18 de novembro de 2022

Mundial 2022: Previsão Grupo D

Em contagem decrescente para o Mundial 2022, prosseguimos a sequência de 8 artigos de análise detalhada a cada um dos grupos da competição. Neles, pretendemos realizar uma sumária contextualização de cada selecção, identificando forças e fraquezas, esquematizando como deve jogar cada equipa, até que fase imaginamos que chegue e que jogadores acreditamos que poderão ser destaques.

    O Grupo D pode conter algumas das surpresas mais interessantes deste Mundial do Qatar. Com a Austrália, hoje sem uma figura de proa como Tim Cahill ou Harry Kewell, a correr por fora, França e Dinamarca medirão forças e disputarão um 1.º lugar muitíssimo apetecível - quem ficar em 1.º segue para o lado (teoricamente) mais favorável do quadro, enquanto que o 2.º classificado do Grupo D garante em princípio um super-jogo com a Argentina nos oitavos e, seguindo em frente, um braço-de-ferro com o favorito Brasil rondas depois.
    França (elenco de luxo) e Dinamarca (uma das equipas mais unidas) conhecem-se bem e jogaram uma contra a outra em Junho e Setembro deste ano, para a Liga das Nações, com os dinamarqueses a sorrirem em ambas as ocasiões (2-1 em França e 2-0 na Dinamarca).
    Além do bom futebol da Dinamarca de Eriksen, joga contra a França a maldição do vencedor - aconteceu com a própria França em 2002, com a Itália em 2010, com a Espanha em 2014 e com a Alemanha em 2018 - com o detentor do troféu a ser eliminado na fase de grupos da edição seguinte. À maldição junta-se a barbaridade de lesões que tem atingido os gauleses: Pogba, Kanté, Nkunku e Maignan não vão poder contribuir.
    Convém não retirar por completo da equação a Tunísia. A seleção africana sabe defender, tem um meio-campo musculado e é daquelas equipas que não se aborrece minimamente com jogos enfadonhos, parecendo até ganhar vida à medida que o adversário desespera em tentar espaços na sua muralha.

    Abaixo a análise detalhada, e antevisão deste Grupo D:


1. DINAMARCA  
(Previsão: 3º Lugar, eliminada nas meias pela Alemanha)

  • Guarda-Redes: Kasper Schmeichel (Nice), Frederik Ronnow (Union Berlin), Oliver Christensen (Hertha)
  • Defesas: Daniel Wass (Brondby), Rasmus Kristensen (Leeds United), Jens Stryger Larsen (Trabzonspor), Alexander Bah (Benfica), Joachim Andersen (Crystal Palace), Simon Kjaer (AC Milan), Andreas Christensen (Barcelona), Viktor Nelsson (Galatasaray), Joakim Maehle (Atalanta), Robert Skov (Hoffenheim)
  • Médios: Pierre-Emile Hojbjerg (Tottenham), Thomas Delaney (Sevilha), Christian Norgaard (Brentford), Mathias Jensen (Brentford), Christian Eriksen (Manchester United), Jesper Lindstrom (Eintracht Frankfurt)
  • Extremos/ Avançados: Andreas Skov Olsen (Club Brugge), Mikkel Damsgaard (Brentford), Yussuf Poulsen (Leipzig), Martin Braithwaite (Espanyol), Andreas Cornelius (Trabzonspor), Jonas Wind (Wolfsburgo), Kasper Dolberg (Sevilha)
Seleccionador: Kasper Hjulmand;

Forças: Impressionante harmonia e capacidade de sacrifício, catalisada a partir do marcante episódio de Christian Eriksen no Euro 2020; Flexibilidade táctica de Hjulmand para se adaptar às incidências no decorrer do jogo; Banco com boas soluções;
Fraquezas: Entre Dolberg, Cornelius e Wind, as principais opções para 9, nenhum é um verdadeiro matador; Seleccionador pode demorar a encontrar o melhor 11.

