18 de novembro de 2022

Mundial 2022: Previsão Grupo F

Em contagem decrescente para o Mundial 2022, prosseguimos a sequência de 8 artigos de análise detalhada a cada um dos grupos da competição. Neles, pretendemos realizar uma sumária contextualização de cada selecção, identificando forças e fraquezas, esquematizando como deve jogar cada equipa, até que fase imaginamos que chegue e que jogadores acreditamos que poderão ser destaques.

    Chegados ao Grupo F, podemos estar gratos com o sorteio. Estas 4 equipas prometem diversão, jogos com golos e emoções fortes até ao minuto 90 de cada confronto. Duas gerações de ouro (uma a proceder de forma mais inteligente à preparação da nova vaga do que a outra) cruzam-se com a equipa com mais fantasia e técnica pura da CAF, e um Canadá que não andava nisto dos mundiais há 36 anos, mas tem no Qatar um óptimo Raio-X ao fantástico trabalho que John Herdman tem desenvolvido, mudando-se para o futebol masculino depois de colocar o futebol feminino canadiano na rota do sucesso.

    Em termos de histórico recente, convém em primeiro lugar lembrar que em 2018, no mundial russo, a Croácia foi finalista vencida e a Bélgica assegurou o 3.º lugar. Quatro anos depois, Modric (37 anos) continua impressionante, mas Eden Hazard sucumbiu em Madrid, entendendo inclusive os belgas que o seu capitão deveria começar no banco este Mundial. No apuramento, belgas e croatas foram líderes dos seus grupos, vivendo experiências diferentes na Liga das Nações - a Croácia venceu o Grupo 1 da Liga A, superiorizando-se a Dinamarca e França; a Bélgica ficou a seis pontos dos Países Baixos no seu Grupo 4. Que diferenças então? Dalic tem sabido preparar gradualmente os herdeiros da geração de Modric e Perisic, mas Roberto Martínez continua agarrado aos de sempre, beneficiando claro de ter o melhor guarda-redes do mundo (Courtois) e o melhor médio do mundo (Kevin De Bruyne).

    O Canadá garantiu a pole position na CONCACAF, acima de México e EUA, com o melhor ataque e a melhor defesa da qualificação; e Marrocos, verdade seja dita, teve alguma sorte no trajecto até ao Qatar, evitando no play-off africano seleções como Argélia, Nigéria e Egipto e acabando por ter que ultrapassar "apenas" a República Democrática do Congo.

    Olhemos então para o Grupo F do Mundial 2022::


1. BÉLGICA  
(Previsão: Oitavos-de-final, eliminada pela Alemanha)

  • Guarda-Redes: Thibaut Courtois (Real Madrid), Simon Mignolet (Club Brugge), Koen Casteels (Wolfsburgo)
  • Defesas: Thomas Meunier (Borussia Dortmund), Timothy Castagne (Leicester City), Toby Alderweireld (Royal Antwerp), Jan Vertonghen (Anderlecht), Arthur Teate (Rennes), Zeno Debast (Anderlecht), Wout Faes (Leicester City), Yannick Ferreira-Carrasco (Atlético Madrid)
  • Médios: Leander Dendoncker (Aston Villa), Axel Witsel (Atlético Madrid), Amadou Onana (Everton), Youri Tielemans (Leicester City), Kevin De Bruyne (Manchester City), Hans Vanaken (Club Brugge), Charles De Ketelaere (AC Milan)
  • Extremos/ Avançados: Eden Hazard (Real Madrid), Thorgan Hazard (Borussia Dortmund), Leandro Trossard (Brighton), Jérémy Doku (Rennes), Dries Mertens (Galatasaray), Michy Batshuayi (Fenerbahçe), Luis Openda (Lens), Romelu Lukaku (Inter)
Seleccionador: Roberto Martínez;

Forças: Kevin De Bruyne é o melhor médio do mundo, e Martínez deixa-o actuar mais adiantado do que no Manchester City, onde possa ser mortífero na definição e último passe após turnovers, além de aplicar a sua meia distância; Se não ficar agarrado às vacas sagradas, Roberto Martínez pode ganhar vários jogadores (Trossard, Debast, Faes) nesta competição;
Fraquezas: O capitão Eden Hazard parece ter lugar cativo quando Trossard tem semelhantes características e atravessa um momento de grande confiança; Poderio de Romelu Lukaku é fundamental mas o avançado do Inter tem estado quase sempre lesionado em 22-23.

