve muitas oportunidades no PSG, mas não deixa de ser um enorme guarda-redes - e ainda Gianluigi Donnarumma (17 anos). O terceiro escolhido muito dificilmente tem oportunidade de jogar, por isso preferimos colocar o futuro guardião da Itália nos grandes palcos europeus para se ir habituando. O prodígio das balizas do AC Milan, desde que se desenvolva de acordo com as expectativas e saiba manter-se sempre num nível alto, poderá estar presente no Euro 2032 ou até no Euro 2036. Coisa pouca...
    No que toca à defesa poupámo-nos um pouco tendo em conta a polivalência de alguns jogadores e a extrema competência dos mesmos nas devidas posições. Assim sendo, para o eixo defensivo convocaríamos apenas o trio da Juventus Leonardo Bonucci, Giorgio Chiellini e Andrea Barzagli (connosco só dois seriam titulares, contrariamente ao que faz Conte) enquanto que para as alas levaríamos Alessandro Florenzi, Matteo Darmian e Mattia De Sciglio. Sendo que tanto Darmian como De Sciglio conseguem fazer as duas alas e Florenzi joga praticamente em todo o lado - junta à capacidade de jogar a lateral-direito, posição onde jogou grande parte da época na Roma, o dom de actuar em lugares mais avançados no terreno como box-to-box, interior ou extremo. Qualquer treinador gosta de jogadores assim.
    No miolo, Jorginho foi um dos jogadores em destaque esta época no Nápoles de Sarri e merecia ser titular em detrimento até de Daniele De Rossi - que também entra nas nossas contas face à sua qualidade, experiência e polivalência (pode fazer o lugar de central). Giacomo Bonaventura, depois duma grande época no AC Milan, era uma das presenças obrigatórias numa Itália órfã de Verratti e Marchisio e, directamente de clubes menos reputados da Serie A, levávamos também Roberto Soriano (Sampdoria), Riccardo Saponara (Empoli) e Franco Vázquez (Palermo). Curiosamente, Conte preferiu não contar com estes 3 jogadores e preferiu levar Parolo, Sturaro e Thiago Motta. Aliás, dos jogadores que Conte leva e nós não, apenas Bernardeschi é uma opção que conseguimos compreender e elogiar (é o único aliás a constar na nossa Lista de Contenção). Soriano mereceu a confiança de Conte durante a qualificação, mas é de jogadores como Saponara e Vázquez que a Itália precisava para manter o perfume doutros tempos. Ambos dariam outra qualidade e critério com bola - Saponara é o "André Gomes italiano", e o argentino naturalizado italiano Vázquez é um dos melhores jogadores a actuar em Itália, um criador de oportunidades nato, tendo a curiosidade de ser o jogador que mais faltas sofreu nos principais campeonatos europeus em 2015/ 16, e também o que mais faltas fez.  
    No que toca ao ataque não há muito que inventar. Lorenzo Insigne, Antonio Candreva, Sebastian Giovinco e Stephan El Shaarawy são quatro diabos que conseguem criar dores de cabeça a todos os seus oponentes, sendo que para avançados convocaríamos outros 4: Graziano Pellè seria a grande referência atacante; Simone Zaza (excelente como segundo avançado, oferecendo uma interpretação diferente da posição que entregaríamos a Giovinco), Leonardo Pavoletti (melhor marcador italiano desta Serie A) e Domenico Berardi (o mais tecnicista e com mais futuro deste quarteto) seriam as outras hipóteses.

O Onze

    Modéstia à parte e com todo o respeito pelo técnico italiano, com esta selecção e este onze, as probabilidades da Itália conquistar o seu segundo europeu aumentariam um pouco. Seria porventura mais fácil (menos difícil talvez seja o mais correcto de se dizer) marcar golos a esta versão, mas a quantidade de soluções e virtuosismo técnico na nossa frente de ataque/ meio-campo seria o garante de bom futebol, e a aproximação do respeito pelo passado - Del Piero, Totti, Baggio, enfim, a Itália vive através de figuras dessas.
    Na baliza é indiscutível a titularidade de Gianluigi Buffon que fará, muito provavelmente (no futebol nunca podemos ter a certeza de nada), a sua última aparição a grande nível num europeu. O guardião da Juventus chega a França com 157 jogos e 38 anos de idade.
    Na defesa, embora Antonio Conte vá privilegiar uma linha de 3 homens (Barzagli, Bonucci e Chiellini), juntando-lhes dois alas, a nossa proposta fica-se pela mais usual linha de 4 defesas. Contaríamos assim com os irrequietos e completos laterais Florenzi (direita) e Darmian (esquerda), dois elementos que cruzam bem, dão muita profundidade graças ao fulgor físico e "pilhas" que nunca mais acabam, e sabem intrometer-se no ataque. Já o eixo seria composto pela dupla experiente da Juventus: Bonucci & Chiellini. O esquema de 3 centrais (Barzagli ou mesmo De Rossi seriam chamados nesta circunstância) podia fazer sentido num jogo específico ou em determinado momento, com este 4-2-3-1 - dadas as características dos jogadores escolhidos para o onze-base - a ser facilmente adaptável.
    No meio-campo, Jorginho seria o jogador mais recuado, enquanto que Bonaventura estaria sempre por perto para pautar o jogo. Pés para isso tem o médio do Milan, e prevemos que na realidade a Itália sofra em termos de produção ofensiva ao não ter jogadores como Bonaventura, Vázquez ou Giovinco.
    Daqui partimos para um ataque algo assustador. No bom sentido. Para Conte seria certamente demasiado ousado, mas optaríamos por dar os corredores a Insigne e Candreva, colocando o pequeno diabo Giovinco (quem vem duma grande temporada na MLS, não devendo ser ignorado apenas pelo preconceito de estar num campeonato periférico) atrás da referência atacante - Pellè. Ter El Shaarawy, Berardi, Zaza ou Pavoletti dar-nos-ia mais do que alternativas para mexer com o jogo.



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