Equipa-Base (4-3-3): Schmeichel; Wass, Kjaer, Christensen, Maehle; Delaney, Hojbjerg, Eriksen; Skov Olsen, Dolberg, Braithwaite

O Euro 2020, disputado em 2021, está bem vivo na memória de todos. A Dinamarca tornou-se a segunda seleção de todos nós, adoptando os nórdicos depois do traumático (mas com final feliz) episódio de Christian Eriksen.
    No geral, Kasper Hjulmand manterá no Qatar o seu 4-3-3, ocasionalmente podendo privilegiar uma defesa a 3 com Joachim Andersen a entrar na contas. Maehle vai continuar a ser um lateral que aparece teimosamente em zonas de finalização, Delaney e Hojbjerg vão proteger Eriksen, o criativo e cérebro da equipa, surgindo apenas alguns pontos de interrogação na frente.
    Em comparação com o Europeu, as principais novidades são mesmo Lindstrom e Skov Olsen, este último garantidamente com um papel de maior relevância.

Destaques Individuais (Previsão):


    Caso fique em 1.º lugar, apostamos que a Dinamarca repita o rótulo de equipa-sensação do Europeu, perdurando até ao jogo do 3.º e 4.º lugar.
    Christian Eriksen é o maestro da ópera dinamarquesa, mas muita atenção ao que Andreas Skov Olsen, extremo do Club Brugge, pode fazer nas suas simples mas letais diagonais da direita para o centro. Joakim Maehle (permanece adaptado à esquerda) é daqueles jogadores que quando chega a hora de vestir a camisola do seu país parece que acabou de vestir a capa de um super-herói, atingindo números dos quais nunca se consegue aproximar a nível de clubes, e Jesper Lindstrom pode muito bem ser o jogador dinamarquês que desponta neste torneio, um pouco à imagem de Damsgaard há ano e meio atrás.
    Na defesa, Kjaer é o capitão mas Andreas Christensen continua a ser para nós o defesa central mais consistente e o que melhor se adapta a diferentes estilos de jogo dos adversários.


2. FRANÇA  
(Previsão: Oitavos-de-final, eliminada pela Argentina)

  • Guarda-Redes: Hugo Lloris (Tottenham), Alphonse Aréola (West Ham), Steve Mandanda (Rennes)
  • Defesas: Benjamin Pavard (Bayern Munique), Jules Koundé (Barcelona), William Saliba (Arsenal), Raphael Varane (Manchester United), Dayot Upamecano (Bayern Munique), Ibrahima Konaté (Liverpool), Axel Disasi (Mónaco), Lucas Hernández (Bayern Munique), Theo Hernández (AC Milan)
  • Médios: Aurélien Tchouaméni (Real Madrid), Youssof Fofana (Mónaco), Eduardo Camavinga (Real Madrid), Adrien Rabiot (Juventus), Mattéo Guendouzi (Marselha), Jordan Veretout (Marselha)
  • Extremos/ Avançados: Kingsley Coman (Bayern Munique), Ousmane Dembélé (Barcelona), Antoine Griezmann (Atlético Madrid), Randal Kolo Muani (Eintracht Frankfurt), Olivier Giroud (AC Milan), Karim Benzema (Real Madrid), Kylian Mbappé (PSG), Marcus Thuram (Gladbach)
Seleccionador: Didier Deschamps;
Baixas: Mike Maignan, Presnel Kimpembe, N'Golo Kanté, Paul Pogba, Christopher Nkunku; Ausências: Jonathan Clauss, Ferland Mendy, Allan Saint-Maximin, Martin Terrier

Forças: Que luxo é ter Mbappé e Benzema; Apenas o Brasil rivaliza em termos de alternativas para lançar para o ataque no decorrer do jogo (Coman e Dembélé podem rasgar defesas quando introduzidos);
Fraquezas: Lesões de peso (Kimpembe, Kanté e Pogba seriam titulares, Maignan é o melhor guarda-redes francês da actualidade e Nkunku é o 3.º jogador francês com maior rendimento de 2021 para cá); Conservadorismo de Deschamps pode limitar o potencial ofensivo desta França; Balneário imprevisível; Decisão de mudar de 3 centrais para linha de 4 pode revelar-se um erro.