Equipa-Base (3-4-3): Courtois; Debast, Alderweireld, Vertonghen; Meunier (Castagne), Witsel, Tielemans, Ferreira-Carrasco; De Bruyne, Hazard (Trossard), Lukaku

Quando olhamos para o 3-4-3 belga com que Martínez deve iniciar a fase de grupos diante do Canadá vemos 7 elementos em comum com a equipa que em Julho de 2018 caiu perante a França nas meias-finais do último Mundial. A geração de ouro da Bélgica teve há 4 anos a sua grande oportunidade, conjugando então óptimas idades de Hazard, KDB e Lukaku com a possibilidade de ainda contar com Kompany e Moussa Dembélé. Hoje, Alderweireld e Vertonghen continuam no onze e podem ser castigados por ataques rápidos (pensemos no Canadá com Davies, David e Buchanan) e Hazard não perde a titularidade, mesmo estando a anos-luz do que já deu e poderia dar.
    O duo Witsel-Tielemans é uma das garantias desta Bélgica, que terá De Bruyne a jogar perto do avançado (Lukaku recupera ou será Batshuayi?) e que terá invariavelmente que dar minutos a Trossard, Debast, Faes, Onana e De Ketelaere, como fez pontualmente com Doku no Euro 2020, para oficializar o seu rebranding

Destaques Individuais (Previsão):


    Ninguém (talvez Messi o faça, mas Messi não conta) passa uma bola como Kevin De Bruyne. O médio do Manchester City de Pep Guardiola é o melhor do planeta na sua posição e chega ao Qatar com o estatuto de 3.º classificado na última votação da Bola de Ouro. KDB deve marcar e deve assistir nesta competição, e mal a Bélgica esteja na fase a eliminar terá mesmo que se exibir a 200% para a equipa seguir em frente.
    Pronto para contrariar a teoria quando a Bélgica enfrentar (se todos cumprirem o favoritismo) a Alemanha ou Espanha nos oitavos estará Thibaut Courtois. O guardião do Real Madrid foi eleito o melhor GR do Mundial 2018 e todos sabemos que, em determinadas noites, parece simplesmente intransponível.
    Youri Tielemans será um de vários jogadores que actuará no Qatar com o passe na mão (o médio do Leicester acaba contrato em Junho e ainda não escolheu o próximo destino), Leandro Trossard deve roubar a titularidade à estrela cadente Eden Hazard, e Romelu Lukaku é o maciço ponto de interrogação desta seleção - com Lukaku a 100% a Bélgica pode sonhar, mas sem o poderoso ponta de lança, uma queda nos oitavos é o cenário mais provável.


2. CROÁCIA  
(Previsão: Quartos-de-final, eliminada pelo Brasil)

  • Guarda-Redes: Dominik Livakovic (Dínamo Zagreb), Ivo Grbic (Atlético Madrid), Ivica Ivusic (NK Osijek)
  • Defesas: Josip Juranovic (Celtic), Josip Stanisic (Bayern Munique), Josip Sutalo (Dínamo Zagreb), Domagoj Vida (AEK), Dejan Lovren (Zenit), Martin Erlic (Sassuolo), Josko Gvardiol (Leipzig), Borna Sosa (Estugarda), Borna Barisic (Rangers)
  • Médios: Marcelo Brozovic (Inter), Kristijan Jakic (Eintracht Frankfurt), Luka Modric (Real Madrid), Mateo Kovacic (Chelsea), Lovro Majer (Rennes), Luka Sucic (RB Salzburgo), Nikola Vlasic (Torino), Mario Pasalic (Atalanta)
  • Extremos/ Avançados: Ivan Perisic (Tottenham), Mislav Orsic (Dínamo Zagreb), Marko Livaja (Hajduk Split), Andrej Kramaric (Hoffenheim), Ante Budimir (Osasuna), Bruno Petkovic (Dínamo Zagreb)
Seleccionador: Zlatko Dalic;

Forças: Modric, Kovacic e Brozovic formam um dos trios de médios mais fortes em prova; Último mundial servirá de inspiração; Dalic conta com um banco de respeito com Majer, Pasalic ou Orsic;
Fraquezas: Defesa jovem e virgem neste tipo de competições, podendo fazer sentido mesclar a veterania de Lovren ou Vida com o wonderkid e força da natureza Gvardiol.

Equipa-Base (4-3-3): Livakovic; Juranovic, Sutalo, Gvardiol, Sosa; Brozovic, Modric, Kovacic; Vlasic (Majer), Perisic, Kramaric (Petkovic)

Com o seu equipamento romântico e clássico axadrezado vermelho e branco, a Croácia mantém um 4-3-3 alicerçado na perfeita sintonia de Brozovic (médio de cobertura), Kovacic (bom transporte) e Modric (um mago), três elementos exímios na tomada de decisão.
    Livakovic é, no geral, superior a Subasic, o guardião que defendia a baliza croata há 4 anos, e a defesa é improvável que Dalic arrisque conjugar Juranovic, Sutalo, Gvardiol e Sosa, devendo colocar um central experiente ao lado do defesa central esquerdino de 20 anos do RB Leipzig.
    No ataque acreditamos que Perisic jogará sempre que possa, Vlasic tem um certo estatuto e Kramaric é o avançado que melhor encaixa. Mas, se for preciso, há Majer (o novo Modric), Pasalic, Orsic ou Petkovic como Plano B.

Destaques Individuais (Previsão):


    Luka Modric fará no Qatar o seu último Mundial, e estamos convictos de que sairá em grande. Um líder nato e um craque daqueles que sozinho consegue transformar o jogo todo, o médio do Real Madrid pode até registar uma produção (golos) superior à sua em 2018.
    Quando olhamos para a nova geração croata, Josko Gvardiol surge imediatamente como um talento abismal. O central (também capaz de jogar a lateral, algo que não deverá acontecer dada a naturalização de Borna Sosa) ainda só tem 20 anos mas joga como se tivesse 27. É um "monstro" fisicamente, dominando lances e encostando avançados.
    Senhor de grandes golos, Mateo Kovacic é um fantástico coadjuvante como ponto intermédio entre Brozovic e Modric. Ivan Perisic tem na Croácia um papel idêntico ao que Di María desempenha na Argentina, surgindo de igual forma em momentos decisivos, e para pôr fim à falta de um avançado indiscutível nesta seleção Andrej Kramaric pode surgir como legítimo herdeiro de Mandzukic.
    Na baliza, Dominik Livakovic vai ter bastante trabalho, mas um bom desempenho neste Mundial pode significar um bilhete de avião para longe de Zagreb, donde já merecia ter saído há 2 ou 3 anos.


3. CANADÁ  

  • Guarda-Redes: Milan Borjan (Estrela Vermelha), Dayne St. Clair (Minnesota United), James Pantemis (CF Montreal)
  • Defesas: Alistair Johnston (CF Montreal), Richmond Laryea (Toronto FC), Steven Vitória (Chaves), Derek Cornelius (Panetolikos), Joel Waterman (CF Montreal), Kamal Miller (CF Montreal), Sam Adekugbe (Hatayspor)
  • Médios: Samuel Piette (CF Montreal), Atiba Hutchinson (Besiktas), Liam Fraser (Deinze), Stephen Eustáquio (FC Porto), Mark-Anthony Kaye (Toronto FC), Ismaël Koné (CF Montreal), David Wotherspoon (St. Johnstone)
  • Extremos/ Avançados: Alphonso Davies (Bayern Munique), Jonathan Osorio (Toronto FC), Junior Hoilett (Reading), Liam Millar (Basel), Tajon Buchanan (Club Brugge), Ike Ugbo (Troyes), Lucas Cavallini (Vancouver Whitecaps), Cyre Larin (Club Brugge), Jonathan David (Lille)
Seleccionador: John Herdman;

Forças: John Herdman é possivelmente o melhor orador/ motivador entre os 32 seleccionadores; Adversários terão dificuldade em antecipar a estrutura com que o Canadá irá para cada jogo; Velocidade de elementos como Alphonso Davies, Tajon Buchanan e Jonathan David pode fazer estragos;
Fraquezas: Inexperiência nestas andanças; Colectivo é interessante mas a defesa, avaliando jogador a jogador, deixa muito a desejar.

Equipa-Base (3-4-3): Borjan; Johnston, S. Vitória, Miller; Laryea, Eustáquio, Hutchinson, Adekugbe; J. David, A. Davies, Larin (Buchanan, Hoilett)

Se o Canadá chocar o mundo e roubar pontos à Bélgica ou à Croácia com Steven Vitória (defesa central de 35 anos do Desportivo de Chaves) no onze inicial, John Herdman merece um busto.
    Cientes de que esta equipa tem claras lacunas na sua defesa, acreditamos ainda assim que o Factor X (Alphonso Davies já confessou que os jogadores correriam contra uma parede se Herdman assim o quisesse) possa desvirtuar o que está no papel.
    O Canadá tem consciência das suas limitações e das suas valências e vantagens competitivas, e neste 3-4-3 (pode flutuar para 4-3-3 ou mesmo 4-4-2) a principal nuance é mesmo a utilização de Alphonso Davies, lateral esquerdo no Bayern mas extremo ao serviço da sua pátria.