Equipa-Base (4-3-1-2): Lloris; Pavard, Varane, Upamecano, T. Hernández; Tchouaméni, Fofana, Rabiot; Griezmann; Benzema, Mbappé

Antes de passar o testemunho a Zinedine Zidane, Didier Deschamps terá uma oportunidade de se sagrar bicampeão do mundo com a sua França.
    Fá-lo-á? Pensamos que não. Mas racionalmente Brasil e França deveriam ser vistos como os 2 grandes favoritos no Qatar.
    Sem poder contar com Maignan (superior a Lloris), a dupla de meio-campo Pogba-Kanté e ainda Nkunku (lesionado num treino já durante o estágio), sendo o craque do Leipzig um jogador que acreditávamos que viria a ser fulcral nesta França, conquistando um lugar no 11 com o passar do tempo, Deschamps desistiu do 3-4-1-2 com que actuou nos últimos tempos, assumindo perante a imprensa francesa que irá jogar com 4 defesas neste Mundial.
    Caso replique a fórmula que conduziu a França à conquista do Mundial 2018, o mais certo seria o recurso a 4 centrais (Pavard à direita e Lucas à esquerda, com Varane + 1 no meio), mas parece impossível Theo Hernández não ser titular, por troca directa com o seu irmão ou actuando ao seu lado. Depois, uma aposta em 3 médios para a zona nuclear (Tchouaméni, Fofana e Rabiot, por exemplo), e a frente entregue ao avassalador trio Griezmann, Mbappé e Benzema. 
    Qual é o contra? Este 4-3-1-2 amarra o poderio ofensivo e o melhor da imprevisibilidade francesa, não arranjando lugar para os rasgos de Dembélé e/ ou Coman.

Destaques Individuais (Previsão):


    Kylian Mbappé é um dos melhores jogadores do mundo e um dos fortes candidatos a MVP do torneio. Há 4 anos, ainda um teenager, Mbappé destruiu a Argentina e brilhou em vários jogos. Ao Qatar, o craque do PSG chega como máxima figura do seu país e como mais do que sério candidato às próximas Bolas de Ouro.
    Por falar em Bola de Ouro, é na seleção gaulesa que joga o actual melhor do mundo para a France Football. Karim Benzema tem apresentado alguns problemas físicos esta temporada, mas se estiver a 100% então a França será praticamente imparável. O avançado do Real Madrid esteve presente num Mundial, em 2014, iniciando-se depois disso o seu longo período de afastamento. Estará esfomeado.
    Sem Kanté e Pogba, Aurélien Tchouaméni será forçado a crescer muitos anos em poucos dias, e Ousmane Dembélé, o ambidestro mais entusiasmante da actualidade, terá forçosamente que ser lançado em vários encontros, quiçá conquistando o seu lugar no 11 ao longo da fase de grupos.
    Na defesa francesa temos muitas dúvidas sobre qual será a dupla de centrais, e muita diferença fará na dinâmica ofensiva se Theo Hernández for o escolhido para lateral esquerdo.


3. TUNÍSIA  


  • Guarda-Redes: Aymen Balbouli (Étoile du Sahel), Aymen Dahmen (CS Sfaxien), Bechir Ben Said (US Monastirienne), Mouez Hassen (Club Africain)
  • Defesas: Bilel Ifa (Abha Club), Wajdi Kechrida (Atromitos), Mohamed Drager (Luzern), Yassine Meriah (Espérance de Tunis), Montassar Talbi (Lorient), Dylan Bronn (Salernitana), Nader Ghandri (Club Africain), Ali Maâloul (Al-Ahly), Ali Abdi (Caen)
  • Médios: Ellyes Skhiri (Köln), Ferjani Sassi (Al-Duhail), Aïssa Laïdouni (Ferencváros), Mohamed Romdhane (Espérance de Tunis), Naim Sliti (Al-Ettifaq), Anis Slimane (Brondby), Hannibal Mejbri (Birmingham), Ghaylen Chaaleli (Espérance de Tunis)
  • Extremos/ Avançados: Issam Jebali (Odense), Seifeddine Jaziri (Zamalek), Youssef Msakni (Al-Arabi), Wahbi Khazri (Montpellier), Taha Khenissi (Kuwait SC)
Seleccionador: Jalel Kadri;

Forças: Paciência para levar os adversários ao desespero; Meio-campo com dois polvos em Skhiri e Laïdouni;
Fraquezas: Dependência da genialidade de Msakni; Possível abuso de anti-jogo contra França e Dinamarca.

Equipa-Base (4-3-3): Dahmen; Drager, Talbi, Bronn, Abdi; Skhiri, Laïdouni, Chaaleli; Slimane, Khazri, Msakni

A Tunísia é a equipa que vai dar gozo a José Mourinho ver jogar. Os comandados de Jalel Kadri primam pela organização, sabem esperar, esperar e esperar pelo erro, e não precisam da bola para serem felizes.
    Equipa bem diferente da França e da Dinamarca, serão um obstáculo cada vez mais alto a cada minuto que passar, perfilando-se Skhiri e Laïdouni como elementos que vão subir muito a sua cotação em terras do Golfo Pérsico.


Destaques Individuais (Previsão):


    Ellyes Skhiri foi associado ao Benfica, e no Qatar os adeptos encarnados perceberão porque é que Roger Schmidt pensou nele para integrar este Benfica 22-23. O médio do Colónia agiganta-se, e funciona em perfeita sintonia com o colega de equipa Laïdouni.
    Quando escrevemos que a Tunísia não precisa de ter a bola para ser feliz, é mentira. Youssef Msakni é um regalo para a vista, podendo brilhar numa competição onde se sentirá em casa (joga no Qatar há muitos anos) e Wahbi Khazri, um rosto conhecido para quem acompanhava a Premier League quando ele por lá andava, sabe como desbloquear a monotonia de um jogo. 


4. AUSTRÁLIA  


  • Guarda-Redes: Mathew Ryan (Copenhaga), Danny Vukovic (Central Coast), Andrew Redmayne (Sydney FC)
  • Defesas: Nathaniel Atkinson (Hearts), Fran Karacic (Brescia), Thomas Deng (Albirex Niigata), Bailey Wright (Sunderland), Harry Souttar (Stoke), Kye Rowles (Hearts), Milos Degenek (Columbus Crew), Joel King (Odense), Aziz Behich (Dundee United)
  • Médios: Cameron Devlin (Hearts), Kenau Baccus (St. Mirren), Aaron Mooy (Celtic), Riley McGree (Middlesbrough), Jackson Irvine (St. Pauli), Ajdin Hrustic (Hellas Verona)
  • Extremos/ Avançados: Awer Mabil (Cádiz), Craig Goodwin (Adelaide United), Mathew Leckie (Melbourne City), Jason Cummings (Central Coast), Garang Kuol (Newcastle), Martin Boyle (Hibernian), Mitchell Duke (Fagiano Okayama), Jamie MacLaren (Melbourne City)
Seleccionador: Graham Arnold;

Forças: Zero expectativas e a noção que qualquer ponto será uma conquista de respeito; Entusiasmo em torno do promissor Garang Kuol, uma vitamina para agitar jogos;
Fraqueza: Inexistência de uma referência como outrora houve Cahill ou Kewell.

Equipa-Base (4-3-3): Ryan; Atkinson, Souttar, Rowles, Behich; Mooy, Irvine, Hrustic; Mabil (Boyle), Leckie, MacLaren

Tecnicamente, a Austrália pode muito bem ser a pior das 32 seleções em competição no Qatar. Graham Arnold parece estar condenado aos zero pontos, mas nem por isso devemos ver a Austrália a remeter-se ao seu meio-campo.
    Os cangurus têm personalidade, um guarda-redes bastante decente (Mat Ryan) e se pelo menos Hrustic e Aaron Mooy conseguirem ter palco para se libertar e levantar a cabeça, haverá margem para alguma circulação e a construção de algumas memórias para o livro de recordações. Mas sim, esperamos 3 derrotas em 3 jogos.


Destaques Individuais (Previsão):


    Contra 3 seleções bem mais capacitadas, a principal curiosidade desta Austrália será assistir aos primeiros passos de Garang Kuol, menino de 18 anos que já se comprometeu com o Newcastle. Um diamante cheio de ousadia e atrevimento, Kuol deve ser guardado pelo selecionador como "carta" para lançar.
    Titulares devem ser Ajdin Hrustic e Awer Mabil (jogador que esteve no Paços de Ferreira em 17-18). São o melhor que o representante da Oceânia tem actualmente.

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