Destaques Individuais (Previsão):


O Canadá vai sofrer como equipa e o Canadá vai correr. Em excesso de velocidade. Alphonso Davies contraiu uma lesão muscular há semanas mas, estando bem, deve ser quem vai agarrar nos jogos e fazer as coisas acontecer. Sem preocupações defensivas, a cargo de Adekugbe como ala esquerdo, Davies estará fresquinho durante os jogos para massacrar os laterais e centrais adversários, insistindo em lances de 1 para 1.
    Na qualificação, Cyre Larin esteve irrepreensível na finalização, mas num palco com outra pressão o mais certo é ser Jonathan David o melhor marcador dos canadianos. O avançado do Lille, nascido em 2000, é menino para fazer uns 3 golos em 3 jogos.
    Entre a veterania de Atiba Hutchinson (39 anos) e a estonteante velocidade de Tajon Buchanan, extremo direito do Club Brugge, há ainda Stephen Eustáquio. O médio do FC Porto é um jogador tacticamente evoluído e Herdman apostará muito na sua capacidade de gerir ritmos e comunicar bem (com bola) com os irrequietos jogadores da frente.


4. MARROCOS  


  • Guarda-Redes: Yassine Bono (Sevilha), Munir Mohamedi (Al-Wehda), Ahmed Tagnaouti (WAC)
  • Defesas: Achraf Hakimi (PSG), Noussair Mazraoui (Bayern Munique), Nayef Aguerd (West Ham), Romain Saïss (Besiktas), Badr Benoun (Qatar SC), Achraf Dari (Brest), Jawad El Yamiq (Valladolid), Yahia Attiyat-Allah (WAC), Yahya Jabrane (WAC)
  • Médios: Sofyan Amrabat (Fiorentina), Azzedine Ounahi (Angers), Bilal El Khannous (Genk), Illias Chair (QPR), Abdelhamid Sabiri (Sampdoria)
  • Extremos/ Avançados: Hakim Ziyech (Chelsea), Anass Zaroury (Burnley), Sofiane Boufal (Angers), Zakaria Aboukhlal (Toulouse), Abdessamad Ezzalzouli (Osasuna), Selim Amallah (Standard Liège), Walid Cheddira (Bari), Abderazzak Hamdallah (Al-Ittihad Jeddah), Youssef En-Nesyri (Sevilha)
Seleccionador: Walid Regragui;
Baixa: Amine Harit

Forças: Muita fantasia nas botas de Ziyech, Ounahi ou Boufal; Flancos bem servidos com os laterais Hakimi e Mazraoui (adaptado à esquerda) como locomotivas, e os extremos trocados em busca de diagonais venenosas;
Fraquezas: Regragui tem pouco tempo de trabalho com este grupo de jogadores e poderá cometer o pecado de acorrentar a magia dos craques de Marrocos; Amrabat é competente mas o 11 pedia um seis com outra estampa e maior raio de acção.

Equipa-Base (4-3-3): Bono; Hakimi, Aguerd, Saïss, Mazraoui; Amrabat, Amallah, Ounahi; Ziyech, Boufal, En-Nesyri

Se é mais 4-3-3 ou mais 4-2-3-1 é discutível, mas o que é certo é que esta equipa de Marrocos tem qualidade técnica para dar e vender. Ziyech era magistral no Ajax e ainda há dias marcou um golo de meio-campo, o menos conhecido Ounahi, do Angers, é o jogador que mais dribles por jogo completa depois de Messi nas 5 principais ligas europeias, e Boufal, embora só apareça de 10 em 10 jogos, tem muito talento.
    Lamentando a gravíssima lesão de Harit, Marrocos tem equipa para ficar no mínimo em 3.º, e só colocamos abaixo do Canadá mediante a confiança (cega?) que temos no papel de John Herdman a redefinir novos horizontes de impossibilidades.
    Numa equipa onde só parece faltar mesmo um médio defensivo com outras características, Hakimi e Mazraoui são uma excelente dupla de laterais, Bono é um guarda-redes que transmite muita segurança e En-Nesyri não sendo um goleador é um avançado que trabalha imenso, desgastando os defesas e criando espaços para a penetração dos criativos.


Destaques Individuais (Previsão):


    Figurão no Ajax (em 18-19 marcou 22 golos e fez 20 assistências pelo gigante de Amesterdão), Hakim Ziyech perdeu a chama em Londres. O melhor jogador do ataque marroquino esteve afastado da seleção mas Regragui reintegrou-o e o extremo direito do Chelsea pode ter nesta seleção um impacto semelhante à motivação dos franceses quando se soube que Deschamps tinha reaberto as portas para Benzema. A imagem de Ziyech a brilhar em solo qatari faz-nos sentido.
    Entre os vários jogadores que se destacam nesta equipa, Achraf Hakimi é talvez o expoente máximo. O lateral direito do PSG está acostumado a ter maior liberdade, protegido por 3 centrais no esquema de Galtier, mas na seleção grande dose dos desequilíbrios podem ser gerados pelas suas aventuras para zonas que tanto gosta de pisar.
    No meio do parque, Azzedine Ounahi é magistral no drible e no primeiro toque, roçando às vezes a arrogância com tamanha calma. Parece o jogador magrebino que tem mais mercado para ganhar no próximo mês.

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